𖤍𖡼↷ 𝐒𝐄𝐕𝐄𝐍
OBRIGADA
Eu estava me sentindo péssima. Acho que depois de ter todas as minhas inseguranças expostas daquela forma pelos meus pais e logo para Kirishima, foi como se uma parte muito importante de mim tivesse se partido para valer. Apesar de não querer, sentia as lágrimas de raiva descendo pelas minhas bochechas enquanto eu andava rapidamente pela rua, desejando poder sumir do mundo. Eu me sentia envergonhada e ao mesmo tempo derrotada. Todos os meus esforços para tentar esquecer sobre o akai ito e não deixar isso definir minhas amizades e quem eu era tinham servido para nada. Achei que entrar para U.A fosse finalmente me permitir ser uma outra pessoa, mas claro que meus pais iam colocar tudo a perder por conta de sua própria ganância cruel.
E meu coração doía de uma forma absurda. As pessoas que mais deveriam me proteger eram o verdadeiro motivo para eu me sentir dessa forma. Meus próprios pais! Eles sequer se importavam comigo, não o suficiente. Às vezes eu só queria que eles me amassem. Se eu não conseguisse ver o akai ito, se minha individualidade não tivesse nada relacionado a sentimentos como o amor, será que assim eles iam me amar de verdade? Será que me veriam como algo além de uma espécie de fonte de renda?
Eu estava tão perdida em pensamentos ruins que não senti a aproximação até meu braço estar sendo segurado. Soltei um grito pelo susto que tomei, me virando rapidamente com o punho erguido. Mas Kirishima conseguiu desviar a tempo de levar um soco, e meu coração deu um salto ao se deparar com o garoto de olhos vermelhos. Aquilo era tudo o que eu menos precisava naquele momento; encarar Kirishima depois de todas as merdas que meus pais tinham me dito e tinham dito para ele, eu não mereço tanta merda!
-Aoi, espera! - o desespero na voz de Kirishima era palpável, principalmente quando me virei para continuar andando e o deixar para trás. Claro que ele estava preocupado comigo depois do que tinha acontecido com meus pais, claro que eu conseguia sentir a verdade de seus sentimentos. Isso não significava que eles eram bem vindos. Eu não precisava da preocupação e da pena de Kirishima! Por que ele não podia só ir embora para casa dele e me deixar sozinha? -Aoi, onde você tá indo? Espera aí! - claro que Kirishima ia me seguir, o que eu não sabia se me deixava com raiva ou aliviada por pelo menos não estar sozinha.
-Kirishima. - falei, me virando subitamente, o que o fez quase trombar com tudo em mim. Engoli em seco com aquela aproximação, fitando os olhos vermelhos de Kirishima com seriedade. -Para de me seguir! Eu não preciso de você me olhando com cara de cachorro sem dono nesse momento, sinceramente. - eu sabia que não estava sendo justa e que minhas palavras machucavam, mas Kirishima não pareceu se abalar nem um pouco com elas. E tampouco ele estava com o olhar de alguém que desistiria tão fácil, o que fez eu me irritar um pouco com aquele altruísmo de Kirishima.
-Não vou parar de te seguir! - Kirishima disse vindo logo atrás de mim quando voltei a caminhar. Eu bufei com irritação, mas dessa vez não parei de andar para tentar o mandar embora, a determinação idiota que vinha de Kirishima me fez ter a certeza que ele não me deixaria em paz tão cedo assim. Maldita alma gêmea insistente que eu fui arrumar! -Você não precisa falar nada que não queira, Aoi, mas não vou te deixar sozinha, sabia? - um nó se formou na minha garganta escutando aquilo. Nunca ninguém tinha me tratado daquela forma, com tanta vontade de ficar comigo mesmo depois das minhas falas duras e vontade de fugir. Meus olhos queimavam com as lágrimas que eu não queria derramar.
-Você nem me conhece direito. Por que só não me deixa em paz? - eu sabia que não queria dizer isso de verdade, mas as palavras apenas saltaram para fora da minha boca, afiadas como uma lâmina. Eu me virei apenas o suficiente para fitar os olhos vermelhos de Kirishima, esperando encontrar arrependimento ali dentro. Mas não encontrei; ele ainda estava determinado, era como se minhas palavras sequer tivessem surtido efeito nele. E Kirishima sorriu para mim, apesar de tudo o que estava acontecendo ali.
-Acho que conheço o suficiente pra saber que não merece o que aconteceu com você. E que tipo de homem másculo eu seria de te deixar sozinha agora? - ele disse e, por um segundo, apenas o encarei, sem nenhuma resposta. E foi assim que eu comecei a dar risada, não uma risada debochada, mas uma tão sincera que até mesmo me pegou de surpresa. Kirishima ainda estava sorrindo, apesar de estar claramente confuso por eu estar dando risada naquele momento. Eu o olhei, sorrindo de forma divertida.
-Másculo, é? - zombei. Kirishima apenas deu de ombros, como se não entendesse o motivo de eu estar tirando sarro da cara dele. De qualquer forma, aquilo pareceu aliviar um pouco o clima ruim que estava entre nós. Eu levei até meus cabelos, afundando os dedos ali e bagunçando de leve. -Você pode ir pra sua casa, Kirishima. Eu agradeço, mas consigo me virar.
-Nunca disse que você não consegue! - ele falou, andando ao meu lado. -Mas para onde você sequer vai, Aoi?
-E por que diabos isso importa? - soltei, franzindo as sobrancelhas. Kirishima apenas fez uma careta.
-Olha, você tem onde ficar, pelo menos? - ele perguntou. Mas eu fiquei em silêncio. A verdade é que eu não tinha exatamente para onde ir porque, tirando meus pais, eu não tinha mais ninguém. E provavelmente Kirishima percebeu isso, pois ele me olhou de um jeito que só deixou claro que eu não teria outra escolha que não ir embora com ele. Por isso, suspirei, totalmente derrotada. Eu não tinha forças para discutir contra Kirishima, não quando ele era terrivelmente irritante e persistente. Kirishima se deu conta de que eu não ia lutar contra isso, então ele deu um meio sorriso para mim e começamos a andar mais uma vez.
Eu estava um pouco envergonhada de entrar na casa de Kirishima. Sendo bem sincera, ter aceitado aquilo foi um erro, mas eu sabia que ou era isso ou Kirishima iria basicamente me arrastar até sua casa, e eu não tinha exatamente como lutar contra a individualidade dele quando a minha não surtia nenhum efeito sobre o garoto de cabelo vermelho. O que ainda estava me deixando um tanto intrigada. Por que diabos eu não conseguia controlar Kirishima, afinal? Não fazia sentido. Até mesmo os meus pais eram suscetíveis a serem controlados, então por que Kirishima não era?
Estava um pouco atordoada por estar ali, mas segui Kirishima para dentro sem protestar. Me senti um pouco mais aliviada por perceber que não teria que lidar com a situação "pais" pois percebi que só tinha Kirishima e eu ali. Bem, claro, por enquanto. Talvez eu fosse meio louca por me sentir aliviada com isso, na verdade eu deveria era me preocupar! Mas seria mentira se eu dissesse que não me sentia confortável na presença de Kirishima. E era uma merda admitir isso, então eu apenas iria continuar fingindo e fugindo, que era o que eu sabia fazer de melhor.
-Não precisa se preocupar, eu avisei minha mãe que você vai ficar aqui e ela disse que não tem problema! - Kirishima falou balançando o celular em suas mãos, quase como se tivesse lido meus pensamentos. Ele abriu um imenso sorriso para mim. -Você pode dormir aqui se quiser também. Minha mãe não vai demorar pra chegar e ai vamos jantar juntos.
Eu assenti, absorvendo as palavras de Kirishima. Como ele conseguia ser tão legal e simpático comigo? Eu só não entendia. Eu não era exatamente o tipo mais legal de pessoa ou alguém que os outros queiram estar perto por tempo demais...
Com um suspiro, puxei minha mochila para frente e a abri, tirando o casaco de Kirishima de dentro dela e estendendo em sua direção. Kirishima piscou os olhos surpreso, aparentemente ele tinha esquecido completamente daquela blusa, o que quase me fez rir.
-Obrigada por ter me emprestado. Eu lavei pra você. - falei, minhas bochechas esquentando no processo e quase fazendo eu desejar a morte por ser tão patética. Os dedos de Kirishima encostaram de leve nos meus quando ele segurou a blusa em suas mãos e sorriu para mim.
-Ah, não foi nada. - ele disse, dando de ombros. Sem mais ou menos, Kirishima agarrou minha mão, quase me fazendo ter um negócio e morrer. Era como se ele nem se desse conta do que estava fazendo, e ele me puxou em direção as escadas sem nem pensar duas vezes. -Vou te mostrar meu quarto! Você pode dormir lá, eu durmo na sala.
-Ah, Kirishima, não...- comecei, sentindo meu rosto pegar fogo pra valer agora, minha vergonha me espancando completamente naquele momento. Por que ele tinha que ser tão legal comigo?! Eu era uma babaca! Ele deveria me chutar pra fora e rir da minha cara, isso sim! Desse jeito, só fazia tudo ficar mil vezes mais difícil pra mim!
-Sério, não tem problema! Que tipo de homem eu ia ser deixando você dormir no sofá? - ele disse se virando para mim e franzindo o cenho. Eu torci o nariz.
-Você e esse papo idiota de coisa de macho. - resmunguei e Kirishima apenas riu, abrindo uma porta e me puxando para dentro.
Pisquei os olhos, um pouco surpresa. Tudo bem, aquilo definitivamente era um quarto de garoto, sem sombra de dúvidas. E de nerd também, já que tinham pôsters nas paredes, de Crimson Riot e não precisava ser um gênio para saber que aquele era o herói favorito de Kirishima. Sem querer, eu acabei soltando uma risada, o que chamou a atenção de Kirishima para mim. Ele me olhou de forma curiosa.
-Não foi nada, é que... Realmente, que quarto de macho. - zombei e Kirishima apenas deu risada.
-Bem másculo, pode falar. - Kirishima disse, se sentando na beirada da cama e me olhando com expectativa. Eu apenas balancei a cabeça e sorri de leve, me sentando ao lado dele.
Fiquei em silêncio. Por um tempo, apenas fitei minhas mãos. Por mais que eu não quisesse, tinham coisas que não dava para fugir para sempre. E mesmo sabendo que Kirishima jamais ia tocar no assunto, tinham coisas que não davam para fingir que jamais tinham acontecido.
-Sobre o que meu pai disse, Kirishima, sobre minha individualidade...- comecei, respirando fundo. Eu odiava falar sobre isso com todas as minhas forças. Eu não queria que soubessem sobre o akai ito, porque já era ruim o suficiente meus pais saberem e usarem isso contra mim mesma. Já tinha sofrido demais por conta daquele fio vermelho que, ironicamente, me ligava ao garoto sentado logo ao meu lado.
-Aoi. - ele disse, sua mão pousando em cima das minhas com cuidado por um instante, me impedindo de continuar. Eu pisquei os olhos, meu coração apertando um pouco mais ao ver o fio vermelho que nos ligava, como uma lembrança cruel do destino daquilo que eu não poderia jamais me permitir a ter. -Você não precisa me contar nada que não queira contar. Eu sei que escutei coisas que você não queria que eu escutasse e que descobri coisas que você não queria que eu descobrisse. Mas eu posso muito bem fingir que nunca aconteceu. E você pode ficar tranquila, eu nunca vou contar pra ninguém!
-Eu sei disso. - falei, baixinho, balançando a cabeça. Com um suspiro, eu apenas ergui o olhar, meus olhos encontrando os olhos vermelhos de Kirishima que já estavam em mim. Eu sabia que fugir daquele assunto era covarde demais da minha parte, mas eu também não queria falar sobre isso. Eu não queria ser obrigada a falar de algo que eu odiava, ainda mais agora que eu tinha me permitido me aproximar minimamente de Kirishima.
Mas eu também sabia que já estava tudo perdido; algo tinha sido destruído pelos meus pais e eu tinha certeza que não poderia colocar no lugar. Kirishima estava certo, eu não queria que ele soubesse. Mas mesmo ele fingindo, ele já sabia. E isso não me deixava nenhuma outra escolha.
Com o coração doendo mais do que achei ser possível, dei um sorriso forçado para Kirishima. E meus olhos ardiam com as lágrimas que eu não podia derramar.
-Obrigada, Kirishima.
Boa tarde povo bonito! Tudo bem com vocês? Espero que sim!
Um capítulozinho menos caótico com Aoi e Kirishima pra compensar todo o sofrimento da pobi KKKK
Votem e comentem, isso ajuda demais e me deixa mais inspirada a continuar!
Espero que gostem <3
~Ana
Data: 15/01/23
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