35. Algumas coisas simplesmente acontecem
Harry Styles
Teimosa e irresponsável. É exatamente isso que Elizabeth é. Como ela foi para outro país sem me contar?
Se acontecesse algo com ela ou se ela passasse mal? Não sei o que seria de mim, penso mais sobre o bem de Marie Anne, mas se Elizabeth ficasse mal isso me causaria preocupação também e nem é como se a loira fosse uma criança que precisasse ser monitorada o tempo todo ou uma adolescente rebelde, o que torna tudo pior. Elizabeth tem vinte e oito anos e ela sabe muito bem sobre os riscos. Ela sabe muito bem, que precisa se cuidar e sobre o quanto é complicado o fato dela não estar sendo sincera comigo novamente. Quando Michelle me contou sobre a loira eu fiquei mais enfurecido pelo fato da mulher não ter sido honesta comigo.
A loira disse que não iria trabalhar mais, no entanto, ela estava em Fernando de Noronha junto de Michelle tirando fotos para a marca de Frankie. Agora não tem mais nada que eu possa fazer, porque ambas já voltaram e a minha namorada está dormindo em minha cama, acredito que esteja, para ser sincero. Ela chegou ontem a noite exausta e quando ela está assim, bem, ela dorme quase que o dia inteiro. Um sono pesado e longo.
Enquanto isso, Elizabeth está comigo no corredor do hospital esperando a consulta médica.
Não estamos falando nada, estou bravo devido a irresponsabilidade dela e também porque na última vez que dei espaço demais para ela, a loira me beijou. De fato, toda essa situação está se tornando pior do que gostaria e se não fosse pela minha filha, não gostaria de ver Elizabeth nunca mais.
— Eu não sei o que Michelle te disse...
— Ela não disse nada, mas ela deveria dizer algo? — Olho para a loira e Elizabeth me olha também. Seus olhos azuis me encaravam de um modo indecifrável e eu costumava conhecer cada tipo de olhar que ela tinha. Agora não faço ideia. — Michelle deveria dizer algo, Elizabeth?
— Não deveria — diz emburrada. Bem, agora simplesmente sei que ela mentiu.
— Olha Elizabeth, se você tiver feito algo que prejudicou Marie Anne ou Michelle...
— Não fiz — fala imediatamente e brava. — Não ouse me acusar de um absurdo desses.
— E por que você mentiu sobre dizer que não iria trabalhar mais? Isso é irresponsável e você sabe. Aliás, você também sabe que não está em condições de tomar riscos. Se tivesse acontecido algo com Marie Anne, eu nunca te perdoaria.
— Isso não é sobre você — Retruca, olho para ela inconformado. — Eu estou tomando conta de Marie Anne e você deveria confiar em mim.
Dessa vez eu solto uma risada.
— Confiar? Na última vez que eu confiei em você, meu colega de trabalho estava enfiado entre suas pernas.
— Vai se fuder — me xinga e me levanto. Nego com a cabeça e sinto que estou prestes a sair desse hospital. — Tudo culpa daquela empregada de buffet.
— O que Michelle fez? Me contou a verdade sobre você estar em outro país?
Ela fica calada. Ninguém mais fala nada, isso porque a médica chama Elizabeth.
Nós vamos ao consultório e o clima entre nós dois não poderia estar pior e o único motivo que me não me fez sentir mais estresse ou raiva foi minha filha, não houve ultrassom dessa vez. Seria daqui três dias, mas a médica viu alguns exames da loira, disse que ela estava bem e aquilo me tranquilizou, apesar de estar bravo com Elizabeth.
A mulher está perto de entrar no último trimestre e por um momento pensei na possibilidade dela morar no mesmo prédio que eu. Não sei como vem sendo a relação dela com os pais, mas sei que eles sempre ficaram a uma certa distância dela. Era um dos pontos que tínhamos em comum, a distância dos pais, mas não sei se isso ainda é verdade. Ainda sim, ela está entrando em um trimestre em que a presença da minha filha se torna mais real a cada dia e não quero perder esse dia.
Contudo, pelo momento em que Elizabeth e eu estamos, essa ideia de sermos vizinhos, pelo menos neste momento, não é a melhor ideia.
Após a consulta que não durou mais que quinze minutos, saímos do consultório e no corredor vazio do hospital, a mulher segura meu pulso.
— Você não entende — diz baixinho e me sinto confuso. Olho para a loira, mas ela não está me olhando. — Eu sempre tive uma vida saudável e de repente recebi a notícia de que estava doente e tudo que eu fazia antes, já não consigo mais.
— Elizabeth eu compreendo isso, mas isso não significa que você tenha de fazer besteira — falo calmo. Não quero brigar.
— Eu fui rude com Michelle e desonesta com você, mas isso não é sobre você ou sua namoradinha — ela me olha, está com os olhos azuis cheios de lágrimas. — Me desculpe, é que eu... — respira fundo. — Quando Frankie me chamou, foi difícil de negar, você conhece ela e eu estava cansada de me sentir inútil.
— Certo — murmuro e ela limpa algumas lágrimas que caíram de seu rosto. Respiro fundo e seguro a mão dela. — Tudo bem, Elizabeth. Só precisa ser honesta comigo, não por mim, mas por Marie.
— Eu vou ser, eu prometo — diz e aceno com a cabeça. — Obrigada por ser tão paciente comigo.
Não respondo quanto a isso. A loira é sempre dramática, mas ela também tem seus jogos e já entrei neles, eu perdi jogando eles e não estou afim de perder novamente. Não estou interessado em ser tolo como já fui uma vez por ter caído no papo dela e agora eu tenho Michelle e é apenas nela que penso, o que é loucura porque não pensei que pudesse superar a loira a minha frente tão rapidamente.
— Te vejo na ultrassom, se precisar de algo, me ligue — digo e saio do hospital sem esperar Elizabeth.
Dias depois...
Bradford é uma cidade não muito longe de Londres, mas demora um tempinho de carro e por esse motivo, Michelle e eu saímos bem cedo. Iríamos almoçar na casa da mãe dela, mas a mulher sentada no banco de passageiros ao meu lado quis vir antes do almoço. Ela sente saudades da mãe e nem precisou dizer essas palavras para mim, sei o que é isso. Sinto saudades da minha mãe todos os dias, infelizmente, não tive a mesma sorte que Michelle teve, não tenho a oportunidade de visitar minha mãe e isso é um vazio que estou a anos lidando.
Quando paramos de frente a uma casa de tijolos velhos um sorriso enorme brotou nos lábios de Michelle. Não é um bairro nada rico e sempre soube que a mulher com quem namoro veio de uma condição bem mais humilde que a minha. É estranho imaginar que se não fosse por um coração quebrado e um jantar de noivado, nossas vidas provavelmente nunca iriam se cruzar. Para mais, eu poderia ter recusado ir àquele jantar de noivado e se tivesse feito isso, eu nunca iria conhecê-la. Nós nunca teríamos o que estamos tendo e provavelmente eu continuaria sendo um extremo arrogante com um coração quebrado e cada vez mais fechado.
Bem, que bom as coisas aconteceram como deveriam acontecer, mesmo que pareçam um pouco bagunçadas. Elas vão dar certo. Sinto o toque de Michelle em minha mão. Faremos dá certo.
— Vamos, você vai adorar a comida da minha mãe — diz sorridente.
— Então foi ela que te ensinou a cozinhar?
— Não, ela não tinha tempo e só descobri que ela cozinhava bem quando estava perto de me formar — explica e abre a porta do carro. — Mas vamos logo — fala apressada e sai do carro.
Acabo soltando uma risada baixa. Pego meu telefone e minha carteira no porta malas e vejo uma notificação no celular. Desbloqueio e era um e-mail da empresa, um processo de projeto no Japão. Ele chegou atrasado e deixou meu pai estressado, porque ele estava empolgado por isso.
— O que falamos de deixar o telefone no modo avião, hoje? — Michelle fala e me viro, ela está do lado de fora do carro. Porém, no lado de motorista e antes que eu respondesse ela tira o telefone da minha mão e enfia na bolsa dela. — Anda vamos, eu quero fazer xixi.
— Estou indo — aperto o botão do carro para ele desligar e pego a chave para ligar o alarme. Logo, saio do carro.
Michelle segura minha mão e bate a campainha da casa e não demora muito para a porta ser aberta. Uma mulher do mesmo tamanho que Michelle está lá. Usando um vestido e um turbante, ela sorri como Michelle sorri e logo as duas estão se abraçando.
— Olha isso querida, ontem mesmo você estava com o cabelo curtinho, já mudou de novo — a mulher fala e passa a mão no cabelo da filha.
Michelle colocou lace. É cacheada e agora bate na altura do peito, também assustei quando vi, mas dada a velocidade com que ela sempre muda o cabelo isso é algo que já estou me acostumando.
— Você gostou?
— Eu adorei querida — sorri e olha para mim. — E você deve ser o homem que está namorando minha filha, prazer sou Jenna.
Aperto a mão da mais velha.
— Prazer Jenna, eu sou o Harry — sorrio e a mulher também. — Michelle não me disse que você é tão linda assim.
A mais velha apenas ri.
— Ela também não me disse que você é um bonitão — pisca.
— Mamãe — Michelle reprime e solto uma risada. Certo, também descobri onde Michelle puxou a falta de vergonha.
— Querida, eu não sou cega e nem muda — a mais velha diz fazendo com que a mais nova negasse com a cabeça. — Mas vamos entrando, o inverno está chegando e está ficando frio.
Não discordamos da mulher e entramos, é uma casa pequena de um andar e com um pequeno quintal nos fundos. O local tem cheiro de velas aromáticas e no corredor tem várias fotografias. Michelle nunca mostrou para mim nenhuma das suas fotos quando era criança. No entanto, ela já viu algumas das minhas e isso porque ela encontrou meu álbum antigo de fotografias, agora é a minha vez de vê-la criança.
Havia várias fotografias dela criança e bebê e bem poucas dele maior, em todas as fotos em que Michelle parecia ter entre cinco e sete anos, ela estava com um sorriso grande no rosto. Em algumas dessas fotos ela tinha um sorriso banguelo, mas com certeza estava encantadora. Michelle criança e Michelle adulta são igualmente encantadoras.
— Ela amava câmeras, sempre pensei que fosse ser modelo. No entanto, o amor que essa menina tem por cozinhar supera tudo — Jenna fala e olho para ela. A mais velha sorri. — Mas você conseguiu arranjar um jeito dela tirar fotos, não é?
— Não fui eu — dou de ombros. — Foi uma velha conhecida.
A mulher me olha curiosa e dessa forma eu soube que ela gostaria de conversar mais, então eu conversei com ela. A mulher me contou como Michelle era quando criança, a história por trás de algumas fotos. Depois, a cacheada chegou e Jenna nos levou até a cozinha para comer alguns bolinhos de queijo que ela fez. Nunca havia comido algo assim, mas estavam ótimos e enquanto esperávamos o almoço terminar nós três conversamos.
No entanto, havia notado uma diferença sutil em Michelle, a mulher parecia ligeiramente mais ansiosa do que o habitual, mas não sabia com o que. Ora, aconteceu algo com ela? Não consegui perguntar, porque Jenna estava lá, conversando comigo e conversando com a filha também. Então, comecei a me questionar se essa impressão de que Michelle estivesse ansiosa fosse algo da minha cabeça. Talvez ela estivesse apenas feliz por estar com a mãe que felizmente está curada do câncer.
Além disso, foi um bom dia e à medida que o tempo passava a cacheada parecia mais calma e com certeza tão falante quanto a mãe. Jenna ficou curiosa em saber como nós nos conhecemos e retirando a parte da aposta, fomos sinceros com tudo. Contei sobre quando fomos visitar o Duck Island Cottage Garden e a mãe de Michelle disse que aquele era o local favorito da filha. Que houve um tempo em que eles moraram em Londres, quando Michelle era criança e as visitas naquele parque aqueciam seu coração. Foi bom saber disso.
Ainda não sei de tudo que Michelle gosta e saber que a cacheada gosta desse parque é de uma grande ajuda para conhecê-la melhor também.
Depois do almoço, Chelly entregou o meu celular e disse que tinha algumas ligações de Thomas, aquilo me preocupou um pouco e deixei mãe e filha conversando no quintal. No entanto, quando retornei a ligação o meu irmão queria apenas saber se poderia ficar no meu apartamento ao invés da casa do papai, de início pensei que eles tivessem brigado novamente. Porém, Tom me explicou que não queria que Shamira ficasse perto de papai pra evitar que nosso progenitor diga a ela coisas sobre ele ou que eles briguem com ela por perto. Era mais uma precaução, de todo modo, disse que sim. Meu irmão sempre terá as minhas portas abertas.
Entretanto, a ligação não ficou apenas sobre hospedagem, meu irmão me contou com as coisas estavam indo em Nova Iorque, que ele está gostando de faculdade e que talvez ele realmente siga para o curso de história de arte, questionei se ele se tornaria professor e ele respondeu:
Cedo demais para respostas sérias, irmão.
Infelizmente, minha ligação com ele não durou mais que quinze minutos, mas estava alegre porque logo ele estaria aqui para passar o natal e talvez essa seja uma comemoração boa em que estarei ao lado de pessoas que amo e sem pressão de forçar comportamento ou ações. O meu último natal foi de negócios, foi bem amargurado e tenho certeza que Liam e Elizabeth já estavam juntos naquela época. De toda forma, não será assim nesse ano.
Depois da ligação com meu irmão, fui em direção ao quintal, mas a voz de Michelle me fez parar no corredor.
— Não sei, mãe. Você acha que meus seios incharam mesmo?
— Incharam sim. Você está tomando anticoncepcional?
Meu corpo gela. Nós usamos camisinha também, exceto na última noite dela em Nova Iorque, não usamos proteção. Porém, Michelle me garantiu que usa anticoncepcional e sei muito bem que ela não quer ser mãe agora. Então, ela não seria descuidada a esse ponto. Seria?
— Sim e camisinha também — responde sem preocupação. — Não estou grávida.
— E o exame de prevenção?
Prevenção?
Michelle não responde. Prevenção de que?
— Michelle, faz quanto tempo que você não vai ao ginecologista?
— Desde que você foi diagnosticada — diz baixinho. — Estou bem.
— Mas você tem o fator genético para câncer de mama. Tem que ir, minha filha.
Ela tem isso? Por que Michelle não me contou isso?
Apareço no quintal e as duas me olham. A cacheada parece mais surpresa com a mãe e me encara como se quisesse descobrir se eu estava ouvindo a conversa delas ou não.
— O que Thomas queria?
— Avisar que vai vir pro natal — dou de ombros. Olho para Jenna. — A senhora teve câncer de mama?
A mais velha franze um pouco a testa, mas parece entender meu ponto.
— Sim, estágio II. Poderia ter se espalhado por todo meu corpo e o exame de prevenção me salvou. — A mais velha olha para filha e Michelle suspira.
— Câncer de mama é genético né? — Continuo rendendo a conversa e escuto o resmungo da cacheada, não me importo. Ela tem que se cuidar e isso é uma doença séria. Ela sabe.
— Nem sempre, mas o meu foi e Michelle tem o gene. Ela precisa fazer o exame de prevenção todos os anos, mas já tem dois anos que não vai.
— Ela vai fazer — garanto e olho sério para Michelle.
Não posso arriscar perdê-la. Perdi minha mãe por leucemia e imaginar que Michelle possa desenvolver essa doença me faz ficar com o coração apertado prestes a se quebrar. Nós acontecendo da forma mais imprevisível possível, não posso perdê-la de maneira imprevisível também.
Continua...
Notas: Oioi meus amores, como vocês estão?
Gostaram do capitulo? E a Michelle empurrando algo importante com a barriga ein? Aiai viu...
Espero que tenham gostado, por favor não deixem de comentar o que estão achando me ajuda bastante. Vejo vocês logo logo. Anna. Xx
Bạn đang đọc truyện trên: Truyen247.Pro