𖤍𖡼↷ 𝐓𝐇𝐈𝐑𝐓𝐘 𝐅𝐈𝐕𝐄
FELIZ
Eu estava irritada. A existência de Mineta era um bagulho bem irritante. Ele só sabia falar merda, secar as meninas com seu olhar nojento e reclamar da vida. Geralmente dava pra ignorar ele durante as aulas, mas quando íamos treinar nossas novas técnicas para usar no dia da prova para tirar a licença provisória, se tornava um pouco mais difícil de deixar pra lá. Sendo sincera, não sei exatamente o que me irritou mais. Se foi ele desdenhando dizendo que era irritante eu ainda ter um reflexo bom apesar de perder o olho ou cair na babaquice de ficar analisando Mina enquanto ela lutava. Sei lá. Talvez eu já estivesse mesmo de saco cheio quando decidi testar a minha arma nova nele.
Não foi nada tão alarmante e eu errei de propósito para não machucar. O dardo pegou de raspão, fazendo um corte fino no rosto dele, o suficiente só pra sangrar e assustar. Ele me olhou horrorizado quando viu a lâmina fincada na pedra logo atrás de si antes que eu a puxasse de volta para minhas mãos, a girando em uma clara ameaça que diria que se ele abrisse a boca de novo, eu acertaria sua testa. Eu facilmente poderia o usar como alvo.
Eu bem que estava querendo testar os limites da minha individualidade em alguém. Por que não Mineta? Ele nem merecia misericórdia, de qualquer forma. Quão perto eu precisava estar de alguém pra controlar sua mente? Seus sentimentos? Mineta e eu estávamos em uma distância boa, mas ainda assim eu conseguia sentir os sentimentos dele. Conseguia puxar aqueles fios e os moldar no que eu queria. Era mais difícil pela distância, isso era um fato, mas não foi impossível fazer ele sentir medo, como se tivesse vivenciando seu pior pesadelo. Me fingi de desentendida quando ele gritou de pavor e começou a correr de um monstro invisível.
-Algum motivo em especial pra atormentar seu colega de classe? - a voz de Aizawa logo atrás de mim fez um calafrio percorrer minha espinha, pois nem mesmo tinha notado ele se aproximar até estar ali. Me fingi de louca, continuando a praticar o uso do dardo e corda em minhas mãos, fingindo que não sabia do que ele estava falando. Mesmos sabendo que não dava pra fugir dele pra sempre. -Aoi. Sei que o controle dos sentimentos é algo novo pra você, que precisa treinar e que não tem tanta habilidade como o controle mental gerado pelo amor. Mas precisa tomar cuidado com a intensidade dos sentimentos que aplica nos outros. Pode ser perigoso.
Eu suspirei. Sabia que era verdade, que um deslize poderia acabar fazendo alguém morrer pelo medo ou morrer de tanto amor. Os extremos podiam fazer uma pessoa entrar em colapso e fazer seu coração parar de funcionar, e eu dizia isso porque Violet tinha me contando histórias o suficiente sobre a individualidade do nosso pai para que eu entendesse um pouco melhor como era a minha. Nunca tinha visto minha individualidade como algo tão ardiloso e perigoso, mas quanto mais eu treinava e mais abrangente minha individualidade se tornava, quanto mais pessoas eu conseguia aprisionar dentro do meu controle mental e por mais tempo, mais me assustava. Mesmo que fosse bom ter esse tipo de poder.
-Desculpa. - falei com uma careta, me sentindo um pouco arrependida. Eu podia só ter controlado a mente de Mineta e feito ele bater a testa contra a parede. Será que isso machucaria menos do que causar pânico nele? Pela cara de Aizawa, ele preferia que eu não tivesse feito nada, nem mesmo um pequeno cortezinho na cara de Mineta. Mesmo que eu soubesse que lá no fundo ele estava sim orgulhoso, qual é! Mineta merecia um corretivo. -Prometo que serei uma filha menos problemática. Um dia, quem sabe.
Aizawa deu um sorriso sarcástico para mim, o que me fez rir.
-Eu sabia exatamente quem você era quando te adotei. - foi tudo o que ele disse antes de se afastar, me fazendo sorrir.
O restante da aula não foi tão ruim assim, mas me deixou extremamente cansada, principalmente quando Bakugo decidiu que ia tentar me matar. Controlar os sentimentos dele era uma faca de dois gumes. Ao mesmo tempo que eu conseguia fazer isso, dependendo do que eu tentasse fazer ele sentir, apenas faria ele lançar uma explosão com maior intensidade na minha direção. Usar amor e controle mental com ele não funcionava tão bem já que ele era tão deturpado nesse quesito quanto eu era. No final, ficamos os dois arfando e espulmando de ódio por ninguém ter conseguido vencer aquela batalha.
-Sua individualidade é mais irritante do que você. - ele disse com irritação enquanto caminhávamos juntos em direção ao vestiário. Eu apenas dei um sorrisinho maldoso para Bakugo, o que serviu para o irritar mais ainda.
-Como se a sua não fosse. Uma ótima individualidade, mas na mão errada. Que lástima. - zombei, fazendo Bakugo dar um sorriso maldoso para mim. Ele parecia pronto para dizer algo cruel, mas vimos Poppy passar por nós. Ela estava tão perdida dentro dos próprios pensamentos que sequer notou Bakugo e eu. Franzi o cenho, trocando um olhar com o loiro explosivo. -O que aconteceu com ela? Faz uns dias que tá estranha, mas vive fugindo das minhas perguntas.
Bakugo pareceu ficar ainda mais preocupado, me olhando e dando de ombros.
-Não faço ideia. Achei que você fosse saber. - a expressão no rosto de Bakugo até poderia ser neutra, mas eu conseguia sentir os sentimentos de Bakugo. Claro que ele estava preocupado com Poppy.
-Fala com ela, Katsuki. - falei com um suspiro e ele me olhou como se eu não tivesse nenhuma moral. Talvez ele tivesse razão, mas eu não ligava. -Não precisa falar nada, mas eu sei muito bem que vocês se resolveram. Não sou burra e eu literalmente consigo sentir os sentimentos de vocês.
-Cala boca. - ele murmurou, observando Poppy que tinha parado para conversar com Midoriya. -Eu vou falar com ela. Mas você também deveria.
-Ah, mas eu com certeza vou. Tenho que fazer meu papel de amiga chata. - falei e ele deu um sorrisinho.
Eu podia ter perguntado para Poppy o que estava acontecendo quando nos encontramos no vestiário, mas ela parecia muito cansada depois do dia de treino. Eu deixaria aquilo para um outro momento, talvez depois do jantar. Tudo o que eu menos queria era acabar afugentando ela ou piorando as coisas. Aprendi que às vezes era bom dar espaço para as pessoas que a gente amava. Mesmo que quiséssemos ajudar, não dava para fazer isso com tudo. Tinham questões que precisávamos resolver por conta própria, e falo isso por mim mesma.
-Mineta estava dizendo pra todo mundo que você é um demônio e tentou deixar uma cicatriz no rosto dele também. - Yao-Momo disse do meu lado, me fazendo tomar um susto pois eu não tinha notado sua aproximação. Eu apenas fiz uma careta e ela deu um meio sorriso.
-Aoi! - Poppy me censurou, mas estava sorrindo. Ninguém conseguia gostar de Mineta, era impressionante.
-Ah, ele mereceu. Pra ver se assim ele aprende a parar de falar tanta merda. Ele não contou que quase fez xixi calça por não conseguir controlar os próprios sentimentos? - eu retruquei, abrindo um sorrisinho cruel.
-Você me assusta. - Jiro disse me olhando e eu torci o nariz.
-Parem de pegar no meu pé! - protestei enquanto terminava de colocar meu uniforme.
-A única pessoa que Aoi não assusta é o Kirishima. - Mina disse com um sorrisinho. Eu apenas resmunguei. -Você até vira gente perto dele!
-Ir se fuder você não quer, né? - falei a lançando um olhar de morte, mas Mina era meio lesada, parecia incapaz de processar isso. Ou de se importar. -Tem poucas pessoas que merecem minha melhor versão.
Poppy deu risada e balançou a cabeça, me olhando como se eu fosse doida. Ela já deveria ter percebido que eu era, de fato, bem perturbada, mas se ela ainda andava comigo e era minha melhor amiga, significava que não se importava. No final das contas, apenas terminamos de nos trocar e caminhamos juntas para ir até o prédio da 1-A.
No meio do caminho, Kirishima e Bakugo se juntaram a nós. Se Bakugo pensa que eu não vi o jeito preocupado que ele olhou Poppy, estava bem enganado. Se Poppy pensa que eu não vi ela tentar esconder um sorriso para ele, está bem enganada. Mas eu também não queria me meter no meio dos dois e agir como uma amiga chata querendo saber o que tava rolando. O que um deixava de me contar, o outro falava, e essa era a melhor parte. E eu nem tinha moral pra me meter quando eles não ficaram enchendo meu saco tanto assim por causa de Eijirou. Quer dizer, encheram o saco quando eu fui idiota, mas acho que essa é a função dos amigos. Apontar quando você tá claramente fazendo merda.
-Aoi! - tomei um susto quando Kaminari se jogou em cima de mim, pulando bem nas minhas costas. Se eu não tivesse Kirishima do meu lado para me agarrar, teria caído junto de Denki, esse idiota imprevisível e burro. -Fiquei sabendo que você assustou o Mineta hoje! - ele riu, os olhos brilhando em puro divertimento enquanto ele passava o braço ao redor dos meus ombros e me arrastava com ele. -Kirishima ficou bem perto de bater no Mineta dessa vez. Me pergunto quando ele vai perder a linha e socar o idiota.
-Mineta é babaca, ele me odeia porque eu trato ele do jeito que merece. - falei com um sorriso maldoso e Kaminari apenas torceu o nariz. Olhei para Kirishima, que realmente parecia um pouco irritado. Estiquei minha mãe e segurei a dele. -Você não precisa bater no Mineta, eu posso fazer isso sozinha.
-Que tipo de namorado horrível eu ia ser se não te defendesse? - ele disse, e dava pra ver que estava chateado. Ao mesmo tempo que Kirishima queria muito calar a boca de Mineta por todas as coisas maldosas que dizia ao meu respeito, não condizia com quem ele era bater nas pessoas desse jeito. E por isso eu o amava tanto, por ser uma pessoa tão boa, mesmo que eu definitivamente não tivesse um pingo de bondade dem mim.
-Você é o melhor namorado do mundo, e já me defende o suficiente sem precisar bater em ninguém. - garanti, dando um sorriso pra ele. -Tem certas coisas que não valem a pena, Eiji. Essa é uma delas.
Ele apenas murmurou alguma coisa que não consegui decifrar. Mas Kaminari começou a fingir estar chorando de emoção, o que acabou com o clima.
-Eu preciso urgente de uma namorada, não aguento mais ficar de vela pra vocês dois! E aqueles dois ali! - ele reclamou, apontando de mim e Kirishima para Poppy e Bakugo um pouco a frente, conversando como pessoas civilizadas. Um pouco perto demais um do outro para ser algo casual, mas quem sou eu pra encher o saco? -Podia me arranjar o contato da sua bela irmã.
-Não me enche, Denki. - reclamei, empurrando ele para o lado. -Amo demais a Florence pra fazer isso.
-Nossa, Aoi! - ele disse, fingindo estar ofendido. -Achei que fôssemos amigos!
-Somos amigos, mas eu prefiro continuar sendo só sua amiga, não sua cunhada. - falei com um sorrisinho e ele fez um biquinho. Eu sabia que Kaminari não ia parar de encher meu saco por causa de Florence, mesmo com ela deixando claro que ele só era uma escória que ela jamais olharia mais que uma vez. Mas o que dizer sobre Denki? Ele era burro. E ainda mais insistente que Eijirou quando o assunto era mulher.
Quando chegamos no dormitório, Kirishima ainda estava um pouco pra baixo, e eu odiava ver ele assim. Ele era a porra do meu raio de sol! Não queria ver ele chateado, ainda mais por algo que não tinha o menor valor ou significado pra mim. Por isso, quando todos chegaram e foram ajudar a fazer o jantar ou se trocar, puxei ele para fora comigo.
Nós dois nos sentamos nos degraus da escada e ficamos em silêncio. Olhei o céu por um tempo, vendo o laranja que indicava o final do dia ali. Às vezes ficar em silêncio ao lado de quem você amava já era o suficiente pra colocar as coisas no lugar. Percebi isso quando Kirishima se aproximou mais de mim e apoiou o queixo no meu ombro, me olhando com seus olhos escarlate, olhos que eu amava pra caralho. Eu estiquei a mão, passando os dedos de leve pela sua bochecha.
-Às vezes quero proteger você mesmo sabendo que não precisa da minha proteção. Desculpa. Não consigo não ficar bravo ou chateado com esse tipo de coisa. Odeio quando enxergam você da forma errada. Como se você fosse uma babaca, quando você é tudo, menos isso. - ele disse baixinho, me olhando seriamente. Eu dei um sorriso para ele.
-Bom, eu sou meio babaca. - brinquei e ele fez uma careta, discordando completamente disso. -Kiri, não me importa o que os outros pensam de mim, porque quem realmente me importa tá do meu lado. Sua opinião importa pra mim. E se você me ama desse jeito torto que eu sou, pra mim tá ótimo.
-Claro que te amo! - ele disse meio indignado, como se fosse um absurdo não amar, e eu sorri.
-Eu sei. E eu até que gosto quando você me defende. Você fica muito bonito quando tá bravo. - falei com uma risada e ele fez uma careta engraçada. -É porque é muito difícil te ver assim. Você tá sempre sorrindo.
-É porque não tem motivos pra não sorrir se eu tenho você. - ele deixou escapar e deu pra perceber que foi sem querer já que suas bochechas ficaram vermelhas de vergonha por dizer algo tão meloso. Eu ri, o que fez ele ficar ainda mais vermelho, mas não ri por achar ridículo, mas sim por achar estupidamente fofo.
Me inclinei mais na direção dele e o beijei. E ele me abraçou com força, me puxando para mais e mais perto enquanto sua língua deslizava pela minha de forma calma, deixando claro o quanto ele realmente me amava. Seus sentimentos eram muito verdadeiros e óbvios. Ele não fazia questão de esconder nada enquanto pressionava a boca contra a minha. Eu gostava de beijar Eijirou e amava quando ele me segurava desse jeito. Fazia eu sentir que tudo poderia ficar bem enquanto eu estivesse com ele, por mais clichê que fosse. Kirishima Eijirou definitivamente trazia a melhor versão de mim, e isso ninguém poderia contestar.
-Tem muitas coisas que amo em você, mas eu definitivamente amo quando você diz essas coisas pra mim. - falei, olhando no fundo dos olhos dele. Kirishima sorriu, e abriu a boca para dizer algo, mas não foi ele quem escutamos.
-Ai, que coisa mais brega, Aoi. Quando você se tornou uma pirralha tão grudenta? - tomei o maior susto da história dos sustos. Isso estava estampado na minha cara quando me virei e dei de cara com Violet, parada bem na nossa frente.
E não só Violet, porque Aizawa estava bem ao lado dela. Ambos com os braços cruzados, e eu não sabia quem eles estavam fuzilando mais com o olhar, eu ou Kirishima. E se eu tive vontade de cavar um buraco para me enfiar, Eijirou estava definitivamente com vontade de cavar uma cova e morrer. Estava tão pálido de desespero que sua alma parecia ter deixado o corpo.
-Por que os dois idiotas estão com cara de quem estava aprontando? - Violet disse tentando soar seria, mas dava pra ver o início de um começo.
-Não estávamos no quarto com a porta fechada, sensei, juro que não estávamos fazendo nada demais, por favor, não expulsa a Aoi pra sala do Monoma! - Kirishima só faltou se ajoelhar na frente de Aizawa enquanto implorava, juntando as mãos em uma súplica e com cara de quem ia chorar.
Troquei um olhar com Violet. Eu realmente tentei segurar a risada, mas quando minha mãe começou a rir, eu comecei a rir junto. Principalmente quando Aizawa deu um suspiro, como se não aguentasse mais aquele drama todo.
-Kirishima, eu por acaso disse ou fiz alguma coisa que te fez pensar que vou fazer isso agora? - Aizawa disse arqueando a sobrancelha.
-Bom, você ameaçou fazer isso uma vez... - Kirishima disse. Violet se virou e olhou para Aizawa com a sobrancelha arqueada.
-Você fez isso? - ela perguntou. Aizawa deu de ombros como se não fosse nada demais.
-Só se eles se trancassem no quarto. - ele retrucou, fazendo Violet rir. -Vocês estão em um lugar público, e apesar de achar isso meio burro, acho que é aceitável.
-É, foi uma surpresa bem desagradável, meus pais chegando do além pra estragar o meu momento. - zombei, mas não me contive e acabei me jogando nos braços de Violet. Ela riu enquanto me apertava com força e bagunçava meu cabelo. -Eu senti sua falta.
-Também senti sua falta, meu amor. - ela disse, me apertando um pouco mais e com um amor que só ela poderia me dar.
-Mas assim, é meio estranho. Por que você tá aqui? - falei e Violet arqueando a sobrancelha, como se eu fosse idiota. Fiz uma careta. -Tá, pergunta errada. Como você tá aqui?
-Bom, eu namoro o professor de vocês, então... - ela disse, dando um sorrisinho para Aizawa quando ele fez uma careta. -Na verdade, eu vim por outro motivo, estou só enchendo o saco. O diretor permitiu minha entrada. Florence deve chegar a qualquer momento.
-Aconteceu algo? - falei, começando a ficar nervosa. Mas Violet apenas riu.
-Ah, não, não! É que hoje é aniversário de morte da nossa mãe, Aoi. Então vamos comemorar.
Fiz cara de horror.
Violet começou a rir.
-Explica direito pra ela. - Aizawa disse censurando Violet com um olhar. Ela ergueu as mãos em sinal de rendição.
-Nossa mãe não gostava de sofrer pela morte de pessoas que amava. Então, nos aniversários de morte, ela comemorava. Dizia que era muito melhor do que ficar chorando e um jeito muito melhor de passar a data. Você comemora a vida daquela pessoa e tudo o que ela passou, não sofre pela morte dela. Então Flo e eu fazemos isso todos os anos desde que perdemos ela. - Violet disse dando de ombros como se não fosse nada demais.
Já eu achei aquilo incrível e o máximo. Nossa mãe definitivamente deve ter sido alguém foda pra caralho. Isso dizia muito sobre o porque Violet era uma mulher maravilhosa e incrivelmente foda, assim como Florence e sua mente fodidamente brilhando. Mas presumo que eu e minha personalidade peculiar também não fique muito pra trás.
-Nós vamos sair? - perguntei curiosa. Violet olhou Aizawa e deu um sorrisinho.
-Não, achei que seria uma ótima ideia jantar aqui e descobrir quem são os queridos alunos do meu namorado. E seus colegas de classe. - ela disse com um sorriso que indicava que ela só queria ver o caos da minha turma mesmo. E ver Aizawa passar nervoso. Aquilo me fez rir.
-Florence sabe disso? Porque tenho certeza que ela vai odiar passar cinco minutos no mesmo lugar que Kaminari de novo. - falei e Kirishima riu. Violet arqueou a sobrancelha confusa e Aizawa suspirou, como se já esperasse pelo pior vindo de Denki. -Só espera pra ver. Vai ser divertido.
-Você precisa rever seu conceito de diversões. - Aizawa disse, passando por nós para entrar no dormitório. Violet riu, beijou minha bochecha e o seguiu para dentro afim de causar um belo caos entre meus amigos. Principalmente porque a maioria nem sabia que Aizawa era capaz de ter uma namorada, assim como um dia eu mesma tinha pensado isso.
-Eu gosto de te ver assim. - Kirishima disse, atraindo minha atenção. Me virei para ele e vi um sorriso bonito em seu rosto.
-Assim como? - perguntei, entrelaçando meus dedos nos dele para que entrassemos juntos. Kirishima passou a mão livre pela minha bochecha.
-Feliz.
Eu sorri para Kirishima. Será que ele era capaz de perceber que ele mesmo era um dos motivos para eu me sentir tão feliz? Sim, eu sabia que ainda tinha vários problemas não resolvidos na minha vida, como por exemplo Tenko e todos os traumas gerados pelos meus falsos pais e anos de abuso psicológico. Ainda assim, tinham pessoas que haviam mudado tudo pra mim. Minha verdadeira família, Violet, Florence, meu pai e Aizawa; Poppy, a melhor amiga e mais leal que eu já tive, alguém que eu amava com todo meu coração. Até mesmo Bakugo e sua amizade inusitada que se tornou muito importante pra mim.
E tinha Kirishima. O raio de sol na minha vida, que tinha o sorriso mais lindo e avassalador do mundo. Eu nunca quis me apaixonar, nunca soube o que amor significava, mas tive uma queda tão brusca por Kirishima que nem sabia mais como voltar a superfície. Eu nem mesmo queria, pois o amor dele por mim me envolvia por completo, como um cobertor, aquecia meu coração e confortava minha alma. Eu podia ter milhares de problemas, mas Eijirou sempre aparecia com a solução.
Tô soando muito clichê? Provavelmente, mas o que eu posso fazer se é a mais pura verdade? Kirishima insistiu em nós dois, porque achava que aquilo daria certo. E mesmo quando eu não acreditei, ele continuou lutando por nós. Sou grata a ele todos os dias por isso, por ele me mostrar que posso amar e ser amada e que não preciso me sentir mal por aceitar a felicidade que ele me oferece. Eu amo Kirishima de uma forma que jamais achei que fosse ser possível antes, e não tenho medo de dizer isso e menos ainda me arrependo de me permitir sentir isso. Me arrependo apenas de não ter feito isso antes.
Kirishima e eu entramos de mãos dadas. Geralmente tenha pessoas que gostavam de zoar com nossa cara por sermos um casal muito "meloso". Mina, Hakagure, Sero e Kaminari eram os que mais infernizavam, mas eu não podia me importar menos com isso. Eu não ia esconder do mundo o que sentir por Kirishima. Na verdade, o mundo tinha que saber o quanto ele era importante e especial pra mim. O quanto fazia parte do meu coração e o quanto eu era terrivelmente apaixonada por ele.
Mas logo percebi, assim que fomos para a sala de jantar, que a atenção de todos estava em outro lugar. Aizawa tinha anunciado que jantaria ali e fez uma breve apresentação de Violet, não querendo falar demais, mas aquilo só me fez rir já que era muito nítido pela forma como Violet o estava olhando que ele estava deixando informações passarem. Por isso eu apenas me aproximei com um sorrisinho maldoso.
-O que nosso querido e amado sensei não tá querendo revelar é que essa mulher gatissima aqui é a namorada dele. - falei com um sorrisinho, parando ao lado de Violet.
Silêncio. Todos ficaram em um profundo e terrível silêncio, como se tivessem dado tela azul e o cérebro parado de funcionar completamente. Vi sobrancelhas franzidas, bocas escancaradas, e parecia que todos estavam tão perplexos que não conseguiam somar uma mais um. Mas eu nem podia julgar, já que quando conheci Violet e percebi que ela era namorada de Aizawa, também tinha dado tela azul.
Violet olhou pra mim e deu risada, principalmente porque Aizawa estava me fuzilando com os olhos. Mas enquanto Vi estivesse ali, ela me defenderia e estava tudo certo! Eu tinha que aproveitar para me vingar por eles terem atrapalhado meu momento com Kirishima e feito ele ficar morto de tanta vergonha.
-Espera. - Sero começou, como se tivesse muito difícil ter aquele raciocínio. Suas sobrancelhas estavam franzidas e ele colocou a mão no queixo, olhando de Violet para Aizawa. E de Aizawa para Violet. -O sensei tem uma namorada? - ele soou tão confuso e perplexo que fez Violet começar a rir.
-E ela é bonita! - Hakagure disse, parecendo incrédula com aquele fato. Aizawa estava com uma cara de quem estava definitivamente pensando estar pagando todos os pecados.
-De todas as coisas que imaginei serem possíveis de acontecer, essa foi a última delas. - Mina disse, parecendo ter tido um bug mental. Poppy e eu trocamos um olhar divertido.
-Quer saber o plot twist? - Poppy disse, cutucando Kaminari que parecia não estar conseguindo processar basicamente nada. -Violet é irmã da Aoi e da Florence.
-Ah! Isso explica muita coisa! - Kaminari retrucou abrindo um sorriso. -A beleza é de família, então!
-Uma verdadeira obra de arte. - Mineta disse encarando Violet descaradamente, como se pudesse ver através da roupa dela. Comecei a me irritar, principalmente por Violet ter ficado visivelmente incomodada com o olhar dele. Incomodada demais, o que também me pegou um pouco de surpresa com a intensidade dos sentimentos dela.
-Cala a porra da boca! - Bakugo deu um grito e lançou uma explosão na direção de Mineta, o fazendo voar para o outro lado da sala com um gritinho.
-Kacchan, se acalma! - Midoriya pediu, exasperado.
-Cala boca você também, nerd de merda! Foda se que o sensei tem namorada, qual o grande problema disso, seus merdas? Nunca viram uma mulher bonita, caralho? Nunca viram adultos se relacionarem? Mas que porra, chatice do cacete! Aoi tem família de verdade, uau, grande merda! Podemos ir jantar agora, ou vão ficar de papo furado nessa merda?
Todos murmuraram, mas começaram a se mover para pegar a janta e sentar. Eu apenas pisquei. Principalmente quando Bakugo me olhou como quem diz "de nada". Esse showzinho dele, eu deveria ser grata por isso? Mas é um idiota mesmo.
-Que menino emocionado. - Violet riu, olhando para Bakugo por um instante. -No dia que foi te ver no hospital foi a mesma coisa, ameaçou cinco enfermeiras e dois médicos. Deve ser por causa dele que Shota tem tantas dores de cabeça.
-Se o problema fosse só ele. - Aizawa murmurou, me lançando um olhar que já dizia o suficiente. Ergui as mãos em sinal de rendição.
Não demorou muito para todos estarem sentados na mesa, lotando Violet de perguntas. Até mesmo eu estava ficando zonza com aquilo, e olha que as perguntas nem eram pra mim! Mas depois que toda aquela emoção básica tinha passado, uma conversa normal se instalou.
Não nego que não estava prestando muita atenção pois estava bem ocupada em lotar Florence de mensagens perguntando onde diabos ela estava naquele momento. Era para ela estar ali, mas ela simplesmente não aparecia de uma vez por todas.
-Então, vocês dois são um casal? - na hora que escutei a voz de Violet, larguei o celular e ergui a cabeça em desespero só para meu maior pesadelo se confirmar: ela estava perguntando isso para Poppy e Bakugo.
Poppy ficou vermelha na hora e Bakugo parecia querer morrer. Apesar de ele esconder bem, dava pra sentir a vergonha e desespero de ambos, ainda mais quando algumas pessoas da nossa sala se viraram para olhar.
Olhei para Violet de forma alarmada, sinalizando pra ela mudar de assunto e ignorar aquilo. Ela franziu as sobrancelhas, mas não demorou muito para entender. Eu quase estava suspirando aliviada, mas ela continuou a falar.
-Ah! Então vocês são os que se gostam, mas nenhum tem a iniciativa de fazer algo? - ela soltou e dava pra perceber que não era para ter falado em voz alta. Principalmente porque Violet arregalou os olhos, meio culpada. Poppy parecia prestes a entrar em combustão.
-Mas que porra! - Bakugo reclamou. -É coisa de velho querer cuidar da vida dos outros? Chatice, eu hein!
Comecei a dar risada. Bakugo e sua falta de filtro e limites às vezes era até que engraçado, e ficava ainda melhor quando você sabia que ele estar assim era pela imensa vergonha que estava sentindo naquele momento graças a fala de Violet.
-Já cheguei, pode parar de encher o meu saco. - acho que Poppy agradeceu muito Florence por ter aparecido bem naquele momento, desviando a atenção deles dois para ela. Violet se virou e apenas arqueou a sobrancelha para Florence.
-Agora o dia acabou de melhorar! - Kaminari, a pessoa que certamente não tinha um pingo de amor próprio, disse, fazendo Florence torcer o nariz e revirar os olhos. Violet olhou de Kaminari para Florence e começou a gargalhar, principalmente pelo brilho idiota nos olhos de Denki.
-Awn, que coisa linda, Flo! Você tá conquistando o coração de jovens super heróis! - Violet zombou e Florence a olhou com desgosto.
-Como se eu tivesse algum interesse nisso. - ela reclamou, puxando a cadeira e se sentando entre Kirishima e eu, o que me fez reclamar. -Ah, não enche, vai, vocês ficam grudados o dia inteiro, alguns minutos longe não mata ninguém!
-Mas e quem disse que eu quero ficar longe? Chatice. - reclamei e Florence fez cara de quem ia vomitar. Estiquei a mão e empurrei a cabeça dela pra trás, a fazendo me dar um tapa ardido na mão.
-Minhas crianças briguentas. - Violet riu, os olhos brilhando em puro divertimento. Florence e eu bufamos. -E ai, Flo, vai me contar o como conquistou o coração daquele ali?
-Não me enche! - Florence reclamou, principalmente quando a fala de Violet só serviu para fazer Kaminari se aproximar de nós.
-Foi toda essa carisma dela. - Kaminari zombou, me fazendo dar uma gargalhada. Florence revirou os olhos e Violet sorriu com divertimento.
-Minhas crianças podem ser um pouquinho demais, admito. Quer ver fotos delas bebês? Eram tão fofinhas! - Violet disse, puxando o celular, e Kaminari se aproximou ainda mais.
-Violet, para com essa merda! - Florence gritou e eu ri. -Por que tá rindo, tem fotos suas também!
-Sim, Kirishima, você precisa ver uma da Aoi tomando banho, é muito engraçada. - Violet disse, me fazendo engasgar.
-Não precisa ver porra nenhuma! - falei tentando arragar Kirishima para que ele não se aproximasse de Violet, mas ele se esquivou e se enfiou ali no meio.
-Quero morrer. - choraminguei, afundando o rosto entre as mãos. Florence murmurou, concordando.
-Para de drama! - Violet zombou. -Você era tão fofa! E aí virou essa coisinha ai.
-Ei! - reclamei, dando um chute na perna de Kirishima porque ele riu.
-Não se preocupe, você continua linda. - Kirishima disse sorrindo pra mim. Acabei sorrindo também.
-Brega. - Florence riu e eu a empurrei de leve.
No final das contas, aquela foi realmente uma noite boa. Ficou ainda melhor quando Sero prendeu Mineta na parede e tampou a boca dele para parar de falar tanta merda para Violet, e nem mesmo Aizawa fez algo para impedir, apenas fingiu não estar vendo nada.
Foi divertido e eu percebi que Kirishima estava mesmo certo. Apesar de tudo, apesar de todos os problemas, eu finalmente estava me sentindo em paz. E eu finalmente tinha aprendido e entendido o que ser feliz significava de verdade.
Data: 20/03/24
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