𖤍𖡼↷ 𝐓𝐇𝐈𝐑𝐓𝐘
UMA PIRATA
Quando acordei no hospital, depois de passar por uma cirurgia para dar um jeito no meu ferimento, eu ainda estava agitada. A única coisa que conseguia pensar, era na Liga fugindo e em Bakugo não sendo salvo. Nos noumus que voltaram para atacar e impedir os heróis de fazerem seu trabalho. Mas fui acalmada pelas enfermeiras que me mostraram o noticiário onde eu pude ver reportagens falando da batalha de All Might contra o vilão, All For One, que foi preso pela polícia apesar dos outros membros da Liga terem fugido. E, claro, Bakugo tinha sim conseguido fugir das garras de Shigaraki, o que me deixou muito mais aliviada quando descobri.
Eu estava entupida de remédios para tentar aliviar a dor do corte que Toga tinha feito no meu rospo. Um médico tinha vindo me explicar que eles tinham feito de tudo para tentar salvar meu olho, mas o corte tinha sido profundo demais e a única coisa que deu pra salvar foram meus músculos. Se tivesse sido um pouco mais profundo, eu provavelmente estaria morta. Aizawa estava no quarto enquanto o médico me dava essa notícia, parecendo bem preocupado com minha reação, mas eu apenas olhei para ele com o olho que me restava e assenti. Quer dizer, eu estava viva, isso já era coisa o suficiente para mim.
Aizawa tinha sido a primeira pessoa a me visitar e dava para notar que estava preocupado comigo e por tudo o que tinha acontecido. Isso me fez sorrir de leve; ele podia negar o quanto quisesse ou até revirar os olhos toda vez que eu o chamava de pai, mas era exatamente aquilo que ele vinha sendo para mim desde que me adotou, e ele ser a primeira pessoa a estar do meu mado quando acordei só comprovava isso. Querendo ou não, ele era sim o meu pai.
-O médico disse que você pode usar prótese, já mandei ele fazer pra você.- Aizawa disse enquanto me olhava seriamente, se sentando ao meu lado na cama. -Algo em relação a ajudar na autoestima, ninguém vai conseguir dizer que você perdeu o olho já que o movimento vai continuar o mesmo por seus músculos não terem sido danificados. A cicatriz não vai dar pra tirar. Sinto muito.
Eu apenas dei um meio sorriso para ele. Sabia o quanto ele estava aflito por eu ter perdido um olho, mas isso não ia mudar a realidade. E se eu fosse ser sincera, tinham partes piores do corpo para se perderem.
-Prótese, é? Legal. Posso ter várias? Assim da pra ter cores diferentes. Olhos heterocromaticos, tipo o do Todoroki! - falei de forma animada, pegando Aizawa um pouco de surpresa. -Mas nem precisava, eu posso usar um tapa olho e virar uma pirata. Também vai ser legal, quem sabe assim eu não viro uma gostosona popular? Alias, vamos ter que treinar em dobro agora pra melhorar meu reflexo do lado esquerdo. Começar assim que eu sair desse hospital!
Ele me olhou incrédulo por um instante antes de dar uma risada e afagar de leve o topo da minha cabeça, como se eu fosse uma criança surtada. Bem, eu era a criança surtada dele, de qualquer forma.
-Calma. E você pode escolher a cor que quiser. E quando não quiser usar, não precisa. Pode fazer o que quiser, Aoi. E o que te fizer se sentir melhor. - ele disse com sinceridade e carinho, mesmo que não fosse admitir esse último. Eu apenas sorri. Sabia que deveria estar me sentindo triste por ter perdido meu olho e o quanto isso comprometia muita coisa. Mas eu não estava, pois estava feliz por Bakugo estar a salvo e por ter Aizawa ali para me apoiar naquele momento. Eu não me sentia péssima por essa perda, porque sabia que não tinha sido em vão, fiz o que fiz pra deixar o idiota do meu amigo vivo. E ele tava vivo e bem na sua casa, então era o que importava. -Vou avisar Violet que você acordou e já pode receber visitar. Ela quase morreu de tanta preocupação com você. Nós dois quase morremos de preocupação com você. Mas sabia que você ficaria bem.
Eu dei um meio sorriso antes de titar minhas mãos. Apesar de estarem limpas, eu ainda podia sentir o sangue quente que escorreu entre elas. Tanto de Shigaraki quanto o meu próprio.
-Eu tô com medo. - admiti baixinho, pegando ele de surpresa. -Shigaraki não vai deixar barato o fato de eu me recusar a ficar do seu lado. Eu tenho medo do que ele pode tentar fazer pra me persuadir. Tenho medo de ele tentar me levar de novo e... - engasguei com as palavras, mas não precisei terminar. Antes que pudesse dizer mais alguma coisa, Aizawa me envolveu em um abraço que me fez piscar e suspirar trêmula enquanto retribuiu, o apertando com força.
-Está tudo bem, Aoi. Não vou deixar isso acontecer. - ele falou e eu assenti, me afastando o suficiente para o olhar. -Shigaraki nunca mais vai tocar em você.
Eu assenti mais uma vez e ficamos em silêncio por um tempo. Sentir medo era inevitável depois do que tinha acontecido e eu sabia disso. Mas ter aquele tipo de apoio que me trazia tanto conforto e segurança era extremamente importante para mim. Porque eu confiava em Aizawa, confiava minha vida nele e sabia que o que ele pudesse fazer para me deixar a salvo, faria.
Quando ele saiu do quarto, imaginei que fosse ligar para Violet e avisar que eu estava bem. A verdade é que eu não imaginei que ela estaria escancarando a porta meio segundo depois. Sequer sabia que ela estava tão preocupada comigo ao ponto de estar esperando do lado de fora, mas eu tinha julgado muito mal a situação. Claro que ela estava preocupada comigo; Violet não era como minha mãe biológica que jamais teria se importado dessa forma. E eu via pelos olhos cheios de lágrimas de alívio de Violet que ela me amava mais do que eu jamais fui amada antes na minha vida.
Ela me puxou para seus braços e me apertou com tanta força que me fez soltar um gemido. Ainda assim, ela não diminuiu o aperto e eu também não fiz questão nenhuma de me afastar enquanto afundava o rosto em seu ombro e a abraçava com toda minha força, me sentindo segura e amada de uma forma que quase me fez chorar em seus braços. Mas quem começou a chorar primeiro foi ela, pois senti suas lágrimas caindo no meu cabelo apesar de Violet estar fazendo um grande esforço para se manter calma. Eu literalmente conseguia sentir seus sentimento; o alívio tão imenso que ela tinha deixado algumas lágrimas escaparem.
-Eu estava tão, tão preocupada com você! - ela disse, me afastando o suficiente para segurar meu rosto em suas mãos e cravar seus olhos violeta bonitos em mim. Conseguia ver o quanto isso era verdade, pois tinham olheiras nos olhos de Violet que indicavam que ela não tinha dormido um segundo sequer nos últimos dias. Suas sobrancelhas se franziram em uma espécie de irritação enquanto observava meu rosto, o que claramente estava fora de lugar. -O que eles fizeram com você...- ela falou, deslizando os dedos com calma por cima da extensão da cicatriz que ficava visível para fora do curativo no meu olho esquerdo. -Vão todos pagar muito caro por terem tocado em você.
E eu não tinha dúvidas disso, não quando Violet era uma das pessoas mais badass que eu já tinha conhecido na minha vida. Mas, naquele momento, eu apenas segurei suas mãos com força nas minhas, me sentindo bem mais calma só pela sua presença.
-Fiquei com medo de não conseguir dizer de volta o quanto também amo você, Aoi. - ela disse, a voz chorosa que fez lágrimas escorrerem pela minha bochecha. -Não pode fazer isso comigo, meu coração não aguenta!
Eu dei uma risada fraca, deitando minha cabeça em seu ombro com carinho.
-Desculpa te deixar preocupada, mãe. - falei com sinceridade e escutei Violet segurar um soluço.
-Você é muito especial pra mim. - ela disse baixinho e eu só chorei mais ainda, deixando Violet me aninhar em seus braços e fazer um carinho suave no meu cabelo. -Não queria filhos de jeito nenhum, mas pra você eu posso abrir uma exceção.
Eu dei risada e a olhei. Violet sorriu para mim e beijou minha testa com carinho, deixando muito claro que ela também me amava. E, sendo sincera, naquele momento, aquilo era tudo o que eu mais precisava.
-E aqueles vilões vão se arrepender amargamente de ter feito isso com você. - ela disse, a raiva nítida em sua voz. Me afastei um pouco para olhar os olhos bonitos de Violet cheios de irritação e ainda assim medo de que algo pior pudesse ter acontecido comigo.
-Eles já devem ter se arrependido. Dei uma facada no Shigaraki. - falei com um sorrisinho cruel que fez Violet rir, incrédula, e balançar a cabeça.
-Essa foi a segunda melhor notícia do meu dia. Você não existe mesmo, Aoi. - ela disse bagunçando meu cabelo e me fazendo rir. -Espero que tenha doído absurdamente.
-Doeu principalmente na alma. - murmurei e Violet assentiu. Ela era uma das poucas pessoas pra quem eu tinha contado sobre Shigaraki e o que ele costumava significar pra mim.
-Ele não merece sua compaixão, Aoi. Não merece nenhum sentimento que não pena vindo de você. - ela disse, fazendo carinho na minha bochecha e me olhando seriamente. -É uma coisinha digna de pena. Mas você não é, você é brilhante. Então não deixe que as palavras desesperadas dele iamais afetem você. Você nunca vai ser a culpada pelo que esse garoto se tornou.
Eu precisava desesperadamente escutar aquilo, e vindo de Violet tinha um significado especial para mim. Aceitei suas palavras e deitei em seu colo, fechando os olhos enquanto ela deslizava os dedos suavemente pelo meu cabelo. Antes mesmo de perceber, eu já estava dormindo.
Acordei um pouco assustada até me dar conta de que estava no hospital e que estava segura ali. A primeira coisa que percebi quando recobrei a consciência, foi uma mão segurando a minha e um peso na minha perna. Tive que piscar algumas vezes até me dar conta que não estava vendo coisas e a pessoa dormindo apoiada em mim e segurando minha mão era Kirishima.
Dei uma risada baixinha. Como era idiota, veio me ver e acabou dormindo. Isso também fazia eu me perguntar há quanto tempo Kirishima não dormia direito. Eu podia mentir para mim mesma o quanto quisesse, mas sabia muito bem o que ele sentia por mim. E, bem, tinha Bakugo também. Duas pessoas importantes para ele sequestradas no mesmo dia. Isso fazia eu me questionar o como Poppy e ele ficaram se sentindo nesses dias, mas provavelmente bem merda já que, segundo Aizawa, eles tinham se juntado com Momo, Midoriya, Iida e Todoroki em uma missão idiota e suicida para nos resgatar. Aizawa estava bem colérico quando me contou isso. Demorou uma eternidade para o convencer de que não seria uma coisa muito legal expulsar eles da U.A.
Estiquei a mão livre e deslizei de leve pela bochecha de Kirishima. Mesmo com ele babando no cobertor, ainda o achava muito bonito. Delicadamente passei a mão pela cicatriz acima da sua sobrancelha, uma que ele causou a si mesmo quando sua individualidade despertou.
Suspirei; depois de tudo o que tinha acontecido, parecia tão idiota tentar afastar Kirishima de mim. E por que eu faria isso? Shigaraki já sabia de tudo. Não tinha mais pra onde correr. Mas talvez eu já tivesse cagado com tudo e fosse tarde demais para qualquer coisa. Olha aí se não são as consequências das minhas próprias decisões dando as caras!
Me inclinei um pouco, apenas o suficiente para beijar sua bochecha. Não queria que ele acordasse, mas Kirishima acordou mesmo assim, franzindo as sobrancelhas e piscando os olhos. Por um tempo, ele apenas me encarou com os olhos semicerrados, como se tentando processar o que estava acontecendo, e aquilo me fez rir baixinho, principalmente quando ele se levantou em um pulo.
-Calma. - falei, pois sentia Kirishima começando a ficar agitado. Pressionei minha palma em seu peito. Minha individualidade não funcionava nele, nem mesmo o controle de sentimentos, mas ainda assim fiz aquilo, sentindo seu coração bater acelerado contra minha mão. -Respira. Eu tô bem.
-Seu olho. - ele disse, baixinho, esticando a mão e tocando minha bochecha. Suspirei e me inclinando um pouco mais ma direção de seu toque, vendo o como Kirishima estava chateado em me ver daquele jeito. E eu o puxei para que se sentasse na cama, de frente para mim, mais perto e onde eu podia o alcançar.
-Tá tudo bem, Kirishima. - falei e era a verdade. Perder o olho não era nada comparado a dor que eu sentiria se algo ruim tivesse acontecido com algum dos meus amigos. Mas ele não parecia ver daquela forma. -Eu te devo um pedido de desculpas. - falei, pois aquilo era algo que estava entalado na garganta há muito tempo, e perceber que podia ter morrido sem dizer isso... Não podia mais deixar passar. -Eu não devia ter te afastado de mim, não devia ter feito muitas coisas, na verdade. Só fiz merda nesse acampamento. E eu não beijei o Monoma pra te deixar com ciúmes, não fiz de propósito, eu...
-Aoi, eu não tô mais ligando pra isso. Muita coisa aconteceu depois. - Kirishima murmurou, abaixando a cabeça. Ele suspirou, verdadeiramente alarmado. -Eu não pude te ajudar. Você foi sequestrada, Aoi, e eu...
-Kirishima, não. - falei, agarrando a mão dele com tanta força que ele fez uma careta. -Não vá pra esse caminho. Já passou. Eu tô aqui, tô viva e tô bem.
-Você perdeu um olho, Aoi! Um olho! - ele parecia perto de começar a chorar, e aquilo doeu mais do que qualquer outra coisa. O jeito que ele se preocupava comigo com tanta sinceridade, amor e carinho fez eu me questionar o motivo de um dia eu ter aceito menos do que isso. Me inclinei para perto de Kirishima e segurei seu rosto em minhas mãos.
-Eijirou, tá tudo bem. É sério. - falei encostando a testa na dele. -Eu não tô chateada com isso. Juro pra você. Eu não preciso do olho esquerdo pra continuar sendo foda no que eu faço, tá? Não coloca o peso de algo que você não pode controlar nos seus ombros. Não foi sua culpa.
-Mas eu...
-Shiu. Você fez o que podia, e ainda fez merda em ir atrás da gente! - falei, puxando o cabelo vermelho dele e o fazendo chiar.
Dizer pra ele que estava tudo bem não adiantou nada. Kirishima começou um discurso sobre o como ele deveria ter sido mais homem e que deveria ter ido ajudar, sendo que ele literalmente estava preso dentro de uma sala de aula quando o caos com os vilões começou no acampamento. Começou a falar tanta merda que eu abstrai metade, revirando meu olho e desejando o socar. Principalmente quando ele começou a dizer que fazia sentido eu não querer ficar com ele, porque ele não era nada másculo.
Quando ele disse isso, minha paciência acabou de vez. Agarrei a camiseta dele com força e o puxei até que sua boca tivesse grudada na minha, o calando de uma vez por todas e o fazendo parar de falar tanta porcaria. Quer dizer, eu tinha minha parcela de culpa por fazer ele achar essas coisas quando o afastei, mas porra!
Ele ficou totalmente em choque quando o beijei. Kirishima nem conseguiu reagir direito, sem saber o que fazer primeiro, se retribuir meu beijo, me abraçar ou se mexer. Eu comecei a rir antes mesmo que ele pudesse decidir o que fazer, o olhando com divertimento.
-Kiri, você é tão idiota. - brinquei, acariciando sua bochecha com carinho. -Eu sou uma mentirosa em negação, sou completamente apaixonada por você.
Ele ficou tão vermelho quanto seu cabelo, o que eu achei fofo. Kirishima começou a gaguejar, porque definitivamente não estava esperando que eu fosse ser tão direta assim, principalmente porque eu estava o evitando a todo custo. Mas ficar sem ele era o verdadeiro inferno na Terra, e eu estava de saco cheio de tentar o evitar. Às vezes a gente precisa pensar um pouco mais em nós mesmos, e era isso que eu iria fazer.
-É sério. - falei, notando o quão confuso ele estava naquele momento, como se seu único neurônio funcional tivesse parado de vez. -Fiquei com tanto medo de te magoar por eu ser toda errada e caótica que não percebi que te magoei ainda mais te evitando. Me desculpa.
-Você não é toda errada, Aoi. E tá tudo bem. - ele disse, seus olhos vermelhos fixos em mim, Kirishima ficando bem sério. -Odeio quando você diz isso sobre si mesma.
-Kirishima, eu tô bem ciente de que tipo de pessoa surtada eu sou. - brinquei e ele torceu o nariz. Eu dei risada. -Mas se você gosta de mim desse jeito, por mim tudo bem.
-Eu gosto. - ele disse com um sorriso, deslizando a mão pelo meu cabelo. -Muito mesmo.
-Que bom. - falei, me aproximando de Kirishima até que sua boca ficasse tão perto da minha que eu podia sentir sua respiração. -Porque também gosto muito de você. Muito mesmo.
Dessa vez ele não hesitou antes de acabar com o espaço que ainda existia entre nós e grudar os lábios nos meus. Soltei um suspiro quando Kirishima segurou meu rosto e me puxou para mais perto de si, deslizando a língua pela minha de forma lenta e calma. Como se pudéssemos ficar ali o quanto tempo a gente quisesse e nada mais importasse no mundo.
Por isso eu gostava tanto de ficar com Kirishima. Ele não só fazia eu me sentir uma pessoa boa e especial pra alguém como também me trazia uma calma que poucas pessoas já tinham passado. E Kirishima gostava de mim por quem eu era, não pela imagem que tinha criado de mim ou alguém que queria que eu fosse. Ele gostava da Aoi do jeitinho torto dela de ser.
Por isso era justo ser sincera com ele. Não só sobre meus sentimentos, mas sobre tudo.
-Kiri. - falei, me afastando dele o suficiente para o olhar. Kirishima me encarou, afundando os dedos nos meus cabelos.
-Gosto quando você me chama assim. - ele disse baixinho, me fazendo sorrir que nem idiota. Por que eu queria tanto o afastar de mim pra começo de conversa? Como consegui ser idiota e cega por tanto tempo? Eu tive literalmente que ficar cega de um olho pra perceber que ficar longe de Kirishima era a maior estupidez que eu podia fazer?
-Tem algo que preciso te contar. Sobre minha individualidade. - falei um pouco nervosa, com medo do como ele iria reagir, e vi quando ele ficou um pouco alarmado.
-Aoi, você não precisa me contar nada que não queira. - ele disse, pois claro que se lembrava da história com neus pais naquele dia onde falaram mais do que deveriam. Kirishima tinha me jurado que jamais contaria nada pea ninguém e nem tocaria no assunto, e ele tinha feito isso até aquele momento.
-Eu sei. Mas sinto que não estou sendo cem porcento sincera com você e eu não quero mais esconder coisas. - falei, afundando os dedos no cabelo vermelho espetado de Kirishima. Ele suspirou, me olhando e esperando que eu dissesse.
Eu hesitei. Seria mentira dizer que era fácil falar sobre aquilo. Eu tinha medo do como Kirishima iria reagir. E se ele odiasse saber daquele laço que nos ligava? E se achasse que eu estava mentindo? E se ele ficasse bravo por eu nunca ter contado? E se achasse que isso o forçava a gostar de mim e mudasse de ideia? Tinham tantos "e se" que me faziam hesitar muito. Mas eu jamais conseguiria ficar com Kirishima dando cem porcento de mim se não contasse pra ele toda a verdade.
-Minha individualidade sempre foi ligada ao amor, apesar de recentemente eu ter descoberto que consigo manipular sentimentos. E eu sempre odiei isso, porque na minha família nunca teve amor de verdade, e minha individualidade sempre foi controlar com um amor forçado. Odiava isso pra valer. - falei o olhando e Kirishima apertou minha mão com força na sua. Eu suspirei. -Eu enxergo o akai ito. O fio vermelho do destino. Você sabe disso, sabe o como odeio ver esse fio. Sempre odiei tudo ligado a ele porque passei a vida toda destruindo o coração dos outros dizendo que a alma gêmea deles não era quem imaginavam. Eu sofri demais e meus pais ganharam dinheiro com a desgraça dos outros e isso me destruiu por muito tempo. Por isso, comecei a odiar tudo ligado a amor, se apaixonar, fio vermelho, destino, qualquer merda assim.
"No dia que nos conhecemos eu estava particularmente revoltada com a vida, mas feliz por poder me livrar daquela porcaria de akai ito. Você lembra do como passei mal quando te vi?"
-Lembro. Você me deixou meio assustado. - ele riu, coçando a nuca. Eu acabei rindo também.
-Kirishima, existem 7,7 bilhões de pessoas no mundo. Nunca achei que fosse achar minha alma gêmea, porque isso parecia absurdo. Eu agradeci ao universo por não acontecer! Mas quando você entrou naquela sala naquele dia, eu finalmente enxerguei o fim do fio ligado ao meu dedo mindinho. Porque ele dava até você. Você é minha alma gêmea, Kirishima. E eu passei esse tempo todo tentando negar, fingir e fugir do destino. Essa é a verdade. Estávamos destinados a ter o caminho cruzado em algum momento.
Ele ficou tão quieto que nem sabia se Kirishima estava respirando. De repente, fiquei desesperada. Eu definitivamente não devia ter falado nada!
-Eu sei que devia ter contado antes. - murmurei, resviando o olhar para ele não ver minha cara de choro. -Olha, se você acha que é isso que te força a gostar de mim e quiser fugir, vou entender.
-Quê? Claro que não! - Kirishima disse, indignado, me fazendo olhar para ele. -Eu sei que o que sinto por você não tem nada haver com uma força cósmica me obrigando a gostar de você. Eu gosto de você porque você é você, Aoi! E eu... Meio que já sabia sobre isso faz um tempo.
Franzi as sobrancelhas de forma confusa.
-Quê?
-O Bakugo falou isso no festival esportivo. E eu escutei. Não disse nada porque percebi que você não queria que eu soubesse. - ele disse baixinho.
Eu pisquei. Então ele sabe disso faz tempo...
-Kirishima, seu fofoqueiro! - falei dando risada e o empurrando de leve. Ele fez uma careta.
-Foi sem querer! Não foi de propósito! - ele choramingou. -E eu fiquei muito feliz com isso, Aoi.
-Então quando a gente se beijou, você já sabia. E me beijou mesmo assim. - falei e, apesar de não ser uma pergunta, ele assentiu. Eu sorri. -Então você gosta mesmo de mim, hein.
-Mais do que você imagina. - ele disse baixinho e eu ri antes de o puxar e o beijar mais uma vez.
E eu percebi ali que já tinha cansado de ficar fugindo. E que talvez, apenas talvez, o universo tivesse certo pela primeira vez.
Tomei um susto quando a porta do quarto abriu com tudo, fazendo Kirishima e eu nos afastarmos tão rápido que deixou óbvio o que estávamos fazendo. Violet apenas arqueou uma sobrancelha, semicerrando os olhos para Kirishima que parecia bem perto de se esconder embaixo da cama. Eu teria dado risada se não tivesse com a mesma vontade. Não sabia dizer o que era pior, ser pega no pulo por Aizawa ou por Violet.
-Tô atrapalhando? - ela perguntou, cruzando os braços.
-Claro que não! - Kirishima e eu dissemos de forma exasperada, o que fez Violet rir.
-Tem visita pra você. - Violet disse e, no segundo seguinte, vi Poppy entrar no quarto acompanhada de Bakugo.
Os dois.
Entrando juntos. E provavelmente tinham ido juntos até ali. Aquilo me fez arquear a sobrancelha e abrir um sorrisinho, pronta para provocar os dois, mas não tive tempo de fazer isso pois minha melhor amiga se jogou nos meus braços e me apertou com força, suas lágrimas manchando minha roupa.
-Eu fiquei com medo. - ela disse, a voz embargada. Apertei Poppy com carinho.
-Eu tô bem. Melhor agora. - falei sorrindo.
E antes mesmo que eu pudesse processar, por algum motivo que desconheço, estávamos os quatro abraçados. Até mesmo Bakugo, mesmo tendo dito que jamais ia fazer isso, mas não teve escolhas ao ser puxado por nós três. E nós ficamos assim, em silêncio, por um bom, bom tempo.
Data: 15/03/24
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