𖤍𖡼↷ 𝐓𝐖𝐄𝐋𝐕𝐄
VIOLINO
Depois de tudo o que tinha acontecido na U.A, da invasão dos vilões e de alguns alunos terem saído machucados naquela história (bem, nem todos tão ruins quanto Midoriya, mas machucados ainda assim), tivemos dois dias em casa para tentar "superar o trauma". Como se isso fosse super ser possível! Eu sequer conseguia fechar os olhos e esquecer do que tinha rolado naquele dia. Sendo honesta, não conseguia parar de pensar naquele vilão de cabelo azul que sabia exatamente quem eu era. Aquilo estava tirando o meu sono, e parecia que minha mente ia acabar explodindo enquanto eu pensava no que tudo aquilo queria dizer.
Eu batia de forma inquieta o lápis no caderno onde possuía milhares de anotações desconexas enquanto eu tentava desvendar aquele mistério. Mas eu não conseguia confiar nem na minha própria mente. Ao mesmo tempo que sentia uma espécie estranha de sentimento toda vez que lembrava daquele vilão que sabia quem eu era, eu também não conseguia confiar em mim mesma. Minha mente era uma verdadeira confusão, e toda vez que eu tentava a forçar a se lembrar de algo que claramente não estava lá, de uma forma eu acabava sendo bloqueada. E aquele tipo de manipulação...
Não. Eu não podia acreditar que ela faria aquilo comigo, não tinha sentido! Por pior que fosse a situação e mesmo que fosse o pior tipo de pessoa existente na face da Terra, minha mãe não brincaria com minha mente dessa forma. Certo? O que fazia sentido era eu ter o esquecido por algum tipo de trauma, isso explicaria muita coisa. Quer dizer, o cara é um vilão! Provavelmente me deixou sim com algum tipo de ferida que minha mente tentava a todo custo bloquear, mas eu precisava de respostas. Pedir para minha mãe tentar usar a sua manipulação mental comigo para desbloquear essa memórias estava totalmente fora de questão. Eu preferia a morte a deixar ela brincar comigo dessa forma; o que restava, era talvez pedir ajuda de Poppy, mas não sei se ela se sentiria confortável o suficiente com isso.
Frustrada, atirei o caderno contra a parede e me joguei pra trás, girando na cadeira de rodinhas. Era como um enigma maldito que eu não conseguia decifrar, e estava começando a ficar verdadeiramente irritada. Se eu soubesse quem aquele vilão era, talvez eu pudesse ajudar os heróis profissionais a terem mais informações sobre aqueles que ficaram conhecidos como Liga dos Vilões.
Meu celular piscou e mensagens novas chegaram. Maldito fosse Iida com sua ideia de criar um grupo da sala para passar comunicados, agora Kirishima tinha meu contato e não parava um segundo sequer de me mandar mais e mais mensagens perguntando se eu estava bem. Eu não falava com ele desde o dia que dormi em sua casa, o evitando a todo e qualquer custo. Talvez isso fizesse de mim uma pessoa péssima, mas eu não conseguia evitar; eu sabia que o melhor para ele era ficar longe de todo o caos e problema que eu era, e se eu precisasse ser uma cuzona para o preservar, bem, eu o faria.
O que me magoava profundamente era ver Kirishima incapaz de desistir de tentar algum contato comigo. A determinação dele, no começo, apenas me irritava. Agora fazia eu me sentir péssima por estar claramente fazendo de tudo para o manter bem longe da minha vida, pelo menos o mais longe que eu conseguir. Eu sei que é injusto, mas eu já tenho problemas demais e sou problemática demais, tudo o que menos quero é que Kirishima acabe sofrendo no processo porque caiu no erro de tentar ser meu amigo. Ele definitvamente merecia coisa muito melhor do que eu podia oferecer para ele, e esse curto tempo que passamos juntos já foi o suficiente para fazer eu me dar conta que seria muito fácil amar ele, pois Kirishima era uma pessoa boa. E apesar de todos os meus esforços para sequer gostar dele como pessoa, não tinham válido de absolutamente nada.
Eu estava um pouco estressada, mas ainda assim puxei o meu violino que estava escondido embaixo da minha cama fazia muito, muito tempo. Meus pais odiavam todas as vezes que eu parava para tocar, e eu nem mesmo sabia então o motivo para eles terem insistido tanto naquelas aulas. Mas eu não podia me importar menos naquele momento, quando o arco entrou em contato com as cordas e a melodia preencheu todo o quarto. Fiz uma careta e comecei a afinar o violino para não continuar a destruir meus ouvidos com aquele som.
Fechei os olhos quando toquei as primeiras notas de Lover, deixando o som preencher o quarto e meu coração falar por mim mesma pela primeira vez em muito, muito tempo. Deixei todos os problemas de lado, focando inteiramente naquela música. Desejando imensamente que tudo fosse tão fácil quanto tocar violino e deixar que a música falasse tudo o que eu sentia mas me recusava a aceitar.
Fazia muito tempo que eu não tocava com tanta dedicação e afinco, como se tivesse saído do fundo da minha alma. Eu poderia ter passado toda a eternidade tocando aquela música, mas claro que, assim como tudo chega ao fim, ela também chegou. E eu ainda não estava me sentindo nem um pouco satisfeito, na verdade, eu só me sentia mais e mais melancólica, um sentimento horrível e que corroia completamente a alma.
E eu estava certamente pensando em que música triste eu tocaria a seguir para me afundar no meu poço de autodepreciação quando escutei batidas suaves na minha porta, o que me fez gelar completamente por um instante. A única pessoa que estava em casa era minha mãe, e ela certamente era do tipo que odiava quando eu fazia qualquer barulho que fosse. Ela provavelmente estava aparecendo ali para brigar comigo, e, sendo honesta, eu não estava exatamente no clima para isso. Tudo bem que depois da nossa última briga algo pareceu mudar nos meus pais, mas não vou me iludir com a ideia de que eles podem se tornar boas pessoas, não quando eles foram péssimos para mim durante quinze anos.
-Não tô afim, me deixa em paz. - falei, voltando a colocar o arco sobre as cordas e começando uma nova música. Toquei só a primeira nota de Dandelions quando me dei conta que a pessoa atrás da porta do meu quarto não era exatamente minha mãe.
-Não sei se você sabe que sou eu e tá me mandando embora ou só não é um bom momento. - tomei um susto escutando a voz de Kirishima e meu violino quase caiu nos meus pés. Meus olhos se arregalaram por um instante e eu me atrapalhei um pouco enquanto colocava o violino na escrivaninha e me aproximava da porta do quarto.
Hesitei antes que minhas mãos chegassem até a maçaneta. Por que Kirishima estava ali? E o que eu diria a ele, afinal?
Engoli em seco e fechei os olhos por um instante, apoiando a testa contra a madeira da porta e sentindo meus olhos arderem. Aquilo era injusto pra caramba! Ele estava ali, e eu tinha que o mandar embora. O que era só muito, muito cruel...
-Se não é um bom momento, tudo bem! Sua mãe disse que eu podia subir, eu só queria saber se você estava bem depois do que aconteceu, e como você não me respondia, eu decidi vir aqui, eu fiquei preocupado! - Kirishima falou tudo de uma vez, parecendo ansioso e nervoso, o que claramente era culpa minha e a forma como eu o tratava, e me dar conta disso só serviu para fazer eu me sentir um lixo de ser humano. Que dizer, eu tinha feito uma das pessoas mais seguras de si ficar ansiosa! Eu era mesmo uma pessoa péssima que merecia morrer sozinha, sinceramente!
Acho que foi pensando no quão injusto e mesquinha eu estava sendo que resolvi abrir a porta para Kirishima antes que ele fosse embora. O afastar era algo que eu estava fazendo pensando só em mim mesma, se fosse ser honesta; eu coloquei na cabeça que era o melhor para ele, mas nunca de fato parei para considerar o que Kirishima queria de verdade. E apesar de todos os meus medos, toda a minha vontade de fugir e me esconder, ver Kirishima parado ali na minha frente, seus olhos vermelhos repletos de uma preocupação genuína que jamais alguém teve por mim, fez tudo desaparecer por um instante.
Fitei os olhos de Kirishima, sem saber exatamente o que eu deveria dizer. Nunca tinha notado o quanto eles eram bonitos, um vermelho marcante e vibrante, que parecia capaz de perfurar minha alma. Parecia que todas as palavras tinham sido completamente sugadas de mim, e tudo o que eu era capaz de fazer era encarar minha alma gêmea sem saber o que dizer e sabendo que jamais poderia dar a ele algo além daquele caos todo que eu era. E me dar conta que jamais seria o suficiente para alguém apenas servia para me fazer perder um pouquinho mais de mim mesma.
-Oi. - foi tudo o que consegui dizer, sentindo minha voz rasgar na minha garganta enquanto abria um pouco mais de espaço para Kirishima entrar no meu quarto, o que ele não hesitou antes de o fazer, entendendo que era um convite. Seria apenas babaca da minha parte me negar a aceitar ele no meu quarto quando Kirishima já tinha aberto mão da própria cama só para eu me sentir confortável, e apesar da vergonha de o deixar entrar em um lugar que era tão Aoi, não parecia certo o deixar plantado na porta e o mandar embora o mais rápido possível.
Kirishima nem fez questão de esconder que estava analisando meu quarto, o que só fez eu começar a me arrepender e ter vontade de o chutar para fora. Como eu ia continuar com minha pose de gente ruim se meu quarto parecia ter sido vomitado por um unicórnio? Sim, eu estava ciente que tudo ali era rosa demais, mas o que eu podia fazer, afinal? Minha individualidade era a porra do amor! Era como se eu estivesse destinada a conviver com o rosa para toda a eternidade, e quer saber? Se eu fosse ser honesta mesmo, rosa era minha cor favorita. Nenhuma surpresa a parede atrás da minha cama ser rosa bebê com glitter e ter luz de led rosa na minha estante de livros, e os milhares de ursinhos cor de rosa, os cadernos rosa e as cadeiras serem rosa. Bom, pelo menos boa parte dos móveis eram brancos! Isso já era alguma coisa.
-Você não pode me julgar quando seu quarto parece ter saído de uma academia. - falei antes mesmo que Kirishima pudesse abrir a boca, e isso apenas o fez dar risada enquanto parava de analisar meu quarto e se virava para me analisar. Eu soltei um suspiro dramático. -Eu estou bem, Kirishima. Não precisa me olhar com essa cara.
-Eu não disse nada! - ele protestou, mas apenas arqueei uma sobrancelha para ele e voltei a me sentar na cadeira de rodinhas, indicando com a cabeça para ele se sentar na minha cama, o que ele o fez um tanto sem graça.
-Eu sou empática, literalmente consigo sentir seus sentimentos. Você está preocupado, e não é só minha individualidade me dizendo isso, mas tem isso aqui também. - falei, mostrando a ele as milhares de mensagens que Kirishima tinha me mandado. Ele apenas me encarou, e pensei que talvez ele fosse brigar comigo por eu não o ter respondido, apesar de claramente ter visto suas mensagens, mas Kirishima não fez nada disso.
-Você é empática? Isso é muito legal! - Kirishima disse de uma forma tão sincera e animada que me fez piscar os olhos, surpresa. Como sempre, ele me pegava totalmente desprevenida. -Parece que tem sempre algo novo sobre sua individualidade e sobre você que eu não sei.
Sei que Kirishima falou isso sem querer e percebi isso pelo fato de suas bochechas terem ficado absurdamente vermelhas. Mas eu apenas dei risada, permitindo deixar uma parte daquela armadura envolta de mim desaparecer por um tempo.
Kirishima continuou a percorrer meu quarto com os olhos até eles pousarem no violino logo atrás de mim. Eu sabia que ele queria muito perguntar, mas parecia não querer invadir meu espaço pessoal, e aquilo também me divertiu.
-Vá em frente, pode perguntar. - zombei. Kirishima apenas me encarou.
-Eu escutei você tocando. Você faz isso muito bem, Aoi. - esse elogio me pegou tão de surpresa que senti minhas bochechas pegarem fogo. Não estava acostumada a receber elogios; estava acostuma as críticas e as pessoas deixando claro que eu era um lixo e inútil. Ver Kirishima dizer aquilo com tanta sinceridade fez eu me perder por um instante, sem saber como reagir.
Deixei meus dedos deslizarem pela parte de cima do violino até criar coragem de o pegar em minhas mãos. Não consegui olhar para Kirishima, sentindo minhas bochechas pegarem fogo só com a ideia do que eu perguntaria para ele naquele momento.
-Você é a primeira e única pessoa que me diz isso. E também vai ser a primeira e única pessoa com direito de escutar de novo. - murmurei, sem saber se ele tinha escutado ou não. Mas também não dei chance a Kirishima de responder algo antes de voltar a tocar o violino, onde eu tinha parado, fingindo que Kirishima não estava ali me olhando com uma admiração que rasgava minha alma.
E a cada dia que se passava, a cada segundo que passava ao lado dele, eu percebia o quanto seria difícil afastar Kirishima completamente da minha vida. E maldito fosse o akai ito por me comprovar que, de fato, não tinha como fugir do inevitável.
Data: 19/04/23
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