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𖤍𖡼↷ 𝐄𝐒𝐏𝐄𝐂𝐈𝐀𝐋

ALTERNATE REALITY

𖡼

if we are all tarot cards
wich one
woul you be?

𖡼

𖤍 𝐀𝐎𝐈
the lover

➤ ः۰ akai ito não é sobre amor

𖡼

𖤍 𝐓𝐄𝐍𝐊𝐎
the devil

➤ ः۰ você é a coisa
mais linda de
todas

𖡼

𖤍 𝐊𝐈𝐑𝐈𝐒𝐇𝐈𝐌𝐀
the star

➤ ः۰ eu estou aqui, e sempre
vou estar aqui para você,
não importa o que aconteça

𖡼

aizawa as the temperance
midoriya as the sun
bakugo as the moon

𖡼

𝐀𝐎𝐈 + 𝐓𝐄𝐍𝐊𝐎

Eu ia me casar.

Isso por si só já era motivo para me deixar extremamente feliz, apesar dos comentários irritantes de Katsuki sobre eu ter vinte e dois anos e muito para viver. Mas de que adiantava viver uma vida onde eu não me sentiria minimamente alegre? Porque tudo parecia um pouco mais nublado sem a presença da pessoa que eu havia escolhido para passar o resto da minha vida. E não tinha sido uma escolha difícil, muito pelo contrário. Era até engraçado quando eu parava pra pensar; jamais imaginei que nossa amizade de infância se tornaria em algo além, mas me sentia imensamente feliz por ter sido a pessoa a dar o primeiro passo.

Apesar do cansaço enquanto terminava uma parte burocrática extremamente chata para o lançamento do novo jogo da minha empresa, a qual eu dividia desde os dezoito anos com meu noivo, eu dei um sorriso olhando para o anel que brilhava no meu dedo anelar, a comprovação de que aquilo não era um mero sonho do qual eu acordaria a qualquer instante. Tenko e eu íamos nos casar, depois de praticamente quatro anos de namoro; aquilo era extremamente real.

Às vezes pensar no passado era um tanto quanto complicado. Tanta coisa tinha acontecido e não é fácil esquecer um lar abusivo, muito pelo contrário; quando você cresce sendo controlado e manipulado, ainda existem sombras e amarras demais que permanecem com você por um longo período de tempo. Mas eu tentava ao máximo não pensar em tudo o que Tenko e eu tínhamos passado, pois tínhamos nos livrado disso juntos. Se fosse ser sincera, eu não sei o que eu teria me tornado nem ele; o que teria acontecido comigo se aquele plano de fuga que criamos quando éramos tão jovens tivesse dado errado. A simples ideia de continuar nas garras da minha falsa mãe para sempre era o suficiente para me fazer estremecer. Sinceramente, eu nem mesmo queria saber sobre essa outra realidade. Por que eu me importaria, afinal? Minha vida atual era boa e eu era feliz.

Quando eu fugi da minha mãe e Tenko escapou de All For One por um triz, tive medo do que aconteceria a seguir. Não tínhamos nada e viver tendo que se esconder não era exatamente a melhor coisa do mundo. E mesmo quando minha mãe foi presa e All For One derrotado, ainda sentimos medo. Mas isso durou apenas alguns meses, até All Might nos descobrir. Até que ele descobrisse quem Tenko era, sendo mais exata, decidindo que o adotaria e tomaria conta dele em um forma de homenagear sua antiga sensei.

Sei que ele também teria me adotado se minha vida não tivesse virado de cabeça para baixo com a descoberta de que eu não era filha da minha mãe. Eu ainda me lembro de toda a angústia que senti ao saber que tinha sido sequestrada e meu medo quando minha família real me quis de volta. Lembro como Tenko e eu pensamos em fugir de novo, mas não foi preciso. Minhas irmãs eram as melhores pessoas do mundo e eu a amei no instante em que as conheci. Depois disso, Aizawa e minha irmã mais velha (que por acaso era sua namorada, para minha maior surpresa) me adotaram, e eu passei o resto da minha infância tendo dias felizes e saudáveis. Até mesmo tinha cursado o colegial no curso comum da U.A, assim como Tenko.

Fazer o curso comum e não o de heróis havia sido um tópico particularmente delicado na minha vida e na de Tenko. All Might dizia que Tenko daria um ótimo herói, mas Tenko tinha tão aversão a isso que nem mesmo todos os recursos de All Might serviram para algo. Ele até tinha tentado fazer com que seu aluno e a pessoa para quem ele havia passado o One For All, Izuku, que tinha a mesma idade que eu, tentasse fazer Tenko mudar de ideia. Apesar de Izuku e Tenko terem se tornado amigos extremamente próximos, não foi o suficiente para fazê-lo mudar de ideia quanto a vida de super herói, sendo um eterno e definitivo não.

Não posso dizer que Aizawa não tentou o mesmo quando atingi idade o suficiente para ingressar no mundo de heróis. Mas Tenko nunca quiser ser super herói e acho que ele tinha razão em relação a isso. Aizawa tentou arduamente; quando se tornou sensei da turma que Izuku entrou, ele inclusive pediu para seu aparente pior aluno tentar me convencer, já que segundo Aizawa, ele era bem "parecido" comigo. Esse aluno era Katsuki, e nossa amizade não começou com o pé direito, mas sim com nós dois quase saindo no soco. Mesmo que minha resposta tivesse continuado sendo um grande não, minha amizade com aquele deturpado da cabeça prevaleceu, para o maior pesadelo de Aizawa e minha maior diversão.

Durante anos, apesar de ter me recusado a ingressar no curso de heróis, deixei Aizawa me treinar. Segundo ele, seria bom que eu tivesse um bom controle da minha individualidade e saber técnicas de luta para nunca, jamais, passar por situações horríveis como as quais eu tinha passado durante a infância novamente. Eu o amava um pouco mais por isso, por ter sido sempre um pai que eu nunca tive e cuidado de mim durante tanto tempo.

Então, sim, apesar de tudo o que Tenko e eu passamos quando éramos crianças e dos traumas deixados, eu era feliz. Apesar da aversão de Tenko a vida de heróis, tínhamos sido salvos por ele e isso era algo que jamais seria esquecido, não quando as pessoas mais próximas de nós dois estavam nesse mundo.

Mas isso não significava que nós dois precisássemos estar. Depois que eu me formei na U.A, Tenko e eu abrimos nossa própria empresa de desenvolvimento de jogos. No começo foi tudo muito difícil e frustrante; ainda lembro que gerou diversas brigas entre nós, mas nada que não pudesse ser resolvido com uma piada idiota. E ai, da noite para o dia, nossos jogos fizeram sucesso e começamos a ficar cada vez mais e mais famosos. Até finalmente montarmos nosso próprio escritório, com diversos funcionários e milhares de jogos sobre o nosso logo.

Bem, também era um pouco estressante, eu tinha que admitir isso enquanto terminava o documento que estava fazendo. Sentia falta de só elaborar novos jogos, e não quando precisava fazer algo muito mais sério e chato. Me sentia tão entediada que até mesmo tinha pensado demais, em coisas que definitivamente eram melhores serem trancadas no fundo da mente como meu passado caótico. Mas também tinham coisas boas e não podia negar. Tenko sempre havia sido como uma salvação na minha vida; apareceu nos piores momentos e continuava ali, para toda e qualquer situação. Talvez eu o amasse um pouco mais por isso.

-Você parece bem estressada. - me assustei com a voz bem atrás de mim, mas relaxei um pouco com os dedos deslizando pelos meus ombros, me virando apenas o suficiente para fitar os olhos vermelhos de Tenko. Arqueei uma sobrancelha para ele, segurando sua mão na minha.

Era engraçado lembrar que tinha uma época em que eu definitivamente não poderia fazer isso sem arriscar morrer no processo. O decaimento de Tenko havia sido um problema por muitos anos, mas quanto mais ele aprendia e treinava sua individualidade, apesar de jamais querer ser um herói, mais ele conseguia um controle sobre ela. Agora, ele conseguia a controlar perfeitamente, sem correr riscos de matar alguém por acidente como tinha acontecido tantos anos atrás com sua família, um peso que ele ainda carregava dentro do peito.

Apesar desse cotrole, eu sabia o medo que ele tinha. Por isso que quando Momo ficou cada vez mais experiente na sua individualidade, pedi para a única amiga do curso de heróis que eu tive durante a época da U.A para desenvolver algo que pudesse deixar desativada a individualidade de Tenko. Não foi uma tarefa difícil para Yaomomo, já que ela sabia como funcionavam as algemas que mantinham vilões presos sem o poder da individualidade. Ela apenas havia replicado aquele conhecimento para criar uma pulseira que Tenko poderia usar, assim ele não precisaria ficar constantemente com medo e nem usando luvas o tempo inteiro.

-Estou de saco cheio, é diferente. - resmunguei, fechando os olhos por um instante quando senti seus dedos deslizando pelo meu cabelo comprido. Tenko apenas riu.

-A gente deveria ir para casa, então. - claro que não ignorei o tom malicioso em sua voz, principalmente com suas mãos deslizando pela minhas costas. Para Tenko, tocar era algo importante, principalmente depois de ter passado tanto tempo com medo disso. E para a sorte dele, eu particularmente gostava quando suas mãos deslizavam pelo meu corpo.

-Isso não é uma má ideia. - respondi com um meio sorriso, o que apenas serviu para fazer Tenko rir. Bom, se éramos donos daquela empresa, deveríamos aproveitar os privilégios que isso trazia, certo?

Por um segundo, apenas observei os olhos vermelhos de Tenko, olhos que um dia já estiveram repletos de raiva e mágoas, mas que agora transmitiam a mais sincera felicidade. Eu sentia que mesmo depois de tanto tempo, ainda era um pouco surreal pensar que estávamos juntos assim, tão perto e sem medo. Lembrei de quando a ideia de um simples toque era uma ameaça, um risco real, mesmo que tivesse corrido esse risco diversas vezes só para ter Tenko um pouco mais perto de mim. Mas agora, cada carícia de Tenko era uma vitória sobre o passado, uma afirmação de que havíamos superado aqueles tempos sombrios.

-Então, por que ainda estamos aqui? - ele sussurrou no meu ouvido, a voz baixa e rouca, provocando um arrepio que percorreu minha espinha. Senti minha garganta ficar seca antes de soltar uma risada, esquecendo completamente sobre o trabalho. Coloquei as mãos sobre as dele, sentindo o calor que emanava do seu toque, e fechei o laptop, empurrando-o para o lado.

-Tem razão. Vamos embora dessa droga.

Enquanto levantávamos, senti a ansiedade do dia ir completamente embora substituída por uma tranquilidade confortável que eu só sentia completamente quando estava com Tenko. Era como encontrar abrigo em meio à tempestade, Tenko conseguia ser minha maior certeza quanto a tudo.

Saímos do escritório, e enquanto caminhávamos em direção ao nosso apartamento, senti o frescor do começo da noite em meu rosto. As ruas estavam calmas, iluminadas pelos postes de luz, e o som distante do tráfego criava uma melodia suave no fundo quando estendi a mão e segurei a dele. Aquilo fez Tenko sorrir por um instante, pensando provavelmente no quantas vezes havia tido vontade de fazer aquilo e agora podia.

-Amanhã vamos na casa do Katsuki. - soltei, vendo ele torcer o nariz por um instante. Katsuki era meu melhor amigo irritante, mas não se dava exatamente bem com Tenko e, sinceramente, eu até entendia. Antes de Katsuki e Izuku se resolverem naquela merda toda entre eles, Tenko decidiu que ia ficar no meio daquela situação, o que não havia resultado em um bom tipo de relacionamento com Katsuki já que ele parecia bastante inclinada a querer assassinar Bakugo por ter sido um maldito irritante com Izuku quando éramos adolescentes, e até mesmo antes disso. Mas isso era problema dos dois, e Tenko teria que lidar com duas coisas: primeira, Izuku e Katsuki são extremamente próximo agora. Segundo, Katsuki era meu melhor amigo e não deixaria de ser tão cedo. -Ele vai dar uma festa.

-E por que? - Tenko resmungou, me fazendo arquear a sobrancelha antes de rir.

-Precisa ter motivo para reunir seus amigos, Tenko? - zombei, vendo ele revirar os olhos por um instante. -Katsuki simplesmente quis ser gente pelo menos uma vez na vida e ver os amigos dele da época da escola. Posso não ter sido do curso de heróis, mas fui amiga dele da época da escola. Infelizmente pra você, eu estarei atendendo a esse convinte.

-Eu nem disse nada! - ele protestou, me olhando com falsa indignação. Apenas semicerrei os olhos para ele, porque ele jamais iria me enganar.

-Sei exatamente o que pensou e está pensando, mas você vai comigo. É meu noivo e precisa me acompanhar nos lugares. - retruquei. Apesar dos resmungos, Tenko não ousou reclamar enquanto entrávamos no nosso apartamento, o que me deixou particularmente satisfeita.

Estávamos noivos há apenas alguns meses, mas já morávamos juntos tinha um ano. Eu gostava daquilo; poderia me contentar apenas com isso, mas era um fato que tinha ficado ainda mais feliz quando Tenko me pediu em casamento. Agora teríamos de fato nossa família completa, e quem sabia o que o futuro aguardava? Mesmo que não fosse minha alma gêmea, sentia como se Tenko fosse e era o que bastava.

Ah, é.

Minha individualidade é o amor. Uma merda, eu sei. Mas a verdade é que não é ruim como muitos pensam. A partir da minha individualidade, sou capaz de possuir controle mental sobre qualquer um, fazendo a pessoa criar sentimentos amorosos por mim e a manipulando. Mais que isso, eu também controlo os fios de sentimentos das pessoas e suas emoções. Sou empática; às vezes era uma droga, mas também vinha a calhar quando eu era mais nova e sentia Aizawa começando a se irritar comigo.

Mas muito mais que isso: eu consigo enxergar o Akai Ito. O fio vermelho do destino que nos liga a nossas almas gêmeas. E mesmo que eu desejasse muito, Tenko não era a minha.

Eu supunha que estava tudo bem. Era tão absurdamente difícil encontrar sua alma gêmea que não fazia diferença. Eu não fazia ideia de quem era minha alma gêmea e mesmo que soubesse, jamais mudaria o que eu sentia por Tenko. E sinceramente, eu também esperava nunca descobrir, pois jamais iria importar. Eu amava Tenko e era isso que bastava.

Eu sentia a tensão acumulada ao longo do dia derretendo lentamente, substituída por uma calma que só ele conseguia trazer enquanto seus dedos deslizavam pelo meu cabelo. Quando me virei para encará-lo, o sorriso que ele me deu era um daqueles que fazia meu coração bater um pouco mais rápido, como se ainda estivéssemos no início do nosso relacionamento, como se ainda fôssemos dois adolescentes idiotas descobrindo que era gostar um do outro.

Suas mãos percorreram meu rosto com uma delicadeza que eu nunca teria imaginado anos atrás, quando o toque era algo perigoso, quando tudo em nossa vida era caos e desespero. Mas não pensei em absolutamente nada disso quando Tenko se inclinou na minha direção, sua boca roçando delicadamente na minha sem nenhum tipo de pressa, como se o simples fato de estarmos assim tão próximos fosse o suficiente.

Seus olhos vermelhos, tão intensos e cheios de sentimentos que antes pareciam escondidos atrás de um muro de dor, me encararam com uma suavidade que me fez sentir como se eu fosse a única pessoa no mundo para ele. E no fundo eu sabia que eu era.

-Você me deu muito mais do que felicidade, Aoi. - ele disse, baixinho, fazendo um carinho suave na minha bochecha. -Você me deu um futuro pelo qual lutar.

Antes que eu pudesse responder, seus lábios finalmente encontraram os meus, e nada mais importava. O beijo começou suave, como uma promessa sussurrada, mas logo se tornou mais profundo, mais urgente. Era como se cada beijo, cada toque, fosse uma reafirmação de que estávamos juntos, de que havíamos superado tudo que o passado havia jogado contra nós.

Minhas mãos deslizaram por seus ombros, descendo até a cintura, puxando Tenko para mais perto, querendo sentir cada centímetro dele contra mim. A resposta dele foi imediata, seus braços me envolvendo com firmeza, como se quisesse me manter ali para sempre, como se temesse que eu pudesse desaparecer enquanto sua língua deslizava pela minha.

Nosso desejo se misturava com a intensidade do momento, e enquanto ele me guiava para o quarto, nossos passos eram desajeitados, interrompidos por risos suaves e beijos apressados. Quando finalmente chegamos ao quarto, Tenko me ergueu com facilidade, e em um instante, eu estava deitada na cama, olhando para ele de um jeito que eu sabia que transmitia todo o amor e desejo que sentia por ele.

Tenko se deitou ao meu lado, sua mão acariciando meu rosto antes de descer pelo meu pescoço, meu braço, até encontrar a minha mão. Ele entrelaçou nossos dedos, e por um momento, apenas ficamos ali, respirando juntos, nossos corações batendo no mesmo ritmo.

-Eu te amo. - ele sussurrou contra meu pescoço, me fazendo sorrir por um instante.

-Eu te amo. - respondi e eu sabia que aquilo era tudo o que Tenko precisava escutar.

Ele sorriu, um sorriso que era só para mim, antes de me beijar novamente. Dessa vez, não havia mais urgência, apenas um desejo profundo de estar conectado de todas as formas possíveis. Seus lábios se moviam contra os meus, suaves e lentos, enquanto suas mãos exploravam meu corpo com um toque que parecia tão familiar, mas ao mesmo tempo, sempre novo.

Cada toque, cada beijo, era uma declaração de amor, uma promessa silenciosa de que, independentemente de tudo o que havíamos passado, o presente e o futuro nos pertenciam. Estávamos construindo algo juntos, algo sólido, e naquele momento, nada mais importava.

Enquanto ele me puxava para mais perto, nossos corpos se movendo em sincronia, eu soube, sem sombra de dúvidas, que independentemente do que o destino tivesse reservado, Tenko seria sempre a pessoa com quem eu escolheria estar. Hoje, amanhã e para sempre.

Já tinha trocado de roupa três vezes, mas parecia particularmente difícil estar encontrando uma naquele dia, com os olhos julgadores de Tenko deixando claro que nada estava bom o suficiente, o que já estava começando a me irritar. Até roupas que ele quem tinha me dado pareciam não servir hoje e eu estava arduamente tentando não colocar a culpa no ciúmes absurdo que ele sentia. Eu sabia muito bem que Tenko, além de não se dar bem com Katsuki, também tinha ciúmes da amizade que eu tinha com o pro hero. Bom, não era como se eu fosse parar de falar com Katsuki por causa disso, mas tentava deixar a situação menos constrangedora.

-Tenko, eu não vou trocar de roupa de novo! - reclamei, me sentando na cama ao lado dele e o olhando com irritação. -Se está tão ruim assim, então nem vamos.

Acho que perceber o quanto eu já estava incomodada foi o suficiente, pois Tenko mudou sua postura e fez uma careta, se levantando para me fitar.

-Não, você está linda. Você é a coisa mais linda de todas. - ele disse, puxando minha mão, dando um meio sorriso para tentar me deixar menos nervosa. Claro que funcionou. -Vamos logo antes que Bakugo surte com você. E quanto mais cedo formos, mais cedo vamos poder voltar, certo?

Eu ia deixar ele se iludir com isso.

O caminho até o condomínio onde Katsuki morava não era tão longo assim. Depois de trinta minutos, estavamos parados diante daquela casa imensa e nada humilde, deixando bem claro para qualquer um que ele era sim rico. Essa vida de pro hero famoso deveria mesmo ser incrível. Tirando o fato de você quase morrer praticamente quatro vezes por semana. Acho que eu jamais daria conta disso, sendo bem sincera.

Por mais irritante que Katsuki fosse, ele definitivamente sabia fazer algo decente quando queria. E não estou querendo dizer em relação a uma festa agitada ou cheia. Apesar de simples, era refinada, algo que ninguém imaginaria que Katsuki pudesse ser já que era um grande tapado. Mas ele entendia bem até demais sobre gastronomia e vinhos bons. Acho que eu já estava na terceira taça quando me afastei de Momo para conversar com o idiota que eu chamava de amigo, aproveitando que Tenko estava entretido em uma conversa com Izuku sobre vídeo games.

-Olha, às vezes você até que consegue ficar apresentável. - o comentário de Katsuki quando me aproximei apenas serviu para me fazer revirar os olhos. Ele sorria para mim de forma maldosa, mas eu já estava bem acostumada com a péssima personalidade dele. Não era como se a minha fosse lá muito diferente, de qualquer jeito. Não podia julgá-lo, pelo menos, não totalmente.

-Você é um idiota. - falei, estalando a língua e dando um sorriso para Shinso. Tirando Katsuki, Yaomomo e Izuku, ele era a única pessoa que eu conhecia ali naquele lugar repleto de heróis, já que antes de Shinso ser transferido para turma de heróis, ele tinha sido da minha sala.

-Hoje você finalmente conhece seu melhor amigo. - Katsuki zombou de forma maldosa. Eu franzi o cenho, não entendendo nada do que ele estava falando, o que só pareceu o divertir mais ainda. -Eijirou voltou para o Japão.

Eu apenas arqueei a sobrancelha para Katsuki, mas não pude deixar de ficar feliz já que faziam quase dez meses que Kirishima estava nos Estados Unidos.

-Eu conheço ele. - retruquei. Aquilo fez Katsuki rir.

-Amizade virtual não conta não, Aoi. - ele zombou e eu revirei os olhos.

Tudo bem, faziam mais ou menos dois anos que eu tinha me tornado amiga de Eijirou Kirishima, também conhecido como Red Riot. A verdade é que Katsuki e eu sempre fazíamos chamadas de vídeo quando ele estava livre, e em algumas dessas, acabei conhecendo Kirishima, que morava com Katsuki há um bom tempo. Não sei exatamente em que momento minha amizade com ele começou, mas em um momento ele era apenas amigo do Katsuki e no outro eu já passava noites jogando online com ele ou trocando mensagens irritadas quando tudo dava errado na minha vida. Eijirou era um amigo muito melhor que Katsuki, essa era a verdade! Mas sua vida de herói sempre foi muito caótica, nunca permitindo que nos conhecêssemos pessoalmente. Aquela simples ideia de talvez finalmente poder encontrá-lo cara a cara me deixou feliz, não nego, apesar de ter uma vaga sensação que Tenko ia odiar. Apesar de Tenko não ter tanto ciúmes de Kirishima quanto tinha de Katsuki, ele ainda existia, mas eu fingia que não.

-Se ele já voltou, porque não me disse nada? - perguntei, franzindo o cenho. Katsuki deu de ombros, como se não fosse nada demais.

-Ué, e eu sei lá, porra? - ele retrucou, dando um gole no vinho da sua taça. -Mas relaxa, ele literalmente chegou hoje. Deve ter ido buscar a Ashido, mas logo está aí.

Mina Ashido era o "alguém" de Eijirou, além de ser uma super heroina popular. A verdade é que nenhum dos dois parecia exatamente querer assumir um relacionamento, apesar de todos saberem que eles se pegavam sempre que tinham um tempo livre.

-Cadê seu noivo irritante de chato? - Katsuki disse, procurando por alguém que não estava atrás de mim. Revirei os olhos. -Achei que ele fosse seu cachorrinho, te seguindo para todo canto.

-Sabe, é por isso que Tenko te odeia. Você só fala merda. - retruquei, estalando a língua. Katsuki deu de ombros, como se pouco se importasse, e eu bem sabia que ele estava cagando para o que Tenko achava dele.

-Não tenho culpa se ele é um babaca irritante. Só você e Izuku aguentam ele. - Katsuki zombou e eu estendi a mão, dando um tapa em seu ombro.

-Cala a boca, Katsuki. - reclamei. -Não pode falar essas coisas!

-Tá bom. - ele revirou os olhos. -Faço esse sacrifício por você, mas só porque tô sem saco de dizer mais do mesmo. Ele definitivamente não te merece, mas eu cansei de falar isso.

Está bem, Katsuki e Tenko se odiavam, mas isso não significava que meu melhor amigo precisasse ficar falando mal do meu noivo pra mim! Eu entendia que eles tinham seus problemas, mas também não queria ficar escutando esse tipo de merda e Katsuki deve ter percebido isso pela cara de cú que fiz. Desde que comecei a namorar Tenko, Katsuki fez de tudo para tentar "me livrar" (segundo as palavras dele) desse relacionamento "miserável". Mas agora acho que já deu, afinal, eu e Tenko vamos nos casar em alguns meses! Katsuki teria que aceitar isso hora ou outra.

Abri a boca para mandá-lo ficar quieto e parar de me encher o santo saco quando braços envolveram minha cintura, me tirando do chão com uma facilidade extremamente absurda, quase me fazendo dar um gritinho pelo susto. Meu coração foi parar na garganta, mesmo que logo em seguida eu estivesse novamente no chão, mas quando me virei para uma briga, as palavras morreram quando vi um imenso sorriso repleto de dentes afiados. E não tenho vergonha de admitir que quis morrer de vergonha.

Uma coisa era ver Eijirou pela tela de um celular, e outra bem diferente era fitar seus olhos vermelhos pessoalmente. E o sorriso dele para mim era tão sincero que quase desfaleci ali mesmo, abrindo e fechando a boca sem conseguir formular uma palavra.

-Aoi! - ele disse de forma animada, me puxando para um abraço reconfortante que não vi outra alternativa que não retribuir, um tanto quanto desconcertada. Kirishima era muito maior que eu e eu conseguia sentir todos seus músculos através daquele abraço, quase fazendo minhas bochechas explodirem. Definitivamente não devia ter tomado tanto vinho assim, agora eu não estaria tão sem graça e sem rumo se não tivesse o feito! -Tô tão feliz de te ver!

-Por que não me avisou que estava voltando pro Japão, maldito? - foi tudo que consegui dizer, me afastando e dando um tapa no ombro dele. Kirishima riu, como se esperasse exatamente aquele tipo de reação vinda de mim, o que não me deixou evitar um sorriso que escapou pensando no quão bem ele me conhecia.

Mas meu sorriso morreu aos poucos quando meus olhos desceram pelo corpo de Kirishima e pararam em sua mão esquerda. Mais especificamente, no fio vermelho ligado ao seu dedo.

Meu coração deu um salto dentro do peito a medida que a ansiedade tomava conta de cada célula do meu ser. Sem querer, deixei a taça entre meus dedos escorregar, se espatifando em milhares de pedacinhos no chão. Soltei um palavrão enquanto me abaixava para recolher os cacos, mas na verdade era só pra evitar os olhos de Eijirou em mim, sentindo as lágrimas se acumulando.

Aquilo não podia estar acontecendo.

Não comigo!

Existem bilhões de pessoas na face da Terra! As chances de encontrar sua alma gêmea são tão, tão baixas. E porque eu tinha que ser a azarada a achar a minha e logo agora quando tudo parecia estar dando terrivelmente certo na minha vida? E porque tinha que ser Eijirou, um amigo que era tão importante pra mim?! Por que ele e não Tenko?

Minha cabeça estava girando quando Katsuki me segurou e me levantou, me fitando com o cenho franzido.

-Deixa isso ai, eu limpo. - ele disse, mas seus olhos me encarando já diziam o suficiente sobre o quanto ele sabia que tinha algo errado.

-Aoi? - um calafrio percorreu pela minha espinha quando escutei a voz de Tenko atrás de mim. Me virei o suficiente para ver meu noivo com o cenho franzido, parado ao lado de Izuku.

Ele não demorou muito para vir até mim, empurrando Katsuki para o lado, o que o fez grunhir de irritação. Os dedos de Tenko percorreram minhas costas e eu estremeci com o toque enquanto ele me fitava com certa preocupação. Ah, sim, Tenko sabia que tinha algo errado. Eu não conseguia esconder isso dele.

-Está tudo bem? - a voz de Eijirou fez Tenko finalmente o notar. Meu noivo apenas arqueou a sobrancelha, mas não deu exatamente muito importância para Kiri parado ali com uma expressão de confusão.

-Estou bem, só meio enjoada. - eu menti, olhando para Tenko por um instante. -Podemos ir embora? - sussurrei. Tenko nem mesmo questionou, apenas assentiu já que ele queria ir embora desde o momento em que chegamos ali.

-Você já vai? Poxa, Aoi, acabei de chegar, nem conversamos direito! - Eijirou protestou, me olhando com um cara de cachorro sem dono. Percebi Tenko tenso ao meu lado, mas ignorei enquanto forçava um sorriso para Kiri.

-Desculpa, Kirishima, não estou me sentindo bem. Mas a gente pode marcar alguma coisa depois, antes de você sair pra mais uma missão secreta! - falei, já agarrando o braço de Tenko para sair dali o mais rápido possível. Mas os olhos de Eijirou cravaram em mim, e se ele achava que tinha um problema antes, agora ele tinha certeza. E isso se dava pelo simples fato que o chamei de Kirishima. Parecia idiota, mas fazia muita diferença e tanto eu quanto ele sabíamos bem disso já que eu nunca o chamava de Kirishima. Sempre de Eijirou ou Kiri, mas nunca Kirishima.

Vi que ele abriu a boca para dizer algo, mas eu fui mais rápido em me despedir dele, Katsuki e Izuku, puxando Tenko para fora o mais rápido possível.

Meu coração ainda estava acelerado quando entramos no carro. Ignorei completamente os olhos vermelhos de Tenko fixos em mim, na espera de uma explicação, mas eu não diria absolutamente nada. Não podia dizer em voz alta que Eijirou Kirishima era minha alma gêmea, pois dizer aquelas palavras era como deixar tudo ruim. Por isso, apenas segurei a mão de Tenko na minha quando ele a pousou em minha perna em uma tentativa silenciosa de me acalmar, apesar da curiosidade de saber o que estava acontecendo. Apenas segurei a mão dele e desejei imensamente que o universo fosse se foder. Porque ele não podia controlar tudo e definitivamente não ia controlar aquilo também.

Por um instante, apenas olhei Tenko concentrado nas ruas enquanto dirigia. O amor que eu sentia por ele era o suficiente para me preencher e por um instante, meu coração ficou um pouco mais calmo. Almas gêmeas não precisava ter um sentido romântico, mas sim apenas duas pessoas com uma forte conexão que uma hora ou outra se encontrariam por um devido propósito. Eu gostava muito de Eijirou e minha amizade com ele sempre foi muito forte. Mas isso não significava que era algo além disso, e saber disso me deixou mais calma. Principalmente quando Tenko me olhou e sorriu. Nada mudaria entre nós dois e era isso que bastava.

As coisas entre Tenko e eu não andavam exatamente muito boas, e eu estava profundamente irritada e estressada por conta disso. Tinha consciência do como eu estava agindo de forma estranha, mas Tenko deveria me apoiar e não ficar contra mim. Mas parecia que ele pensava sempre o pior! Mesmo que eu não tivesse dito o que andava me incomodando, ele deveria ficar ao meu lado, mas estava agindo como um idiota e eu andava sempre tendo que relevar. Às vezes, era bem difícil, principalmente quando eu já estava incomodada o suficiente com tudo o que tinha acontecido, me obrigando a ignorar todas as mensagens e ligações de Eijirou, pois não conseguiria encará-lo nesse momento.

Estava tentando não pensar nisso nem na droga do akai ito quando Tenko entrou no meu escritório, seus olhos vermelhos cravando nos meus com uma certa irritação que me fez franzir o cenho, pra quando ele jogou um papel na minha mesa. Era a demissão que eu tinha assinado mais cedo de uma das garotas que andava desenvolvendo um dos nossos novos projetos. A questão é que a infeliz andava vendendo informações para outras empresas concorrentes, então não tive muitas opções que não a demitir. Mas Tenko parecia incrivelmente incomodado com isso.

-Por que não me avisou? - ele exigiu, parecendo a beira de um colapso. Lentamente, fechei a tela do meu computador e me levantei, arqueando uma sobrancelha para ele.

-Por que você ia tentar justificar o injustificável e eu estava farta de dar chances para essa garota. Ela é jovem, sei disso, mas ter erros que são imperdoaveis. - falei, me afastando para ir buscar um copo de café. Apenas isso para me deixar minimamente feliz com aquele dia tenebroso.

Dei apenas um passo antes da mão de Tenko se fechar no meu braço, me puxando de volta com tanta força que eu tropecei, quase caindo de boca no chão. Meu coração acelerou dentro do peito e meus olhos se arregalaram enquanto eu olhava para os olhos dele que estavam cheios de raiva, seus dedos apertando com ainda mais força, me dando certeza que ficaria roxo mais tarde.

-É sério, Aoi? - ele disse, soando mais como um rosnado. -Você vem agindo como uma idiota tem semanas. Que porra tá acontecendo? O que foi que você fez de errado?

O que eu fiz de errado?! Isso parecia até uma piada, fazendo eu dar uma risada sarcástica enquanto atingia seu nervo ulnar, fazendo ele me largar na hora, soltando um palavrão baixo.

-Primeiro de tudo, me larga. - disse, tentando conter as lágrimas que ameaçavam surgir em meus olhos. -E segundo, vai se foder, Tenko.

Não esperei uma resposta antes de me virar e sair, escutando ele me chamando, sua voz repleta de arrependimento. Nem mesmo olhei para trás, não quando entrei no meu carro e dirigi meio sem rumo, meus olhos queimando por conta de toda raiva. Sem pensar duas vezes, liguei para única pessoa que me escutaria naquele momento. E não hesitei antes de ir até ele.

Contei absolutamente tudo para ele e agora, estava segurando a caneca de café que Aizawa tinha me entregado e esperando por uma resposta que demorou quase que uma eternidade para vir, seus olhos sempre repletos de julgamento me fitando como se nada daquilo fizesse sentido.

-Você sabe o que penso sobre seu relacionamento com Tenko, Aoi. - Aizawa disse, sua voz tentando transmitir uma calma que eu sabia que ele não tinha, pois todas às vezes que Tenko me magoava, ele parecia o odiar um pouco mais. O aceitava pelo simples fato de que eu era sua filha, e ele querendo ou não, eu tinha escolhido passar minha vida ao lado de Tenko. Se ele sequer pudesse ver as marcas dos dedos de Tenko começando a ficar roxas no meu braço, acho que Aizawa surtaria de vez. -Se dependesse de mim, você namoraria e casaria com alguém menos problemático. Tenko tem questões demais na vida dele, e problemas com raiva. Você deveria priorizar seu bem estar.

-Ele não é assim comigo, pai! - retruquei, mas Aizawa arqueeou uma sobrancelha para mim. -Ele me ama! Eu sei que me ama...

-Só amor não basta, Aoi. Não é o suficiente para casar com outra pessoa, não quando todos os outros parâmetros parecem falhar. - ele disse, suas palavras me atingindo em cheio. -Quando vai perceber que está parando sua vida por causa dele?

-Pai, Tenko salvou minha vida. Se não fosse por ele, eu nem sei se estaria viva. - tentei justificar, mas não pareceu o suficiente. E percebi naquele momento que meu pai não ia mais guardar para si pensamentos que carregava tinha anos.

-Não é porque Tenko te ajudou, Aoi, que você precisa necessariamente ser grata a ele por isso. E muito mais, não é porque ele te salvou que você precisa ser devota a ele, amar ele e muito menos casar com ele. Não deveria, nem por um segundo, desistir de seus sonhos e desejos por conta das vontades de Tenko. - cada palavra dele era como tomar um soco no estômago e eu instantaneamente me arrependi de ter ido pedir seus conselhos. Aizawa sempre me dizia que eu era cabeça dura; provavelmente estava certo.

As palavras do meu pai ecoavam na minha mente, me fazendo questionar tudo que eu achava que sabia, tudo o que eu achava que sentia, pois no fundo, sabia que ele estava certo. Parte de mim queria gritar que ele estava errado, mas outra parte sabia que, em algum lugar, ele tinha razão. Seria possível que meu amor por Tenko fosse mais um sentimento de dívida do que um verdadeiro desejo de passar a vida ao lado dele? Será que eu estava cegando a mim mesma, ignorando os sinais óbvios de que tudo estava em ruínas, só para manter essa relação viva? Será que isso sequer era saudável, afinal?

Eu sempre me convenci de que nosso amor era forte o suficiente para superar qualquer dificuldade, pois sempre passamos pelo inferno juntos e sobrevivemos. Mas agora, ao encarar a realidade das palavras do meu pai, não podia deixar de notar que havíamos de fato perdido algo importante de nós mesmos. E se tudo o que eu acreditava fosse apenas uma ilusão? E se eu estivesse sacrificando meus próprios sonhos e felicidade por uma relação que, no fundo, só me fazia mal?

Suspirei, sentindo as lágrimas se acumularem nos cantos dos meus olhos. A vontade de desabar estava ali, mas eu não podia me dar ao luxo de desmoronar na frente do meu pai. Ele já estava suficientemente preocupado. E eu não sabia mais o que fazer.

Aizawa me olhou com uma expressão séria, como se estivesse decidindo se deveria ou não continuar. Após alguns segundos de silêncio, ele finalmente falou:

-Lembra-se daquele dia, há um ano, quando você apareceu lá em casa sem avisar, chorando sem parar? Tinha acabado de ir morar com Tenko e você me disse que era só o estresse do trabalho, mas eu sabia que era mais do que isso. Eu não disse nada na época, porque achei que você precisaria de tempo para ver por si mesma.

Ele fez uma pausa, seus olhos encontrando os meus, como se quisesse ter certeza de que eu estava ouvindo cada palavra.

-Mas Aoi, ver você assim, se destruindo lentamente, me faz pensar que talvez eu devesse ter dito algo antes. Talvez, se eu tivesse sido mais direto, você não estaria tão presa a uma relação que te machuca mais do que te faz feliz.

Suas palavras eram sinceras, mas ainda assim me atingiram com força. Eu me lembrava perfeitamente daquele dia. Lembrava de como havia me agarrado à desculpa do trabalho para evitar admitir que Tenko e eu estávamos atravessando uma das nossas muitas crises. Lembrava do olhar preocupado do meu pai, e de como ele respeitou meu silêncio, mesmo sabendo que eu não estava sendo completamente honesta.

Agora, aquele mesmo olhar estava de volta, mas com uma intensidade maior, como se ele estivesse cansado de esperar que eu visse o que ele já sabia há muito tempo.

Eu podia ver o músculo no maxilar do meu pai se contrair, um sinal claro de que ele estava lutando para manter a compostura. Cada palavra que saía de sua boca parecia pesada, como se ele estivesse contendo uma onda de frustração e medo. O medo de me perder para uma relação que ele sabia que estava me machucando mais do que me fazendo bem.

-Eu entendo que você o ama, Aoi. - ele disse, sua voz baixa e calma, mas havia uma tensão, um esforço evidente para não deixar suas emoções tomarem conta. -Mas amor não deveria ser sinônimo de sofrimento. E eu só quero te ver feliz.

As lágrimas que eu vinha tentando conter finalmente escaparam, rolando silenciosamente pelo meu rosto. Aizawa nunca foi do tipo emotivo, sempre foi mais reservado em demonstrar seus sentimentos, mas naquele momento, eu podia sentir todo o peso da preocupação que ele carregava há anos.

-Pai... - comecei, mas minha voz falhou. Como eu poderia explicar para ele que, mesmo com toda a dor, eu não sabia como me afastar de Tenko? Como poderia colocar em palavras o conflito que consumia meu coração?

Aizawa parecia avaliar suas próximas palavras, como se soubesse que o que diria poderia ser decisivo. Ele respirou fundo antes de continuar:

-Aoi, se imagine daqui a cinco, dez anos. Como você se vê vivendo com Tenko? Você consegue se imaginar feliz, realizada, ou estará sempre sacrificando uma parte de si mesma para mantê-lo satisfeito? A vida ao lado de alguém não deveria ser uma luta constante, um peso que você carrega sozinha.

Essas palavras me atingiram como um soco no estômago. Eu nunca havia pensado no futuro dessa forma, nunca havia considerado que estar com Tenko poderia significar sacrificar minha própria felicidade a longo prazo, pois sempre achei que ele fosse minha felicidade. Sempre acreditei que, com o tempo, as coisas se acertariam, que nosso amor seria suficiente para superar qualquer obstáculo. Mas agora, ao ser forçada a encarar essa possibilidade, uma dúvida inquietante se instalou no meu peito.

O que eu realmente queria para o meu futuro?

-Eu só quero que você seja feliz, Aoi. - ele disse, sua voz mais suave agora, mas carregada de uma tristeza que me atingiu em cheio. -Mas você precisa pensar no que realmente te faz feliz, não no que você acha que deve fazer por obrigação ou gratidão.

Assenti, sem confiar na minha voz para responder. Quando ele se aproximou, me puxou para um abraço apertado, mas, ao contrário das outras vezes, esse não trouxe conforto. Apenas uma sensação de vazio e incerteza que eu não sabia como preencher.

Fiquei ali, nos braços do meu pai, tentando encontrar um sentido para tudo isso, tentando descobrir como lidar com a confusão que dominava minha mente. Quando ele finalmente me soltou, olhei para ele, tentando encontrar alguma forma de resposta em seus olhos, mas tudo o que vi foi a mesma preocupação de sempre, agora agravada pelo medo do que poderia acontecer comigo.

-Pense no que eu disse. - ele pediu suavemente, antes de se afastar e sair do quarto que costumava ser meu, sozinha com meus pensamentos.

A porta se fechou com um clique suave, e o silêncio que se seguiu foi ensurdecedor. Segurando a caneca de café agora fria, minhas lágrimas finalmente caíam livremente, sem ninguém para ver.

Eu amava Tenko. Sempre havia o amado pois ele tinha sido minha única salvação quando tudo pareceu perdido. Antes de Aizawa e minhas irmãs aparecerem na minha vida, Tenko foi minha única verdadeira família. Sim, eu sentia gratidão por ele, mas também tinha um imenso afeto dentro do peito. Às coisas entre nós não estavam boas, eu sabia, mas Tenko sempre foi carinhoso comigo. Juntos, poderíamos dar um jeito nisso, certo? Eu só precisava conversar com ele e contar a verdade, nenhum relacionamento se sustenta com mentiras. Contaria para ele sobre o akai ito e tudo ficaria bem.

Era um pensamento quase tolo. Cheguei a conclusão disso assim que voltei para casa e encontrei Tenko sentado no sofá, seus olhos vermelhos cravando em mim assim que eu entrei. Eu nem mesmo precisava me aproximar para saber que ele tinha bebido mais do que deveria, o jeito como estava com os olhos semicerrados e o cabelo azul bagunçado já me dizia o suficiente.

Era uma merda admitir, mas fiquei tensa a medida que parava diante dele, em uma distância consideravelmente segura. Engoli em seco, o fitando intensamente por um instante.

-Onde você estava, Aoi? Eu fiquei preocupado. - a voz dele estava de fato afetuosa e preocupada, mas não conseguia tirar a conversa com Aizawa da cabeça, uma vozinha me dizendo que ele só estava agindo assim para fazer eu me convencer que a briga de mais cedo não importava e que tudo estava bem. que ele não tinha me tratado com grosseiria e deixado marcas roxas no msu braço. Precisei me lembrar disso naquele momento, porque se não lembrasse, eu teria me jogado em seus braços.

-Você me machucou. - foi o que eu respondi em um sussurro. Tenko franziu o cenho em confusão, quase como se eu estivesse me enganado, como se aquilo jamais tivesse acontecido, como se ele nunca fosse ser capaz de o fazê-lo. -Você machucou meu coração e também me deixou roxa, Tenko. Você foi agressivo.

Tenko piscou, visivelmente abalado pelas minhas palavras. O silêncio que se seguiu foi quase sufocante. Eu podia ver a luta interna em seus olhos, a raiva sendo substituída por um tipo de pavor que eu nunca tinha visto nele antes. Ele abriu a boca para responder, mas parecia não encontrar as palavras certas, como se a gravidade do que tinha feito estivesse finalmente começando a pesar sobre ele.

-Aoi... - ele começou, sua voz falhando no meio da frase. Seu olhar desesperado me atingiu em cheio, e por um instante, vi o Tenko que eu conhecia, o Tenko que sempre foi meu apoio, o mesmo por quem eu tinha me apaixonado perdidamente. Mas também vi algo mais, algo que me fez recuar um passo sem pensar nem duas vezes, um medo real que eu jamais tinha sentido antes me atingindo em cheio. -Eu nunca quis te machucar, Aoi,você sabe disso, certo? - Sua voz estava embargada, um toque de desespero permeando suas palavras. Ele se levantou do sofá com dificuldade, os movimentos desajeitados pela bebida, e deu um passo em minha direção, estendendo a mão, mas parou ao ver meu corpo tenso. -Eu te amo! Nunca quis te machucar, Aoi.

Uma barreira entre nós tinha sido criada e eu não sabia o que fazer para me livrar dela. E nem se naquele momento, era a melhor coisa a se fazer.

-Amar é muito mais do que só dizer. - sussurrei. Respirei fundo, passando as mãos pelos meus cabelos e o fitando por um instante. -Tenko, você está bêbado. - eu disse, tentando soar calma, o que era tudo menos o que eu estava. -Depois nós conversamos direito. Eu vou dormir no quarto de hóspedes hoje.

Dei apenas um passo quando Tenko disparou palavras que me fizeram congelar.

-Isso é sobre Kirishima, né? - suas palavras eram baixas, mas em um tom assustador que me fez estremecer. Eu não deveria me virar, sequer deveria ter parado; mas ainda assim, cai no erro de fazer isso, olhando para Tenko com puro horror e indignação. Mas ele riu, sem nenhum tipo de humor. -Desde que se conheceram pessoalmente, você mudou. Aquele dia na casa do Bakugo, você não parava de olhar para as mãos de Kirishima e seu rosto estava pálido. Pode ter enganado todos dizendo que estava passando mal, mas não a mim, Aoi! Ele é a porra da sua alma gêmea, não é? Seu akai ito.

Fiquei em silêncio e esse provavelmente foi meu maior erro. Tenko nem mesmo hesitou antes de dar um chute na mesa de centro da sala, fazendo o vidro se espatifar em milhares de pedaços e meu coração disparar. Não, eu precisava sair dali o mais rápido possível. Ele estava transtornado e um instinto de sobrevivência tomou conta do meu corpo inteiro, me mandando correr. Mas não consegui; minhas pernas congelaram no lugar e meu coração disparou quando os olhos dele se fixaram nos meus, ódio brilhando ali.

-Kirishima é só meu amigo. - eu disse, minha voz soando mais desesperada do que eu queria. Tenko abriu um sorriso incrivelmente maldoso para mim.

-Amigo? Você acha que eu sou idiota, Aoi? - Ele deu mais um passo em minha direção, suas mãos tremendo levemente enquanto eles a levava até seu pescoço, coçando com tanta força que deixou vergões vermelhos, algo que Tenko fazia quando estava a beira de um colapso. Engoli em seco, um alerta soando na minha mente me mandando sair dali. -Você acha que eu não vi a forma como ele olhou para você? Como você fica nervosa quando o assunto dele aparece? Está tentando me convencer que isso é só amizade? Ou será que você está esperando o momento certo para me deixar e correr para os braços dele?

Suas palavras me atingiram com tanta força que não consegui sequer reagir. Apenas arfei, chocada. Como ele podia ser tão egoísta, cego e burro? Como aquilo tinha deixado de ser sobre ele ter me machucado e passado a ser sobre ele e o que Tenko sentia?

-Não é nada disso! - Tentei argumentar, mas a intensidade dos sentimentos de Tenko estava crescendo a cada segundo, me atingindo em cheio e me deixando com ânsia. Eu sabia que ele não estava me ouvindo. Ele estava se afundando em seus próprios medos e inseguranças, e nada do que eu dissesse pareceria suficiente.

-Responda! - Ele exigiu, avançando mais, seu rosto agora a centímetros do meu. Tentei me afastar; mas sequer consegui me mover. -Ele é o seu maldito akai ito, não é? Me diga a verdade, Aoi! Vocês dois estão destinados a ficarem juntos?

-Você tá louco! - eu disse, meus olhos ardendo por conta das lágrimas. -Akai ito não é sobre amor, Tenko! Minha irmã tem o akai ito dela com sua melhor amiga, você está confundindo tudo! Eu nunca trairia você, nunca! Kirishima é só meu amigo, e não há nada entre nós!

Ele não queria ouvir. Seus olhos estavam selvagens, sua respiração acelerada. A dor e o ciúme o consumiam, transformando Tenko em alguém que eu mal reconhecia.

-Não minta para mim! - Ele gritou, e antes que eu pudesse reagir, sua mão se moveu com uma velocidade que me pegou completamente desprevenida. O estalo do tapa ecoou pela sala, e uma dor aguda explodiu em minha bochecha. Senti gostode sangue dentro da boca; o impacto foi tão forte que me fez cambalear para o lado, minhas mãos voando automaticamente para segurar o rosto. Senti algo quente escorrendo, e ao tocar minha pele, percebi que o golpe tinha deixado um corte.

Um silêncio mortal caiu sobre nós. Minha mente estava em choque, tentando processar o que havia acabado de acontecer. Lágrimas arderam em meus olhos, mas eu as segurei, me recusando a deixá-las cair. Eu sequer podia acreditar no que estava acontecendo, mesmo que algo no fundo da minha alma soubesse que aquilo um dia iria acontecer. E doía muito perceber isso, doía saber que apesar de tudo que vivemos, tudo o que superamos, Tenko sempre deixaria sua raiva vencer.

Ele parecia igualmente chocado, seus olhos arregalados enquanto ele olhava para a própria mão, como se não acreditasse no que havia feito. Sua expressão foi de raiva para arrependimento em uma fração de segundo, mas o dano já estava feito. Tudo já tinha ruído e não havia nada que ele pudesse fazer para mudar isso.

-Aoi... - ele murmurou, sua voz agora cheia de desespero. -Eu... eu não queria, eu juro que não queria...

Eu não consegui olhar para ele. Tudo dentro de mim estava gritando para sair dali, para correr e nunca mais olhar para trás, mas minhas pernas pareciam presas ao chão. Estava tão perplexa e chocada, com meu coração sangrando, que não conseguia me mover.

-Você me bateu... - minha voz saiu baixa, quase um sussurro, enquanto eu segurava o rosto dolorido. -Você realmente me bateu.

Ele deu um passo à frente, tentando alcançar minha mão, mas eu recuei bruscamente, erguendo a outra mão para impedi-lo.

-Não toque em mim. - eu disse, a voz trêmula mas firme, meu olhar como ferro. Ainda assim, eu o olhei com o queixo erguido, pois jamais aceitaria aquilo. E pelo desespero em seus olhos, Tenko sabia disso.

Ele tentou se aproximar e eu aproveitei que Tenko tropeçou no meio do caminho para me virar e correr para fora, o mais longe possível. Não hesitei antes de correr para as escadas, as descendo o mais rápido que minhas pernas aguentavam, o coração disparando dentro da garganta.

Eu corri como se minha vida dependesse disso, e no fundo, talvez dependesse. Cada passo era um esforço para afastar o pavor que me consumia, as lágrimas já começavam a cair antes mesmo de alcançar a rua. E cada passo era um adeus definitivo a tudo aquilo que eu havia construído nos últimos anos. Quando finalmente me vi fora do prédio, senti o ar frio da noite me envolver, mas não trouxe nenhum alívio.

Foi então que o vi, parado na calçada, como se estivesse me esperando, os cabelos vermelhos compridos balançando por conta do vento. Kirishima.

Era claro que ele estava ali por minha causa e por eu estar o evitando há dias, consegui ver isso assim que Kirishima me biu e seus olhos se fixaram nos meus. Por um instante, ele até exibiu aquele sorriso que sempre me dava todas às vezes que conversávamos por chamada de vídeo, mas esse sorriso vacilou assim que seus olhos vermelhos caíram sobre mim. Subitamente, seu rosto foi marcado pela preocupação e ele nem mesmo hesitou, correndo na minha direção, e por um momento, fiquei paralisada. O que ele diria? O que ele faria?

-Aoi, o que aconteceu? - ele perguntou, a voz cheia de urgência e cuidado. Meu olhar foi de encontro ao dele, e eu vi seus olhos se arregalarem ao perceber o corte no meu rosto. Vi a mudança imediata em sua expressão, a suavidade sendo substituída por uma raiva contida que ele lutava para manter sob controle. -Quem fez isso com você? - sua voz era baixa, mas letal, me fazendo estremecer e eu sabia que ele já tinha a resposta para aquela pergunta.

Não conseguia dizer nada. As palavras estavam presas na minha garganta, sufocadas pelo choro que eu ainda não conseguia conter por completo. Eu sabia que, se tentasse falar, minha voz sairia trêmula e fraca, algo que eu não queria que ele visse. Algo que eu nunca tinha sido, mas agora, tampouco sabia quem eu era de verdade. Não depois daquela noite, e menos ainda depois de tudo o que tinha acontecido.

Eijirou deu um passo à frente, e por um segundo, meu corpo recuou instintivamente e fiquei tensa, ainda me lembrando de toda raiva nos olhos de Tenko, da sua mão erguendo antes de ser abaixada contra meu rostl. Mas aquele era Kirishima, não Tenko, e o medo não tinha mais razão com ele ali, pois Kirishima era como uma estrela brilhando e que jamais, em hipótese alguma, seria capaz de fazer algum tipo de mal. Mesmo assim, o meu coração continuava batendo em um ritmo frenético, como se eu ainda estivesse fugindo.

-Vamos sair daqui. Agora. Eu te levo para um lugar seguro. - ele disse, a voz mais suave dessa vez. Ainda assim, engoli em seco.

Eijirou olhava ao redor, como se esperasse que Tenko aparecesse a qualquer momento, e isso me fez estremecer. Mas quando nossos olhares se encontraram novamente, vi a preocupação e o carinho em seus olhos, e de alguma forma, isso me acalmou um pouco. Kirishima estendeu a mão para mim, mas não tentou me forçar a aceitá-la. Ele estava me dando tempo, me deixando decidir, e eu fiquei grata a ele por isso. Fiquei grata por Kirishima estar ali, como se tivesse sentido através daquele fio que nos unia de que eu precisava que ele estivesse ali.

Eu olhei para a mão estendida, depois para o rosto dele, e finalmente, sem dizer nada, deixei que minha mão encontrasse a de Kirishima. A sensação do toque dele foi como uma âncora, algo sólido para me segurar no meio de todo aquele caos.

-Ok. - murmurei, minha voz falhando um pouco.

E assim, deixei que ele me guiasse, sabendo que, com Kirishima, eu estaria segura.

Não sei como consegui me segurar a Kirishima enquanto subia na moto atrás dele. Nem mesmo sei o como apenas não desisti de tudo, mas a verdade é que me agarrei a ele com força, reprimindo a vontade de chorar enquanto meus olhos enchiam e esvaziavam as lágrimas que euxme recusava a derrubar. Já tinha chorado o suficiente por conta das ações de Tenko, mas agora, basta. Estava cansada de dar tudo de mim para tentar fazer um relacionamento fracassado dar certo. Naquele momento, não conseguia tirar as palavras de Aizawa e todas as vezes que Katsuki me disse que Tenko não me merecia. Agora, todas as palavras pareciam fazer um terrível sentido, o que não ajudava em nada a fazer eu me sentir melhor.

Chegamos na casa que Kirishima dividia com Katsuki mais rápido do que eu esperava. Bem, Kiri não mentiu quando disse que me levaria para um lugar seguro, pois não existia lugar onde eu me sentisse mais confortável naquele momento do que aquele. Apesar de temer o que Katsuki poderia dizer, pois eu tampouco tinha forças para escutá-lo me dizendo "eu te avisei".

Assim que entramos, o olhar de Kirishima ainda em mim de forma cautelosa até demais, a primeira coisa que vi foi Katsuki soltando um palavrão enquanto revirava as almofadas do sofá. Ele deveria estava atrás de sua máscara de herói já que estava com seu uniforme completo, provavelmente pronto para ir trabalhar. Mas Katsuki parou tudo o que estava fazendo no momento em que seus olhos caíram sobre mim.

Observei atentamente seu olhar passar de zombaria para confusão e, logo em seguida, horror com a compreensão do que estava acontecendo ao ver meus olhos vermelhos pelas lágrimas e o sangue agora já seco na minha bochecha. Nunca tinha visto Katsuki tão colérico, mas ele parecia prestes a destruir o mundo inteiro enquanto caminhava a passos largos até mim.

-O que aconteceu com você? - ele disse, tocando no meu queixo para poder virar meu rosto e analisar o estrago, com uma delicadeza que não correspondia em nada com a pessoa que ele era. Ver toda aquela preocupação apenas fez meus olhos arderem mais uma vez.

-No fim das contas, você estava certo, Kats. - falei rindo sem nenhum tipo de humor. E quando ele me puxou para um abraço apertado, eu realmente comecei a chorar.

-Ah, Aoi... - ele suspirou, sua voz com uma calma que eu sabia que ele não tinha já que Katsuki não era estúpido, ele sabia quem tinha causado aquilo tudo. Mas ele não disse mais nada, afagando meu cabelo com um carinho que jamais pensei que Katsuki pudesse possuir.

-Você está ocupado. Desculpa, não queria te preocupar. - falei num sussurro, me afastando para olhar Katsuki. Mas ele apenas franziu o cenho para mim, como se eu tivesse falando uma grande barbaridade.

-Claro que vou me preocupar sim! Você é minha melhor amiga e te ver nesse estado é uma merda, Aoi. - ele disse, me olhando tão sério que quase me fez chorar mais uma vez. -Mas que bom que está aqui. Você vai estar segura e ninguém vai te machucar de novo. Prometo.

Não disse nada e nem Katsuki. Por um instante, apenas deixei ele me abraçar até que Katsuki tivesse que ir trabalhar, prometendo voltar o mais rápido possível. Mas Kirishima estava de folga; e pelo jeito que ele estava me fitando, Kiri não me deixaria sozinha nem tão cedo.

Sentada ao lado de Kirishima, a sensação de estar perdida parecia quase sufocante. Cada respiração era um esforço para não ceder ao desespero que ameaçava me consumir. Olhei para ele, esperando encontrar alguma resposta no fundo de seus olhos, mas tudo o que vi foi uma paciência imensa e uma preocupação genuína que quase me quebrou.

-Kirishima... - comecei, a voz falhando. -Sinto muito ter fugido de você.

Aquilo fez Kirishima piscar os olhos, se surpreso ou perplexo, eu não sabia dizer. Mas então, ele soltou uma risada baixa, me pegando tão de surpresa que acabei sorrindo junto dele.

-Aoi, você acabou de passar por uma situação extremamente delicada e está preocupada com isso, sério? - ele brincou, me empurrando de leve para o lado. -Não pensa nisso, eu entendo seus motivos. Quer dizer, não sei quais são, mas suponho que sejam válidos.

Em silêncio, apenas assenti. Era engraçado o como Kirishima conseguia ser sempre muito compreensível. Não importava o que as pessoas fizessem com ele, Eijirou sempre parecia ver um lado bom. Quando jogávamos juntos, eu ficava louca com isso, principalmente quando às vezes Eiji afundava nosso time. Mas no fundo, não importava, porque era uma das melhores características de Kirishima. Nunca me julgou por absolutamente nada, e era uma merda admitir que a pessoa que eu mais queria que tivesse me compreendido, nunca tentou fazê-lo.

-Eu sempre achei que estava segura com Tenko. - admiti, puxando minhas pernas e as abraçando contra meu peito. -Sabe, ele salvou minha vida de verdade. Se não tivesse o conhecido, eu não sei o que teria me tornado, e o simples "e se?" me aterrorizava. Não me imaginava vivendo sem Tenko. Sempre pensei que apesar de tudo, a gente ia dar um jeito. Mas agora eu só sinto medo. - lágrimas surgiram nos meus olhos, mas eu as segurei fortemenre. -Eu sinto medo de quem ele se tornou, medo do que ele pode fazer, e mais do que tudo, medo de não conseguir mais me encontrar nesse caos. - As palavras saíam em um sussurro trêmulo, quase inaudível, mas o impacto delas era avassalador dentro de mim. Era a primeira vez que eu admitia esse medo em voz alta, e o peso dele quase me fez desmoronar ali mesmo.

Kirishima não disse nada de imediato, mas seus olhos estavam fixos nos meus, refletindo a dor que ele claramente sentia por me ver assim. Éramos amigos virtuais há anos, e Kiri me conhecia bem demais. Mas ele jamais tinha me visto tão fragilizada. Ele parecia estar lutando contra o impulso de fazer alguma coisa, de agir, mas ao mesmo tempo sabia que aquele era um momento em que eu precisava apenas de alguém que ouvisse.

-Eu entendo. - ele finalmente respondeu, sua voz baixa, quase reverente. -Eu entendo como é ver alguém que você ama se transformar em algo que você mal reconhece. Mas, Aoi, você não precisa passar por isso sozinha. Não agora, não nunca. Eu estou aqui, e sempre vou estar aqui para você, não importa o que aconteça.

-Mas e se eu nunca conseguir me recuperar disso? - minha voz saiu em um soluço, as lágrimas escorrendo livremente agora. -E se eu estiver tão quebrada que nunca mais vou conseguir confiar em ninguém? E se isso me mudar de um jeito que eu não consiga mais voltar a ser quem eu era?

-Você não precisa ser quem você era. - Kirishima respondeu, a voz cheia de uma firmeza que me fez tremer. -Você tem o direito de mudar, de se transformar, mas você também tem o direito de encontrar a felicidade e a paz de novo. Você é forte, Aoi, mais do que você imagina. E se você não puder confiar em ninguém agora, tudo bem. Eu vou estar aqui, sem pedir nada em troca, até o dia que você estiver pronta para dar esse passo, seja lá quando for.

As palavras dele me atingiram com uma intensidade que eu não esperava. Era como se ele estivesse vendo algo em mim que eu mesma não conseguia enxergar, uma força que eu havia esquecido que tinha. Kirishima sempre foi o tipo de pessoa que inspirava coragem nos outros, mas ouvir aquelas palavras naquele momento, ditas com tanta certeza, fez com que uma pequena faísca de esperança começasse a surgir dentro de mim.

Mas ainda assim, a escuridão do que havia acontecido não desapareceu completamente.

-Eu sinto tanto ódio. - admiti, a voz rouca. -Ódio de Tenko, mas principalmente de mim mesma por ter permitido que isso acontecesse, por não ter visto os sinais, por ainda sentir algo por ele, mesmo depois de tudo.

-É normal sentir tudo isso, Aoi. - Kirishima disse, e sua voz estava cheia de compreensão. -Você se importava com ele, e se importar com alguém não é fraqueza. O que aconteceu não foi sua culpa. Ele fez escolhas que te machucaram, mas isso não define quem você é. E o fato de você ainda sentir algo só mostra que você é humana, que você tem um coração enorme. E Tenko não merece nem uma mísera parte desse coração.

Eu me encostei nele, permitindo que suas palavras me envolvessem como um cobertor quente. A dor estava longe de desaparecer, mas naquele momento, o peso parecia um pouco mais fácil de carregar. Kirishima envolveu os braços ao meu redor, me segurando com uma gentileza que me fez acreditar, ainda que por um breve instante, que eu poderia, um dia, superar aquilo.

-Aoi. - ele sussurrou contra o topo da minha cabeça. -Prometo que você vai encontrar o caminho de volta para si mesma.

As lágrimas continuaram a cair, mas dessa vez, havia um consolo nelas. Era o consolo de saber que, mesmo que eu estivesse quebrada agora, havia alguém disposto a me ajudar a juntar os pedaços, alguém que acreditava em mim quando eu não conseguia acreditar em mim mesma. E naquele abraço, cercada por toda a força e bondade de Kirishima, eu me permiti acreditar que talvez, só talvez, eu pudesse encontrar meu caminho de volta à luz.

Passei uma semana ignorando as ligações e tentativas de Tenko de falar comigo. Sequer havia ido até nossa empresa, com medo demais de acabar trombando com ele pelos corredores. Sabia muito bem que ele tinha me procurado até nos confins do mundo já que recebi uma ligação de Aizawa me perguntando porque meu suposto noivo tinha aparecido desesperado na casa dele atrás de mim. Me lembro que quando contei para meu pai que tudo estava acabado, ele não disse nada por longos minutos antes de dar um suspiro aliviado e só. Não perguntou nada e eu também não disse nada.

Tenko era estúpido, mas não burro. Mesmo que no fundo ele soubesse que eu estava na cara de Katsuki, não ousou sequer aparecer, pois sabia que aquilo geraria mais problemas para ele do que para Katsuki. Mas acho que a ficha de Tenko de que tudo entre nós estava realmente acabado caiu foi quando ele chegou na casa que um dia havia sido nossa e percebeu que não tinha mais nada meu ali. Eu tinha lido todas as mensagens desesperadas dele me implorando por perdão e me pedindo para voltar para casa, e depois, as cheias de raiva quando constatou que eu não voltaria.

Mas, ainda assim, eu tinha uma empresa com Tenko. E antes que pudesse dar um jeito nisso, precisava acabar com tudo de fato entre nós dois.

Estava nervosa quando cheguei ao meu escritório, todos me olhando com curiosidade já que eu nunca tinha passado tanto tempo assim fora. Não me importei com isso, principalmente sabendo que assim que Tenko soubesse que eu estava ali, ele iria atrás de mim. E eu não tenho vergonha de admitir que estava com medo.

A individualidade de Tenko era arrasadora. Me lembro de tê-lo visto usá-la em uma pessoa, tantos anos atrás, quando ainda era controlado por All For One. Me lembro do embrulho no meu estômago. E mesmo que fosse um pensamento cruel, não conseguia deixar de pensar que se ele teve coragem o suficiente para me bater, o que o impediria de ter coragem o suficiente de usar sua individualidade em mim?

Quando disse a Eijirou e Katsuki o que eu faria, eles dois odiaram a ideia e até tentaram me convencer a virem comigo. Mas a verdade é que por mais perigoso que Tenko pudesse se tornar, eu também podia. E minha individualidade podia ser tão danosa quanto a dele.

Ele demorou menos do que eu esperava para aparecer, entrando no meu escritório logo atrás de mim, me fazendo prender a respiração. Ele estava ali, em carne e osso, e toda a coragem que eu havia acumulado ao longo da semana ameaçou escapar por entre meus dedos. Seus olhos estavam vermelhos, carregados de angústia e desespero, sua expressão era de alguém que não dormia direito há dias, mas tudo o que eu conseguia sentir era medo. Não aquele medo passageiro, mas um pavor profundo, como se cada célula do meu corpo estivesse em alerta.

-Aoi...- Ele começou, sua voz trêmula, cheia de dor. Mas para mim, essas palavras soaram vazias, como se não pertencessem mais a nós dois. Eu o observei, mas não consegui enxergar o homem que um dia amei tanto, que um dia havia significado o mundo inteiro para mim. Tudo o que vi foi alguém que cruzou uma linha que nunca deveria ter sido cruzada. Tudo o que eu via, era uma pessoa manipuladora e abusiva e para mim já bastava disso.

-Por favor, me escuta. - ele continuou, dando um passo em minha direção. Instintivamente, recuei. Meu corpo inteiro gritava para me afastar, para criar uma distância segura entre nós. E isso o atingiu em cheio; vi em seus olhos, no modo como ele hesitou, percebendo o que havia feito, mas sem saber como consertar.

-Tenko. - Eu disse, minha voz mais firme e gélida do que eu esperava. -Você deveria sair. Não temos nada para conversar e eu não tenho nada para escutar. Deixei a aliança de noivado na sua casa quando fui buscar todas as minhas coisas, achei que isso deixasse claro que estamos acabados. Não há mais nada entre nós.

-Aoi, não faça isso. - ele disse, sua voz me implorando por algo que eu jamais iria cumprir. Com a cabeça erguida, fixei meus olhos no dele com toda a indiferença que eu conseguia fingir.

-Você me bateu, Tenko. Você quebrou algo dentro de mim que nunca mais vai ser reparado.

Ele balançou a cabeça, como se quisesse negar a realidade que estava se desenrolando diante de nós.

-Eu não queria, Aoi. Eu juro que não queria. Eu estava fora de mim, bêbado, por favor, me perdoa.

As lágrimas ameaçavam escapar dos meus olhos, mas eu as contive. Não podia mostrar fraqueza, não agora.

-Perdoar? Tenko, isso não é só sobre o que você fez naquele momento, e jogar a desculpa na bebida não anula sua culpa. E isso é sobre todas as vezes que você deixou sua raiva me ferir, todas as vezes que eu me senti pequena perto de você. E o que aconteceu foi o ponto final. Eu não posso e não vou voltar para você.

-Eu vou mudar, eu prometo. Eu faço qualquer coisa, Aoi. Só não me deixa! - Sua voz se elevou em desespero, mas as palavras soaram vazias para mim, ecoando em um coração que não podia mais ouvir. Eu o encarei, sentindo uma mistura de tristeza e determinação. Ele não era mais o garoto perdido e sem família que conheci na rua. Ele tinha família e tivera a mim, mas preferiu jogar tudo isso no lixo por conta de todos seus próprios problemas que se recusava a tratar.

-Tenko, eu não vou mais fazer isso. Você me machucou de uma maneira que nunca pensei ser possível. E eu nunca mais quero passar por isso de novo. Você precisa seguir em frente, e eu também.

Ele me olhou, como se estivesse vendo tudo se desmoronar, o desespero crescendo em seus olhos. Mas eu sabia que não poderia voltar atrás. Não depois de tudo.

-Eu não vou mais voltar para você, Tenko. Não depois do que você fez. E quanto a essa empresa, ou você vai se tratar, ou também vamos encerar nossa parceria. Dito isso, por favor, saia da minha sala. - falei, indicando a porta, minhas palavras saindo duras como uma rocha. Por mais que doesse, eu sabia que era o certo. Ele me perdeu naquele dia, e não havia volta.

Sem esperar uma resposta, dei a volta em minha mesa, afastando-me dele e, mais uma vez, deixei para trás uma parte de mim que já não existia mais. Cada passo me afastava mais daquele capítulo da minha vida, e, finalmente, eu me sentia livre para seguir em frente.

UM ANO DEPOIS

Eu estava exausta quando deitei na minha cama para dormir. Achava que gerir basicamente sozinha uma empresa seria fácil, mas na verdade, não era. O fato é que desde que Tenko se mudou para os Estados Unidos para cuidar da nossa filial lá, eu tinha trabalho em dobro. Bom, não iria reclamar, de qualquer forma. A verdade é que estar longe dele era melhor do que estar perto, ainda tendo que fugir das tentativas dele de reatar nosso namoro mesmo que há muito eu já tivesse o superado e esquecido. Mas jamais seria capaz de superar o tapa que Tenko me deu, ou todas as coisas péssimas que me fez passar. Ele era meu sócio nos negócios e apenas isso. Nunca mais seria algo além novamente.

Depois do furacão Tenko passar pela minha vida, tudo se tornou um pouco mais difícil e tinham noites em que eu sentia aquela dor mais do que nunca. Era uma merda admitir que a pessoa por quem eu lutei tanto e dediquei tanto tempo da minha vida, não havia válido tanto a pena assim. Mas não me permitia ter esses pensamentos, pois não me levariam a lugar nenhum, eu sabia. O que importa é que agora, eu estava feliz, minha empresa estava cada dia mais popular e eu tinha amigos que faziam tudo ficar um pouco menos pesado.

Não sei exatamente o como tinha ido parar morando com Katsuki e Eijirou, mas a verdade é que eu amava. Nem mesmo havia sonhado com o como isso mudaria tudo para mim. A princípio, pensei que seria apenas uma solução temporária, algo que me ajudaria a me afastar do caos que se tornou minha vida depois de Tenko. No entanto, aquela casa acabou se tornando meu refúgio, meu lugar seguro. E era absurdamente divertido dividir o teto com aquela dupla de idiotas, sabendo que Kirishima tinha lugar reservado no céu por conseguir aguentar Katsuki e eu quando tinham o azar de ter folga no mesmo dia que Katsuki e ficávamos os três juntos.

Era engraçado já que Katsuki sempre foi alguém direto, muitas vezes até rude, mas ele tem um jeito próprio de cuidar das pessoas que são importantes para ele. Eijirou, por outro lado, era a própria definição de gentileza e apoio. Ele estava sempre lá para mim, seja com um ombro amigo, palavras de encorajamento, ou simplesmente me escutando nos meus piores momentos. Mais que isso, era minha companhia nas noites difíceis, sempre aparecendo com algum jogo que ele sabia que iria distrair minha mente completamente. Sempre me apoiando em tudo. Foi Eijirou que me convenceu a voltar a tocar violino, algo que Tenko tinha me desencorajado até eu largar. E também foi Eijirou que tirou todas as minhas ressalvas em relação a roupas, sempre deixando bem claro que me achava linda de qualquer jeito.

O último ano foi um processo lento de cura, e eu sei que sem Eijirou ao meu lado, provavelmente não teria conseguido superar tudo o que aconteceu. Ele nunca me julgou pelo que passei, nunca me pressionou a falar sobre o que não estava pronta para compartilhar. Apenas esteve presente, sendo o pilar que eu precisava para reconstruir minha confiança.

E foi impossível não me aproximar dele. Eijirou tem essa luz, essa energia positiva que atrai as pessoas. Ele fez eu me sentir viva novamente, como se pudesse deixar o passado para trás e me permitir viver de verdade. Houve momentos em que eu o observava, a forma como ele interagia comigo, com Katsuki, como ele sempre se certificava de que eu estava bem, e algo dentro de mim se mexia. Algo que eu tentava ignorar, porque admitir que pudesse sentir algo por ele parecia assustador demais.

Eijirou era a pessoa que me fazia sorrir com as mais simples coisas quando eu achava que não conseguiria mais, e por mais que eu me esforçasse para manter esses sentimentos escondidos, eles estavam lá, latentes, à espera de um momento para se manifestarem. E era terrivelmente assustador. O akai ito parecia brilhar mais do que nunca quando Eijirou estava próximo de mim, quando suas mãos tocavam minha pele por acaso, sempre que estava com os olhos fixos nos meus, parecia existir um tipo de reação do universo. Como se ele me dissesse "ei, está tudo bem, você pode fazer isso, Aoi. Seja feliz". Mas como fazer isso quando você havia esquecido do que era amor verdadeiro durante tantos anos?

Com um suspiro, me virei de um lado para o outro na cama, mas sem de fato conseguir dormir. Minha mente sempre parecia acabar voltando a Kirishima; pelo menos, aquilo era bom, pois tudo o que eu menos precisava, era pensar em Tenko e no nosso relacionamento fracassado. Apesar disso, era assustador deixar sentimento por Kirishima (os quais eu sequer entendia) pipocarem no meu peito. E o jeito que Eijirou me olhava... Acho que eu já sabia exatamente o que significava.

Gostar de alguém sempre era assustador pra caramba. Mas se eu me permitisse viver aquilo, não poderia ser feliz? Eu sabia que Kiri não pouparia esforços para isso; se eu apenas tivesse um pouco mais de coragem...

Balançando a cabeça, decidi não pensar nisso e me levantei. Água, eu precisava de um copo de água e colocar a mente no lugar, ansiedade não me ajudaria com absolutamente nada naquele momento. Graças a Deus estava sozinha em casa, assim não precisaria encontrar Katsuki em algum canto e ter que o ouvir ele sendo um insuportável, reclamando dos meus problemas de insônia e me mandando ir fazer uma terapia. Um grande idiota, já que eu já fazia terapia e estava perfeitamente bem na medida do possível.

Mas, assim que liguei a luz da cozinha, tomei um susto imenso ao ver os olhos escarlate de Eijirou. Ele também se assustou, percebi, mas abriu um sorriso assim que me viu. Eu, por outro lado, corei violentamente. Eijirou estava usando apenas uma calça de moletom, deixando a mostra cada músculo do seu corpo e todas as cicatrizes em seu peito pelos anos atuando como super herói. E eu estava usando uma camiseta longa que batia no meu joelho e só. Mesmo que sem querer, engoli em seco enquanto me aproximava dele, ciente dos olhos de Eijirou cravados dm mim.

-Não sabia que você estava em casa. - falei, chamando a atenção dele que estava nas minhas pernas de volta para meus olhos. Eijirou corou, dando um sorriso culpado para mim.

-Eu saí mais cedo. - ele disse, dando de ombros e se aproximando de mim. Eijirou apenas arqueou uma sobrancelha enquanto me fitava. -Você não deveria estar dormindo, Aoi?

-E quem disse que eu consigo? - reclamei, fazendo ele dar uma risada baixa.

Meu coração bateu um pouco mais forte dentro do peito e era uma merda. Depois de tudo o que havia acontecido em relação a Tenko, jamais imaginei que alguém pudesse fazer meu coração disparar desse jeito. Mas ali estava Eijirou Kirishima, sempre fazendo questão de me mostrar o quão errada eu estava. E eu sabia que de nada o akai ito tinha culpa nisso. O único culpado por fazer eu me apaixonar, era o próprio Kirishima.

-Kiri. - falei, chamando sua atenção para mim. Ele me olhava como se qualquer merda que eu falasse fosse importante, o que sempre fazia eu me sentir uma grande tonta pelo jeito que fazia meu peito aquecer. -Você lembra quando te contei da minha individualidade, naquela chamada de vídeo com o Katsuki?

Isso fazia uns anos. Provavelmente ele nem sequer se lembrava mais. E por que eu sequer estava falando sobre aquilo, afinal?

-Sobre seu controle mental ou sobre o akai ito? - perceber que ele se lembrava era como tomar um soco no estômago. Kirishima sempee havia prestado atenção demais em mim, eu sabia, mas me dar ainda mais conta disso quase me fez sorrir. No entanto, apenas assenti.

-Se eu dissesse que sei quem é a pessoa que divide o fio com você, você ia querer saber? - falei, minha voz saindo quase como um sussurro. Era egoísta, eu sabia; falar aquilo sabendo que Kirishima tinha Mina era um tanto quanto egoísta, mas gostar dele também era. E tinham coisas que eram sufocantes demais para serem mantidas guardadas no peito.

-Não. - Kirishima disse, sua palavra me atingindo como um tapa na cara. De todas as respostas que eu esperava, aquela não era uma delas, me fazendo piscar os olhos por um segundo, sem saber o que dizer. -Não, eu não ia querer saber. - a voz de Kirishima era um sussurro, e ele estava tão perto de mim que eu podia sentir sua respiração quente contra meu rosto. Ele deve ter notado a confusão no meu rosto, pois estendeu uma mão, tocando suavemente meu cabelo, seus olhos presos aos meus, e continuou a falar: -Porque eu não ia suportar a ideia de minha alma gêmea ser outra pessoa que não...

-A Mina? - falei, tentando conter o nó que se formou na minha garganta. Mas Kirishima apenas suspirou, afunda do os dedos nos meus cabelos.

-Não, Aoi... Ela é só minha amiga.- ele disse, sua voz ainda mais baixa. Algo em seus olhos fez todo meu corpo estremecer completamente, meu coração dando um salto dentro do peito. -Você. Sempre foi você.

Fiquei em silêncio por um tempo, sem saber como sequer reagir. As bochechas de Eijirou assumiram um profundo tom de vermelho, mas ainda assim, ele continuou a falar.

-Sou apaixonado por você tem anos. Mas você tinha um namorado que desde sempre me pareceu problemático, mas quem era eu pra me meter nisso? E depois, você me disse com um sorriso no rosto que estava noiva. E eu genuinamente fiquei feliz por você! Mesmo que meu coração tivesse ficado um pouco mais pesado. - as palavras de Kirishima eram intensas, mas eu não conseguia deixar de notar o quanto ele sempre fora altruista demais. Ele odiava a ideia, mas estava feliz por mim. -Quando te vi pessoalmente, só terminei de me apaixonar ainda mais por você. Mas depois, tudo aquilo aconteceu, e você estava triste demais. Não parecia justo jogar isso em você e agora... Aoi, eu sou tão apaixonado por você que não consigo mais te ver todos os dias sem poder te dizer isso.

Meu coração bateu ainda mais rápido a medida que eu olhava para os olhos de Kirishima e me dava conta de toda a sinceridade presente ali. Enquanto me dava conta de que ele sentia o mesmo que eu. Por isso, com as mãos tremendo, segurei o rosto dele.

-Ah, Eijirou... - falei com um suspiro, encostando minha testa contra a dele. E eu sorri. -Você é tolo se acha que não sinto o mesmo. Me desculpa só ter demorado muito tempo pra isso.

Eijirou riu e seus olhos brilharam de uma forma que eu não tinha viato antes, uma mistura de felicidade com tentativa de acreditar que aquilo era real a medida que seus braços envolviam minha cintura e ele me puxava para perto, até eu estar grudada a aquela muralha que ele chamava de músculos.

-E eu sou. Sua alma gêmea. - falei em um sussurro, encostando a testa na dele. -Sei disso desde o momento que nos vimos pessoalmente. E isso me assustou durante muito tempo. Mas agora eu estou pronta pra amar você do jeito que você merece, Eijirou. Se você quiser.

-Eu esperei dois anos e meio você dizer isso, Aoi. - ele sussurrou. E, antes que eu pudesse dizer mais qualquer coisa, a boca de Eijirou envolveu a minha.

Quando os lábios de Eijirou tocaram os meus, foi como se o mundo ao nosso redor tivesse desaparecido. Tudo se reduziu àquela sensação, àquele momento em que finalmente, após tanto tempo de incerteza, nos permitimos sentir o que estava contido dentro de nossos peitos. O beijo começou suave, quase hesitante, sua boca pressionada contra a minha com um carinho que jamais alguém havia demonstrado por mim antes, confirmando que isso era real e não apenas uma fantasia que nossas mentes tinham criado em noites solitárias.

Mas, à medida que o calor de seus lábios invadia os meus, algo dentro de mim se soltou, como se todas as amarras que eu havia colocado em meus sentimentos estivessem finalmente se desfazendo. Minhas mãos, que antes seguravam suavemente o rosto dele, deslizaram para sua nuca, puxando Eijirou para mais perto, como se eu nunca pudesse ter o suficiente dele, aprofundando o beijo. Eijirou correspondeu imediatamente, seus braços ao redor da minha cintura se apertando, me mantendo firmemente contra ele, como se ele tivesse medo de que eu pudesse escapar a qualquer momento.

O beijo se intensificou, se tornando mais urgente, como se estivéssemos tentando compensar o tempo perdido. Cada movimento, cada toque, cada suspiro compartilhado entre nós parecia ecoar a intensidade dos sentimentos que haviam sido reprimidos por tanto tempo. Eu me perdi completamente nele, no gosto de seus lábios, no som de sua respiração pesada contra a minha, na forma como seu corpo forte me envolvia, me protegendo e me acalmando ao mesmo tempo.

Eu podia sentir o quanto Eijirou queria prolongar aquele momento, e eu também não queria que acabasse. O calor de seu corpo era reconfortante, e a suavidade com que ele tocava meus cabelos, minhas costas, fazia meu coração acelerar ainda mais. Havia uma mistura de desejo e ternura no modo como ele me beijava, como se quisesse transmitir tudo o que sentia sem precisar de palavras.

Quando finalmente nos separamos para respirar, ainda estávamos tão próximos que nossas respirações se misturavam. Eu abri os olhos, encontrando os dele, e vi um brilho de emoção ali, um brilho que eu sabia estar refletido nos meus. Ainda com as mãos no rosto de Eijirou, eu acariciei sua pele lentamente, vendo um sorriso abrir em seu rosto.

-Eu... - comecei a falar, mas as palavras pareciam escapar, presas em minha garganta. Não havia mais dúvidas, nem medo, apenas uma certeza inabalável de que eu queria estar com ele, de que ele era a pessoa que poderia me fazer feliz, do jeito que eu sempre mereci. -Eu quero isso tanto quanto você.

Eijirou sorriu, aquele sorriso caloroso e acolhedor que eu conhecia tão bem, e inclinou a testa contra a minha mais uma vez, ainda mantendo nossos corpos próximos.

-E não vou a lugar nenhum.

Suas palavras foram o suficiente para apagar qualquer vestígio de dúvida ou medo que pudesse ter restado. E então, como se aquele beijo não tivesse sido suficiente para demonstrar o quanto precisávamos um do outro, Eijirou me puxou novamente para mais perto, e nossos lábios se encontraram outra vez. Dessa vez, o beijo foi mais lento, mais suave, mas não menos intenso.

Eu podia sentir tudo o que ele sentia no modo como ele me segurava, no modo como nossos corpos se moldavam um ao outro, como se estivéssemos destinados a estar assim desde o início. E eu soube, naquele momento, que estava pronta para deixar o passado para trás e abraçar esse novo começo ao lado de Eijirou.

Suas mãos percorreram minhas coxas, as agarrando com força enquanto Kirishima me levantava e me colocava sentada na ilha da cozinha, me fazendo soltar um suspiro com seus dedos tocando minha pele, o beijo ficando cada vez mais intenso.

Cada movimento, cada toque, parecia estar em perfeita sintonia com a necessidade que ambos sentíamos. Seus lábios deslizaram pelo meu pescoço, beijando e mordendo minha pele, fazendo cada psrte do meu corpo arrepiar. Eu o puxei mais para perto, me pressionando contra ele com um desejo que se tornava cada vez mais urgente. As mãos de Eijirou exploravam meu corpo com uma determinação carinhosa, como se estivesse tentando memorizar cada curva, cada contorno.

-Eu quero você. - a voz de Kirishima era um sussurro rouco, carregado de desejo, enquanto ele levantava o olhar para encontrar o meu, seus olhos escarlate sem nenhuma sombra de dúvidas. E eu nem mesmo hesitei por um instante antes de afundar os dedos nos cabelos vermelhos dele, o puxando até que sua boca estivesse contra a minha mais uma vez.

Não sei exatamente em que momento entre os beijos e suspiros Eijirou me carregou até seu quarto com uma facilidade absurda. Só sei que meu coração saltou dentro do peito quando ele me colocou contra os lençóis suaves de sua cama, suas mãos deslizando para dentro da minha camiseta e seus olhos arregalando ao perceber que de fato aquela era a única coisa que o impedia de ter total contato com meu corpo. Eu apenas deu risada, agarrando Eijirou pelos ombros e o puxando até que ele estivesse em cima de mim, meus dedos percorrendo pelo seu abdômen.

Enquanto suas mãos exploravam meu corpo, havia um desejo quase palpável no ar, algo que fazia o coração bater mais rápido e a respiração ficar entrecortada. Kirishima deslizou as mãos ao longo da minha cintura, seus toques eram leves e carinhosos, mas havia uma urgência que parecia crescer a cada segundo. Suas mãos encontraram a curva dos meus quadris, e ele me puxou para mais perto, seus lábios encontrando os meus em um beijo intenso.

O beijo se aprofundou rapidamente, e a necessidade mútua se tornou a força dominante. Eijirou não hesitou antes de levar as mãos a barra da minha camiseta, a arrancando com um único movimento, seus olhos me fitando repletos de desejo. Seus dedos, que antes eram suaves e hesitantes, agora estavam firmes contra minha pele, provocando ondas de calor por todo meu corpo e uma tentativa falha de reprimir um gemido a cada toque.

Eu também não hesitei antes de agarrar o cós da sua calça e o puxar para baixo, com uma urgência que combinava com o ritmo frenético de nossos corações. Kirishima me olhava com um desejo que parecia quase reverente, seus olhos absorvendo cada curva e cada detalhe de meu corpo como se fossem preciosidades. Ele tocava e beijava minha pele com uma intensidade que fazia minha pele queimar.

Nossos corpos estavam agora totalmente expostos, e a proximidade era quase esmagadora, mas ao mesmo tempo, incrivelmente libertadora. Kirishima começou a explorar meu corpo com uma mistura de carícias e beijos que me faziam estremecer a cada toque, com a sutileza e o carinho que ele depositava em cada gesto, algo que eu nunca tinha experenciado antes. Era como se para ele, aquilo fosse muito mais do que prazer, mas sim um amor tão grande e sincero que fez meu coração encolher por um instante. Nunca havia sido tocada com tanto cuidado, como se eu fosse tudo o que mais importava no mundo, e Eijirou deslizava seus dedos pelo meu corpo quade como uma reverência, cada beijo uma provocação que fazia meu corpo todo arder por ele.

Senti seu corpo pressionar contra o meu, e a sensação do calor e da pele dele em contato com a minha era avassaladora. Seus toques eram cuidadosos, mas também carregavam uma necessidade desesperada, como se cada movimento seu fosse uma expressão do amor e do desejo que ele sentia por mim.

Quando finalmente nossos corpos se encontraram de maneira mais íntima, o desejo que compartilhávamos parecia alcançar um clímax de intensidade e prazer. O ritmo era frenético e nossos corpos se moviam em perfeita sintonia, cada movimento nosso carregado de um sentimento que ia muito além do simples desejo.

E eu via tudo o que ele sentia por mim em seus olhos, que sempre havia transmitido uma sinceridade imensa. Kirishima me envolveu em seus braços, e o calor de seu corpo contra o meu foi uma confirmação silenciosa de que sentíamos o mesmo um pelo outro.

Respirando de forma ofegante, ainda com o corpo dele grudado ao meu, nossos o olhares se encontraram novamente. Havia uma mistura de amor e adoração em seus olhos, um reflexo perfeito do que eu sentia por ele. O silêncio entre nós estava carregado de um entendimento profundo e silencioso, uma afirmação de que o que havíamos compartilhado era algo que ia além do físico.

-É tão fácil gostar de você, Eijirou. - falei baixinho, meus dedos afundando no cabelo dele enquanto sentia meus olhos começando a se fechar. Tive a vaga sensação de seus lábios contra meus cabelos em um beijo suave e carinhoso, mas já estava sendo levada pelo sono. -Tenho sorte de você ser minha alma gêmea, Eijirou. - murmurei, fechando os olhos de vez.

-É fácil amar alguém como você, Aoi.

PARTE BÔNUS

Era estranho saber que Izuku e Ochako iam se casar. Quer dizer, não era exatamente estranho já que quando você começa um relacionamento, é justamente pensando nisso, o estranho era pensar em todas as políticas envolvendo um casamento e me lembrar que eu estive bem perto de viver tudo isso há dois anos atrás mas tudo havia ido por água abaixo. No fundo, eu bem que agradecia pelo fim do meu relacionamento tóxico com Tenko, pois agora eu tinha algo que realmente me fazia feliz e bem. Era nisso que eu estava pensando enquanto experimentava roupa atrás de roupa, vendo os olhos de Eijirou brilharem a cada troca deles, analisando cada parte minha, me fitando com um amor que ninguém mais tinha feito antes.

Fazia exatamente onze meses que Eijirou e eu estávamos namorando, mas sentia como se fosse a vida inteira, como se Kiri sempre estivesse estado ao meu lado. Era engraçado pensar isso, ou no como eu apenas o amava, sem precisar me forçar a algo. Amava Kirishima porque ele era ele e ponto final. Não porque achava que ele tinha me salvo ou porque era meu amigo, apenas porque Kirishima me fazia rir das coisas mais idiotas, conseguia me animar quando eu estava triste e me apoiava em todas as minhas conquistas. Eram coisas tão simples, mas que eu nunca tive antes, e agora que tinha, dava um valor extremo.

Era um fato que as pessoas mais felizes com esse relacionamento eram Aizawa e minhas irmãs. A verdade é que nenhum dos três gostava do meu relacionamento com Tenko, apenas aceitavam, mas haviam ficado incrivelmente aliviados quando disse que Kirishima e eu estávamos juntos, o que quase me fez bater neles. No fundo, eu até entendia. Kirishima era como um raio de sol, incapaz de transmitir algo que não energias positivas.

-O que acha dessa roupa? - perguntei para ele, analisando o vestido curto e decotado que eu estava usando e fazendo uma careta. Alguns anos atrás, aquela roupa teria sido um problema. Mas agora, Eijirou apenas me olhava como se quisesse arrancar toda minha roupa, e não por não ter gostado dela, mas muito pelo contrário.

-Você fica linda de qualquer jeito, Aoi. - ele suspirou, seus olhos me fitando como se eu fosse a coisa mais preciosa do mundo enquanto suas mãos agarravam minha cintura e me puxavam para perto de si. Aquilo me fez rir.

-Linda ou gostosa? - falei, vendo Kirishima ficar vermelho. Era engraçado o como apesar de todo o tempo que estávamos juntos, ele ainda sentis vergonha das coisas mais idiotas possíveis.

-Você tá sempre gostosa. - ele murmurou, me fazendo rir um pouco mais enquanto sentava em seu colo.

Ele nem mesmo hesitou antes de seus lábios percorrerem pelo meu pescoço de forma lenta e provocativa, me fazendo dar um suspiro enquanto afundava os dedos em seu cabelo, o puxando para um pouco mais perto de mim.

Por mim, nós definitivamente não precisávamos ir nessa festa de noivado, eu definitivamente preferia ficar ali nos braços de Kirishima pelo restante do dia. Mas seríamos péssimos amigos se fizéssemos isso, e eu supunha que teríamos todo o tempo do mundo quando voltássemos dessa festa. Mas que eu contariw os segundos para ela acabar, isso era verdade.

Segurei o rosto de Eijirou em minhas mãos antes de beijá-lo vagarosamente, aproveitando cada parte dele antes de ter que me afastar, soltando um suspiro enquanto me levantava. Ele fez um biquinho, me fazendo rir enquanto tentava arrumar o cabelo dele que tinha sido completamente bagunçado pelos meus dedos.

-Vamos antes que Katsuki surte lá embaixo esperando a gente. - falei com um sorriso, fazendo Kirishima rir.

A festa de noivado de Izuku e Ochako era algo mais simples, destinado apenas aos amigos mais próximos e a família. Mesmo assim, não deixava de ser uma festa, e eu comecei a dar risada por Katsuki mal ter chego direito e já estar com um copo na mão.

-Então você e Kirishima estão mesmo namorando? - Momo perguntou, parecendo surpresa. Eu apenas arqueei uma sobrancelha para ela. Não tinha exatamente dito isso para os outros, mas também não tinha escondido. Depois de toda a merda que tinha rolado na minha vida, eu definitivamente não queria ficar expondo meu relacionamento, motivo pelo qual apenas dei de ombros. -Fico feliz por você, Aoi. Kirishima é uma pessoa incrível e você merece pessoas incríveis na sua vida.

Escutar aquilo apenas me fez sorrir, pois Momo não estava errada. Eijirou era uma pessoa maravilhosa e eu me sentia particularmente sortuda por ser a dona de seu coração.

-É uma droga admitir que me contentei com tão pouco durante muito tempo. - suspirei e Momo apenas assentiu, como se soubesse exatamente do que eu estava falando. -Eijirou me ensinou muitas coisas, e uma delas foi essa.

-Posso ser sincera, Aoi? - Momo perguntou, me olhando um tanto quanto apreensiva. Com a sobrancelha franzida, apenas assenti. -Sabe, sempre foi evidente o quanto você amava e se importava com Tenko, mas nunca pareceu que ele sentisse um terço do que você sentia. Você fez muitos sacrifícios por ele, mas Tenko fez o mesmo por você? Parecia que você era a única pessoa a dar algo, sem receber nada em troca, e o jeito que ele agia era como se você não estivesse fazendo mais que sua obrigação, como se você fosse um troféu que ele amava exibir, mas não alguém que ele de fato amasse.

Eu respirei fundo ao ouvir as palavras de Momo. Era difícil admitir, mas ela estava certa. Meu relacionamento com Tenko havia sido desequilibrado, e eu sabia que tinha dado muito mais do que jamais recebi em troca. Ainda assim, ouvir isso de outra pessoa fazia tudo parecer mais real e, de certo modo, mais doloroso.

-Sei que você sempre sentiu que devia algo a ele depois de tudo o que passaram juntos e Tenko sempre usou isso como forma de te forçar a ficar ao lado dele, mesmo que significasse te transformar em alguém que você não é.

-Você tem razão. - suspirei, passando os dedos pelo meu cabelo por um instante. -E sair dessa situação foi difícil, Momo.

-Ah, eu sei disso. Mas você conseguiu, Aoi. E agora você tem alguém do seu lado que te olha com adoração, não como se procurando defeitos o tempo todo. - ela disse e abriu um sorriso, indicando com a cabeça algo atrás de mim. Quando me virei, meus olhos encontraram os de Kirishima, que já estava me olhando, e entendi perfeitamente o que Momo quis fizer. O jeito como Eijirou me olhava, era como se eu fosse a única coisa que existisse ali, mesmo estando rodeado de pessoas. Aquilo me fez sorrir que nem uma idiota.

Eijirou me fazia feliz de uma forma que nunca imaginei ser antes, e fiquei imensamente grata pelo universo o ter colocado no meu caminho nessa vida. Era como se Kirishima completasse muito mais que o vazio dentro do meu peito, e estar com ele era confortável e era fácil amá-lo. Definitivamente, eu poderia passar o resto da minha vida ao lado de Eijirou sem nem mesmo pensar duas vezes.

-Aoi. - todos os pelos do meu corpo arrepiaram de forma bem negativa ao escutar aquela voz, fazendo um sentimento estranho percorrer meu corpo. Meu sorriso morreu a medida que eu me virava para fitar os olhos vermelhos de Tenko.

Tenko estava diferente de alguma forma, mais magro e parecendo ainda mais vazio do que era dois anos atrás. Uma parte de mim sentiu pena, mas agora eu sabia que não cabia a mim preencher a alma vazia de alguém, não da forma como eu passei anos fazendo com Tenko.

-Você está bonita. - ele disse, baixo, e eu apertei o copo de refrigerante com um pouco mais de força entre meus dedos, percebendo que Yaomomo havia ficado tensa ao meu lado. Tenko deve ter notado o clima ruim, pois deu um passo para trás, criando uma distância entre nós. Eu nem mesmo sabia que ele tinha voltado dos Estados Unidos, mas, bem, Izuku e ele eram amigos, então fazia sentido Tenko estar ali. Só não fazia sentido ter vindo falar comigo. -Olha, eu não quero brigar. - ele disse, erguendo as mãos em um sinal de rendição. -Eu só sinto muito a sua falta, Aoi.

-Acho que esse não é o momento pra isso. - Yaomomo disse o olhando intensamente. Tenko apenas torceu o nariz para ela, ignorando completamente Momo, o que apenas serviu para me irritar ainda mais. Ele sempre havia feito coisas do tipo com meus amigos e eu sempre havia deixado, mas agora, já bastava disso.

-É dia de Izuku e Ochako, não momento para conversarmos. - retruquei, me virando para me afastar dele. -Sabe que se tiver algo pra me falar sobre nossa empresa, pode me mandar e-mail.

Comecei a me afastar ao lado de Yaomomo, pois tudo o que eu menos precisava, era de um escândalo. Mas dei apenas um passo antes que Tenko segurasse meu pulso, me impedindo de continhar. Não com força, eu sabia, mas foi o suficiente para que memórias passadas me atingissem como um soco no estômago, fazendo com que eu puxasse meu braço com força para me afastar de seu toque.

-Não encosta em mim. - falei entredentes, vendo em seus olhos amargura disfarçada de arrependimento, como se ele achasse que tudo o que aconteceu entre nós fosse uma série de pequenos equívocos, e não a devastação completa que ele causou.

-Eu sei que cometi erros, Aoi. - começou, o tom irritante de como se eu fosse uma grande estúpida e uma criança mimada. -Mas eu mudei. Eu passei esses dois anos pensando em você, pensando no que tivemos. E percebi que ainda te amo, que ainda sinto sua falta.

Eu provavelmente não deveria, mas não consegui conter a risada sarcástica que escapou pelos meus lábios. Era tão ridículo que chegava a ser cômico.

-Você sequer se escuta falar? Às vezes acho que não. - retruquei, estalando a língua. -Resolvemos tudo o que tínhamos pra resolver dois anos atrás. Adeus, Tenko.

-A gente ia casar. Você consegue jogar isso no lixo fácil assim, por uma briga idiota? - ele retrucou, me olhando agora com irritação. Eu apenas pisquei os olhos. Não deveria dizer nada, mas...

-Briga idiota? - falei, minha voz baixa e mortal. Minhas mãos tremiam tamanha era minha irritação. -Você me bateu, porra. Você me deu um tapa na cara, como se eu fosse a porra de uma puta desgraçada. Ah, sim, eu consigo definitivamente jogar todos nossos anos no lixo, mas não se esqueça que você foi o primeiro a fazer isso.

Minhas palavras pareceram deixá-lo abalado, o que eu achava ótimo. Yaomomo nem mesmo parecia respirar ao meu lado, pois ninguém além de Eijirou e Katsuki sabiam o que Tenko havia feito comigo. E o jeito que minha amiga olhou para ele me fez ter ainda mais certeza que eu havia feito a coisa certa em deixá-lo.

-Você não me amava, nunca me amou, não de verdade. Você amava a ideia de me possuir, de ter controle sobre mim. Você nunca me viu como uma pessoa, apenas como algo que poderia moldar conforme seus desejos, e fazia isso muito antes de namorarmos, mas eu era tola e te amava demais para notar.

Ele estremeceu ao ouvir isso, seus olhos brilhando com algo que se parecia muito com dor, mas eu sabia que não era arrependimento genuíno. Era o orgulho ferido, o choque de perceber que ele já não tinha o poder que um dia exerceu sobre mim.

-Aoi, por favor... - Ele tentou se aproximar, mas eu dei um passo para trás, criando uma distância que ele nunca mais seria capaz de diminuir. -Eu sei que errei, mas eu posso mudar. Eu já mudei! Eu passei esses dois anos pensando em nós, repassando tudo o que fiz de errado. Eu me arrependo, de verdade. Me deixa mostrar que eu posso ser diferente, que eu posso ser o homem que você merece.

Havia um tom desesperado em sua voz agora, algo que antes ele jamais deixaria transparecer. Tenko, o orgulhoso, o controlador, estava começando a perceber que eu tinha finalmente escapado de sua influência. Mas ainda assim, ele tentava, como se uma parte dele realmente acreditasse que poderia me manipular de volta para seus braços.

Eu respirei fundo, tentando encontrar as palavras certas para acabar com aquela merda de uma vez por todas. Sabia que Kirishima e Katsuki estavam logo ali do lado, esperando o momento em que uma merda maior explodiria e daria aval para Katsuki finalmente fazer o que mais desejava desde de sempre: socar a cara de Tenko.

-Tenko, eu passei anos tentando te agradar, tentando ser a mulher que você queria. E, no final, tudo o que consegui foi sofrer. Eu me anulei para te fazer feliz, mas você nunca estava satisfeito, nunca foi suficiente para você. Eu achava que te amava, mas agora eu vejo que era apenas medo de te perder, de perder aquela versão distorcida de amor que você me oferecia ou a ideia que eu tinha criado sobre quem você era.

Ele balançou a cabeça, como se estivesse tentando negar minhas palavras, mas eu continuei, minha voz firme, carregada da convicção que me levou tanto tempo para encontrar.

-Você diz que mudou, mas a verdade é que você não consegue enxergar o que fez, o que nós éramos. Você jamais vai mudar. O que tínhamos não era amor, Tenko. Você me usou, sugou tudo de mim até que não restasse mais nada e ai, você me bateu. O que teria acontecido se tivesse me casado com você? Um dia, você me daria um tapa e pediria perdão? E ai depois, você me empurraria de uma escada e diria que eu tropecei? E depois você usaria sua individualidade pra me matar e diria pra todos que foi sem querer?

-Isso não é justo, Aoi, eu cometi um erro, mas jamais te machucaria! - Ele interrompeu, sua voz mais alta, carregada de uma frustração que eu sabia ser mais com ele mesmo do que comigo. -Eu te amava, Aoi! Eu ainda te amo! Eu só não sabia como mostrar isso. Eu estava perdido, mas agora eu sei o que preciso fazer para ser melhor. Para te fazer feliz!

A dor em seus olhos era quase palpável, e por um breve momento, eu senti uma pontada de pena. Ele parecia tão desesperado, tão perdido... Mas então, me lembrei do que eu passei, das noites em que chorei sozinha, das vezes em que me senti vazia, insuficiente. E percebi que aquela pena não era dele, era da garota que eu fui, da garota que se deixou quebrar por ele.

-Você não sabe o que é amor, Tenko. - Eu disse, minha voz agora suave, mas inabalável. -Amor não é sobre controle, sobre poder. Amor é sobre se importar com o outro, sobre querer o bem do outro, mesmo que isso signifique deixá-lo ir. Você nunca entendeu isso, e eu não acho que algum dia vá entender.

Ele ficou em silêncio, seus olhos azuis me encarando como se estivesse vendo algo pela primeira vez. Talvez ele estivesse começando a entender, ou talvez estivesse apenas tentando encontrar outra maneira de me manipular. Mas, para mim, isso já não importava mais.

-E ao contrário do que você pensa, eu sou feliz, e sei ser feliz sem você. Não se preocupe, eu tenho a pessoa certa ao meu lado, que me mostrou de diversas formas que eu nunca deveria aceitar o mínimo de alguém. E eu nunca mais vou aceitar a miséria que você tem a oferecer. Por favor, nunca mais me procure para algo além dos assunto da nossa empresa, Tenko. Passar bem.

-Então... é isso? - Ele perguntou, sua voz quase um sussurro. - Você vai me deixar assim? Depois de tudo o que passamos, de tudo o que eu fiz por você... você vai escolher outra pessoa?

Eu apenas suspirei, verdadeiramente cansada daquelas merdas. Ainda assim, apenas o fitei. E ele ficou ali parado, os ombros caídos, como se de repente tivesse percebido que tudo estava perdido. Por um momento, ele parecia mais velho, mais cansado, como se o peso de suas próprias escolhas finalmente tivesse caído sobre ele.

-É, Tenko. Sim, eu vou.

Não esperei por uma resposta antes de segurar a mão de Momo e a puxar para longe, vendo a expressão de Katsuki cheia de raiva e Eijirou completamente apreensivo. Acho que a tensão só se dissipou quando me aproximei, segurando a mão de Kiri com carinho na minha. Ele analisou meu rosto com atenção, como se procurando algo fora do lugar, e eu sabia que Tenko estava nos observando. Mas não me importei; a verdade é que, por mais incrível que pudesse parecer, eu me sentia bem. Aquele era o fechamento que eu precisava.

Por isso, apenas abracei Eijirou com força e sorri. Senti os lábios dele contra minha testa, me dando beijos suaves que apenas ele sabia como dar enquanto suas mãos deslizavam pelas minhas costas, me apertando com carinho contra si, como se quisesse me proteger do mundo intero, mas ao mesmo tempo soubesse que eu poderia me cuidar muito bem sozinha.

-Amo você, Aoi. - ele disse, baixinho, quase num sussurro, sua voz cheia de orgulho. Se por eu ser sua namorada ou por eu ter enfrentado Tenko, não sabia dizer, mas supunha que não importava enquanto eu fitava os olhos escarlate de Eijirou e sorria.

-Eu também amo você, Eijirou. - sussurrei. E aquele era o sentimento mais sincero que existia dentro de mim.

Durante anos, me questionei o que deveria ser amor e o que ele significava de verdade. Era confuso e era difícil dizer se o que Tenko e eu tínhamos era real, eu nunca soube de verdade se aquilo era o que deveria ser um casal de verdade. Mas Eijirou me provou o quanto eu estava errada e não poupou esforços para fazer eu me sentir amada e desejada. E eu sempre seria grata a ele por tudo o que havia feito por mim.

Por um instante, apenas olhei para o fio vermelho que me conectava eternamente a alma de Eijirou e sorri. Não importava quantas vidas se passassem, eu sempre estaria ligada a ele, e sei que também sempre o amaria. Acho que até mesmo em outras realidades, sempre acharia um jeito de voltar aos braços de Eijirou Kirishima.

boa tarde povo
bonito! tudo bem
com vocês?
espero que sim!


depois de 18319 palavras,
chegamos ao fim do especial
mais CAÓTICO e GRANDE que
eu já escrevi, apenas para
provar que independentemente,
Aoi e Shigaraki NÃO dariam certo
juntos. me deu uma puta gastura
escrever esse casalzinho nojento,
que pesadelo

eu ia acabar esse especial com
a Aoi terminando com ele, mas
precisava pelo menos
um momento dela com o
Kirishima pra fazer uma desintoxicação depois de
tanto chernobyl que é
Aoi e Tenko, bleeeh

enfim, espero que tenham
gostado dessa realidade
alternativa e que tenham
matado a saudades da
Aoi assim como eu matei
S2

passei diaaaas
escrevendo essa bomba,
então comentem
o que acharam :(
quem sabe não
venho aqui de novo um
dia?

bjs na bunda
~Ana

Data: 16/08/24

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