Capítulo 21: Família de comercial
REBECA POV:
Depois da campanha beneficente do Halloween, novembro passou a ser um turbilhão de eventos, cada um mais significativo que o outro. A parceria entre a Go Campaign e o hospital trouxe uma série de novas campanhas.
Apesar do ritmo intenso, esses momentos compartilhados com Robert tinham se tornado o ponto alto das minhas semanas. Estar ao lado dele, mesmo com toda a tensão e o medo de sermos flagrados, fazia cada dia valer a pena.
Tudo tinha se tornado ainda mais complicado com tudo o que aconteceu na casa de Bobby. Eu não conseguia parar de pensar naquele momento por um único segundo sequer. Eu me lembrava da sua língua me explorando, do jeito que ele olhava sedento para mim, do seu toque quente... aquelas lembranças me faziam ansiar por mais e mais daquele homem.
Hoje iríamos no ver novamente, em mais uma campanha. Graças a Deus, Daniel não estaria presente por conta de divergências na sua agenda. Seria um evento a céu aberto em um parque próximo ao hospital. Robert levaria sua filha, a qual eu só tive contato uma única vez, confesso que estava um pouco nervosa para vê-la de novo.
O céu estava limpo, e o parque parecia acolhedor naquela manhã. As barracas coloridas já estavam montadas, e o som de risadas infantis ressoavam pelo lugar.
Cheguei mais cedo que o habitual para ajudar com os preparativos e também para ter um momento de calma antes de enfrentar o dia: crianças, atividades, e... Robert e Ellie.
Assim que me aproximei do local, avistei Ana em uma das barracas organizando os brindes. Ela segurava uma prancheta enquanto conferia os materiais, sua expressão focada como sempre. Quando ela me viu, logo abriu um sorriso.
— Oi, chegou cedo. — Nos abraçamos rapidamente.
— É... eu queria ajudar antes do evento começar.
— Ótimo, porque aqui tá uma bagunça. — Ana ergueu a prancheta e apontou para uma pilha de sacolas coloridas. — Preciso montar esses kits com os brindes, mas ainda tô tentando entender a lógica disso.
— Me deixa ver... — Peguei a prancheta e analisei a list. — Ah, parece que cada sacola precisa ter um livrinho, um quebra-cabeça e um brinquedo.
— Hum... isso explica porque eu tenho dois quebra-cabeça sobrando numa sacola e nenhum brinquedo em outra. — Minha melhor amiga revirou os olhos com um sorriso divertido.
— A gente resolve isso juntas. — Sentei ao lado dela e começamos a organizar as coisas.
Enquanto montávamos os kits que seriam distribuídos para as crianças, eu não parava de olhar para os lados, ansiosa para ver Robert logo, e Ana parece ter percebido.
— Ele já deve tá chegando, não precisa ficar tão inquieta. — Ana sorriu.
— Eu deixo transparecer muito, não é?
— Pra caramba, amiga.
— Tenho que conter mais minhas emoções, daqui a pouco alguém pode começar a desconfiar de nós dois. Se alguma coisa chegar no ouvido do Daniel...
— Ei, relaxa. — Ela disse enquanto fechava mais uma sacola. — Todos estão ocupados demais com as campanhas pra reparar em alguma coisa. E, sinceramente, vocês também são discretos demais.
— Discretos? — Levantei uma sobrancelha. — Você percebeu, não percebeu?
— É porque eu te conheço a anos. Sei ler você como ninguém. — Ana deu de ombros.
— Tá ficando cada vez mais difícil de esconder as coisas... ainda mais depois do que aconteceu no Halloween.
— Halloween? — Ela arqueou a sobrancelha, agora claramente interessada. — O que houve no Halloween?
— Nada demais... — Tentei disfarçar, focando minha atenção no kit.
— Rebeca... — Ana cruzou os braços, me lançando um olhar curioso. — Não vem com essa. Eu quero detalhes.
— A gente quase... — Suspirei. — Quase aconteceu, sabe?
— Quê? — Minha melhor amiga arregalou os olhos. — Tipo... vocês dois?
Assenti com a cabeça, mordendo o lábio inferior para não sorrir com a memória de Robert usando sua língua para me satisfazer.
— Meu Deus! Me conta tudo!
— Ai, amiga, foi tão... natural. Não sei explicar ao certo como começou. Só sei que uma hora a gente tava conversando sobre coisas da vida e no minuto seguinte ele estava... usando a língua em mim.
— E como foi?
— Me senti no céu... acho que nunca gozei tão rápido.
— Sua safada! — Ana riu.
— Você disse que queria detalhes.
— Imagino que, depois disso tudo, se tornou ainda mais difícil ir pra cama com o Daniel, não é?
— Difícil? — Dei uma risada seca. — Difícil é pouco... depois do Robert, eu mal consigo olhar na cara dele sem sentir ainda mais repulsa.
— Você precisa se livrar dele. — Ana sugeriu. — Não dá pra ficar nesse meio termo pra sempre, Rebeca.
— Você fala como se fosse tão simples...
— Não tô falando que é simples, mas você não pode permanecer nessa relação abusiva. Por mais que você não me conte de forma explícita as coisas que rolam dentro do seu casamento, eu sei muito bem o que ele faz com você, e você precisa denunciar.
— Acha que eu nunca pensei nisso? — Falei baixo. — Todo dia meu sonho é acordar e ver que o Daniel tá na cadeia, bem longe de mim.
— E o qual é o impasse pra isso acontecer?
— Ele tem esquema, Ana. — Tentei falar ainda mais baixo, quase cochichando. — Daniel é um dos médicos importantes de Los Angeles. Como você acha que ele conseguiu tudo isso? Meu marido tá envolvido com os políticos, com a polícia... com Deus e o mundo. Uma denúncia minha seria completamente inútil.
— Eu não sabia disso... eu sinto muito. — Ana tocou em meu ombro.
— E isso só é a ponta do iceberg... com certeza ele deve tá envolvido em várias outras coisas que eu não tenho nem ideia.
— Bom... pelo menos agora você tem o Robert pra te proteger.
— É... só não sei por quanto tempo.
Antes que pudéssemos continuar a conversa, uma voz familiar interrompeu o momento. Assim que olhei para trás, vi Robert vindo em nossa direção, acompanhado da sua filha e de Bobby.
— Nossa... quem é aquele gatinho ali do lado do Robert? — Minha amiga perguntou.
— Ah, aquele é o Bobby, é um amigo de infância do Rob.
— Hum... e ele é solteiro?
— Até onde eu sei, sim. — Não contive um riso.
Robert finalmente se aproximou, com Ellie segurando sua mão e Bobby logo ao lado. Eles pareciam estar conversando sobre algo trivial, mas assim que chegaram perto, Robert lançou um sorriso diretamente para mim, aquele sorriso que sempre fazia meu coração bater mais forte.
— Bom dia, doutoras. — Ele nos cumprimentou com um abraço breve, demorando um pouco mais quando foi me abraçar.
— Bom dia. — Respondi. — Bobby, o que faz aqui?
— Ah, eu tava sem nada pra fazer e o Robert me arrastou pra cá. Se ele tivesse me dito antes que haveria mulheres lindas aqui, eu nem teria hesitado em vir. — Seu olhar mirou em Ana.
— Você veio pra ajudar ou pra dar em cima das pessoas? — Robert lhe deu um pequeno soco no ombro.
— Talvez os dois. — Ele ergueu as sobrancelhas de maneira sugestiva. — Sou o Bobby.
— Prazer, Ana. — Ela deu um sorriso lateral enquanto o cumprimentava.
Ellie, que observava tudo com um olhar curioso, puxou levemente a mão do pai.
— Papai, vamos ir naquela barraca? — A menina perguntou com a voz doce enquanto apontava para uma das tendas onde as crianças saíam com os rostos pintados.
— Vamos sim, amor. — Robert riu baixinho. — Você quer se pintar de que?
— Quero pintar uma borboleta na minha bochecha.
— Aposto que vai você vai ficar linda. — Comentei, tirando um sorriso tímido dela.
— Você também pode vir, tia Rebeca. Eu posso pintar uma borboleta e você pinta uma flor, assim a gente fica combinando.
— Acho que seria ótimo.
— Então vamos logo! — Ela segurou a minha mão e a mão de Robert, nos arrastando até a barraca.
— A gente se vê daqui a pouco. — Falei com Ana enquanto me afastava.
Ao chegarmos na tenda, umas das voluntárias, uma jovem com cabelos lisos presos em um coque firme, nos recebeu com um sorriso caloroso.
— Bom dia, família! O que vamos fazer hoje?
Ellie foi a primeira a responder, sua empolgação transbordando.
— Quero fazer uma borboleta bem grande e colorida! Com as asas de todas as cores!
A voluntária riu, ajustando o avental sujo de tinta enquanto se preparava.
— Uma borboleta bem colorida? Acho que consigo fazer a mais linda de todas. E vocês, o que vão querer? — Ela olhou para mim e para Robert com expectativa.
— Quero fazer uma flor pra combinar com ela. — Respondi.
— E você, pai?
— Ah, não... eu tô bem.
— Por favor, papai, pinta o rosto com a gente!
Robert olhou para Ellie, com uma expressão de dúvida, tentando resistir, mas não demorou muito até seu rosto de suavizar ao ver o brilho nos olhos dela. Ele suspirou, rendido.
— Tá bom... você me convenceu.
Ellie aplaudiu e pulou no seu lugar, a felicidade quase não cabendo dentro de si.
A mulher então se aproximou com os pincéis e as tintas, começando com a pintura de borboleta no rosto da filha de Robert. Nós dois nos acomodamos em umas cadeiras de madeira a alguns metros de distância, esperando a nossa vez e reparando em como a pequena Ellie estava se divertindo.
— É incrível como você chegou na nossa vida a pouco tempo e já tá até criando memórias afetivas com ela. — Robert disse.
Olhei para ele, surpresa com a profundidade da sua observação.
— É um prazer. — Respondi. — A Ellie é uma criança tão pura, tão cheia de vida que faz qualquer pessoa sentir vontade de estar perto dela... acho que ela deve ter puxado pro pai nesse aspecto.
— Sua presença na vida dela pode ser bom, ela pareceu gostar bastante de você. Além disso, por mais que eu tente ao máximo ser um pai presente, a Ellie também precisa de uma figura feminina, já que a mãe dela sempre tá longe.
— O que ela faz da vida mesmo?
— A Suki é cantora, então ela sempre tá em turnê ou coisas do tipo.
— Acho que nunca ouvi nenhuma música dela. — Dei de ombros.
— Você não tá perdendo muita coisa. — Robert riu em um tom de brincadeira, mas logo depois se corrigiu. — Não é que ela não tenha talento, mas confesso que algumas músicas são um pouco... genéricas.
— Fico pensando o que deve passar na cabecinha da Ellie... — Olhei para a menina, que estava com o rosto radiante e com uma borboleta enorme estampada na bochecha esquerda. — Crescer com uma mãe que sempre está pra lá e pra cá não deve ser fácil.
— É... é complicado. — Robert suspirou, seus olhos focados em Ellie. — Ela sente falta da mãe, mas nunca reclama. Sabe que Suki a ama de um jeito... próprio, mas acaba se distanciando por conta do trabalho. O que às vezes me obriga a ser "mãe e pai" ao mesmo tempo, sabe?
— Você dá o seu melhor. — Segurei e acariciei sua mão com carinho, sem me importar com quem estava perto. — Isso é tudo o que ela precisa.
— Pelo menos agora eu e ela podemos contar com você, não é? — Ele sorriu e alisou minhas costas.
— Sempre vou estar aqui. Não vou a lugar algum.
— Papai! — Ellie correu até nós com o rosto todo pintado. — Olha como eu tô linda!
— Ficou ótimo, meu amor. — Ele afagou os seus cabelos loiros.
— Agora é a vez de vocês!
— Tudo bem, mocinha. Vamos lá.
A voluntária começou fazendo a pintura em meu rosto, desenhando uma flor cheia de cores perto do meu olho, combinando com a borboleta de Ellie. Depois foi a vez de Robert, que foi cobaia de uma pintura de tigre.
Ellie e eu sempre ríamos das caretas que ele fazia quando o pincel tocava em seu rosto e o fazia sentir cócegas.
Quando finalmente ficamos prontos, a voluntária pediu para que tirássemos uma foto, para publicar nas redes sociais da Go Campaign, e Robert não hesitou nenhum momento.
Eu me posicionei do lado esquerdo, Robert no direito e Ellie no meio. Assim que a mulher terminou de ajustar a câmera, nós demos um largo sorriso e o flash invadiu nossos olhos.
— Prontinho! Vocês três ficaram ótimos, parecem até a família perfeita daqueles comerciais de TV.
Ouvir aquele comentário tão inocente fez um calor subir pelo meu peito. Não por desconforto, mas algo próximo a uma mistura de alegria e melancolia. Família perfeita. Era uma frase simples, mas era algo que eu nunca imaginei ouvir em relação a mim, não depois de tantos anos vivendo uma realidade tão distante disso.
— Parece que somos um time incrível, não é? — Robert disse com um tom leve e um olhar de cumplicidade.
— Acho que sim. — Respondi, sentindo uma onda de pertencimento que há muito tempo eu não experimentava.
Por um momento, era como se todo o resto, os problemas, os medos, os segredos, não importassem. Nós três, juntos, éramos uma unidade, mesmo que apenas naquele instante.
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