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╰┄꒰ Bons Tempos | blackpink x red velvet


• Sinopse •

Sete amigas inseparáveis no ensino médio resolvem se reencontrar dez anos depois. Entre taças de vinho e lembranças, segredos sujos vêm à tona.

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Capítulo Único: Entre nós

— Meu deus, Irene, dá pra prestar atenção da droga do trânsito?! — Jennie toma o telefone da mão da esposa, vendo os filhos no outro lado da tela. — Dêem tchau para as mamães, precisamos desligar! — As crianças, já de banho tomado e com pijamas, gritam em despedida para logo depois a babá tomar o telefone e encerrar a chamada de vídeo.

Jennie respira fundo, Irene já estaciona na frente do prédio luxuoso no centro da cidade, sendo assim, joga o celular no colo da esposa. Sem esperar que o carro pare totalmente, pega a sua bolsa no banco de trás e abre a porta.

— Se falar comigo dessa forma na frente das crianças... — Irene começa, acompanhando a esposa a passos rápidos após estacionar na rua movimentada. A noite já dava as caras e o frio as faziam vestir longos casacos. — Jennie Kim! Estou falando com você, porra!

Irene pára na calçada, esperando que a esposa faça o mesmo, mas Jennie ao menos se vira para encará-la e continua a passos tranquilos. O salto faz um tilintar incômodo no passeio. Irene fica furiosa, mas desiste de começar uma briga, elas chegaram ao seu destino final.

— Jinsung e Yeri são grandinhos o bastante para entender que o nosso casamento acabou, querida — Jennie sussurra, enquanto param na frente da portaria do condomínio.

— Não ouse contar nada a eles... — Irene cochicha, em uma ameaça velada do que é capaz de fazer se os filhos souberem da bagunça entre as duas.

Tanto Irene quanto Jennie trocam farpas com um sorriso grande no rosto. O porteiro permite a entrada e indica o caminho até o elevador, elas dão as mãos e atravessam o saguão.

Não poderiam ficar mais surpresas ao entrar no elevador ao mesmo tempo que mais duas mulheres. A mais alta usa um vestido estampado longo, evidenciando a barriga com alguns meses de gestação. A mais baixa tem os cabelos tingidos de loiro na altura do maxilar. O terninho azul marinho indica que Wendy saiu do trabalho diretamente para o jantar.

— Meu Deus, Joy, está enorme! — Irene salda, cumprimentando as duas depois de Jennie.

— Completamos sete meses semana passada, meus pés começaram a inchar! — responde Joy. As quatro riem e Jennie aperta o número do apartamento de Rosé e Jisoo.

Estão prontas para encontrar as garotas restantes e começar o jantar.

Na visão de Irene, é fabuloso que isso tenha realmente acontecido. As sete eram melhores amigas no colegial, porém, como o tempo é traiçoeiro, depois de formadas os casais escolheram caminhos diferentes. O contato se tornou tão escasso que agora é restrito à curtidas no Facebook. Comentavam vez ou outra um acontecimento importante, como a inseminação artificial de Joy, e prometiam um um jantar de reencontro que nunca de fato acontecia, até ali.

— Ah, esqueci de perguntar! Como andam as crianças? — Wendy indaga animada, quando o clima no elevador cai num silêncio constrangedor.

— Estão ótimas! Jinsung está na natação e Yeri na aula de idiomas. — Jennie sorri, feliz por decorar essa frase para caso perguntem sobre os filhos.

— ...Sabe, é muita coragem optar pela inseminação artificial. Sei que é difícil, mas Jennie e eu preferimos enfrentar a fila de adoção... já que tem tantas crianças precisando de um lar — completa Irene. A cobertura parece tão longe dentro daquele cubículo metálico. — E a maior vantagem é que não há riscos de deformar o corpo!

Joy faz uma careta.

— Essa escolha foi de comum acordo, já que não sou tão fútil para ter medo das consequências de uma gravidez... — Ao receber o olhar alarmado de Wendy, ela se cala antes que o clima passe de desconfortável para insuportável.

As portas do elevador se abrem diretamente para a sala de estar do apartamento térreo.

Tudo é composto por uma decoração neutra de tons terrosos, desde o lustre que engloba a mesa de jantar ao sofá de couro preto, contornando a sala com suas enormes almofadas de linho. As quatro se entreolham, os detalhes luxuosos da casa combinam com a imagem perfeita que Rosé e Jisoo passam.

Rosé aparece na entrada lateral, os cabelos em um coque e um pano de prato nos ombros.

— Venham até a cozinha! Andem!

Elas seguem para o próximo cômodo. Jisoo as cumprimenta enquanto ajuda a esposa a ferver os legumes.

— Até que enfim chegaram! — ela desabafa. Diferente de Rosé, que cozinha e por isso não se preocupa tanto com arrumação, Jisoo se equilibra em cima de um salto quinze. A maquiagem milimetricamente perfeita combina com o vestido de grife.

— Maravilhosos brincos, Soo. — Wendy teve que falar, recebendo um cutucão de Joy pela intromissão. — Mas é verdade! — continua. — Um deles pagaria a faculdade do nosso filho!

— Estamos de frente a Miss Coreia, o que esperavam? — Irene elogia, dando dois beijos na bochecha de Jisoo e lavando as mãos para ajudar Rosé.

Jennie cutuca Rosé, ao passo que as outras engatam uma conversa sobre crianças, graças a gravidez de Joy.

— E Lisa? Ela não chegou ainda? — pergunta.

— Quem chegou? Lisa? — Joy grita, se intrometendo na conversa ao ouvir o nome da faltante.

— Ah, até que enfim ela chegou! — Jisoo caminha até a sala, mas Rosé a puxa antes.

— Não chegou ainda! Acho que ela ao menos vem... — dita, temerosa.

— Ela disse que viria, mesmo falando bem pouco no grupo do Whatsapp.

— Sim, Wendy, mas há tempos Lisa não é mais a garota que conhecemos — completa Jennie.

A cozinha reina no silêncio quando a realidade recai sobre elas. Metade está curiosa para saber o que houve para que aquela garota animada sumisse do mapa. Lisa era a mais popular e brilhante entre as sete, com um futuro promissor que nunca engatou. Depois da formatura, ela voltou ao país natal e novamente à Coreia do Sul há dois anos atrás, mas não possuia redes sociais. Saber onde ela morava era uma missão impossível.

E a outra metade simplesmente não queria convidá-la, mas se fizessem o reencontro sem Lisa soaria rude.

O "beep" do interfone ressoa e as seis pulam de susto. Jennie, mesmo sendo convidada pela primeira vez na casa, atende o telefone por estar mais perto.

— Ah sim, mande-a subir, estamos esperando, obrigado. — Ela sorri para os pares de olhos curiosos quando desliga o telefone. Todas deixam seus afazeres para irem à sala.

A ansiedade toma conta e os minutos passam lentos. Lisa veio acompanhada? Se casou e teve filhos durante esses dez anos? Como está a fisionomia dela? Mas, quando as portas do elevador se abrem, um misto de choque surge.

Lá está Lisa, sorrindo como sempre, mas com uma camisa surrada de flanela e botas de borracha manchadas de barro. Ela ao menos percebe o silêncio anormal depois da sua chegada, que logo fica no passado quando Rosé corre para abraçá-la.

Joy bate palmas.

— Quanto tempo!

— Está no ramo de bovinos? Dá bastante dinheiro! — Wendy pergunta, na fila para abraçar a tailandesa assim como as outras. — Meu chefe tem ótimos contatos com agropecuárias e...

— Deixe-me adivinhar! É uma atriz e teve que sair com as roupas da peça? — Jisoo sugere.

— Ela fez isso para zoar conosco! Está na cara! — Jennie bufa, com um ar de esperteza.

Os ombros de Lisa se encolhem.

— Na verdade, eu moro num rancho a algumas horas aqui... tenho dois cavalos e algumas galinhas. — Ela sorri, arrumando a franjinha enquanto abraça Joy, a última da fila.

As garotas ficam sem graça, se coçando para perguntar se isso não é uma brincadeira. A tailandesa era cheia dessas zoações e talvez fosse algo indissociável a ela, como a franja que já passou de loira para verde, vermelho, preto e agora se encontra no tom natural dos cabelos.

Lisa continua a estampar um sorriso grande no rosto.

— Legal, né meninas? Um sítio é um ótimo lugar para morar! — Rosé encara as outras. Seu olhar severo deixa claro que devem concordar.

— Super! — Wendy arqueia as sobrancelhas.

— Jinsung e Yeri amam galinhas... — diz Irene.

— Assada. — complementa Jennie.

Jisoo levanta o indicador, ávida para falar.

— Eu já fiquei ao lado de um cavalo para um ensaio da Vogue!

O assunto morre depois da fala de Jisoo. Todas se encaram, desconcertadas.

— Depois de anos, Lisa ainda consegue nos surpreender... — Jennie cochicha, caminhando para a cozinha com as outras.

...

— Ai meu Deus, quem me deixou pintar o cabelo dessa cor! — Jisoo fecha os olhos e joga as fotos para as outras, elas gargalham vendo as recordações expostas à mesa.

Lisa trouxe todas as fotos que tiraram no ensino médio, até aquelas que elas não gostavam. Por fim, resolveram sentar a mesa de jantar enquanto a comida não ficava pronta.

— Nesse dia você explodiu o micro-ondas lá de casa, lembra Rosé!? — Lisa estende uma foto para a Park. Na fotografia, as duas estão sujas de pedaços de ovo cozido enquanto o pequeno aquecedor solta fumaça, nos fundos.

— Para a minha defesa, eu não sabia cozinhar naquela época! — responde Rosé.

— Só naquela época, amor? — Jisoo pergunta ao lado da esposa, enquanto Wendy e Joy trocam carícias.

É difícil fazê-las largarem uma à outra, desde os tempos de escola é assim. Jisoo tem inveja delas, por ainda manterem aceso o namorico que todos diziam não dar em nada. Ela e Rosé caminham na corda bamba desde o dia que se conheceram e isso não mudou com o tempo.

— Deixamos a garota que explodiu um micro-ondas cozinhar hoje? — Irene exclama, fingindo indignação.

— Por isso não estamos tão animadas para o jantar, sabemos que os dotes de Rosé são só na mesa de cirurgia — Joy conclui.

As garotas a mesa gargalham. O tempo passa e as falas se tornam escassas, as fotos dividem espaço com uma outra variável.

— Ei, por que estão nos celulares? — Lisa indaga, ela nem tirou o seu do bolso.

— Meu chefe está no meu pé de novo, preciso mandar um relatório traduzido para o inglês até amanhã de manhã — Wendy bufa, encarando o aparelho com raiva.

— Eu estou procurando uma foto da rinoplastia que fiz naquele aquele ator famoso... — Rosé murmura, concentrada nas fotos da galeria do aparelho.

— Aquele do drama? — Joy pergunta, extasiada. — Acho que vi a notícia em algum lugar! — Ela pega o celular para ajudar a amiga.

— Ei, não! Chega de telefones! — Lisa decreta, alto e claro para chamar atenção de todas. — Se vamos fazer um reencontro assim não vale a pena, poderíamos ter ficado em casa!

Irene concorda enquanto abre mais uma garrafa de vinho, já que magicamente beberam o primeiro como se fosse água.

— O celular acaba com relacionamentos de diversos tipos. Olhe para o meu, Jennie ao menos deixa as crianças pegarem o dela.

A Kim mais nova suspira, tirando os olhos do celular para encarar a esposa.

— Eu não deixo eles mexerem porque não é coisa de criança, o que acontece se acabarem vendo algum vídeo inapropriado na internet?

— Vídeos inapropriados na sua galeria, quer dizer — Irene interrompe.

— Não é você que preza tanto pela integridade dos menin-

— Epa! Gente! — Joy levanta as mãos, cortando a provável briga. — Eu também concordo com a Lisa, deveríamos deixar os celulares em cima da mesa, no centro. — Ela mostra o seu e depois o arrasta para onde mencionou.

— E se ele tocar ou chegar uma mensagem que precisemos ler?

— Simples, Wendy, é só lermos em voz alta. Não temos nada a esconder, certo? — Lisa diz, simplista.

A mesa cai em minutos silenciosamente constrangedores.

...

Os celulares são colocados ao centro da mesa, 6 deles.

Jennie encara o seu em mãos, como se estivesse sendo obrigada a abandonar os próprios filhos. Irene arqueia uma sobrancelha, a voz ameaçadoramente doce ao perguntar:

— Algum problema, querida?

— Nenhum, minha flor, só estava resolvendo um assunto do trabalho... — Jennie responde na mesma intensidade.

— Arh, temos uma workaholic para fazer companhia a você, Wendy! — Joy abraça a esposa, alheia a troca de olhares do casal anterior. — Elas só pensam em trabalho, não é?

— É... trabalho — Irene sussurra, amarga.

— Lindo, maravilhoso! Todas concordaram! — Rosé pega o celular das mãos de Jennie e o coloca junto aos outros aparelhos. — O que faremos agora?

Elas se entreolham. As fotos que Lisa trouxe já foram analisadas, já riram do cabelo roxo de Jisoo, da vez que Wendy quebrou o dente ao pular na piscina da casa de Rosé, de Lisa e Jennie presas no laboratório de ciências por uma noite inteira e das vezes que saiam escondido pela janela do quarto de Irene. As memórias foram dissecadas ao redor daquela mesa e se continuassem a falar demais, chegariam nas partes ruins — essas que nenhuma delas queria comentar, mas todas se lembravam.

Suor, unhas batucando na mesa polida, o barulho da glote engolindo em seco... até que elas pulam da cadeira.

Um beep surge na sala.

— É o micro-ondas! — Rosé diz, e se levanta para ir até a cozinha.

— Vê se não o explode! Papai pagou caro nele! — Jisoo sorri, acompanhando as outras, aliviadas pela interrupção.

— Não foi só o micro-ondas, foi? Ouvi algo a mais. — Jennie encara todas até mirar em Wendy, clicando freneticamente no celular.

— Ahá! Pega no pulo! — Lisa aponta para a culpada. — Leia a mensagem!

Wendy ergue os olhos, um pouco incomodada por se expor.

— É o John, meu chefe, ele diz: "Você morou quantos anos no Canadá? Esse inglês está péssimo. Refaça."

Joy coloca a mão no peito, estupefata com o que ouviu e, ao se inclinar para confirmar se é mesmo o destinatário que Wendy disse, seu semblante se fecha.

— Esse cara é ridículo! Vive colocando Wendy pra baixo só por não admitir que ela é melhor que ele. — As outras fingem concordar. — Conhecem fisting? Sou louca para enfiar o meu punho no meio do c...

— Ei, ei, legal, já entendemos! — Jisoo coloca a mão na boca, sensível demais ao linguajar sujo de Joy, bem na frente da sua louça nova.

— O quê foi? — Joy ri anasalado. — Sou barraqueira demais para os seus padrões, Miss Coreia?

— Mande-o à merda, Wendy! — Jennie fala por cima da conversa de Joy e Jisoo.

— Algumas pessoas não são donas da própria empresa e não podem se dar o luxo de fazer isso. — Wendy crispa os lábios. — Ainda mais com os bebês vindo, preciso desse emprego.

— Mas nem todas as mães se preocupam com os filhos como deveria... — Irene joga a indireta no ar.

Lisa abana as mãos, suando.

— Que calor aqui, né? Cadê Rosé com essa comida?

Salvas pelo gongo, mais conhecido como Rosé aparecendo na sala, com um sorriso no rosto e o jantar pronto para ser servido.

...

A paz veio em forma de fricassê de frango feito especialmente pelas mãos habilidosas da cirurgiã plástica Park Chaeyoung, conhecida pelo seu nome artístico que veio de um apelido do colégio: Park Rosé.

Elas engataram uma conversa amistosa depois da comida. A maioria delas — menos as donas da casa —  já vieram com o estômago cheio. Não é segredo, apesar de nunca ser comentado, que Rosé sempre foi adepta a culinária, no entanto, a culinária não é muito adepta a ela.

Comentaram sobre a nova temporada do programa de cirurgias encabeçado por Rosé. Era um sucesso de audiência por toda a Ásia. Elas estavam animadas para ver o antes e o depois dos pacientes que passaram pelo reality show.

Jisoo contou um pouco sobre seu novo contrato de exclusividade com a Dior e prometeu mostrar a coroa que ganhou ao vencer o Miss Coreia do Sul, preparando-se agora para o Miss Mundo. Chaeyoung estava confiante que a esposa ganharia.

É inusitado — mas nada surpreendente — que as duas garotas que possuíam menos habilidades e mais dinheiro tenham se dado tão bem na vida. Wendy não deixa de manter um sorriso falso no rosto, pensando no quão bem poderia bancar Joy e os bebês se tivesse pais abastados como o delas.

Enquanto Jisoo continua o monólogo sobre algo que ninguém presta atenção, mas finge que sim, outro beep enche a sala.

— Ué, não vai entender, Jisoo? — Lisa bebe um gole do suco, tentando tirar o gosto do fricassê da boca.

— Não é nada demais, recebo mensagens o dia todo — responde a Miss.

Dessa vez, mais dois beeps.

— Leia as mensagens, não foi esse o trato? — Jennie vê a deixa para empurrar o prato de comida, se dando por satisfeita.

Jisoo maneia a cabeça em negação.

— Não é necessário...

— Ah, que isso? Tome aqui o celular! — Jennie insiste. — Anda, leia!

A curiosidade atiça o restante da mesa, elas incitam Jisoo a ler as mensagens. É um trato, todas devem cumprir, certo?

Jisoo pigarreia e começa baixinho:

"Senhorita Kim Jisoo, marquei para as nove horas do dia 24 de janeiro. Um carro discreto irá buscá-la uma hora antes, esteja preparada. Não se preocupe, discrição total, ninguém saberá".

Todas ficam em silêncio. Jisoo ao menos levanta os olhos do celular.

— O que é isso? Não está traindo Rosé nem nada do tipo, não é...? — Irene ri, o resto também a imita.

— Ande Jisoo, conte a elas. — Rosé parece afetada.

Jisoo engole o seco.

— Não é isso que estão pensando, é só uma cirurgia estética mínima que eu vou fazer, bem comum, aliás. Meus olhos são juntinhos, meu nariz um pouquinho achatado... nada que uma pinça não resolva...

Elas suspiram aliviadas, até Joy levantar a questão:

— Engraçado, misses não podem ter cirurgias plásticas. Seria um escândalo se descobrissem... Por isso a descrição? — Ela mantém um sorriso zombeteiro. — Imagino o que acontecerá se essa informação vazar. Quanto cobrariam pelo furo, amor?

Wendy tomba a cabeça para o lado

— Depende... uns 10 mil? — pondera. — Com dez mil acabaremos o quarto do bebê.

Jisoo pisca algumas vezes, afetada, mas é Chaeyoung quem responde:

— Nós pagaremos o quarto do bebê! — sorri complacente. — É pra isso que servem as amigas, certo?

De repente, o fricassê parece delicioso.

...

Jennie e Irene mantém um relacionamento bastante conturbado. Elas são orgulhosas demais para admitir o erro, para tentar mudar, para jogar as cartas na mesa e afrouxar um pouco o controle que possuem uma sobre a outra.

Diferente do resto, elas não namoravam antes de se formar no ensino médio.

Jennie tinha beijado todas as amigas e as amigas das amigas e até viajou para outras cidades quando a cota de garotas que beijam garotas terminou na sua cidade — e figurinha repetida não completa o álbum, segundo ela. Irene era a única que não caía nos seus encantos.

Se essa fosse uma história romântica, o que obviamente não é, Jennie teria ficado com Lisa. A tailandesa foi a única garota que mexeu com ela, claro, se não tivesse sumido do mapa.

Irene e Jennie acabaram sem alternativas (uma por escolher demais e a outra por escolher de menos), com tédio e preguiça para procurar algo em outro lugar.

Ficaram reféns de um sentimento sorrateiro: o comodismo.

Porém, voltando ao jantar, a conversa ficou amena. Um jazz baixinho toca como plano de fundo e as indiretas foram enterradas. Jennie balança a taça de vinho, encarando fixamente a esposa do outro lado da sala, conversando animadamente com Joy.

Lisa foi deixada de lado e parece feliz com isso, estampa um sorriso breve. Jennie vai sorrateiramente até a tailandesa.

— Pode me acompanhar? — pede.

Lisa ergue o olhar.

— Pra onde?

Jennie aponta para a porta de correr que dá para a sacada do apartamento, e caminha para lá. Não sabe se Lisa ainda é sugestionável as suas ideias como quando eram jovem, mas precisa tentar.

Ninguém vê as duas na sacada. Lisa se encolhe como um bichinho medroso, tremendo atrás da blusa de flanela. As botas reluzem mais toscas pela luz da lua.

Ao contrário de Lisa, Jennie mantém um semblante dominador. O vestido dourado abre em uma fenda, o batom vermelho foi recém retocado.

— O que você aprontou dessa vez? — pergunta Lisa.

Jennie arqueia uma sobrancelha.

— Por que eu teria aprontado alguma coisa?

Lisa bufa.

— Estamos há dez anos sem nos ver e você não mudou nada... é impressionante, eu diria.

Jennie se aproxima, sem tirar os olhos da tailandesa.

— Não precisei me preocupar com isso, você mudou por todas nós. — Aponta para a roupa da outra. — É isso que faz no seu tempo livre? Cuidar de... cavalos?

Lisa caminha até a borda da sacada e apoia os braços no vidro. Seul está lá embaixo, os prédios sem fim e as luzes intermináveis. Lisa quase sente falta daquilo, mas ao encarar Jennie, se lembra do porquê foi embora.

— É bom viver sem precisar usar máscaras por causa da poluição, sem me estressar com cobranças de trabalho, de casamento... — Ela suspira. — Eu precisava disso, preciso, na verdade. Preciso viver cada segundo do dia, não posso desperdiçá-los por nada.

Jennie se junta a ela, na sacada.

— E valeu a pena?

Lisa a fita, os olhos borbulhando sentimentos antes esquecidos.

— Me diga você. O que viveu até agora valeu a pena?

Jennie ri, sem graça, balançando a cabeça algumas vezes.

— Você me pegou.

Elas soltam risadas curtas.

— Anda logo, Jennie, me fala o que você quer — pede Lisa.

— Não posso te chamar para conversarmos a sós um pouquinho? — rebate a Kim.

Lisa gargalha, como se tivesse ouvido uma boa piada.

— Poderia, mas você é Jennie Kim. Me chamava para sua casa, transava comigo e depois me pedia para fazer o seu dever de matemática, ou para mentir para as meninas sobre algum segredo que não queria que elas soubessem. Você nunca faz nada sem segundas intenções.

Os minutos se passam, ambas encaram a movimentação lá de baixo, até que Jennie mostra dois celulares a Lisa.

— Eu tirei de lá antes que elas percebessem. Esse é o seu. — Entregou a Lisa. — E esse é o meu.

Os aparelhos são iguais, mesma marca, mesma cor, só o papel de parede é diferente: o de Lisa é o wallpaper que veio de fábrica e o de Jennie é a foto dela, Irene e as crianças na Disney.

— Preciso que troque o seu celular com o meu — acrescenta Jennie. — Vamos mudar os papéis de parede e senhas, no final do jantar desfazemos a troca.

Lisa franze as sobrancelhas.

— Por quê?

— Eu não posso falar, okay? Já é quase meia noite e eu não posso arriscar... — insiste Jennie.

— Arriscar o quê? Que palhaçada é essa? — Lisa pergunta, intrigada.

— Por favor... — Jennie toma as mãos dela, levando-as até seu coração. — Pelo meu casamento.

Lisa não pode acreditar no que está ouvindo. Ela ainda tem sentimentos pela outra, sentimentos que não foram embora nesses dez anos, mas sabe que Jennie não os merece.

— Eu estava errada. Você mudou sim... mudou pra pior...

— Foi você que começou com essa ideia idiota, você me deve! — Jennie grita sussurrando, com medo de chamarem atenção. — Imagine o que vai acontecer se chegar alguma mensagem comprometedora e Irene souber? Ela está esperando a confirmação para pedir o divórcio e eu não vou dar esse gostinho!

Lisa se afasta, cambaleante.

— Então tudo isso é pelo orgulho?

— ... e pelo meus filhos! — completa Jennie. — Como os meninos vão ficar se as mães se separarem? Eles já sofreram tanto na vida!

Jennie desbloqueia o celular e mostra às crianças para Lisa. Nesse momento é vantajoso falar dos filhos, eles tem carinhas fofas. Lisa fecha os olhos, respirando fundo. O vento se intensifica, o rosto delas estão próximos, os cabelos castanhos se mesclam.

— Saiba que eu não estou fazendo isso por você e sim por Yeri e Jinsung. — Lisa toma o celular de Jennie.

Elas trocam o wallpaper.

...

Irene presta atenção nas duas voltando à sala. Ela pede licença a Jisoo, com um leve empurrão no ombro da miss, e caminha até elas.

— O que estavam fazendo lá fora? — pergunta.

Jennie dá de ombros.

— Nada demais, a lua está minguante, a mesma do nosso casamento, lembra? — Jennie sorri gengival enquanto Lisa vai ao banheiro, não antes de colocar os celulares no centro da mesa novamente.

Joy, que furtivamente segue Lisa até o banheiro, ouve um som de vômito sucessivo. Ela pensa que o fricassê de frango caiu mal no estômago da tailandesa. Passa a mão na barriga avantajada e volta para a sala, um tanto quanto preocupada.

Até que um novo beep soa.

— É o de Wendy! — Rosé pontua.

— Se for o mala do John faça o que Jennie falou horas antes, dane-se o emprego! — Joy caminha até a namorada. É mais uma mensagem do homem que, em uma sexta à noite, volta a importunar Wendy.

— Eu vou passar a noite traduzindo o arquivo quando chegarmos em casa.. — Wendy suspira, fazendo uma massagem rápida em Joy, agora sentada. — Não se estresse, o médico disse que faz mal pro bebê.

Joy e Wendy são amorosas e afetuosas, mesmo que a vida tenha sido dura com elas. Tiveram que lutar por uma bolsa no colégio caro onde cursaram o ensino médio, junto às amigas. Quanto à faculdade, Joy abdicou do seu sonho em prol de Wendy, já que era impossível para as duas trabalhar e estudar integralmente. Alguém precisava bancar moradia, comida e despesas da universidade.

Joy preferiu que fosse ela a trabalhar enquanto a namorada estudava. Além do mais, Wendy sempre foi boa com números e isso poderia render um bom trabalho, poderiam viver dignamente um dia.

Irene aparece com mais vinho, o terceiro da noite. Todas se amontoam à mesa. Lisa volta taciturna do banheiro, não bebeu nenhuma taça. Algumas estão em dúvida se ela está grávida, mas ousam ser muito rude perguntar.

Com as taças cheias, outro beep aparece.

— É o seu, Lisa — Jennie empurra o seu aparelho para ela.

Lisa pega o celular, trêmula, e demora a ler:

— "Hoje à noite eu tenho uma surpresinha para você."

— Wow, Lisa! Estava sumida, não morta! — Jisoo bate palmas.

Um falatório enche a mesa.

— Qual o nome dela? — Rosé pergunta, maternal.

Lisa maneia a cabeça, enojada.

— Não é nada sério...

— Ah, deixa-me ver! — Irene pega o aparelho e, com um olhar malicioso, diz: — Seulgi, hmmmm... oh! Outra mensagem!

Lisa se remexe na cadeira, desconfortável. Jennie estampa um sorriso vidrado, sentindo o julgamento da tailandesa de longe.

— "Isso é só para começarmos." — Irene arregala os olhos e vira a tela do celular para as outras. Em conjunto, elas arregalaram os olhos.

Um nude e tanto que "Lisa" acabou de receber.

— É humanamente impossível fazer essa posição... — Joy tomba a cabeça para o lado, confusa.

— Ela tem uma boa estrutura óssea... — Rosé acrescenta.

— E que estrutura... — Wendy cochicha.

— Não olhe, Park Chaeyoung! — Jisoo toma o celular de Irene.

— Você tá com a bola toda, Lisa! E pensar que estávamos morrendo de pena de você! — Irene cruza os braços, chocada.

Lisa só quer esganar Jennie.

— Tudo bem, vocês já viram, agora me devolvam e... — Ao se inclinar na mesa para pegar o celular de Jisoo, outra mensagem chega. Elas paralisam por um segundo, surpresas, até que Jennie encara o aparelho de Lisa, aquele que fingia ser o seu.

— Opa! — comemora. Ela recebe o olhar desconfiado da esposa.

Wendy enche o copo de todas — menos de Lisa e Joy — com mais uma rodada de vinho. Um sorriso terno enche o rosto delas, alguns mais corados que os outros, os lábios avermelhados e os saltos, sandálias e sapatos deixados num cantinho perto da porta. Os pés gelados tocam o chão.

O único sorriso que morre é de Jennie. Ela engole em seco.

— Ei, o que houve? Leia a mensagem! — Irene cutuca a esposa, que trata de mudar de semblante rapidamente.

— Oh, não é nada demais: "Melhor suspendermos o uso do Fauldpami, está de acordo?" — Jennie encara Lisa, que balança a taça de suco alheia à conversa.

— Quem mandou isso? — Rosé junta as sobrancelhas, atordoada.

Jennie engole o seco.

— Um médico, acho. Não é Lisa?

Lisa dá de ombros.

— Não sei, Jennie. O celular não é seu?

Irene levanta as mãos, angustiada.

— Calma aí! — E olha para a esposa. — Jennie, porque está indo ao médico? Quando? Por que não me avisou...? E as crianç...

— Eu não preciso te avisar sobre todos os meus passos! — berra Jennie. — Era só uma consulta de checagem! Ele passou alguns remédios para enxaqueca...

— Fauldpami não é pra enxaqueca — Rosé cochicha.

Não há como discordar da única médica no recinto.

— Jennie Kim!? — Irene segura o impulso de partir para cima da esposa.

— Amor, eu juro pelas crianças, não é nada demais! Eu não queria te contar que fui ao médico porque você sempre faz tempestade em copo d'água!

Jennie mente muito bem, mas também está perdida e não deixa de demonstrar isso em seu semblante. Lisa continua neutra, soltando um suspiro resignado antes de prosseguir:

— Pode ser gripe — sugere.

— Isso! Gripe! — Jennie arfa, animada com a deixa. — Estou meio gripada e...

Rosé semicerra os olhos e abre a boca para falar, mas desiste. Não é do seu feitio se meter no casamento dos outros. Jennie deve ter alguma razão para esconder isso de Irene, então, ao permanecer calada, descansa a cabeça nos ombros da esposa.

— Outra mensagem! Outra! — Irene aponta para o celular que Jennie acabou de deixar no centro da mesa, mas outro aparelho começa a tocar: o de Wendy.

Dessa vez é uma uma ligação.

— Se você não mandar esse chorume tomar no rabo eu mesmo mando! — Joy esbraveja, com a mão na barriga. — Onde já se viu...?

— Não seja tão baixa, Joy! — Jisoo se espanta.

— Ah, vai tomar no rabo você também, miss!

Jisoo arfa.

— Bem na frente da minha salad...

— Anda logo, Jennie! Pegue a porra do telefone! — Irene empurra o aparelho para a esposa, que tenta sair da mesa.

— CALEM A BOCA! — Rosé berra, um pouco descabelada.

A mesa fica silenciosa, os semblantes mudam de apreensão para estresse, mas é inegável que a noite que deveria ser de descontração e alegria, está tomando um rumo contrário. Mesmo com as bocas ainda fechadas, o toque do celular de Wendy é um incômodo lembrete da briga anterior.

Rosé respira fundo, coloca alguns fios rebeldes atrás da orelha, e tenta acalmar os ânimos.

— É só uma brincadeira idiota, não precisamos nos estressar tanto... — Enquanto termina de falar, outro beep enche a sala.

É o celular onde Jennie, Irene e as crianças aparecem na tela de fundo.

Lisa se inclina para pegar, afobada e quase derrubando as taças vazias. Jennie arregala os olhos e tenta fazer a mesma coisa, no entanto, nenhuma das duas poderiam contar que Irene estaria mais perto e, com um estender de braços, agarraria o aparelho.

As outras não possuem coragem para se intrometer no assunto. Rosé tem ideias do que pode ser, Joy e Wendy nem imaginam. Jisoo está mais perdida que cego em tiroteio, mas enche a taça com um pouco mais de vinho.

— Desbloqueie agora. — Irene pede calmamente.

— Amor, eu n-

— AGORA, JENNIE! — esbraveja. — Ou eu juro, saio por aquela porta e vai ser a última vez que você vai me ver... e ver as crianças.

Jennie engole em seco, as mãos trêmulas para digitar a senha que Lisa disse ser a do telefone. Um bolo de angústia nasce na garganta, misturado a arrependimento e confusão. O primeiro por ter essa ideia maluca da troca de celulares e o segundo por não saber o que de fato são aquelas mensagens, estava preocupada com Lisa.

Irene pega o aparelho como se fosse uma joia rara. Elas se inclinam na mesa por pura curiosidade, até Jennie quer espiar o que a mulher começa a ler em voz baixa.

Seus olhos, antes semicerrados, se arregalam.

Irene precisa se firmar no braço da cadeira. Ela fita a esposa. Aquela é a pior das traições de Jennie, não se sentiria assim nem se a visse na cama com outra mulher.

— "O tratamento medicamentoso não trouxe nenhum resultado, o câncer já atingiu a medula óssea. Temo que não há nada que possamos fazer agora. Você sentirá enjoos, náuseas, tontura e palidez, se mantenha distante de centros urbanos..."

Nem o vento ousa fazer barulho com sua brisa leve. Os corações falham, mas o silêncio não dura mais tempo que isso.

— Como você teve coragem de esconder isso de mim? Das crianças! — Irene berra, um dedo em riste no rosto de Jennie, que é arrastada por uma Rosé alarmada, tentando trazer um pouco de paz aquela sala. Joy quer se levantar para ajudar, mas Wendy firma o braço nos ombros da esposa, com medo que um provável empurrão a acerte. Irene ainda esgoela. — Você não teve nenhuma consideração com a sua própria família!

— Eu posso explicar o que está acontecendo! — A voz de Lisa é abafada e chorosa. Somente duas pessoas sabem qual é a verdadeira paciente terminal naquela sala. — Não é nada disso, Irene!

— É sim. É exatamente isso! — Jennie interrompe, recebendo um olhar confuso de Lisa, mas continua. — Você vive falando sobre família e consideração, querida, mas me acha péssima em todos os sentidos! Como mãe, como mulher... então porque está enchendo a porra do saco? Não deveria estar feliz? Olhe, eu vou morrer! — Jennie abre os braços, debochada, antes de empurrar Rosé para encarar a esposa cara a cara. — Só assim eu vou conseguir me ver livre de você.

Irene arfa, lágrimas descem pelas bochechas.

— E as crianças...

— Eu nunca quis ter crianças! — rebate Jennie. — Eu nunca quis ser mãe! Eu te disse isso há seis anos atrás, mas você não aceita ser contrariada, acha que sabe o que é melhor pra todo mundo! Foi você... — Apontou o dedo no peito da esposa. —  Quem começou o processo de adoção independente do que eu disse! Mas agora me pune por não ser a mãe perfeita para os SEUS filhos!

Jisoo bebe o vinho de uma só vez, no gargalo, Joy toma a garrafa para beber o resto. Elas se olham e, naquela fração de segundos, entendem que as coisas serão ladeira abaixo a partir dali.

Mesmo que Lisa, Wendy e Rosé estejam lutando para separar o casal, Jennie e Irene se agridem com palavras e dedos julgadores, olhares misturados a lágrima e nojo. De certo modo, é mais doloroso do que se estivessem de fato caindo no tapa.

O telefone de Wendy retorna a tocar, quase como a trilha sonora para a briga. Joy olha extraviada para o aparelho e lança um ultimato silencioso. Wendy larga Jennie para ir até o aparelho, atendendo-o.

Ao colocar na orelha, precisa tapar a saída de som com as mãos, por não conseguir ouvir nada.

— Deem uma pausa na briga, Wendy precisa mandar o chefe ir a merda! — Jisoo grita. Joy a encara chocada, a miss acaba de falar um palavrão?

Surpreendentemente, todas param de falar, até Irene e Jennie olham para Wendy. Ela saía da sala para encontrar um ambiente silencioso, mas pára ao perceber os olhos arregalados das amigas. As expectativas estão lá em cima.

— Coloque no viva voz — Joy manda.

Wendy nega com a cabeça.

— Não é necess-

Joy cruza os braços.

— Essa é a regra, quero ouvir o que ele vai falar!

— Mas...

— Arh, eu te arrumo um emprego melhor, Wendy! Que filho da puta esse cara! — Jennie passa o dorso da mão pelas bochechas a fim de secar as lágrimas. Ela senta de todo modo na cadeira.

Wendy está tremendo e amedrontada e demora um tempo até colocar o telefone no viva voz. Ela se encolhe, como se fosse ainda menor. Seu olhar está vidrado em um ponto inespecífico na mesa de jantar.

— John, depois nos falamos, é que...

Eu sei que não pode falar agora. — A voz dele é grossa e autoritária. O tipo de pessoa que não desliga nem quando precisa.

— Sim, eu realmente não pos-

Mas é sobre a gravidez — retruca ele.

Joy faz uma cara de nojo e sussurra uma pergunta: "Por que ele quer saber do nosso bebê?"

Wendy a ignora.

— Sim, Joy está bem, ela...

Joy? Eu sei, mas estou falando da sua gravidez.

Até mesmo Irene, que há segundos atrás queria matar a esposa, se apressa para agarrar a mão dela, Jennie aperta de volta.

Jisoo desmaia e Rosé está pronta para chamar a polícia caso algo dê muito errado. Tudo acontece em menos de um segundo: com Wendy parecendo um bicho se fingindo de morto e Joy inexpressiva, o sangue treinado da sua face.

O chefe acha que o silêncio é um incentivo e prossegue:

Consegui o remédio pra você tirá-lo o mais rápido possível. Sei que um bebê agora, para nós dois, não é nada vantajoso... eu sou casado e você também. Não tem efeitos colaterais, nossas esposas não vão saber...

Wendy deixa o celular cair, o baque é alto. Se antes a sala estava silenciosa, agora fica muda.

Ninguém ousa se mexer.

Joy desencadeia a primeira reação, como se fosse trazida para a realidade num puxão, ela vomita em cima do fricassê de frango de Rosé.

...

Joy corre para o banheiro, o barulho do vômito é tão alto que chega até a sala. Wendy corre atrás da esposa, mas Jisoo se tranca com Joy no banheiro e urra xingamentos para Wendy.

Jennie e Irene estão chorando, aparentemente fizeram as pazes, mas ainda sim jogam algum ressentimento no meio das lágrimas.

Rosé está sentada, os olhos vagos no fricassé de frango misturado a vômito, enquanto Lisa está no meio da sala encarando toda a bagunça. No impulso, agarra a enorme mesa de jantar e a empurra para o chão.

O som dos talheres se espatifando no chão, junto à própria mesa, tremula a sala. É o suficiente para que todas olhem para a tailandesa.

Wendy, Joy e Jisoo rompem na sala, preocupadas. Jennie, Irene e Rosé também prestam atenção. Lisa, quando percebe os olhos em si, vê que é a deixa para finalmente deixar as lágrimas escaparem.

— Vocês são mesquinhas, hipócritas, cínicas, mentirosas e infiéis... vocês são podres! — grita, exausta. — Estávamos aqui, recordando momentos que aconteceram há dez anos atrás como se tivessem sido bons! Vocês não se lembram? Ou fingem não se lembrar? De como éramos as garotas mais filhas da puta daquele colégio! Sete cobras prontas para engolir umas às outras! Os anos deveriam ter sido bons para vocês, deveriam fazê-las amadurecer, mas acabou acontecendo o contrário! — Aponta para a miss que ainda se encontra zonza. —  Jisoo, você deveria saber que ninguém quer ouvir sobre suas intermináveis histórias regadas a dollar e barras de ouro, ou de onde veio a porra da sua louça e quanto seu pai gastou para comprá-lá! Você deveria saber o quanto é linda e que não precisa de procedimento estético nenhum! Ouça a Rosé, que está do seu lado e te acha a mulher mais linda do mundo! Não há coroa que compre isso!

Respira fundo, as costelas projetam na blusa de flanela, a boca seca e a cabeça zunindo, mas prossegue:

— Jennie e Irene, suas orgulhosas ingratas. Sempre se acharam tão boas em tudo, julgavam o relacionamento fracassado dos próprios pais, professores e todos os adultos à nossa volta... agora olhem o que vocês se tornaram! Está na cara que ambas são mulheres independentes e não precisam se manter nesse casamento! O divórcio foi homologado em 64, sabia? — Quer balança-las até que entendam. — Se nós, que dividimos presença com vocês por meras horas, não aguentamos mais os olhares rancorosos, as indiretas e a mágoa, imagine as crianças vivendo isso todos os dias? Se vocês os amam, se separem!

Lisa caminha trôpega até a mesa espatifada no chão, pega uma taça trincada, ainda com um pouco de vinho, e bebe antes de continuar. Todas estão quietas, como se Lisa fosse um oráculo.

— Wendy, conte para Joy o quão podre é o seu chefe e como te obrigou a transar com ele constantemente para que recebesse essa promoção. Sei que você sonha em dar uma boa vida para sua esposa e pro bebê... agora dois bebês. Mas nenhum dinheiro do mundo vale a pena, não por esse preço... — Lisa nem acaba de dizer, Wendy já está no chão, chorando copiosamente.

Lisa chora também.

— Eu só queria ficar com vocês uma última vez! Queria que tivéssemos uma lembrança boa para eu me recordar antes de partir. Jennie está bem, eu não posso dizer o mesmo!

Ela não tem mais forças nas pernas e cai no chão. Quer dizer muito mais, quer explicar que descobriu o câncer logo depois da formatura e lutou os dez últimos anos contra, mas que ele foi mais forte. Quer morrer ali, apesar de saber que o processo será lento e doloroso. Mas, quando pensa em desistir, recebe o abraço de todas elas.

As seis a rodeiam naquele círculo de braços e choro, de compaixão e amor...

E Lisa, enfim, recebe a força que tanto precisa.

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Olá! Essa oneshot foi escrita há muito tempo e já esteve aqui, no meu perfil. Tive inspiração para escrevê-la depois de assistir o filme "Nada a esconder" tem na Netflix! Enfim, até mais :)

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