𖤍𖡼↷ 𝐓𝐄𝐍
SHIGARAKI TOMURA
Eu provavelmente me lembraria para sempre daquele dia, pois foi um marca na vida de cada um de nós da 1-A. Para sempre nós lembrariamos daquele momento maldito, pois além de nos levar a perceber tão cedo o mundo cruel em que estávamos enfiados, também foi a partir daquele ponto que tudo começou a dar terrivelmente errado em nossas vidas, um acontecimento ruim seguido do outro, sem tempo para respirar. O choque que se estendeu sobre todos nós por perceber que aquilo era real, que era um ataque, nos deixou paralisados por uma fração de segundos, nos fazendo hesitar completamente diante da situação que nos encontrávamos.
Minha ansiedade me congelou no lugar, ideias terríveis percorrendo minha mente naqueles instantes em que tudo o que podíamos fazer, era observar, estagnados, cada vez mais e mais vilões atravessarem aquele portal. Perguntas rondavam meu cérebro, uma tentativa de achar respostas. Como eles tinham invadido logo a U.A? O por que tinham invadido a U.A? O que queriam de nós? Bem, estava claro agora que aquela situação com os repórteres foi uma mera distração para tirar nossa atenção do show principal que estava acontecendo logo ali. Seria burrice pensar que era uma mera coincidência e era infantil demais desejar que fosse. Não existiam coincidências em um mundo cheio de vilões muito bem articulados.
-Sensei, e o sensor de invasores? - a voz de Yaoyorozu foi o que nos despertou daquele estado. Eu conseguia sentir a ansiedade, confusão e até desespero de cada um de meus colegas de sala naquele momento, sentimentos totalmente desenfreados me atingindo em cheio e fazendo meu estômago ficar embrulhado. Eu sabia que eu mesma não estava nada diferente, tão perto de ter meu próprio surto que eu não era capaz de julgar os sentimentos dos outros.
-É claro que está funcionando! - Treze disse, a surpresa por toda aquela situação estar se desenrolando daquela forma quanto nós. A verdade é que você precisava de muita ousadia (ou falta de noção) para invadir uma escola do porte da U.A, ainda mais quando ela era lotada de super heróis. Porém, precisava dar os créditos aos vilões pela forma como arquitetaram aquele plano, pois tinham pensado em tudo; logo ali, na USJ, longe o suficiente para causar um belo estrago antes que outros heróis profissionais aparecessem.
-Não tenho certeza se eles estão aparecendo somente aqui ou na escola também. - Shoto Todoroki disse, atraindo a atenção dos outros para si. Era uma dúvida válida, mas eu duvidava muito que eles fossem aparecer na U.A; não, aquilo era algo diferente. -Mas é muito estranho o sensor não ter reagido a presença deles. Isso significa que algum deles tem uma individualidade especial para isso. Eles ainda estão um pouco longe do prédio da escola. E existem algumas pessoas que conhecem o nosso cronograma. Por mais ridículo que pareça, essas pessoas não são idiotas. Elas estão aqui por um motivo. E estão atacando seguindo um plano.
Deduzir isso não era lá muito difícil, mas ao perceber a cara de choque de alguns dos meus colegas, percebi que talvez a ficha deles ainda não tivesse caído completamente, e agora Todoroki tinha acabado de atirar um balde de água gelada contra cada um deles.
Estávamos bem perto de um surto coletivo, a tensão se espalhando como perfume no ar.
-Treze, comece a evacuação! Tente entrar em contato com a escola! Desta vez, os inimigos tem uma maneira de lidar com o nosso sensor! Pode ser alguém interferindo com uma individualidade do tipo onda elétrica. - Aizawa sensei alertou, se virando e se preparando para lutar contra os vilões pada nos proteger. Ao mesmo tempo que admiração por ele me atingiu, eu também senti meu coração ir parar na garganta. Sim, ele era um profissional, mas a quantidade de vilões ali era grotesca. Tentar conter todos eles sozinho, ainda mais quando seu estilo de luta é combate corpo a corpo... -Kaminari, também use sua individualidade para entrar em contato!
-E o sensei? O senhor tá pensando em lutar sozinho? - Midoriya perguntou, parecendo tão assustado com esse fato qianto eu estava. -Com tantos vilões, não importa quantas individualidades apague! O estilo de luta do Eraserhead é capturar os inimigos depois de apagar suas individualidades, mas usar ataques frontais...
-Um herói de verdade tem mais que uma habilidade. - Aizawa sensei disse, transmitindo uma calma que não combinava com a situação. Ele provavelmente só não queria nos deixar ainda mais em choque, e eu o admirava ainda mais por isso. -Treze, conto com você!
Ele não esperou por uma resposta, ele não esperou por mais perguntas, ele não esperou por objeções; apenas puxou sua faixa branca e avançou contra os vilões, caindo bem no meio deles e iniciando uma batalha capaz de deixar qualquer um completamente e totalmente hipnotizado, tudo para ganhar tempo para que pudéssemos escapar dali e buscar por ajuda.
Era uma batalha totalmente injusta e desbalanceada, mas Aizawa sensei não hesitou nem por um instante. Essa era a verdadeira essência de um super herói, arriscar sua vida sem medo da morte para proteger os outros. Eu conseguia sentir a determinação do sensei, o que só serviu para me fazer desejar ainda mais que ele vencesse.
-Incrível! - Midoriya disse, surpreso. -Lutar contra vários inimigos sozinho está sendo a vantagem do sensei.
-Não é hora de ficar analisando a situação! Evacuem, rápido! - a voz de Iida me despertou do meu estado petrificado, principalmente quando ele começou a nos empurrar em direção da saída. Consegui trocar um olhar com Poppy, tentando ir na direção dela.
Mas tudo começou a dar ainda mais errado.
Antes que pudéssemos chegar na saída, o caro do portal surgiu a nossa frente, bloqueando completamente a passagem. A fumaça roxa nos impedia de passar, e eu não queria me aproximar o suficiente para descobrir o que poderia acontecer caso tentasse.
-Não vou deixar saírem. - sua voz preencheu o lugar, me fazendo ficar apreensivapor um instante. Aquilo estava piorando cada vez mais e precisávamos arranjar ajuda para Aizawa sensei o mais rápido possível. -Muito prazer. Somos a Liga dos Vilões. Perdoem a intromissão, mas queriamos fazer uma visita a academia dos heróis. O motivo da visita é o Simbolo da Paz, All Might, esua completa aniquilação. De acordo com os planos, All Might deveria estar aqui... Mas talvez tenha ocorrido alguma mudança, não é? Bom, isso não importa.
Aquele papinho era apenas perda de tempo, todos sabíamos, Treze sensei melhor do que ninguém, pois fez menção de usar sua individualidade para sugar e acabar logo com aquele maldito a nossa frente.
Mas claro que antes que pudesse o fazer, imbecis iriam atrapalhar o trabalho gente adulta! Bakugo nem mesmo hesitou antes de atacar, sendo seguido de Kirishima, o que ao mesmo tempo que me deixou desesperada, me fez questionar porque esse imbecil emocionado era minha alma gêmea. O ataque dos dois nem mesmo teve efeito! Só serviu para, claro, atrapalhar o que já estava ruim.
-Não passou pela sua cabeça que a gente é que vai te eliminar?- Kirishima disse com a expressão mais séria que eu já tinha visto. Ao mesmo tempo que eu ficava um pouco chocada, ficava perplexa por Kirishima achar mesmo que aquilo ia dar certo. Claramente não ia, mas tinha que o dar créditos pela coragem idiota.
-Não! Vocês dois, se afastem!- Treze gritou, mas claro que era tarde demais. Uma fração de segundos é o suficiente para determinar o destino de uma pessoa. Eu sei disso bem demais.
A nuvem roxa que vinha daquele cara do portal nos cercou completamente, nos cobrindo e fazendo com que nos separassemos uns dos outros por um instante. Eu não conseguia ver Poppy e muito menos Kirishima, o que fez meu coração dar um salto dentro do peito. Mas sequer tive tempo de processar isso e tentar os achar de alguma forma, pois o chão abaixo de mim se abriu completamente, me fazendo começar a cair.
Deixei um grito assustado escapar dos meus lábios enquanto eu caia e caia e caia. Dor me preencheu por completo quando eu achei o chão novamente, da pior forma possível, fazendo tudo ficar preto na minha visão por um instante enquanto pontadas percorriam minhas costelas. Soltei um gemido infeliz, apoiando minhas mãos sobre o chão para tentar me erguer.
Um líquido quente escorria pelo meu pescoço, me fazendo erguer a mão para tocar o local. Percebi com uma imensa infelicidade que o líquido viscoso era sangue, e que o fato de minha visão estar duplicada é porque eu tinha batido a cabeça com força no chão.
Mas eu não tinha tempo para me recuperar, porque não fazia a menor ideia de onde estava. A julgar pela arquitetura do teto, eu ainda estava na USJ, em um dos espaços de resgate. Ainda assim, saber disso não era o suficiente para me acalmar já que estávamos cercados por vilões e eu aparentemente estava sozinha para lidar com eles. Esse não era o pior, mas sim não fazer ideia do que tinha acontecido com a única pessoa que eu podia chamar de amiga. E mais que isso, eu talvez estivesse mais preocupada com Kirishima do que era capaz de admitir. Pensar que talvez ele pudesse estar machucado...
Não; eu não podia pensar nisso agora. Precisava focar e evitar encontrar com muitos vilões, ir ajudar meus amigos da melhor maneira possível.
Foi pensando nisso que soltei um palavrão quando vi três homens apontando para mim e sorrindo de um jeito que não deixava dúvidas o que pretendiam fazer com um projeto de super heroína. Não tinha para onde correr e me esconder, por isso, apenas deixei minha individualidade cercar meus dedos. Eu não sabia qual era a individualidade deles e tampouco podia controlar todos, mas um deles pelo menos eu podia lidar e formar uma distração suficiente para nocautear um deles e se eu tivesse sorte, seriam dois.
O mais idiota entre eles foi tolo o suficiente para me subestimar. Bastou um único passo na minha direção para que minha individualidade o atacasse, a confirmação de que tinha tido efeito quando seus olhos ficaram rosa por um instante e ele parou de andar, me olhando vidrado, completamente a minha mercê.
-Qual sua individualidade? - perguntei, carregando minha voz de um charme que eu não tinha muito bem desenvolvido para que fosse mais eficaz. Pelo menos deu certo, pois ele piscou os olhos, completamente dopado pela minha individualidade.
-Controlo o vento. - ele respondeu com um sorriso idiota, fazendo os dois ao seu lado hesitarem, confusos e com raiva.
-Cala boca, idiota! Essa era nossa vantagem! - um deles disse, o dando um empurrão forte. O idiota que estava sobre meu controle apenas franziu as sobrancelhas em confusão, tentando entender a situação.
Era como se amarras invisíveis me ligassem a quem estava sobre meu controle. Eu apertei com ainda mais força aquelas amarras, para que ele não fosse capaz de se soltar.
-Não importa, vamos acabar logo com a pirralha. Ela não tem nada demais. - o outro retrucou, avançando na minha direção. Minha risada incrédula o fez hesitar por um instante, me olhando desconfiado.
Eu sorri.
-Você vai se arrepender disso. - falei com uma risada antes de fixar os olhos nos do idiota que estava sobre meu controle. Puxei aquela amarra invisível com força, o fazendo até cambalear um pouco na minha direção, perto o suficiente de mim para que eu pudesse tocar seu rosto de leve. -Você vai fazer algo por mim, não vai?
-Sim, claro. - ele disse, os olhos brilhando com uma devoção que fez eu ter vontade de vomitar. -Tudo o que você quiser.
-Mas que porra?! - os outros dois gritaram, agora correndo para valer até mim.
-Mande eles embora. - falei num sussurro.
Dito e feito: no segundo seguinte, vento rodeava os dois outros homens, um pequeno tornado se formando. Os gritos fizeram minha cabeça latejar ainda mais de dor enquanto o idiota do vento mandava seus dois companheiros para bem, bem longe em um golpe certeiro. Eu apenas assobiei.
-Uau. Isso foi até impressionante. - eu falei com um meio sorriso. E, com toda a força que eu tinha, dei um soco naquele cara, o fazendo cair com tudo no chão, totalmente apagado.
Fácil demais; foi fácil demais para der verdade, o que me fazia pensar em duas possibilidades: 1° aquele ataque era apenas ridículo e foi um golpe de sorte para vilões de merda como aquele ou 2° aqueles caras estavam atuando apenas como uma distração para o objetivo principal, tentando ganhar tempo atuando como iscas totalmente descartáveis.
Eu votava na seguda opção. Eram vilões de baixa qualidade demais, e aquilo provavelmente era um pura distração para o que os reais vilões estavam tentando fazer. Pensar nisso não me ajudou a ficar mais tranquila, motivo pelo qual eu tentei me localizar antes de correr daquele lugar.
Foi uma ideia boa mas muito pessimamente arquitetada. Eu não percebi a aproximação de um vilão até que ele estivesse puxando meu cabelo, um golpe totalmente baixo. Deixei um grito surpreso e de dor escapar pela minha garganta quando os meus fios foram arrancados de forma bruta.
Eu não hesitei em deixar minha individualidade fluir, mas, mais rápido do que eu poderia prever, gelo cresceu na minha direção. Tomei um susto, mas foi só ao escutar o vilão gritar enquanto me soltava que me dei conta que o gelo não era para mim.
Me virei rapidamente, meus olhos encontrando com os olhos heterocromáticos bonitos de Shoto Todoroki. Ele tinha uma expressão indecifrável, mas parecia perguntar silenciosamente se eu estava bem, o que eu respondi com um aceno de cabeça em agradecimento pela ajuda. Sem pensar muito, me aproximei do meu colega de classe, notando gelo começando a se acumular na sua bochecha direita.
-Valeu. - murmurei, mas, para minha imensa felicidade, ele não disse nada sobre isso.
-Você está sangrando. - ele disse franzindo as sobrancelhas, como se analisando a extensão do dano causando em mim. Mas aquilo não tinha sido obra de nenhum vilão, o sangue agora já seco no meu pescoço vinha devido ao fato de eu ter batido a cabeça com força. Eu apenas esperava não sofrer uma concussão no processo.
-É, eu bati a cabeça. Mas estou bem. - bem era uma palavra muito forte, e pela cara que Todoroki estava fazendo, ele sabia muito bem disso. Mas preferiu deixar de lado.
-Eu sei o que eles querem. - Todoroki me disse, seus olhos percorrendo o lugar onde estávamos. Perceber que ele já tinha descoberto o plano dos vilões não me chocava nem um pouco, sendo totalmente honesta.
-Quem eles querem matar? - falei arqueando a sobrancelha, pois aquilo estava tão claro quanto o sol. Todoroki me olhou por um instante, como se tivesse realmente me percebendo pela primeira vez. Não que eu tenha me ofendido muito com isso, afinal, não tinha tempo para me importar com coisas do tipo naquele momento.
-All Might.
Soltei uma risada incrédula.
-Eles estão delirando.
Todoroki apenas olhou para um ponto não tão distante assim de nós, me fazendo perceber que a pessoa para quem ele olhava era o herói número um. E eu engoli em seco ao notar que ele estava com problemas.
Shoto Todoroki não esperou mais meio segundo antes de ir na direção de All Might, não me deixando muita escolha que não o seguir. Se o herói número um estava com problemas, por que diabos esse idiota pensa que pode ser de grande ajuda? Deveríamos buscar profissionais. Deveríamos fazer uma sequência de coisas que claramente não estávamos fazendo naquele momento. Pensar nisso apenas me fazia querer gritar.
Tinha uma espécie de monstro ou ser não identificado segurando All Might, claramente causando um ferimento no herói. Todoroki não hesitou antes de fazer seu gelo atingir aquela coisa para ajudar.
Foi ai que comecei a perceber o contexto geral. A luta de All Might com aquele ser, o cara do portal de fumaça roxa sendo prensado contra o chão por Bakugo e Kirishima (pelo amor de Deus, por que?!) tentando atacar o vilão sinistro das mãos. Ver o idiota de cabelo vermelho ali apenas serviu para fazer meu coração ao mesmo tempo se aliviar e se encher ainda mais de preocupação por ele claramente estar enfiado em uma bela e grande merda. Assim como eu tinha acabado de fazer.
-Me disseram que enviaram vocês para matar o All Might. - Todoroki disse caminhando ate eles, não me deixando outra escolha que não o seguir. Maldito! Não podia arranjar outras formas de ajudar? -Não vou permitir que eliminem nosso Símbolo da Paz.
Foi o gelo de Todoroki que enfraqueceu aquela coisa que segurava All Might o suficiente para conseguir permitir que o herói se libertasse, me deixando um pouco mais aliviada. Ainda assim, por algum motivo que ia além da situação que estávamos, eu estava extremamente tensa. E se fosse ser honesta, eu temi completamente que algo ainda pior pudesse acontecer.
-Ei, fantasma de fumaça. - a voz de Bakugo chamou minha atenção, fazendo eu me virar para o fitar. -Você é igualzinho como imaginei! Os lugares que você pode transformar em portais dimensionais é limitado! Você só tá usando essa fumaça de teletransporte para esconder seu corpo verdadeiro, não é?! Se você fosse só fumaça e fosse imune a ataques físicos, nunca teria dito "que perigo"! Não se mexa! Se eu achar que você tem alguma habilidade estranha na manga, eu te explodo na hora, sacou?
-Isso não se parece com o que um herói diria. - Kirishima falou e eu fiz uma careta. Não é como se Bakugo tivesse se importado muito, nem mesmo parecia ter escutado.
Os olhos vermelhos de Kirishima acabaram encontrando os meus. E ele os arregalou ao perceber que eu também estava ali, abrindo a boca para dizer alguma coisa, mas logo a fechando. Era como se ele estivesse pensando a mesma coisa que eu: podia ter qualquer pessoa ali, mas precisava ser logo esse idiota a se enfiar nesse tipo de merda? Sério?
-Eles não apenas conseguiram como praticamente nenhum deles está ferido... As crianças de hoje em dia são formidáveis. Nós, da Liga de Vilões, estamos ficando em desvantagem. - o cara de cabelo azul e mãos estranhas no rosto disse, e por algum motivo, aquela voz percorreu meus ossos e me fez estremecer. Senti um gosto amargo na boca, ainda mais com os sentimentos que explodiam de dentro dele, toda aquela raiva acumulada e incapaz de ser contida. -Noumu, acabe logo com a criança explosiva e recupere a saída.
O tal Noumu começou a se mover apesar do gelo de Todoroki, os membros atingidos pelo gelo se partindo no processo. O que me assustou para valer não foi isso, mas sim o fato de que mesmo com o corpo destroçado, ele ainda estava se movendo. E pior; se regenerando.
-Pessoal, fujam! Ele tem mais do que a individualidade de absorção de choques?! - All Might disse em choque e eu engoli em seco. Se até o herói número um estava chocado, quem era eu pra não me desesperar?!
-Eu nunca disse que tinha só aquela habilidade. Está é minha super regeneração. - o maluco de cabelo azul disse, sua voz mais uma vez me trazendo sentimentos ruins. Eu só queria que aquilo acabasse, e desejei ainda mais isso quando o bicho que ele chamou de Noumu crescia outro braço e outra perna. -Ele foi projetado para se tornar um saco de pancadas humano, com capacidades superiores, especialmente para combater você quando estivesse usando cem porcento da força.
E pior: aquela coisa era absurdamente rápido. Em um piscar de olhos, antes mesmo que qualquer um de nós pudesse pensar em reagir e usar nossas individualidades, ele já estava praticamente sobre Bakugo.
A sorte era que All Might já estava há anos tendo experiências ruins como aquela. Ele sabia exatamente como reagir, motivo pelo qual All Might foi rápido o suficiente em tirar a biriba do caminho e receber o soco do Noumu no lugar, voando para o outro lado em uma distância assustadora. Ainda mais assustador era notar a força daquele monstro, o que significava que estávamos fodidos.
-Para proteger meus companheiros, eu não tenho muita escolha, tenho? É o mesmo que aconteceu agora pouco. Olhe... - o cara de cabelo azul disse, gesticulando muito. -Aquele amador. Aquele garoto queria lutar comigo para salvar os outros, não é? - ele estava falando de Midoriya. -Usar da violência pelos outros, isso não é idealista? Isso é mesmo ser um herói? Sabe, All Might, eu sempre fui extremamente irritado! Possuímos violências similares, mas somos divididos em heróis e vilões. Neste mundo, somos separados entre bem e mau. Afinal, o que é o Símbolo da Paz? Dito isso, não é nada mais que uma forma opressiva de violência. Violência somente pode criar mais violência! E é isso que você mostrou ao mundo com sua matança desenfreada.
-Aoi! - tomei um susto quando Kirishima agarrou meu braço e surgiu ao meu lado do além, meu coração dando um salto ainda maior dentro do peito. Apesar disso, eu me negava a admitir que ter ele ali, de certa forma, fazia eu me sentir um pouquinho menos desesperada. -Não fica bem no meio! É perigoso! Esse cara é maluco!
Eu nem mesmo tinha me dado conta que havia congelado no lugar até Kirishima dizer isso, então apenas assenti e permiti que ele me arrastasse para um pouco mais para o canto.
O que só serviu para atrair a atenção do cara de cabelo azul para nós. Não que desse para saber exatamente a expressão que ele fazia pela mão que cobria seu rosto, mas eu senti a surpresa que o invadiu no momento em que me percebeu, algo que ele não tinha feito até o momento. Ele tinha parado o discurso idiota que fazia, e por algum motivo seu silêncio direcionado para mim me incomodou profundamente.
-Eu conheço você. - ele disse quase que em um sussurro, mas eu escutei ainda assim. E sim, isso me fez arregalar os olhos e prender a respiração. Eu não fazia ideia de quem ele era. Mas por que sentia como se eu devesse saber?! Toda a angústia que eu sentia olhando para ele tinha que ter um motivo além de estar literalmente sentindo os sentimentos ruins que vinham dele.
Senti os dedos de Kirishima fechando no meu pulso enquanto ele me puxava gentilmente para mais perto, talvez em uma forma de, sei lá, me proteger? Eu não estava focando muito nisso, confusa demais e nervosa demais para processar tudo o que estava acontecendo.
Era informação demais em um dia só.
-Quanta bobagem. - All Might disse, sem ter escutado o que aquele garoto de cabelo azul me disse, focando apenas no discurso que ele tinha dado antes. -Pessoas que dizem isso, esses criminosos que matam por ideais, terão os sonhos queimados! Você só quer se divertir.
-3 vs 6. - Todoroki soltou, analisando a situação.
-O Kacchan descobriu a fraqueza da fumaça também!- Midoriya disse.
-Os inimigos são páreo duro, mas com nós ajudando o All Might, a gente pode ganhar! - Kirishima completou, me olhando um pouco de canto de olhos. Eu voltei um pouco a realidade para torcer o nariz.
-Vocês estão loucos.
-"Eu conheço você". Que porra isso quer dizer? - Bakugo praticamente rosnou, os olhos vermelhos cheios de desconfiança fixos em mim por um instante. Eu apenas o ignorei.
-Não! Fujam agora mesmo! - All Might ordenou.
-Se não fosse pela nossa ajuda, a situação poderia estar desastrosa agora. - Todoroki disse e eu fiquei sim perplexa. Ele não estava errado, mas falar isso logo para o herói número um era complicado.
O Noumu atacou All Might.
-Você quer se tornar heroína, Aoi? - eu gelei completamente quando o garoto de cabelo azul falou meu nome. Até então, eu não tinha de fato acreditado que ele me conhecia; podia apenas estar me confundindo com alguém, sei lá! Pelo menos era o que eu queria. Mas ele falar meu nome assim não deixava nenhuma dúvidas de que, sim, ele sabia exatamente quem eu era. Então porque eu não sabia quem ele era?
Forcei minha memória; mas eu realmente não me lembrava de um dia ter conhecido um maluco que usava mãos no corpo e no rosto como acessório!
Eu estava tão nervosa e ansiosa que nem mesmo estava conseguindo respirar.
-Como sua individualidade vai ser útil, aliás? Amor não serve pra merda nenhuma. - a risada dele foi o que me fez acordar, como se tivessem jogado um balde de água fria em mim. Muito mais do que saber meu nome, ele sabia qual era minha individualidade.
E estava zombando dela.
Eu admito que tomei uma das piores decisões possíveis, que foi cair na provocação dele. Não prestei nem mesmo atenção no que estava acontecendo ao meu redor, em All Might lutando contra aquele Noumu. Tudo o que eu podia focar agora era na minha própria raiva e irritação que explodiu dentro do meu peito.
Sabia que minhas mãos estavam rodeadas pela fumaça rosa. Eu não hesitei antes de correr na direção dele, ignorando o protesto de Kirishima e o grito de Midoriya falando para que eu não fizesse isso.
-Não deixe ele te tocar! - Midoriya berrou.
Ergui meu punho, preparada para socar com toda minha força aquele babaca do caralho. Sim, ele aparentemente sabia quem eu era, mas eu sabia apenas uma coisa sobre ele: era um vilão. E eu ia acabar com ele.
Ele não ergueu as mãos para me tocar e nem fez menção de desviar. Apenas permaneceu parado, como se eu fosse nada.
-Te vejo por aí, Aoi.
Um portal abriu antes que eu pudesse chegar nele. Eu não consegui sequer frear antes de atravessar e começar a cair de novo!
Ah puta que pariu!
Mais uma vez, bati com tudo contra o chão. Dessa vez, não sei exatamente quanto tempo fiquei apagada. Só sei que quando abri os olhos, o que vi, foram os rostos de Jiro e Yaoyorozu me fitando com preocupação.
-Ah! Você tá bem? - Yaoyorozu me perguntou e eu gemi infeliz enquanto ela me ajudava a sentar.
-O All Might! - exclamei um pouco desesperada, tentando levantar, mas elas duas me seguraram.
-Calma aí. Os professores já apareceram e alguns vilões fugiram. - Jiro disse.
-Você precisa descansar. Bateu a cabeça com força. - Yaoyorozu falou franzindo as sobrancelhas em preocupação.
Eu não tinha forças para discutir, então apenas assenti, sem prestar muita atenção.
Naquele dia, não conseguimos capturar os vilões da união que ficou conhecida como Liga dos Vilões. Muito menos aquele de cabelos azuis que mais tarde descobrimos se chamar Shigaraki Tomura, um nome que de nada me era familiar. Tinha tantas perguntas rondando minha mente, mas nenhuma resposta.
Naquele dia, nós até vencemos. Mas a verdade é que para sempre algo mudou em todos nós da turma 1-A. E não necessariamente significava que os problemas tinham acabado.
Data: 22/02/23
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