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╰┄┄꒰ A garota da capa vermelha 𝐏𝐚𝐫𝐭. 𝐈. │jenlisa

• Sinopse •

Jennie Kim morava em um vilarejo isolado e familiar, e seu apelido se dava pela grande capa vermelha que usava nos invernos rigorosos. No entanto, nas noites de lua cheia, a calma do vilarejo era ameaçada quando corpos dilacerados apareciam na vila, provocando tumulto na população local.

Mas tudo mudou de perspectiva com a chegada da forasteira, Lalisa Manoban, a famosa caçadora de lobos maus.

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Capítulo Um: Os irmãos Kim

As duas crianças corriam pela neve que cobria a floresta. A escuridão noturna era densa, como o frio que ultrapassava as capas, respectivamente, uma vermelha e uma azul.

— Jennie Kim! Kim Taehyung!

As crianças olharam para trás assim que ouviram seus nomes saindo da boca da avó. A senhorinha tinha dificuldades para andar por entre as árvores e a neve era traiçoeira, fazendo as raízes se tornarem escorregadias.

O garoto agarrou a capa vermelha da menina, puxando-a para dentro de uma moita baixa. Os cabelos negros de ambos moldavam o rosto fino e infantil. Estavam molhados pela neve derretida, caída no capuz que, por sorte, protegia os rostinhos corados pelo frio.

— Não achas que isto foi longe demais? Vovó parece preocupada... — A boca de Jennie foi tampada pelo irmão.

A luz do lampião iluminou a cabeça dos dois. A avó estava acima deles.

— Crianças, hoje é noite de lua cheia, o lobo mau está à espreita! Venham aqui agora! — ela ordenou.

A voz da senhora era um muxoxo misterioso, fazendo os pelos dos braços dos meninos se arrepiarem, mas só Jennie expressava medo, com os olhinhos fechados e as mãozinhas em uma prece rápida à medida que os passos da vovó se distanciaram. O menino, Taehyung, tinha os olhos felinos menores pelo sorriso que preenchia os dentes faltando. Ele era o mais novo, teoricamente, 5 minutos mais novo, porém o mais corajoso dos dois.

— Vamos, Jennie, é a hora de procurar o lobo! — Ele sorriu, puxando a capa vermelha da irmã.

Os dois continuaram o caminho que traçavam antes do importuno da avó. Conheciam aquela floresta como a palma das mãos, mesmo que mal tivessem seis anos de vida — e era até surpreendente que tivessem tanto senso de direção no meio do breu que tomava conta de suas vistas. A única coisa visível era a respiração esfumaçada de ambos.

— E se o lobo for realmente mau? — Jennie perguntou, segurando a barra da capa azul do irmão. — E se nos comer vivos como fez com a mamãe?

— Eu não acredito que ele comeu a mamãe — ditou Taehyung, decidido. — Vovó está caducando!

Eles pararam quando algo rápido esvoaçou suas capas, as pernas tremeram de frio com o vento que as pegou de surpresa. Jennie engoliu a fala na garganta e encarou o irmão, com os olhinhos arregalados e a boca aberta. O menino olhava para frente sem ao menos piscar, a respiração desregulada como a dela.

Jennie fechou os olhos, a fumaça fria entrando por suas narinas, queimando seus pulmões. Com o pouco de coragem que lhe restava, olhou para frente e viu o vulto preto ganhar forma. Sua visão se ajustou para diferenciar o lobo negro na escuridão. O bicho tinha a respiração rápida como a deles, a estatura tão alta que ela precisou levantar o pescoço para enxergá-lo por inteiro. Devia ter dois metros, até mais, os pelos como plumas pelo corpo grande. Porém, o que realmente prendeu a atenção das crianças foi o globo ocular vermelho.

— Que olhos grandes tu tens, lobo mau! — o garoto da capa azul disse maravilhado, se aproximando do animal.

— Taehyung! — chamou Jennie, sussurrando um xingamento. — Ele vai nos machucar!

— Se ele quisesse nos machucar já teria feito! — Os olhinhos do menino brilhavam, ele não conseguia parar de olhar o lobo. — Que boca grande tu-

As patas do lobo bateram no chão, partindo para cima deles. Rápida, Jennie puxou a capa do irmão, tirando-o do caminho, porém, era tarde demais.





12 anos depois

Vilarejo de Babino (Arredores da atual Federação Russa)

Jennie encarou consternada o pedaço de pão. Já tinha comido o seu, mas a outra parte continuava intacta em cima da mesa. Levantou os olhos, observando a avó caminhar lentamente até a cozinha. A bengala soava pelo o vestido rasgado, remendado pela milésima vez, arrastava-se pelo chão. Nunca entendeu o porquê da avó sempre costurar as melhores roupas para ela e para o irmão e continuar a andar com trapos.

A senhora olhou ao redor, sentindo falta do que Jennie sentia aquela manhã. Apenas a garota e sua capa vermelha ocupavam o cômodo.

— Onde Taehyung está? — A avó perguntou.

— Foi buscar leite. — Jennie treinou aquela resposta tantas vezes em sua cabeça que saiu desesperada demais. — As vacas do vilarejo estão mortas, ele teve de ir buscar na aldeia vizinha.

A avó a encarou por longos minutos, os olhos vagos e nebulosos fazendo-a suar frio, até voltar a bater sua bengala no chão.

— Vista a capa, ela finalmente chegou.

Um suspiro pesado preencheu a cozinha, mas Jennie não se opôs, cobriu o rosto com o capuz rubro e seguiu a senhora para a neve que cobria as árvores, do lado de fora da casa.

Ela caminhou a passos lentos para esperar a avó. A má disposição do dia se devia a muitas questões, menos à neve. Nunca, em vinte anos que viveu naquele vilarejo, houve um dia em que a neve deu trégua. A massa espessa e branca sempre esteve lá. A noite durava mais que o dia e a população continuava a mesma: amedrontada, esperando a noite em que, pela manhã, encontrariam os corpos dilacerados na floresta.

As copas das árvores deram lugar a um caminho de terra. Elas desembocaram no centro do vilarejo, composto por algumas casas de madeira gasta. A maior delas tinha uma cruz na fachada, era a única igreja do condado. Seus olhos foram até a mulher em cima do palanque, visivelmente a forasteira que todos esperavam fervorosamente.

A caçadora com ares de bruxa era conhecida por todos na vila, seus cabelos eram naturalmente ruivos —  uma novidade no meio dos comuns negros — e os boatos a cercavam como uma deusa. Ela quebrava maldições em todos os lugares que passava. Seu passado era um mistério até então, mas ninguém duvidava das suas habilidades graças aos cabelos ruivos. Eram raros, e a maioria dos seus semelhantes queimaram na fogueira anos antes.

— Vovó perguntou por mim?

Jennie se assustou, ela estava prostrada a tanto tempo no meio da multidão que ao menos notou a aproximação do garoto de capa azul.

— Estás me devendo uma — soou rabugenta. — Sabes que odeio mentir para ela.

— Mas sempre acaba por fazer, pare de se culpar — ele disse por fim.

A atenção deles voltaram ao discurso da caçadora.

— ...Há anos a maldição do lobo cerca esse vilarejo... — anunciou ela, a voz melodiosa tomando conta da manhã como a mais grave de todas. — Esse lugar é lenda nos distritos! E temo que a situação seja mais severa do que eu pensava...

Jennie prendeu a respiração, agarrando a capa do irmão. A população em volta soltava suspiros desesperançosos.

— Mas não percam a perseverança! — ela disse. As mechas rebeldes caiam como plumas na feição angelical da caçadora. Quem olhasse de primeira não levaria a crédito suas falas. Jennie esperava um homem grande, na casa dos quarenta, com cicatrizes demais no rosto e um passado perturbado, ou uma mulher corcunda, vestida de preto e com olheiras demais. Mas a caçadora era magra, talvez fosse difícil ter filhos com quadris tão pequenos. Ela não usava vestidos ou nenhum adereço feminino além dos cabelos longos presos numa trança. A bota de couro brilhava, a calça e a camisa bem passadas. —  Sou Lalisa Manoban e me comprometo a salvar esse vilarejo, nem que precise derramar o meu sangue!

—  Lalisa Manoban... —  Jennie repetiu baixinho, no meio do corpo de aleluias.

A caçadora desceu do palanque carregada pela população. Foi a deixa para os irmãos escolherem um lugar mais recluso.

— Não olhe agora, mas vovó está trazendo a caçadora para a nossa direção... O que eu disse para não olhar? — Taehyung deu um tapa estalado nos ombros de Jennie, mas era tarde demais, os olhos dela já seguiam para onde ele apontava, hipnotizados pelas orbes castanhas da caçadora.

Ela chegou até eles acompanhada da avó, centímetros mais baixa, corcunda, mas muito entusiasmada.

— Esses são meus maiores tesouros! — A avó os apresentou. — Os gêmeos, Taehyung e Jennie!

A caçadora sorriu, observando-os minuciosamente.

— Os genes da família Kim são excelentes! — disse, divertida.

— É o que dizem. — Taehyung confirmou, tirando o capuz azul para que a caçadora o visse melhor. Mas como um farol, os olhos de Lalisa só captavam a garota.

— Como fizeram para continuar vivos por tanto tempo? — A caçadora perguntou, curiosa — Lobos gostam de...

— Gêmeos, é, sabemos — respondeu Jennie. — Talvez tenhamos sorte em excesso.

— Ou o dobro de azar — a caçadora sibilou. — E é corajoso da sua parte andar por aí com uma capa vermelha.

— Oras! Quando a vovó as fez, não era sabido que lobos se atraem por vermelho. Jennie tem o dobro de sorte, não azar! — Taehyung disse alto e claro, a arrogância aparente para defender a irmã sempre que achava necessário.

— Claro! Não quis soar desrespeitosa, a capa é linda, aliás. — Lalisa meneou levemente a cabeça em despedida e se distanciou dando passos para trás, caindo na graça de outros camponeses. Simples assim, como se decidisse que aqueles meros mortais não merecessem mais a sua atenção. A avó os encarou incrédula e bateu com a bengala nas pernas de cada um.

— Crianças desrespeitosas! — E seguiu o caminho de Lalisa.

Jennie soltou um muxoxo dolorido, colocando o capuz novamente quando a garoa de flocos de neve começou a cair. A multidão se dispersou e não havia mais nada para fazer ali. Com uma decisão na ponta da língua, ela caminhou, voltaria para casa.

— O que pretende fazer? — perguntou Taehyung, seguindo-a. Ele corria para acompanhar os passos largos da irmã.

— Por que eu estaria pretendendo fazer algo? — Jennie retrucou.

— Ande! — Taehyung insistiu. — Conte logo que está interessada na caçadora!

Jennie parou abruptamente, com os olhos arregalados encarando o irmão, porém, Taehyung não se importava. Ele estampou um sorriso quadrado no rosto.

— Ela despertou seu interesse também? — Jennie perguntou.

— Claro que sim, mas eu não teria chances nem se quisesse. — Ele cruzou os braços, irônico. — Estava mais do que óbvio o interesse dela em ti. Parecia te comer com os olhos.

Jennie sorriu, a expressão raivosa deu lugar a uma perversa ao se aproximar do irmão, fitando os lados antes de sussurrar:

— Gostaria que ela fizesse no sentido literal.

Taehyung segurou um riso.

Não era novidade que os gêmeos possuíam segredos. Todos do pequeno vilarejo lembravam-se de alguma história para contar sobre aqueles dois pestinhas. Como da vez em que Taehyung levou para o mal caminho o filho do padeiro, e de Jennie, que não se casou quando a maioria das garotas da sua idade já estavam parindo. Eles eram vistos com maus olhos, as capas chamavam atenção e suas atitudes promíscuas também.

O garoto puxou os ombros de Jennie para sussurrar em seu ouvido.

— Tens sorte que estou lhe devendo uma, irmã. Ela vai estar na taverna essa noite, terminando os preparativos para a caçada... vá, eu invento uma boa desculpa para contar à vovó.

Jennie sorriu, estendendo a mão para Taehyung segurar, e assim, continuaram o caminho pela floresta.





(...)





A noite desceu horas depois, rápida e densa. Como o sol raramente dava suas caras, a escuridão tomava conta num piscar de olhos, o frio se tornava mil vezes pior. Jennie nunca se acostumou com isso de fato, seus lábios viviam rachados e uma vermelhidão característica não saia de suas bochechas. Ela trilhava aquele atalho na floresta com as roupas mais quentes e a inseparável capa vermelha. Lalisa tinha que valer a pena.

Os lampiões acesos a indicaram que havia chegado à praça. Poucas pessoas estavam fora do aconchego de suas casas. A noite trazia medo a todos, mas Jennie não era um deles.

Ela seguiu o alvoroço de vozes até a taberna, a luz amarela vinda das velas iluminava os homens que ali estavam, com suas canecas em prontidão e um porco assando numa fogueira improvisada. Um arrependimento tomou conta do peito de Jennie no momento em que não enxergou Lalisa no meio deles. A angústia ficou presa na garganta e os olhos se tornaram inquietos, até notar uma única sombra fora da taberna. A caçadora deveria estar hospedada nos fundos daquele bar, era o único lugar possível em todo o vilarejo.

Jennie passou rapidamente pela bagunça. Era tentador não ficar ali, ao redor da fogueira.

Assim que passou pela porta dos fundos, o frio a tomou novamente. Jennie parou a poucos metros da caçadora, sentada em um tronco de árvore. Seus cabelos estavam em um vermelho vivo, contrastavam com o branco da neve e a escuridão da noite.

— Eles mataram um porco para ti... — Jennie disse, alto o suficiente para que sua voz ultrapassasse a distância entre elas. — Fizeram uma fogueira e trouxeram cevada da aldeia vizinha. Preferes ficar aqui, no frio?

Jennie caminhou a passos curtos até parar ao lado da caçadora. Lalisa não se virou, mas não se opôs. O silêncio foi preenchido pelo barulho da taberna e, mais a vista, a mata era magnífica e silenciosa.

Lalisa suspirou, fitando o horizonte.

— O erro destes homens é encher o bucho de carne, a cara de cerveja e pegar suas lâminas cegas para ir atrás de um lobo que irá estraçalha-los em segundos. Eu estarei viva amanhã. — Ela riu, sem graça. — Não posso dizer o mesmo sobre eles.

Jennie se sentou ao lado da caçadora.

— Achas que conseguirá pegá-lo?

Lisa se virou para Jennie, com o cenho franzido.

— O que te faz pensar que o lobo é um homem?

— Eu... — Jennie molhou os lábios secos com saliva. — Na verdade, nunca pensei em outra possibilidade.

Lalisa riu. Toda a pose glamorosa da caçadora foi embora com o dia, as olheiras eram visíveis mesmo com a escuridão da noite. Os cabelos estavam bagunçados, um amontoado de fios cor de fogo molhados pela neve. Ela não parecia estar agasalhada o suficiente para aquele frio, mas também não parecia se importar.

— Eu também era gêmea. — A voz dela soou inaudível. — "Nascemos juntos e morreremos juntos" era o que dizíamos.

— É um ditado particularmente extremo para mim. — Jennie riu.

Lalisa a acompanhou, maneando a cabeça em concordância.

— Realmente, mas imagino que não consegue viver sem ele, sem seu irmão. — A caçadora adotou um certo ressentimento na última palavra. Jennie resolveu não se importar tanto. Poderia ficar horas pensando nas variáveis de cada palavra que saía dos lábios da caçadora.

— Faltaria uma parte importante de mim se ele fosse embora. Seria como tentar andar sem as pernas. — respondeu.

Lisa levantou as sobrancelhas.

— Eu também pensava desse modo. — O semblante dela se tornou mais terno, quase nostálgico. — Ainda me lembro da sensação de fechar os olhos e saber que, quando eu os abrisse, ele estaria na minha frente, com o rosto salpicado de suor, escorrendo pelas bochechas... o chão rachado, quente... — Ela riu. — Queimávamos a sola dos pés, mas não ligávamos o suficiente para parar de correr.

Lalisa estampava uma expressão serena enquanto dizia, os olhos estavam longes, como se lembrasse de uma boa memória. Jennie sentiu-se culpada, pois a única coisa que se passava pela sua cabeça era em como ela estava linda de perfil. O frio não era mais incômodo, nada era incômodo com a caçadora ali.

— Mas o nosso vilarejo também foi amaldiçoado. Primeiro os animais foram encontrados mortos, dilacerados pelos pastos... depois os aldeões, um por um, espalhados pelas lavouras... — A voz de Lalisa falhou.

Se Jennie não estivesse encarando-a, poderia jurar que ela chorava.

— O lobo o matou? — A pergunta saiu antes que pudesse segurar. Os olhos estavam arregalados de curiosidade, o corpo totalmente inclinado em direção a Lalisa.

A caçadora riu, uma risada sem humor que não alcançou os olhos.

— Ele era o lobo.

O ar sumiu dos pulmões de Jennie, ela demorou a processar a informação, sua mente girava, a respiração se tornou desregulada. Abriu e fechou a boca, mas as palavras sumiram, se tornaram tolas demais para serem ditas.

— Eu o matei, caso queira saber... — disse a caçadora simplista. — Ele nunca esperava que eu o fizesse, Foi relativamente fácil.

Jennie não conseguiu encará-lá, seus olhos foram até as mãos, segurando forte a barra da capa vermelha.

— Se importaria se eu partisse agora? — Ela se levantou, quase caindo no processo.

— De jeito nenhum. — A caçadora respondeu, firme. — Porém, não era a minha intenção te afugentar... podemos conversar sobre outra coisa.

Jennie fechou os olhos e tentou colocar os pensamentos em ordem, mas falhou ao encarar Lalisa. A noite deixou os traços da caçadora mais suaves e sensuais. Era uma tentação ir embora, mas deveria, Jennie deveria ir embora, deveria ter feito tantas outras coisas que não fez...

— Quer tanto que eu fique assim? — Encarou as orbes de Lalisa, brilhantes no escuro. Não havia qualquer vacilo em seu olhar.

— A caçada é solitária — ela respondeu. — Não me entenda mal, mas não é sempre que encontro alguém tão interessante como você.

Jennie mordeu os lábios quando um sorriso ameaçou aparecer. Assemelhava-se a uma criança, dando tudo a perder por um doce.

— Mostre-me onde quer que eu fique, caçadora — pediu.





(...)





Jennie sentiu a capa cair aos seus pés.  Não estar mais protegida por ela trazia um alvoroço na boca do estômago, mas não era por isso que estava inquieta. O corpo de Lalisa estava colado no seu, as sombras e luzes da lareira tocando o rosto límpido, deixando-o com um ar misterioso.

A caçadora estampou um sorriso curto nos lábios, a respiração quente junto a sua, e, ao mesmo tempo, as mãos calejadas descendo pelo seu corpo. O quarto em que Lalisa estava hospedada, aos fundos da taberna, era pequeno e aconchegante. Uma cama de madeira de dossel ocupava boa parte do cômodo e uma estante feita de boldo foi posta ao lado. Atrás delas, a lareira crepitava, esquentando cada canto do quarto, formando sombras reluzentes pelo rosto de Lalisa.

Jennie segurou um suspiro, as mãos da caçadora trilhavam um caminho tortuoso para debaixo do seu vestido, entre suas coxas molhadas.

— Você já fez isso antes? — perguntou Lalisa, enquanto desabotoava a parte de cima do seu vestido.

— O que você quer que eu responda?

A caçadora mordeu os lábios.

— Deixe-me continuar acreditando na sua inocência, menina —  sorriu, livrando Jennie do vestido.

A caçadora se ajoelhou, como se Jennie fosse uma divindade, como se estivesse esperando isso por toda a sua vida. Lalisa parecia arte, seus lábios grossos e melados, seu rosto oval, os traços finos sombreados pelo fogo. Os cabelos molhados de neve, quentes e suados. Ela não tinha pressa, observava cada parte de Jennie, afundando os dedos na carne quente, causando um misto de sensações e tremeliques sucessivos.

Jennie recuou até as costas baterem na parede. O barro frio a fez segurar um gemido na garganta. Lalisa ainda estava aos seus pés, os dedos tocando-a delicadamente.

O suor descia pela testa de Jennie, era uma novidade gostosa. Ela não costumava transpirar, o frio não permitia tanto. Mas ali, seus poros estavam dilatados e não demorou para Lalisa adentrar com os dedos. Eram experientes e faziam um movimento contínuo, a língua se destacava para fora da boca, molhada e vermelha. Ela lambia com destreza, tão lentamente que era insuportável para Jennie. Nunca sentiu tanto tesão antes, Lalisa brincava com a sua sanidade.

Era diferente do que imaginou que seria, ela deveria ter magia no sangue, talvez os boatos fossem certeiros.

Um gemido alto e longo saiu dos seus lábios, profundo e necessitado, e suas unhas foram até a parede, quebrando e sangrando pela força que as fincava no barro. A boca de Lalisa era quente, todo o corpo dela estava quente. Pensou em agarrar os cabelos cor de fogo, ainda mais claros pela iluminação do quarto, mas se conteve, não queria bagunçá-los, não queria tomar a frente daquele ato. Apenas colocou uma das pernas em cima do ombro dela, dando-lhe mais acesso.

Lalisa parou de chupá-la de supetão, com um fio de saliva ligando as duas.

— Sei que estás gostando, mas se não gemer mais baixo, terei que interceder — avisou ela. A madrugada adentrava e ainda havia homens no bar. Eles não poderiam ouvir o que acontecia dentro daquelas paredes.

Jennie balançou a cabeça afirmativamente, arfando, observando Lalisa voltar ao ato. Nunca pensou que ela se importaria com o seu prazer daquela forma. A maioria dos homens com quem ficou estavam preocupados apenas em como a foderiam. Não esperavam que ela gozasse, levantavam as calças e iam embora. No entanto, a caçadora era uma surpresa bem vinda. A língua imitava um movimento de vai e vem. Jennie suava, gemia, passava as mãos machucadas pelos cabelos. No momento em que Lalisa parou, encarando-a com os olhos analíticos, era visível que se deliciava com aquela visão, de como a fez perder as estribeiras.

A caçadora se levantou, limpando a boca com a palma da mão.

— Acabou? — Jennie perguntou a um gemido. Se elas terminassem ali seria o suficiente, seria mais do que recebeu a vida toda, mas Lalisa se limitou a rir.

— Nós nem começamos.

Jennie foi conduzida até à cama. Lalisa desabotoou a camisa. Os seios eram pequenos e pontudos, a pele macia e aveludada, levemente dourada pela luz bruxuleante do fogo. Jennie tocou a borda da calça dela, desafivelando o cinto com rapidez, mas Lalisa a interrompeu.

A caçadora gostava das coisas do seu modo, caçava com o corpo e sabia usá-lo com destreza. Jennie descobriu, naquela noite, que estar à mercê das vontades de Lalisa era ser, de alguma forma, sua caça.


(...)


A população estava em peso nas ruas, a lua aparecia singela no céu, causando discórdia a quem visse.

Era noite de lua cheia.

Jennie se aconchegou na sua capa, vendo os cabelos rubros de Lalisa destacando-se na multidão. A caçadora virou-se, encarando-a no meio das pessoas apressadas.

— Jennie! — Ela maneou a cabeça, em um cumprimento singelo. — Está linda, como sempre.

— Estou com a minha aparência de sempre — Jennie respondeu, divertida, acariciando os ombros da caçadora num ato de boa sorte, como colegas de costura deveriam soar.

— Por isso mesmo digo que está linda — continuou Lalisa, a voz mais baixa que antes. — Quero que fique na igreja junto aos outros, entendido?

Lalisa apontou para a construção maior, já amontoada de pessoas. O lobo não conseguia pisar em solo sagrado. Aquele lugar era o mais seguro de toda a aldeia.

— Não sou muito boa em cumprir regras, caçadora — Jennie sorriu, caminhando para a floresta, mas não conseguiu dar um passo antes de ter as mãos firmes de Lalisa em seu braço. Quando a encarou, o ar romântico havia desaparecido.

— Jennie Kim, isso não é uma regra, é uma ordem — ditou ela. — Sabes que o lobo não estará na sua melhor fase hoje.

— O que quer dizer com isso? — retrucou, devolvendo-lhe o olhar.

Os passos familiares chegaram mais rápido. Jennie reconheceria os passos Taehyung a milhas de distância.

— Está tudo bem aqui, irmã? — ele parou entre as duas. A pergunta foi dirigida para Jennie, mas os olhos fitavam Lalisa.

— Claro que está. — A caçadora respondeu, com um sorriso forçado nos lábios. — Instrui Jennie a tomar cuidado durante a lua cheia. Sabemos como certos perigos estão mais perto do que esperamos.

— Concordo totalmente! — Taehyung sorriu com o mesmo ânimo de Lalisa. As mãos foram até a capa de Jennie, puxando-a para longe da caçadora. — Foi bom vê-la, mas precisamos ir. — Ele se virou para a irmã. — Vovó está desaparecida.

Jennie piscou algumas vezes, processando a informação.

— Era o responsável por cuidar dela esta noite  — sussurrou entre dentes.

— Eu sei das minhas responsabilidades — respondeu ele, ríspido — Preferes continuar com a caçadora ou me ajudar a procurá-la?

— Jennie pode decidir isso sozinha, como ela disse, a responsabilidade era vossa — retrucou Lalisa, com os olhos brilhando em desafio. Os dois tomaram aquele embate como algo pessoal, ao menos piscavam, numa disputa muda.

— Eu vou ajudá-lo — decretou Jennie. — E prometo ficar segura dentro da igreja. — Encarou Lalisa com um pesar.

A caçadora soltou um suspiro decepcionado, como se esperasse mais. Esperava mais o quê? Que traísse seu próprio irmão?

Jennie deu as mãos a um Taehyung vitorioso e caminhou com ele para dentro da floresta.





(...)





A tempestade de neve aumentou assim que a noite caiu, era impossível ver algo nitidamente. As botas de Jennie começavam a afundar na camada branca que tomava conta da floresta. Ela olhou para o alto, observando os flocos de neve ininterruptos tornando tudo ainda mais difícil.

—  Taehyung! — gritou, observando a capa azul parar. Ele estava distante e virou o rosto, mas ela não enxergava a expressão dele. — Não conseguiremos encontrá-la! Ao menos sabemos o caminho de volta para a casa!

Taehyung foi até a irmã a passos rápidos, curvando-se para ficarem na mesma altura.

— A culpa é dela! Da caçadora! — A voz dele soou alta, assustando-a momentaneamente. — Nunca ficamos perdidos na floresta antes, Jennie! Ela lançou alguma magia em ti, lançou enquanto enfiava a lin...

— Não ouse terminar! — gritou, tirando a mão dele da sua capa. — O que mais irá dizer? Que ela criou essa tempestade de neve?!

— Sabes dos boatos!

— Por céus, Taehyung! Está deixando o medo tomá-lo! — Segurou o rosto dele com as mãos, frios como gelo. — Confie em mim, irmão. Nada vai lhe acontecer.

Encarou o fundo dos olhos felinos do garoto, iguais aos seus, e tentou passar o máximo de confiança para ele.

— Eu sei de um atalho para a casa da vovó — acrescentou. — Esconda-se, eu vou atrás dela.

Jennie deu passos vacilantes para trás, avançando com dificuldade no meio da neve. Deixou o irmão parado no mesmo lugar que estava, mas antes de perdê-lo de vista, se virou.

Ela enxergou apenas a capa azul contrastando no branco. Respirou fundo, lembrando-se da cantiga que entoavam em noites como aquela. Era tosca, infantil e se sentia uma criança medrosa dizendo-a em voz alta.

Pela estrada afora, eu vou bem sozinha... — cantarolou, segurando o choro. — Ela mora longe e o caminho é deserto...

Poucos segundos depois, ouviu Taehyung completar:

E o lobo mau passeia aqui por perto...

Pôde senti-lo sorrir, aquele sorriso cruel e insano.

Os pelos de Jennie se eriçaram, transformando-a no lobo de pelagem clara e olhos vermelhos.





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Proxima e ultima att sábado que vem :)

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