Capítulo 23: Jantar de gala
REBECA POV:
O dia do jantar de encerramento das campanhas beneficentes chegou mais rápido do que imaginei. Com Daniel fora, a casa parecia mais silenciosa, mais leve, mas eu não conseguia me sentir completamente em paz. Os ecos das últimas palavras dele ainda estavam bastante vivos dentro de mim. O jeito que ele me insultou, que ele falou da nossa falecida filha, a forma como ele lançou aquele copo de vidro contra a parede, provavelmente com o intuito de me acertar... tudo aquilo ainda martelava na minha cabeça.
Cada canto daquele apartamento pareceu reter uma parte do que houve naquela noite, mas eu me esforçava para afastar aquelas lembranças ruins. O jantar de encerramento das campanhas hoje seria uma oportunidade de voltar para a superfície, respirar um pouco e lembrar que ainda havia algo belo e significativo na minha vida que não me fazia desistir de tudo. Robert.
Passei a tarde no quarto, experimentando vestidos e tentando me achar bonita em algum deles. Não era fácil ter uma boa autoestima quando meu esposo sempre fez questão de me colocar para baixo ao me ver com aquelas roupas.
Quando finalmente me decidi por um longo vestido verde-oliva, me olhei no espelho por um longo tempo. Havia algo nos meus olhos que eu não reconhecia. Cansaço, talvez. Ou algo mais profundo, como se uma parte de mim estivesse à beira de um colapso mental irreversível.
Balancei a cabeça, afastando meus pensamentos melancólicos, e desci até a garagem do prédio para pegar o carro de Daniel e dirigir até o hotel onde ocorreria o jantar.
Preferi ficar com as janelas abertas durante o trajeto, o vento fresco e a música calma que tocava no rádio me faziam ficar um pouco mais tranquila.
No salão, as luzes eram deslumbrantes. Lustres de cristal lançavam reflexos cintilantes em todas as direções, e o som das risadas e conversas preenchia o espaço. Pessoas bem vestidas desfilavam com taça de champanhe nas mãos, cumprimentando umas às outras com sorrisos polidos.
Eu entrei no lugar tentando parecer segura de mim mesma, mesmo que por dentro eu sentisse meu coração dilacerado. Passei por várias pessoas que eu conhecia no hospital, todas me dando tapinha nas costas e elogiando meu trabalho nas campanhas. Eu apenas sorria e agradecia, como um comportamento automático. Mas meu olhar o procurava.
E então, como se o meu desejo o tivesse invocado, lá estava ele.
Robert estava parado perto de uma das mesas, com um sorriso amigável enquanto conversava com um grupo de pessoas da ONG. Ele usava um terno preto perfeitamente ajustado e seu cabelo estava impecavelmente desgrenhado e sexy, como sempre.
Quando nossos olhos se encontraram, ele sorriu de um jeito que parecia reservado para mim. Robert não perdeu tempo, assim que me viu, inventou alguma desculpa para encerrar a conversa e veio em minha direção, seu sorriso perfeito já me desarmando antes mesmo de dizer qualquer coisa.
— Rebeca. — Ele fez uma pausa, olhando-me de cima a baixo. — Você tá... incrivelmente bonita. Parece que se supera cada vez mais.
Senti minhas bochechas ficarem vermelhas com seu elogio e ri, porque era a única coisa que conseguia fazer sob aquele olhar.
— Obrigada, Rob.
— Cadê o seu marido? Qual foi a desculpa pra ele não aparecer hoje? — Ele perguntou com um tom de ironia. — Não que eu esteja reclamando da ausência dele.
— Precisou ir à um Congresso de medicina em Frankfurt. Deve passar uma semana por lá, ou mais.
— Que conveniente. — Robert revirou os olhos. — E você? Tá aproveitando esse momento de paz longe dele?
— Tô tentando. — Admiti. — Não tivemos uma conversa muito agradável antes dele viajar.
— Você quer falar sobre isso?
— Agora não... pra ser sincera, no momento eu tô afim de encher a cara com um bom vinho.
— Posso te ajudar com isso.
Robert fez um sinal para um garçom que passava com uma bandeja repleta de taças de vinho tinto. Ele pegou duas e me entregou uma, sorrindo como se dissesse "vamos começar".
— Não que eu seja um grande incentivador de resolver os problemas bebendo, mas considerando esse contexto... acho que merecemos. — Ele ergueu a taça em um brinde informal.
— Pelo que estamos brindando? — Perguntei curiosa.
— A uma noite sem preocupações.
Levantei minha taça, encontrando os olhos azuis de Robert antes de brindar.
— Uma noite sem preocupações é algo que eu preciso desesperadamente. — Sorri de canto, dando um gole generoso do vinho.
— Que bom que concorda. — Ele respondeu, também bebendo um gole do seu vinho. — Você merece um descanso.
— Às vezes é estranho, sabe? Acho que já tô tão acostumada com o caos que uma noite de paz parece até... errada.
— Pelo menos você tem alguém que pode te mostrar como aproveitar a calmaria.
Robert deu um sorriso torto, que sempre desmontava minhas defesas.
— Você acha que seria esse alguém? — Perguntei, o tom de brincadeira tingindo minha voz.
— Não acho, Rebeca. Eu sei que sou.
— Você é tão modesto.
— Modéstia é meu sobrenome. — Ele disse se gabando. — Sabe como eu sei que sou a pessoa certa pra lhe fazer relaxar?
— Como você sabe?
— Porque... — Robert se aproximou do meu ouvido e emitiu um sussurro que me fez ficar arrepiada. — Sou o único que consegue te fazer gozar gostoso igual naquela noite na casa do Bobby.
— Achei que tivesse esquecido disso.
— Impossível esquecer... lembro do seu gemido até hoje. Quero ouvir de novo...
— Rob... você não devia... — Dei um sorriso tímido.
— Não devia o que? — Robert me interrompeu com um sorriso provocador brincando em seus lábios. — Falar sobre isso? Ou lembrar o quanto foi bom?
— Aqui não é hora, nem lugar, Rob. — O rubor em minhas bochechas ficou ainda pior.
— Adoro te deixar assim, toda envergonhada, com essas bochechas vermelhas.
— É, você é ótimo nisso.
A tensão sexual estava no ar. Ele estava tão perto que dava para sentir a nossa energia vibrando. Mas, de repente, alguém se aproximou para interromper o momento. Foi quando eu lembrei que havia pessoas ao nosso redor, e não estávamos sendo muito discretos.
— Robert, está na hora do seu discurso. — A voz de um dos organizadores do evento cortou o clima como um balde de água fria no nosso fogo.
Ele me olhou, um pouco frustrado por ter que cortar a nossa conversa, e se afastou lentamente.
— Desculpa, vou voltar logo. Não desapareça, ok?
— Estarei aqui.
Quando Robert se virou para seguir até o palco, eu fiquei ali, com a taça de vinho nas mãos, observando-o com admiração e curiosidade para saber com ele havia preparado para falar naquela noite.
O salão, já animado, estava se aquecendo com a expectativa do discurso. As pessoas se acomodaram em seus lugares, e eu me vi sozinha, mas não sentia solidão. Ao contrário, havia uma sensação de conforto, pois sabia que em breve Robert voltaria para mim.
Ele subiu ao palco, com toda a sua elegância e charme, e ajustou o microfone na altura de sua boca. Quando começou a falar, sua voz estava firme e clara, carregada de uma confiança que envolvia o público a cada palavra.
— Boa noite a todos. É uma honra estar aqui nesse evento tão importante para nós, especialmente para as crianças que se beneficiaram com o trabalho que a Go Campaign realizou em parceria com o hospital do doutor Daniel. Os investimentos dele foram... de suma importância para que todo esse projeto se concretizasse.
Robert fez uma pausa breve, como se estivesse se preparando para falar algo.
— Hoje, infelizmente, o doutor Daniel não pode estar conosco por causa de um compromisso de trabalho. No entanto, é com grande prazer que posso dizer que todos aqui presentes testemunharam o impacto dessas campanhas beneficentes. Não é apenas sobre os números ou os fundos arrecadados, mas sobre a diferença real que conseguimos fazer na vida de tantas crianças que necessitam de cuidados especiais. E isso é algo que nunca seria possível sem a dedicação de profissionais como a doutora Rebeca. — Ele mencionou meu nome de forma tão natural que eu congelei por um segundo. — Eu, pessoalmente, tive a honra de trabalhar ao lado dela e posso dizer, com toda certeza, que ela é uma das pessoas mais brilhantes que eu já conheci.
Minha garganta secou no instante em que ouvi meu nome sair de sua boca. O salão, repleto de pessoas bem vestidas e olhares atentos, alguns até desconfiados, parecia encolher ao meu redor e me deixar sem ar.
Cada palavra de Robert parecia se dirigir não apenas ao público, mas diretamente a mim. A menção à minha "dedicação" e "brilhantismo" não era apenas um elogio profissional, era uma confissão embutida em um discurso formal.
Ele prosseguiu, enquanto meu coração batia forte como tambor.
— Não é apenas o talento dela como médica que me impressiona, mas sua humanidade. A maneira como ela lida com as pessoas, como se cada vida fosse a mais importante do mundo, é algo que me inspira. Rebeca, você não apenas ajudou a fazer dessas campanhas um sucesso. Você tocou vidas de uma forma que poucos conseguem. Eu e minha filha somos testemunhas disso.
Meu rosto queimava, e eu podia sentir os olhares se direcionando para mim. Alguém na mesa ao lado murmurou algo como "eles estão juntos?" Foi aí que minha cabeça voltou a ficar um caos.
As palavras de Robert, por mais belas que fossem, ecoavam em meus ouvidos com certo peso. E, por trás disso tudo, a sombra de Daniel pairava como uma ameaça constante. Ele havia sido bem claro antes de viajar. "Se você e Robert ficarem próximos demais, eu saberei."
Respirei fundo, tentando dissipar o pânico que crescia dentro de mim. O que meu esposo poderia fazer se soubesse daquele discurso tão... íntimo? Ele já estava desconfiado, e agora parecia que Robert tinha colocado mais lenha na fogueira. Mas eu não o culpava, é claro.
Sem me dar conta, minhas mãos começaram a tremer e suar. Eu precisava de ar. Então, levantei-me, sem chamar muita atenção, e caminhei em direção à saída para o terraço do hotel, ignorando os olhares curiosos que me perseguiam.
O ar gelado da noite de início de inverno me envolveu assim que abri a porta. Apoiei-me no parapeito do terraço, tentando controlar inutilmente as batidas do meu coração. Lá fora, a vista era bonita, as luzes da cidade brilhavam como estrelas terrenas, mas mesmo esse espetáculo não conseguia acalmar o turbilhão de sentimentos que borbulhavam dentro de mim.
— Amor? — A voz de Robert me chamou, me fazendo virar bruscamente.
— O discurso já terminou? — Minha voz estava trêmula.
— Sim. — Ele se aproximou e me abraçou levemente por trás. — Você saiu antes de terminar. Tava tudo bem?
— Sim... eu só precisava de ar fresco.
— Foi algo que eu disse? — Robert beijou meu ombro com carinho.
— Não, é claro que não. Você foi incrível lá dentro.
— Mas?
Suspirei. Não adiantava tentar mentir para ele. Apesar de convivermos por apenas três meses, parecia que Robert me conhecia mais do que eu mesma.
— Daniel tá desconfiando de nós, Robert. — Falei de uma vez. — Naquele dia... que tiramos aquela foto junto com a Ellie... ele viu e surtou.
— Como assim "surtou"? — Seus braços me envolveram com mais firmeza, como se quisesse me proteger naquele momento.
— Tivemos uma briga feia... ele quebrou coisas... gritou comigo... me xingou. — As lágrimas caíram dos meus olhos.
— Ah, amor... eu sinto muito.
— E ele disse que se a gente se aproximasse no jantar, ele saberia... eu tô com tanto medo, Rob.
— Se eu soubesse disso, não teria feito aquele discurso todo te enaltecendo.
— Não foi culpa sua. — Me virei para ele, fixando meus olhos nos seus. — A culpa é de qualquer um, menos sua.
— Eu não quero te causar problemas... eu nunca me perdoaria se algo ruim te acontecesse.
— A gente sabia que seria complicado.
— Você me disse uma vez... que se Daniel desconfiasse de nós dois, era pra eu sumir da sua vida. Você ainda quer isso? — Ele travou o maxilar, uma expressão que parecia de dor.
A pergunta de Robert pairou no ar como uma nuvem densa. Eu sabia a resposta. Sempre soube.
— Rob... — Sussurrei, virando o rosto para longe dele.
— Não faz isso. Não fuja de novo. — Robert segurou meu queixo, forçando-me a olhá-lo. — Me diz... o que você quer?
— Eu quero você. — Falei a mais pura verdade. — Mas também não quero viver com medo... com medo de te prejudicar... com medo de me machucar.
— Me deixa cuidar de você. Só por hoje. Esquece o Daniel, esquece o medo, esquece tudo o que ele pode fazer. Esquece tudo, meu amor, e vem comigo.
— E se ele descobrir? — Engoli seco.
— Não vai. Ele tá a milhares de quilômetros daqui, ele só falou tudo aquilo pra te chantagear. E se algo der errado, eu vou te proteger. — A intensidade do seu olhar me intimidou. — Vamos... só uma noite. Sem preocupações. Sem medo. Só eu e você.
Se eu fosse racional, teria negado aquele pedido. Mas meu lado passional me fazia esquecer das consequências dos meus atos. O que eu mais queria naquele momento era me sentir viva. E Robert era a única pessoa no mundo que conseguiria me proporcionar isso.
— Tá bom. — Respondi baixinho. — Eu vou com você.
Robert deu um sorriso largo que me iluminou por dentro. Então, ele segurou minha mão e entrelaçou os dedos nos meus.
— Vamos sair daqui.
— Agora? — Perguntei, a adrenalina correndo pelas minhas veias.
— Agora.
— Pra onde vamos?
— Pra minha casa.
E, com isso, ele começou a me guiar para longe do terraço. Cada passo que eu dava ao seu lado parecia me afastar das sombras que me assombravam.
Enquanto descíamos pelo elevador e saíamos pela porta dos fundos do hotel, evitando qualquer paparazzi, as luzes da festa ficavam para trás.
Naquela noite, eu sabia que, pela primeira vez em muito tempo, eu não estaria sozinha, e seria amada como sempre desejei.
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