36. Na hora certa
Michelle Evans
Ter um gene que pode te fazer ter câncer não é o tipo de coisa que agrada. Ver sua mãe em um tratamento de câncer de mama é horrível e eu não fui a melhor filha para ela, deveria ter ficado mais com minha mãe e cheguei a ficar com ela enquanto ela se recuperava da cirurgia. Entretanto, quando ela começou a quimioterapia, eu não aguentei. Sempre que via minha mãe vomitando porque sentia os efeitos adversos da quimioterapia ou ficava com febre e tremores eu ficava chorando. não sabia como lidar com aquilo. Eu não consegui lidar com aquilo e mamãe percebeu, ela disse que eu deveria ir com Tyler para Londres.
"Você sempre gostou de lá, vou ficar bem, sua tia vai ficar comigo nesse tempo."
Tia Cristina ficou, ajudou minha mãe e eu comecei a visitá-la quando ela estava dormindo, às vezes passava a noite no hospital com ela porque sentia vergonha de tê-la abandonado de não ter sido capaz de ser forte para cuidar e estar ao lado dela naquele momento. Agora, as coisas estão melhores, minha mãe terminou a quimioterapia e está curada. Livre do câncer, bem e se recuperando dos efeitos da doença e do tratamento. Só que eu ainda sinto medo, eu tenho o gene. Não significa que eu vou desenvolver a doença, apenas que eu tenho mais predisposição de ter. Tenho um histórico familiar, a minha avó morreu de câncer, Tia Cristina preferiu remover a mama e o ovário e induzir a menopausa quando trinta anos para se proteger e vem funcionando, afinal ela está bem. E, a minha mãe teve câncer de mama, enquanto a mim, bem, eu tenho o gene.
É difícil para mim, eu tenho vinte e dois anos e sei que o fator genético é forte na minha família por parte de mãe. Talvez eu desenvolva e tenha essa doença também, mas quando vi minha mãe doente eu me assustei. Ignorei o que carrego em meu corpo, porque admitir isso é doloroso. Sou jovem, tenho sonhos e não quero parar porque eu posso estar desenvolvendo um tumor. Não quis me negligenciar, mas enquanto vi minha mãe em tratamento, simplesmente não consegui fazer o exame de prevenção. Sentia medo de estar com câncer ao mesmo tempo que ela.
Ignorei isso por dois anos, preferi não contar para ninguém. Apenas mamãe sabe, agora Harry também. Então, omitir esse detalhe já não parece mais possível. Muito porque quando chegamos no seu apartamento ele estava com uma carranca no rosto e parecendo que ia fazer um sermão. Ele estaria certo em fazer isso, porque eu sei que errei.
— Pode falar — digo e deixo minha bolsa em cima da mesa. Harry não me olha e pega uma garrafa de vinho na pequena adega que ele colocou na parede entre a sala de jantar e a sala. — Fala alguma coisa.
Silêncio. Respiro fundo.
— Ter o gene não significa que eu vá desenvolver alguma coisa — eu falo, o moreno pega a taça de vinho e abre a garrafa.
— Dois anos sem fazer um exame de prevenção Michelle — diz bravo. Suspiro e ele nega com a cabeça. — Entendo que você deve ter ficado com medo, mas você não pode se negligenciar assim.
— Eu fiquei assustada — falo e me aproximo dele. — Tinha vinte anos quando vi minha mãe quase morrer e quando descobri que eu tenho o gene, eu fiquei apavorada.
O moreno me olha e toca minha mão. Não iria pedir desculpas a ele sobre isso, não iria me desculpar com ninguém, para ser sincera. Não carrego arrependimentos sobre isso, eu realmente me assustei e quis me privar. Não quis deixar com que o medo me dominasse e soube que naquele momento se eu ficasse fazendo o exame de prevenção, poderia me aprofundar ainda mais no medo e estaria tudo acumulado com o fato de ver minha mãe doente. Já estava assustada o suficiente pensando que perderia meus pais com vinte anos. Não queria ter mais nenhum motivo para que ficasse com mais medo de perder tudo. Sei que errei por não ter feito o exame, de não estar indo corriqueiramente a um médico para avaliações e para me monitorar. No entanto, não me arrependo disso.
— Tudo bem, o importante é que agora você vai fazer o exame — fala com certeza como se eu tivesse marcado o médico. Nunca disse que iria fazer, Harry quem vem falando isso. — Não vai?
— Se você está dizendo.
— Michelle.
— O que? Você disse que eu vou fazer — dou de ombros e ele bufa. — Então vou fazer.
— Você tem que fazer porque é o certo e não porque eu estou mandando. Esse é o ponto.
Fico calada. Não queria discutir e isso nem é algo que vale a pena ser rendido. Harry segura minha cintura.
— Desculpa — pede e beija minha bochecha. — Não quis soar como se estivesse mandando, muito embora, eu devesse fazer isso mesmo. Câncer é uma doença séria, Chelly.
— Eu sei que é — murmuro e olho para o Harry. — Por isso me assustei.
O moreno acena com a cabeça e beija minha testa.
— Se quiser, posso ir com você — fala, beija meu nariz, meu rosto e meus lábios. — Mas vai, ok?
Aceno com a cabeça e beijo Harry. Deixo minha mão no seu cabelo, ele agarra minha cintura e movemos nossos lábios. Imediatamente sinto meu coração acelerar, é apenas prazer em estar beijando ele dessa forma. Logo, as coisas se aquecem, se tornam excitantes e Harry me põe sentada em cima da mesa.
— Harry... — murmuro ofegante.
— Hm? — ele beija meu pescoço e começa a descer seus lábios em minha pele me fazendo arrepiar.
— Eu te amo — digo e o moreno beija meu queixo. — Mandão carrancudo — resmungo e ele sorri contra minha pele. Sorrio também e ele desce os lábios para meu pescoço.
— Eu amo você, Chelly.
Uma semana depois...
As festas de final de ano fizeram com que o trabalho no buffet fosse agitado. Temos trabalho todos os dias da semana, até o dia 24 de dezembro, onde Rosane e eu decidimos não trabalhar na véspera do natal e nem no dia de natal. Ainda estamos pensando se iremos prolongar essa folga até o segundo dia do próximo ano que vem chegando. E talvez realmente façamos isso, porque a margem de lucro do buffet está alta e permite dias de folga.
Além disso, com o ensaio fotográfico que fiz para a marca de Frankie, consegui me tornar a segunda proprietária do buffet e me senti radiante com isso. Rosane é uma pessoa ótima para trabalhar junto e fazemos uma boa parceria. As coisas estão indo para frente e sinto que talvez eu consiga abrir meu próprio restaurante e a loira com quem trabalho pensa em abrir um salão de eventos que ficará acoplado ao buffet. Isso seria fantástico e com toda certeza já é uma meta para o próximo ano.
As coisas estão acontecendo como devem acontecer e no momento certo. Para mais, andei pensando em fazer um curso sobre administração e contabilidade, afinal, nunca fiz faculdade e agora que sou dona de um estabelecimento preciso aprender sobre tudo isso, é uma responsabilidade enorme e sinto que preciso de uma formação melhor para continuar levando tudo isso para frente. Para conseguir realizar meus sonhos pelo qual venho trabalhando duro.
No entanto, hoje, pelo menos nesta manhã, posso apenas respirar fundo e relaxar. Afinal, Thomas e Shamira estão chegando. Estou esperando eles no aeroporto junto de Harry, o moreno não queria vir, ele disse que tinha uma reunião a trabalho e que Thomas não iria se importar, disse também que ninguém nunca esperou o mais novo no aeroporto desde que ele aprendeu a andar sozinho, que o motorista particular sempre estava o esperando e todo aquele papo furado de gente rica que não dá atenção a família. Foi isso que disse para Harry para convencê-lo de estar aqui com o irmão e funcionou. O moreno não quer negligenciar Thomas e por isso está aqui comigo, observando as pessoas chegando do voo dos Estados Unidos.
— Será que ele perdeu o voo? — Harry pergunta impaciente e solto uma risadinha.
— Ele vai chegar — digo sorridente. — Além disso, vamos aproveitar que está bem quente aqui dentro.
Já está nevando em Londres, significa que está tudo gelado lá fora, no entanto, no duplex que divido com Stacey tem um bom aquecedor e na casa de Harry também que é onde eu estou passando a maior parte do tempo. Por um momento desejei um pouco de calor, o sol que encontrei em Los Angeles ou até quem sabe em Fernando de Noronha, mas não estou tendo possibilidade de viajar no momento e planejei passar o natal aqui mesmo, ainda sim, gostaria de sol mesmo sabendo que aqui terá algum, mas ele não será forte.
— Olha lá — Harry diz e aponta. Então vejo Thomas e Shamira. — Na hora certa.
Sorrio e o casal nos vê, Shamira sorri e me aproximo deles abraçando a garota com força.
— Olá! — Digo sorridente.
— Não pensei que você viria — Thomas fala e me olha e depois para o irmão. — Legal.
— Foi ideia da Chelly — Harry diz e olho para o mais novo. Ele sorri para mim.
— Ela é a sua melhor namorada, sem favoritismo — Tom fala e sorrio tímida. Volto a olhar para Shamira.
— Gostou do seu presente de aniversário? — Pergunto cheia de expectativas, talvez eu devesse chamar Stacey para sair comigo e Shamira, com certeza elas iriam se dar bem.
— Amei — fala sorrindo.
— Foi minha amiga que pintou e você precisa conhecer ela — começo a falar e Harry segura meu ombro.
— Agora, eles devem estar cansados de viagem — fala e aceno com a cabeça. É verdade. — E eu preparei macarrão com molho branco. — Harry avisa e o irmão olha para ele desconfiado.
— Você? Ou ela? — Thomas aponta para mim. É verdade que Harry preparou a janta de boas vindas, ideia minha também, mas ele fez quase tudo.
— Ajudei um pouquinho.
— Milagres acontecem no natal — Tom fala me fazendo rir.
Dessa forma, sem demorar mais nós quatro vamos até o apartamento de Harry. Como Thomas e Shamira fizeram uma viagem longa, eles ainda se sentiam cansados e não ficaram muito tempo acordados depois de terem comido o macarrão. No entanto, Harry e eu ficamos acordados, nós ficamos conversando bastante e bebendo vinho até dormimos no sofá. Acordei de madrugada com o ronco do moreno, ele estava roncando alto e me assustei. Acabei acordando ele, para subirmos até o quarto e ele foi meio grogue para cama e acredito que seja pelo fato dele estar exausto, ele vem trabalhando bastante e não estamos tendo muito tempo para ficarmos juntos.
Ainda sim, ele sempre arranja um tempo para ficar comigo. Algumas vezes nós conversamos mais e outras vezes fazemos coisas a mais. Estamos namorando e construindo esse relacionamento, o que vem sendo bom. No entanto, às vezes me pego estressada, porque o moreno se estressa fácil e nem sempre eu sou a mais paciente.
Na manhã seguinte eu recebi uma mensagem do hospital falando que o resultado da minha biopsia saiu. Não contei a Harry, mas quando eu fiz a mamografia tive um resultado alterado, detectaram uma massa no meu seio esquerdo e no mesmo dia me aconselharam a fazer uma biópsia. A médica encarregada disse que poderia ser algum erro no equipamento, mas para evitar perda de tempo eu deveria fazer a biópsia junto. O resultado já saiu e estou com um frio na barriga, torcendo para tenha sido apenas um erro do equipamento. Qual seria minha sorte se detectassem um câncer mesmo? Eu nunca tinha feito um exame de prevenção e ficava enrolando para fazê-lo e quando finalmente o faço descubro que posso realmente ter câncer.
Me sentia ansiosa e medrosa, e acredito que se fosse esse meu prognóstico me sentiria destruída também e não saberia como contar isso para minha mãe ou para Harry. Por isso, vim sozinha e não contei nada a eles sobre o resultado da minha mamografia e da biópsia que tive que fazer.
— Senhorita Evans — Doutora Paige me chama, ela quem está comigo desde o exame de prevenção. Entro na sala dela e fecho a porta. — Sente-se querida.
Eu a obedeço e agarro mais minha bolsa.
— Como você está? — Pergunta. A médica tem um cabelo loiro, sobrancelhas loiras também e olhos castanhos. Ela é alta e deve ter uns cinquenta anos, o jeito dela às vezes me lembra o jeito de minha mãe. É atenciosa e me olha com carinho, mas talvez ela esteja me olhando assim por outro motivo. — Michelle?
— Desculpa, estou nervosa — digo e me ajeito na cadeira. — Estou bem.
— Certo, então não vou te enrolar — sorri para mim. Ela abre um envelope grande com os resultados do meu exame. Em seguida, respira fundo. — Infelizmente o tumor que a mamografia registrou está aqui. A boa notícia é que é um carcinoma ductal in situ. Um câncer no estágio zero.
— Carcinoma? — Pergunto nervosa. Estou com câncer?! Sinto vontade de chorar e Paige deixa os papéis na mesa.
— Sim querida, mas olha. Ele está no estágio inicial e muitos médicos não o consideram câncer, significa que você tem uma chance alta de se curar. Descobrimos na hora certa.
Preferia que não tivessem descoberto nada, porque eu não teria nada. Só que eu tenho algo, um carcinoma.
— E agora? — Pergunto medrosa. — Vou ter que retirar minha mama?
Realmente sinto vontade de chorar e sinto meu telefone vibrar, deve ser Harry. Disse a ele que os resultados sairiam hoje e que iria na consulta, ele quis vir comigo, mas não queria ele aqui porque fiquei com medo de notícias ruins. Agora que estou com a notícia que tenho um tumor na mama e tudo que eu quero é ele. Quero alguém para abraçar, porque estou com medo. Tudo que quero é minha mãe e queria tanto poder abraçar meu pai. Ele iria falar que ficaria tudo bem, mas eu resolvi vir sozinha.
— Os resultados são otimistas para você, o que significa que não precisa retirar a mama, Michelle — Dra. Jeanne diz e segura minha mão. Eu já estava chorando. — Querida, sinto muito que esteja com esse tumor, você é uma menina ainda. Mas infelizmente, quando se é um câncer hereditário como o seu, as chances de desenvolver antes do cinquenta anos são bem maiores.
Fico calada. Não conseguiria falar e a médica continua:
— O lado bom é que as chances de você se curar são altas — diz novamente. — Irá precisar de cirurgia e radioterapia, provavelmente por um mês. Vamos precisar fazer mais exames, para saber se você irá precisar de terapia hormonal, mas o mais importante nesse momento é que você faça a cirurgia.
— Entendi — falo baixinho e me levanto. — Posso voltar depois?
— Michelle, gostaria de fazer alguns pedidos de exame antes de liberá-la. Sei que é uma notícia difícil — a mulher se levanta também e fica ao meu lado. — Mas entenda que você descobriu essa massa na hora certa e agora precisa se tratar. Tem alguém com você?
Nego com a cabeça e a médica acaricia meus braços, me confortando. Em seguida, ela pega um copo de água e me entrega. A Dra. Paige me convence a sentar novamente e me explica sobre a cirurgia e a radioterapia. Ela também falou sobre os exames que teria de fazer e me deu uma cartilha sobre um grupo de apoio que me aconselhou a ir, mas disse que a psicóloga do hospital também estaria disponível para mim. Apenas coloquei tudo na bolsa e não sabia quando iria fazer esses exames ou se iria para o grupo de apoio ou a psicóloga. Quer dizer, semana que vem já é o natal e não quero estragar essa data para ninguém.
Não quero estragar essa data para mim também. Finalmente está dando tudo certo, mas também sei que não posso brincar com isso, simplesmente não sei o que fazer. Então quando saí do hospital, me sentei em um banco e fiquei chorando. Sentia o frio e os pequenos flocos de neve caindo em mim, mas eu não conseguia parar de chorar e com isso não conseguia me mover. O frio passou a ser algo que não me incomodava. Eu estou com um carcinoma na mama.
— Michelle? — A voz rouca me chama e me encolho mais pelo frio e porque ele está aqui. Eu disse que ele não precisaria estar aqui.
— Disse que não precisaria vir — fungo e sinto Harry se sentando ao meu lado.
— O que a médica disse?
— Carcinoma — volto a chorar. — Vou precisar fazer cirurgia e radioterapia — soluço, em seguida limpo meu rosto e olho para Harry. O moreno segura minha mão.
— Michelle, que tipo de carcinoma você tem? — Pergunta, olhando para seus olhos verdes, posso ver o quanto ele está preocupado. Não quero vê-lo passando por isso, caramba, a mãe dele morreu de leucemia quando ele ainda era uma criança. Não queria estar com câncer para fazê-lo se lembrar disso, não queria estar doente para me lembrar de como minha mãe ficou e sentir medo de morrer. — Michelle?
— A médica disse que no estágio inicial, então as chances de cura são altas, mas eu ainda estou com medo.
Então ele me abraça. Harry me abraça forte e inspiro fundo sentindo o cheiro dele. O calor chegou e tentava me acalmar nos braços do moreno, disse que ele não precisaria vir, mas Harry chegou na hora certa de me dar algum conforto.
— Vai ficar tudo bem, eu estou aqui.
Continua...
Notas: Oioi meus xuxus como vocês estão?
Espero que estejam todas bem, onde vocês estão também ta chovendo? Aqui tá um diluvio que só, mas enfim...
O que acham que pode acontecer agora?
Acredito que esteja faltando mais ou menos seis capítulos para fanfic terminar, então me respondam uma questão. Tem algo que vocês gostariam de ver na fanfic? Talvez eu faça um especial já que o natal está chegando (já vai ter um especial de natal rs)
Espero vê-las em breve. Anna. Xx
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