𖤍𖡼↷ 𝐓𝐇𝐈𝐑𝐓𝐘 𝐓𝐖𝐎
DORMITÓRIO
Descobrir quem era minha família verdadeira foi algo que mudou pra valer a minha vida. Apesar de toda a felicidade que senti ao saber que Violet e Florence eram minhas irmãs, de descobrir quem era meu pai de verdade e poder o abraçar e ver que ele ainda se lembrava de mim apesar da doença, e escutar histórias sobre nossa mãe, eu também me sentia péssima por um lado. Foram onze anos que me tiraram de pessoas que jamais tinham deixado de me amar, onze anos que passei sendo usada e maltratada por gente que me odiava. Durante anos eu só desejei descobrir o motivo para minha mãe me odiar, mas aí estava a verdade, mais clara do que nunca. Ela nunca tinha sido minha mãe e eu não tinha passado de uma forma de enriquecer para ela.
Isso me fez ter pesadelos pelos dias que se seguiram depois da descoberta. Mesmo com Violet insistindo em dormir comigo quando me escutava gritar de madrugada, eu ainda assim não conseguia me livrar dos pesadelos. Principalmente dos pesadelos onde eu era sequestrada mais uma vez, me fazendo perceber o quanto aquilo tinha me abalado psicologicamente. Apesar de ter Violet e Aizawa comigo e cuidando de mim e isso amenizar boa parte do meu sofrimento, eu também sabia que precisava de ajuda. Não dava mais para fugir disso.
Meu dia não estava exatamente bom enquanto eu terminava de guardar minhas coisas em silêncio. Quando eu finalmente tinha conseguido deixar o quarto com minha cara, eu iria ter que me mudar para os dormitórios da U.A. Quando finalmente encontro minha família de verdade e me livro do sobrenome que eu odiava, me tornando quem eu sempre deveria ter sido, Aoi Yamazaki, eu teria que ficar em período integral na U.A. E só para deixar meu dia ainda mais infernal, tinha a notícia de que o fato de Violet ter respondido com agressão no dia do hospital podia afetar de forma negativa o processo para eles terem minha guarda definitiva, mesmo tivesse sido comprovado que ela era minha irmã biológica.
Tentei não pensar em nada disso ou no como o fato de Aizawa ter me levado para U.A no sábado logo no momento em que Violet estava com nosso pai no hospital me deixava irritada. Eu já podia até ter me despedido deles, mas queria ter tido pelo menos uns minutos a mais. Talevz Violet conseguisse convencer Aizawa de que aquela ideia era horrível! Que eu podia muito bem morar ali com eles! Droga!
Eu fiquei o caminho toda emburrada, me recusando a falar com Aizawa. Péssimo pai, isso sim. Podia pelo menos ceder uma vez na vida, mas não! Ele dizia que eu não devia ficar tão mimada porque senão ia me colocar na rua, eu achava isso um absurdo! Ok, eu sabia que veria Violet no próximo final de semana e passaria boa parte dos meus dias com Florence já que ela também tinha vindo morar na U.A. Mas o que eu podia fazer se até que gostava de um drama?
Quando chegamos na porta do alojamento da U.A, fui pega de surpresa ao ver Kirishima sentado nas escadas que levavam a entrada, esperando. Ele deu um pulo assim que nos viu e abriu um imenso sorriso. Eu apenas olhei de soslaio para Aizawa, sabendo muito bem o motivo de Kirishima estar ali. Se ele achava que ter pedido pra Kirishima me receber ia subitamente me fazer ficar menos insuportável e rabugenta ele estava profundamente certo. Droga! Como eu tinha deixado meu ponto fraco tão óbvio assim e logo pra Aizawa? Minha vida iria virar um verdadeiro inferno.
-Ei. - falei com um suspiro quando me aproximei de Kirishima e ele me deu um sorriso tão sincero, exibindo aqueles dentes afiados, que eu nem mesmo tive coragem de reclamar do como odiava aquela ideia. Maldito Kirishima e o efeito desgraçado que tinha sobre mim! Ainda mais quando o cabelo dele estava baixo, como naquele exato momento, fazendo Kirishima ficar ainda mais bonito. -Você tá bem?
-Eu que deveria te perguntar isso. - ele falou me olhando em busca de algo fora do lugar, o que me fez rir baixinho. Eu poderia facilmente o beijar agora, mas também tinha Aizawa observando cada mísero e maldito movimento meu.
-Vocês dois. - ele chamou, quase como se tivesse lendo meus pensamentos. Não sei quem ficou mais em choque, eu ou Kirishima. Com a mesma expressão de fudeu. -Tenho um único comunicado pra vocês. - Aizawa estava bem calmo enquanto nos fitava, com as mãos nos bolsos da calça e não parecendo prestes a dizer algo importante. Mas achar que ele não jogaria uma bomba em nós era ser muito inocente mesmo. -Se por acaso eu pegar um de vocês no quarto do outro de porta fechada, Aoi vai ser transferida pra turma B sem nem chances de argumentar.
Comecei a surtar.
-Ah, não! Pra turma do Monoma não! - eu disse indignada e Kirishima fez uma careta. -Por que fazer isso comigo?!
-Você que é a minha filha, logo posso dar as regras que eu bem entender. Então você quem vai pra turma B e nem adianta reclamar. É só seguir as regras, Aoi. Entendido? - ele lançou um olhar cortante pra Kirishima que fez o de cabelo vermelho fazer uma cara de choro e angústia que até teria me feito rir se eu não tivesse prestes a surtar também. -Isso era tudo. Vocês podem entrar agora, eu vou ir conversar com o diretor sobre as aulas de semana que vem. Kirishima, você pode mostrar o quarto da Aoi pra ela. Só se lembre da regra.
-Sim, senhor. - Kirishima disse como se fosse seguir aquela regra estúpida com afinco, e era aquilo que mais me dava vontade de chorar.
Resmungando, deixei Kirishima pegar minhas coisas, que não eram muitas, e o segui para dentro.
O dormitório era realmente muito grande e bem bonito. Eu podia escutar barulho de conversa vindo do espaço de convivência, o que me fez sorrir de leve. Nem tinha me dado conta do como tinha sentido saudades de todos já que apenas poucas pessoas foram autorizadas a irem me visitar no hospital.
-Aoi! - tomei um susto quando escutei a voz de Poppy e me virei para ver ela disparar na minha direção. Se eu não tivesse me firmado com força no chão, teria caído quando ela se jogou nos meus braços e me abraçou com força. -Por que não avisou ninguém que estava vindo hoje?
-Acredite, eu nem sabia e nem queria. - choraminguei, o que fez Poppy dar uma risada. Ela foi a pessoa que mais me escutou reclamar nos últimos dias, dizendo sobre o quanto eu só queria ficar ouvindo Violet falar sobre nossa família e conversando com meu pai biológico, apesar de muitas vezes ele acabar esquecendo as coisas. A mudança no humor dele foi drástica quando Violet disse que eu era, de fato, a Aoi que ele tanto sonhou em reencontrar. Tinha até mesmo feito o quadro dele ter uma melhora segundo os médico, o que era bom.
-Você tem que conhecer seu quarto! Como você ainda tava se recuperando e não conseguiu arrumar, fiz isso por você. Claro, se você não gostar da pra mudar e... - Poppy começou, mas eu apenas agarrei suas mãos com força e sorri. Dava pra ver pela animação em seu rosto que meu quarto estaria incrível.
-Não tem pessoa melhor que você pra ter feito isso, Popps. Eu tenho bastante certeza que vou amar. - falei com sinceridade e ela abriu um sorriso sincero pra mim.
-Você já tava fazendo falta, sabia? - ela admitiu, me fazendo rir.
-Claro que sabia, quem além de mim pra te dar tanta dor de cabeça e diversão ao mesmo tempo? Porque vamos ser sinceros aqui, Bakugo só dá dor de cabeça, eu pelo menos sei divertir. - brinquei e Poppy riu.
-Ah, vai se fuder. Bem que as coisas estavam boas de mais pra ser verdade! - fiz uma cara de tédio antes de me virar e fitar Bakugo e sua cara irritada. Dei um sorrisinho sarcástico pra ele.
-Ah, admite, Bakugo, você sentiu minha falta. - zombei, apontando para cara dele. Bakugo desdenhou.
-Sentir falta da sua burrice e inutilidade? - ele falou com um sorriso maldoso e eu ergui o dedo do meio para ele.
-Vocês nunca vão tomar jeito? - Kirishima soltou um gemido infeliz e Poppy suspirou, dando um tapinha no ombro dele para o reconfortar.
-É inútil, Kiri. Temos que aceitar os fatos. - ela disse com um meio sorriso enquanto seus olhos se fixavam em Bakugo. Eu olhei de um para o outro e dei um sorrisinho. Idiotas, acham que eu sou burra? Talvez eu seja um pouco, mas vamos abafar isso. E também vou deixar passar dessa vez essa troca de olhar aí. Algo entre eles definitivamente tinha mudado. Depois eu poderia fazer meu interrogatório individual.
Bakugo revirou os olhos, mas se aproximou de nós o suficiente para que ninguém mais escutasse nossa conversa caso acabasse passando por ali bem naquele momento. E então, fixou seus olhos em mim e em Kirishima.
-E aí? Pararam de putaria e se resolveram? - ele disse com cara de cú, principalmente pra mim, me fazendo torcer o nariz. Maldito, eu quem deveria estar perguntando isso pra ele e Poppy! Ele acha que eu sou cega e não notei que de todos os lugares que ele poderia ter ficado, escolheu ficar bem do ladinho dela?
-Sim. - Kirishima disse com um sorriso que me fez sorrir também. -Nós... - ele se virou para mim, coçando a nuca, e fez uma careta. -Nós...?
-Somos namorados. - falei com convicção, arqueando uma sobrancelha para ele. Kirishima deu um sorriso tão brilhante que poderia ter cegado alguém.
-É? - seu tom mais parecia como uma pergunta do que como uma certeza, o que me fez dar risada.
-O que te fez pensar que você ia se livrar de mim assim? - perguntei cruzando os braços e Kirishima riu.
-Eu nunca quis me livrar de você, Aoi. - ele disse, esticando a mão para tocar minha bochecha.
-Tá, já entendi, dá pra parar com essa merda? - Bakugo rosnou, o que fez Kirishima perceber que não estávamos sozinhos e ficar vermelho enquanto afastava sua mão de mim. Revirei o olho para Bakugo, o olhando com irritação enquanto Poppy segurava uma risada.
-Cala essa boca. - falei, apontando para cara dele. -Você não tem moral nenhuma pra nada.
-Ela tem razão, bro, você lembra no dia que te resgatamos, a Poppy e você... - Kirishima começou, mas Bakugo surtou antes que ele podesse me dar a informação completa.
-Cala boca! Eu disse pra calar a boca! - Bakugo gritou, erguendo as mãos onde pequenas explosões começaram. Poppy estava tão vermelha que me fez arquear uma sobrancelha. O que eu tinha perdido?
-Desculpa, desculpa! - Kirishima riu, se afastando quando Bakugo foi na sua direção para o bater.
-Poppy e você o que?! - falei, agarrando a camiseta de Bakugo. -Me diz! Eu mereço respostas! Vamos!
-Cala essa boca! - ele gritou mais uma vez, me olhando com irritação. Na verdade ele estava tentando era esconder a vergonha, mas eu era empática. Era a mesma coisa que se esconder atrás de uma porta de vidro.
-Não foi nada demais! - Poppy disse baixinho, mas por ela estar com tanta vergonha já me dizia o contrário.
-Perdi um olho por você, o mínimo que pode fazer por mim é compartilhar informações. - falei dando um soco no ombro dele. Bakugo me lançou um olhar de morte, mesmo sabendo que eu estava brincando.
-Não fode.
-Aoi! Você tá viva! - o grito de Kaminari foi o que salvou Bakugo e Poppy, e lancei um olhar para os dois para deixar isso bem claro. E que eu iria sim fazer perguntas malditas quando estivessemos sozinhos mais uma vez.
Kaminari correndo na minha direção parece que despertou o restante da casa, pois logo em seguida todos da nossa sala tinha aparecido de onde quer que estivessem, como o bando de fofoqueiros que eram.
-Achamos que você ia morrer! - Kaminari e Mina gritaram com cara de choro, apenas para serem censurados por Yao-Momo e Iida.
-E vaso ruim lá quebra? - Sero disse com um sorrisinho que me fez erguer o dedo do meio para ele.
-O que é isso na sua cara?! Tá horrível! - Mineta gritou apontando para minha cicatriz. Nunca tinha visto Kirishima fazer cara feia, mas foi exatamente isso que ele fez naquele momento, como se tivesse pensando no quão másculo seria atirar Mineta pela janela.
-Você nunca viu uma cicatriz não, seu imbecil? Quer ver, perdi o olho. - falei, empurrando a prótese pra fora e mostrando o buraco onde meu olho deveria estar. Mineta e Kaminari começaram a gritar, o que só serviu para me divertir. Principalmente porque deram um grito fino.
Eu ainda estava rindo enquanto colocava de volta no lugar o olho falso. Às vezes era um pouco difícil, mas pelo menos consegui de primeira daquela vez. Notei o como de repente todos ficaram quietos, me encarando. Arqueei a sobrancelha.
-Ninguém disse que você tinha perdido o olho. - Yao-Momo esclareceu, parecendo um pouco assombrada. O sentimento de culpa dela era muito óbvio; sabia que ela deveria estar pensando que deveríamos ter continuado juntas naquele dia na floresta. Que teria evitado muita coisa, principalmente aquilo.
-Relaxa. Esse é o menor dos meus problemas. - falei, apertando a mão dela para que soubesse que estava tudo bem. Ainda que não parecesse. -E ai? Ninguém vai me dar um tuor por esse lugar? Péssimos anfitriões, hein.
-Vamos lá! - Kaminari disse, jogando um braço ao redor do meu ombro e me puxando para me guiar. -O primeiro quarto vai ser o do Kacchan! - ele zombou.
-O caralho que vai! Morra, porra!
Comecei a dar risada. Fazia tempo que não dava esse tipo de risada, uma risada que eu só dava quando estava com minha turma. A ideia de morarmos todos juntos era caótica; mas talvez não fosse ser tão ruim assim, afinal.
Kaminari realmente me levou para o quarto de todo mundo, mesmo sem ter sido convidado a entrar no quarto alheio. Ele fez questão de classificar os quartos, do mais feio para o melhor. O único quarto que pulamos e não fomos foi o de Mineta e, sinceramente, melhor assim. Eu já tinha traumas o suficiente, não precisava deixar pior.
Ele enrolou tanto se enfiando no quarto dos outros que quando finalmente passou por todos, fomos chamados para jantar, o que fez com que me levar para meu próprio quarto ficasse para depois. Mas não me importei porque eu realmente estava com fome.
A energia caótica de todos enquanto jantavamos era tudo o que eu precisava para colocar as coisas de volta em seu devido lugar. Kaminari definitivamente não tinha medo de morrer já que não parava de provocar Bakugo. Era tão ridículo que chegava a ser cômico.
-Você tá bem, Aoi? - Todoroki me perguntou, chamando minha atenção. Eu me virei apenas o suficiente para fitar seus olhos heterocromaticos, e mesmo que ele não demonstrasse nada em seu rosto, eu sabia o quanto ele tinha ficado preocupado depois daquele sequestro. Eu dei de ombros, mas sabia que não daria pra me livrar tão fácil dele assim.
-Sobre algumas coisas, eu tô bem. Tipo meu olho, vocês tão me olhando como se estivessem esperando eu começar a chorar por causa disso, mas sinceramente não me afetou tanto assim. - falei com sinceridade, cutucando a comida com o hashi em minhas mãos, de repente perdendo a fome. -Mas tem algumas coisas que andam me incomodando um pouco. Nada com o que se preocupar, relaxa.
Todoroki apenas assentiu, seus olhos deixando claro que eu poderia conversar com ele se precisasse. Disso eu não tinha dúvidas, sabia que ele era um ótimo ouvinte, apesar de ser péssimo em se expressar. Mas eu não estava exatamente com vontade de reviver minhas últimas palavras com Shigaraki e nem do que tinha acontecido depois. Algumas coisas eram melhores serem deixadas para lá e esquecidas, e aquela era uma delas. Mesmo que meu subconsciente sentisse a imensa vontade de reviver a dor que senti perdendo meu olho todas as noites quando vou dormir. Ou o desespero por ter sido levada pelos vilões, sem saber se eu iria viver ou morrer.
-Aoi, você quer chá? - Yao-Momo perguntou, puxando a cadeira para se sentar ao meu lado. Eu neguei, ciente de que ela estava analisando meu rosto. Todos eles estavam fazendo isso com muita cautela. Parecia que estavam com o mesmo sentimento de Kirishima, que deveriam ter feito mais, que deveriam ter evitado aquilo de acontecer, mesmo que não fosse culpa de ninguém que não de Shigaraki. Eu entendia a frustração, e claro que me verem assim tinha pego todos eles de surpresa, mas precisavam entender que aquilo não era algo que me impediria de buscar chegar onde eu queria.
-Sei que tá preocupada, Momo. - falei olhando bem para ela. Yao-Momo suspirou e eu segurei a mão dela e sorri. -Eu não disse nada, mas você foi incrível naquele dia do acampamento. Tem espírito de líder. Então, não se preocupa com coisas que não pode controlar. Isso aqui não faz de mim menos Aoi Yamazaki. - falei, apontando para mim mesma. Yao-Momo franziu o cenho.
-Achei que seu sobrenome fosse Kobayashi. - ela disse e eu suspirei.
-É, eu também. Aparentemente não é, e graças a Deus por isso. Descobri que tenho uma família foda pra caralho. - revelei com um sorriso, pegando Yaoyorozu de surpresa.
-Fico feliz por você. Posso perguntar uma coisa? - ela disse, se aproximando um pouco mais. Eu apenas assenti.
Yao-Momo olhou de mim para Kirishima que estava do outro lado da sala, conversando com Bakugo, Poppy e Kaminari. Ele estava sorrindo, e eu amava ver seu sorriso. Inconscientemente, acabei sorrindo também, e não nego que meu rosto corou quando percebi que Yaoyorozu estava me olhando novamente.
-Não precisa responder se não quiser. Mas vocês dois tão juntos, né? - Yaoyorozu deixou escapar e, então, arregalou os olhos, como se estivesse se metendo demais e não quisesse ser esse tipo de pessoa. Eu apenas ri, deixando meus olhos se fixarem em Kirishima por um segundo. Pra que mentir? Eu não tinha motivos pra esconder o quanto ele significava pra mim.
-Ahan. Não somos tão discretos assim, né? - falei e Yao-Momo riu, dando um sorriso sincero para mim.
-Fico feliz por vocês se acertarem. Kirishima gosta muito de você. Isso é tão óbvio e tão fofo. - ela disse com um suspiro, quase como se desejando ter aquilo ela mesma. Eu apenas sorri.
-Eu também gosto muito dele. - e esse era um dos sentimentos mais verdadeiros que tinha dentro de mim.
Era bom poder dizer aquilo em voz alta, poder admitir meus sentimentos por Kirishima sem medo de o fazer. Dizer para outras pessoas o quanto ele significava pra mim, o quanto eu era apaixonada por ele. Poder dizer isso para mim mesma e poder ficar ao seu lado.
A verdade é que eu sempre tive medo de me permitir amar outra pessoa, pois nunca soube o que isso deveria significar. Eu nunca recebi amor de verdade, durante toda minha infância. O mais perto disso foi o que Tenko me deu, mas percebo agora que nunca foi amor, foi apenas dependência emocional em alguém que eu desejava imensamente que pudesse me salvar, me tirar daquele buraco em que minha vida estava.
Quando entrei na U.A, em parte não foi só pelo sonho de me tornar uma super heroína, mas também em uma esperança de conseguir me livrar de todo aquele peso que eu carregava. Em hipótese alguma imaginei encontrar amor ali, mas tinha me deparado com pessoas que mudaram tudo na minha vida. Ter me permitido ser amiga de Poppy me mostrou o que amizade de verdade deveria significar; andar com Bakugo, Kirishima e ela me mostrou que apesar de sermos diferentes, formavamos um grupo unido pra cacete e que tinha me ajudado em muitos momentos marcantes. E depois, tinha Aizawa, que me deu uma família e carinho de verdade. E graças a isso, conheci Florence, conheci meu pai e conheci Violet, que era muito mais que minha irmã, era a mãe que eu sempre quis ter.
Muita coisa tinha mudado dentro de mim. E eu era imensamente feliz por isso e por todos que tinham insistido em mim. Principalmente Kirishima, porque ele poderia ter desistido facilmente. Mas ele não era uma pessoa capaz de fazer isso, e eu era grata por ele ter ficado do meu lado quando muitos apenas teriam me dado as costas.
-Ei! Vamos te mostrar seu quarto. - tomei um susto quando Kirishima apareceu do meu lado, e isso fez Yaoyorozu dar uma risada baixinha antes de se afastar, me deixando sozinha com ele. Me virei apenas o suficiente para o fitar, vendo o sorriso em seu rosto.
-Tá bom. - falei, aceitando a mão estendida de Kirishima e deixando ele me puxar. Gostava quando ele segurava minha mão. Gostava de muitas coisas relacionadas a Kirishima, na verdade. Principalmente do sorriso dele. Ah, o sorriso dele...
Quando me tornei essa pessoa? E por que reprimi por tanto tempo esse sentimento? Era algo tão bom.
Deixei Kirishima me levar até o quarto onde tinha meu nome na porta. Eu ri ao perceber que o Aoi estava escrito em uma placa com o tema de zumbis, me senti muito bem representada. Sem sombra de dúvidas aquilo era obra de Poppy.
Quando abri a porta, fiquei totalmente chocada com o que ela tinha feito ali. Eu apenas consegui observar tudo de boca aberta, apesar de Poppy e Bakugo estarem ali me encarando, esperando uma reação.
Mas como eu ia reagir?! Aquilo estava realmente muito bonito. No teto, tinham luzes de led cor de rosa que era totalmente a minha cor, e Poppy tinha dado um jeito de fazer isso combinar com todo o preto do resto. Do lado esquerdo tinha uma escrivaninha e uma estante onde estavam meus livros, meus action figure de the last of us e call of duty, sem contar que tinha capas dos meus álbuns favoritos de Queen na parede, como um mural. Do lado direito, estava a cama, algumas figuras de zumbis coladas na parede e meu violino. Bem que tinha me perguntado onde ele tinha ido parar.
-Isso ficou muito lindo! - falei, começando a ficar emocionada. Droga! -Eu amei, Poppy.
Ela sorriu para mim, ainda mais quando a puxei e a abracei com força, a fazendo rir.
-Que bom que você gostou. A ideia foi minha, mas não fiz tudo sozinha, esses dois me ajudaram. - ela disse com um sorriso, indicando Bakugo e Kirishima. Eu arqueei uma sobrancelha e dei risada.
-Bakugo ajudando a fazer algo legal? Tem algo errado ai. Tem certeza que não tá doente, biribinha? - provoquei, fazendo ele revirar os olhos. -Tô zoando, obrigada, Bakugo.
-Não fode, vai. Tô indo dormir. Tchau. - ele disse, mas dava pra ver a tentativa falha dele de conter um sorrisinho enquanto nos dava as costas para sair.
-São oito horas! Você é um velho? - zombei, mas ele apenas mandou eu ir me fuder e foi embora. Eu dei risada.
-Eu vou ir também. Preciso terminar de arrumar umas coisas no meu quarto. Boa noite pra vocês! - Poppy disse me dando um abraço e saindo antes mesmo que eu pudesse dizer algo.
Kirishima fez uma careta e coçou a nuca ao ver que estávamos nós dois sozinhos. Eu apenas arqueei a sobrancelha para ele.
-Quê foi, Kiri? Você tá com vergonha de ficar comigo? - perguntei com um sorrisinho. Kirishima começou a gaguejar, o que me fez dar risada. -Para, eu sei que você tá lembrando do que Aizawa disse. Mas olha ali, a porta não tá fechada, tá?
-Tem só uma fresta aberta, Aoi. - ele disse e eu dei de ombros, agarrando a camiseta dele e o puxando para perto de mim.
-Ele disse porta fechada. Tem uma fresta aberta. - eu disse com um sorrisinho, passando os braços ao redor so pescoço dele. Kirishima deu uma risada incrédula, mas levou as mãos até minha cintura e me abraçou.
-Você não tem medo não? - ele disse e eu apenas dei de ombros, afundando os dedos no cabelo dele. Já tinha dito que ele ficava ainda mais fofo com o cabelo baixo? Provavelmente, mas não cansaria de dizer isso.
-Do Aizawa? Tenho, pra caralho. - eu confessei, fazendo Kirishima rir. -Mas ele é meu pai, ele vai me deixar viver. Já você...
Kirishima fez uma careta, o que me fez dar risada e o puxar para mais perto de mim. Antes que ele pudesse dizer algo, grudei minha boca na de Kirishima e o beijei. Não me cansaria de fazer isso.
-Posso te pedir uma coisa? - Kirishima perguntou, seus olhos vermelhos grudando em mim e me encarando com expectativa. Apenas arqueei a sobrancelha, esperando. Queria dizer que ele podia pedir o que quisesse, mas isso ia soar meloso demais pra mim. Eu precisava manter minha pose de bad girl, mesmo que Kirishima acabasse com todas as minhas estruturas.
Ele se afastou de mim e caminhou até onde meu violino estava. Ele hesitou um pouco, mas quando viu que eu não reclamei, segurou meu violino em suas mãos e estendeu na minha direção. Eu pisquei, surpresa.
-Você pode tocar? Eu gosto de te escutar. - ele disse com um sorriso que só serviu para acabar comigo. E como que eu negaria algo assim pra Kirishima?!
Meu namorado. Era tão satisfatório poder dizer isso.
Peguei meu violino de suas mãos e não demorei muito pra afinar. Deixei o arco tocar as cordas e logo o quarto foi preenchido por uma melodia que começava triste. Aos poucos toda aquela melancolia foi se tornando em algo muito mais bonito e bem mais feliz. Eu toquei com meu coração; nem mesmo tinha notado que fechei as pálpebras até as abrir novamente e ver Kirishima na minha frente, seus olhos brilhando e um sorriso que poderia facilmente cegar alguém em seu rosto.
-Isso foi muito bonito. - ele disse baixinho. -Eu nunca escutei esse som.
-Ah. É que eu meio que... - cocei a nuca um pouco sem jeito, sentindo minhas bochechas corarem violentamente. Não tinha notado o que estava tocando até começar a tocar. -Fui eu que criei. O arranjo.
-Aoi! Isso é incrível! - ele disse de forma animada e eu ri, colocando com cuidado o violino na cama. -Você é muito talentosa. Droga, acho que me apaixonei de novo.
-Você é tão idiota. - eu ri, me aproximando de Kirishima e segurando seu rosto nas minhas mãos. Beijei de leve sua boca e me afastei para o olhar. -Foi pensando em você, sabia? Que criei essa melodia. O começo é como eu era antes. Triste, vazia e quebrada. E depois o como você fez eu ficar. Muito mais feliz e inteira.
Eu nem mesmo podia acreditar que aquelas palavras tinham saído da minha boca, por mais verdeiras que fossem. Mas agora era tarde demais.
E não me arrependi de dizer isso vendo o como aquilo tinha significado para Kirishima. O jeito que ele ficou feliz em escutar aquelas palavras.
Kirishima piscou os olhos pra afastar as lágrimas e afundou o rosto na curva do meu pescoço, o que me fez rir. Ele me abraçou com força, um abraço que eu retribui com a mesma intensidade.
-Você me faz muito feliz, Aoi.
Agora quem estava quase chorando era eu. Afastei Kirishima o suficiente para pressionar meus lábios de leve contra os dele.
-Você também me faz muito feliz, Eijirou. - falei, minha voz embargada. -E você mudou muita coisa pra mim. Então, obrigada. Por tudo.
Data: 18/03/24
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