28. Casa
Michelle Evans
Quinze dias depois...
A Inglaterra é um lugar frio, às vezes acredito que bem mais que em Nova Iorque. Não sou a pessoa que mais adora o frio, gosto do sol e do seu brilho. De como minha pele fica aquecida quando aquela estrela enorme resolve aparecer por aqui. Contudo, nunca estive em lugares quentes como no Brasil ou nas ilhas do Caribe.
Porém, sei com certeza que prefiro os dias em que o sol prefere não se esconder. Daria tudo por um dia de sol agora, talvez assim as coisas se animassem um pouco mais dentro de mim.
Quando cheguei aqui, Tyler estava me esperando no seu Peugeot semi novo. Me senti aliviada de ter apenas ele no carro e nenhum motorista particular para prestar atenção no que eu fazia. Acho que demoraria mais tempo até me acostumar com aquilo.
De toda forma, agradeci por ser apenas Tyler ali, porque eu pude abraçá-lo e chorar. Eu chorei bastante e contei a ele o que aconteceu. O meu amigo me mandou descansar, disse que seria melhor. E, assim que cheguei em casa, eu deitei na cama e o meu amigo se deitou ao meu lado e ficou me consolando até que eu caísse no sono. No dia seguinte, ele trouxe café da manhã na cama para mim e fiz uma vídeo chamada com Stacey para dizer que havia chegado. Preferi não contar nada a ela sobre Harry ainda.
A minha amiga tinha ido viajar para França para uma exposição de arte. E Tyler ficou comigo no domingo. Fez pipoca e vimos filme, ele foi meu apoio e não me julgou. Ele sequer xingou Harry — apenas um pouco —, mas meu amigo disse que eu deveria ficar com minha mãe.
Tyler disse: Leslie, sua mãe ainda está na quimioterapia e é melhor você estar com ela agora. Além disso, ela é muito mais sábia do que nós e família é família.
Dessa forma, eu estou há cerca de duas semanas com minha mãe. Ela me perguntou como foi nos Estados Unidos, se eu conheci alguém. Havia dito para ela que consegui uma bolsa para fazer um curso lá. Apenas Tyler e Stacey sabiam sobre o Harry e o garoto sabia ainda mais.
Tyler sabia sobre o acordo.
Não quis contar à minha mãe sobre Harry no início, mas acho que a mais velha sabe sobre meu coração quebrado. Sentia um pouco de vergonha de ter aparecido na casa da minha mãe apenas porque estava chateada. Então evitei o assunto Harry Styles para focar nela.
Cuidei da minha mãe, ela estava no final da quimioterapia e não ficava mais tão enjoada ou fraca como já vi antes, mas talvez seja a animação de estar acabando com isso. Me lembro de como foi no início do tratamento, cheguei a ficar com ela, mas o peso de ver ela mal pela quimioterapia me deixou assustada, acho que mamãe percebeu isso e disse que não eu não precisava ver aquilo. Foi ela quem me mandou embora, garantindo que ia ficar bem, a mais velha é mais independente do que poderia imaginar.
E eu fui para Londres para trabalhar e ganhar mais dinheiro para ajudá-la, mas sempre podia vir para Bradford para vê-la, fazia isso, ela sempre estava dormindo. Acreditei que era mais fácil vê-la assim. Foram meses nessa ida e volta, até que as coisas aconteceram e conheci Harry Styles. Acredito, que por um momento eu quis fugir do medo de perder minha mãe pelo câncer porque já perdi meu pai.
Porém, passando as duas semanas com minha mãe, tudo que eu vejo é uma mulher forte que enfrentou um monstro enorme e está vencendo ele.
Hoje mamãe vai receber os resultados de exames. Irá saber se vai precisar de mais quimioterapia ou cirurgia. Eu estou com ela no saguão do hospital que ela já trabalhou, minha cabeça está em seu ombro e fico olhando com atenção os corredores lembrando da minha infância em que eu corria por todos os lados quando vinha visitá-la ou buscá-la junto de papai.
Lembro da vez que quebrei minha perna de propósito apenas para vê-la. Meu pai tinha morrido e eu precisava de mamãe, do abraço dela, mas a mais velha se escondeu aqui. No início pensei que fosse de mim, que a culpa fosse minha, que eu não deveria ter deixado papai me levar ao cinema. Que deveria ter convencido ele que uma pizza bastaria para me animar. Porém, depois entendi que minha mãe estava fugindo de um mundo em que meu pai não estava mais.
Nove anos atrás...
— Michelle! — Mamãe me abraça com força e eu faço careta. Ainda sinto dor.
Pedi para Mikael me derrubar na escada da escola. Tyler não quis fazer isso, ele é um bobo. Eu precisava me machucar sério para ver minha mãe. Já tentei fingir febre e candidíase, mas não funcionou. Tinha que ser alguma coisa de verdade para ela aparecer.
Agora eu tenho algo de verdade e ela apareceu e está me abraçando. Começo a chorar porque senti saudades do abraço dela, do cheiro de álcool do hospital. Estava com saudades da mamãe e ficar em casa sozinha está me matando.
— Michelle, como você se machucou? Alguém fez isso com você? — A mais velha segura meu rosto molhado, o dela também estava.
— Escorreguei na escada da escola, o médico disse que não precisa de cirurgia só de gesso. Depois de fisioterapia, mas vou ficar bem — fungo. — Mamãe eu estou com saudades de você em casa. É tão vazio sem você e o papai... — suspiro. — Eu preciso de você comigo.
A mais velha fica em silêncio e vejo lágrimas escorrendo pelo seus olhos.
— Michelle me perdoa — Ela deixa nossas testas coladas. — Meu bebê, eu nunca mais vou ficar longe.
Agora...
— Querida? — levanto um pouco minha cabeça para olhar para minha mãe. — Por que está chorando?
— Desculpe ter ficado tanto tempo longe — digo triste. A mais velha sorri e acaricia minha bochecha limpando minha lágrima.
— Querida, fui eu quem pediu isso — A mais velha diz e continuo olhando para minha mãe. Eu sei que foi, mas eu não deveria ter dado ouvidos. — Você viu seu pai morrendo, não queria que visse a mãe morrer também.
— Mamãe — seguro a mão da mais velha e ela beija minha testa.
— Você foi a melhor coisa que eu fiz, Michelle — ela volta a fazer carinho no meu cabelo. — E eu não quero te ver sofrer pela perda, você não merece.
— Mas agora você vai ficar boa, já está melhorando — garanto e um sorriso maior se abre nos lábios dela. Minha mãe e eu nos parecemos. Temos os mesmos olhos, mesma textura de cabelo e formato do rosto, mas minha pele é semelhante à do meu pai e mamãe dizia que eu tinha o jeito amoroso dele, mas eu também sei ser fechada como ela. Acredito que puxei mais dela do que meu pai. Infelizmente, queria ter mais coisas dele dentro de mim para poder mantê-las vivas.
— Eu vou ficar bem querida — Minha mãe aperta minha mão. — Agora me conte, o que vem te deixando realmente triste?
Suspiro.
Sei que deveria contar sobre o Harry, mas sinceramente, eu ainda não sei se devo. Digo, minha mãe sabia tudinho sobre mim e Tyler, mas era porque crescemos juntos.
— Conheceu alguém em Nova Iorque? — Minha irmã é persistente. Suspiro novamente e me afasto um pouco da minha mãe.
— Sim, mas não sei — respiro fundo e a mais velha fica me olhando curiosa. — Ele vai ser pai, filho de outra mulher.
— E faz muito tempo que você o conheceu? Você realmente gosta dele?
— Disse que amava ele — mordo meus lábios e minha mãe puxa minha orelha.
— Au! — grito assustada.
— Como assim você ama um rapaz e não pensa em contar para sua mãe? — Acabo me sentindo envergonhada, porque minha mãe fala séria. A mais velha acaba suspirando. — Ele vai ter um bebê com outra então?
— Sim — suspiro. — A ex-noiva dele, isso é tão estranho. Eu nunca me senti assim antes mãe — A sensação triste volta e minha mão acaricia minhas costas. — Foi tão rápido, mas tão bom.
— Querida, quando conheci seu pai, ele estava casado — olho para minha mãe curiosa. — Ele se casou muito jovem para sair da Nigéria e tentar ganhar a vida aqui. Conheci ele, quando ele veio se consultar aqui. Eu ainda não era enfermeira, mas estava fazendo residência e ele estava gripado. No momento que eu o vi, me apaixonei. Akachi era um galanteador e já lidei com muitos homens assim, mas seu pai me fazia sentir única. A forma como nós nos conectamos foi bem rápida e depois de dois meses ele já estava divorciado.
— Então ele nunca amou ela? — pergunto curiosa, não sabia dessa história. Digo, sabia que meus pais se conheceram pouco tempo depois que papai veio para cá, mas não tinha ideia de que ele estava casado quando conheceu mamãe.
— Acredito que em algum momento ele a amou. Contudo, quando seu pai se divorciou, descobriu que ela estava grávida. Consegue imaginar a confusão? — Arregalo meus olhos. Então eu tenho um meio irmão ou meia irmã? Minha mãe percebe minha agitação e sorri um pouco. — Pensei em me separar do seu pai, mas não conseguia sair do lado dele.
— E o que você fez? Eu tenho um meio irmão ou meia irmã?
— Continuei com seu pai, Michelle. Disse não abandonaria ele e que poderíamos tentar até que perdesse meu fôlego, disse que ficaria com ele até o final dos dias e ele disse que todo o amor dele era para mim para sempre — Os olhos da minha mãe se enchem de lágrimas e eu a abraço de lado. — A mulher acabou perdendo o bebê, nunca mais seu pai tocou no nome dela e algum tempo depois você veio.
— Isso é surpreendente — falo ainda chocada e a mais velha sorri.
— Sim minha querida, a moral de tudo isso é: Se você disse que ama esse rapaz e diz a verdade quanto a isso. Também tem que pensar nos sapos que engoliria por ele e ele por você — Mamãe fala e fico calada.
A verdade é que eu estou morrendo de saudades de Harry, poderia ligar para ele agora mesmo, dizer que minha mãe está se recuperando. Saber se ainda temos tempo de ir até a casa da vó dele em Holmes Chapel, mas esses pensamentos se perdem quando imagino ele fazendo isso com Elizabeth e não porque se amam, mas porque ela vai ter um bebê com ele e essa ideia ainda me assusta. Ainda tenho que aprender a lidar com isso, a lidar com o fato de que essa mulher que não gosta de mim e faz questão de mostrar vai ter um filho dele.
— Jenna Evans — Uma voz masculina chama minha mãe, nós nos levantamos. Iria acompanhá-la no consultório.
O médico se chama Luka Hadid, ele tem cabelos grisalhos e olhos azuis. Ele sorriu para minha mãe e eu o conheço bem por alto, sei que ele é o médico que vem acompanhando minha mãe, mas quase não o vejo. Contudo, estou aqui agora e ele me reconheceu, pensei que não, porque eu quase não o reconheci se não fosse pelo seu nome. De toda forma, ele mediu a pressão da minha mãe, ouviu os batimentos e fez algumas perguntas antes de pegar os exames da minha progenitora e depois de toda essa dança, iríamos receber uma resposta. Seguro a mão da mais velha.
Me sentia ansiosa e posso imaginar que ela também, apesar dela parecer bem mais tranquila do que eu, como se soubesse de uma resposta que não faço ideia.
— Bem Jenna, as notícias são excelentes. A massa no seu seio está indetectável e não temos nenhum sinal de qualquer outra massa no seu corpo. Sequer vai precisar de cirurgia para remoção, mas vou recomendar mais três sessões de quimioterapia, para garantir que todas as células cancerígenas sejam eliminadas — Ele diz e eu sorrio. Olho para minha mãe e a abraço com força.
Ela está curada então? Caramba, minha mãe está curada!
O médico diz mais algumas coisas para mamãe pela qual eu não consigo prestar atenção, tudo que eu sei e tudo que entendi é que a massa de tumor, está indetectável, tudo que eu sei é que mamãe não irá precisar de cirurgia e que está finalmente acabando.
Quando saímos do consultório, minha mãe foi conversar com algumas ex-colegas de trabalho e eu liguei para Stacey em uma chamada de vídeo, a minha amiga já chegou de Paris, mas está em Londres, enquanto eu, estou em Bradford. Não demora muito e a minha amiga me atende.
— Oi nega! — Ela sorri, Stacey está no seu estúdio. Sorrio para ela também.
— Minha mãe está livre do câncer — digo empolgada e minha amiga solta um grito e Tyler acaba vindo correndo.
— O que houve Lexi? — pergunta e logo, ele percebe que ela está em chamada de video.
— Tyler, minha mãe está curada. Livre do câncer — a animação não sai do meu tom e meu amigo comemora dando um soco no ar. Eu solto uma risada e meus olhos se enchem de lágrimas.
— Vamos ter que comemorar, Leslie — Tyler fala e concordo com a cabeça.
Converso mais com meus amigos, falo sobre as sessões de quimioterapia que minha mãe irá fazer, irá durar mais três semanas, mas será o fim de tudo isso. Finalmente acabou. Depois de conversar com meus amigos, levo minha mãe até a nossa casa.
Digo a ela que pedirei o almoço em um restaurante nigeriano. Apesar de apenas meu pai vim de lá, acredito que minha mãe se acostumou com a culinária nigeriana bem mais do que eu e não é que seja ruim, apenas uma questão de hábito e de estar em casa.
Depois de pedir o nosso almoço, penso fortemente em mandar uma mensagem para Harry. Penso sobre o que minha mãe disse de engolir sapos, o sacrifício que fazemos para continuar com a pessoa que amamos.
Acabo digitando a mensagem e enviando.
Sentia saudades dele também. Vale salientar, não me arrependo de ter voltado para cá, porque estar em casa é a melhor coisa, contudo, poderia ser melhor se ele estivesse aqui.
Me pergunto por quanto tempo ele irá continuar em Nova Iorque ou se ele vai passar a morar lá por causa de Elizabeth, no fundo torço para que não. Quero que ele volte, facilitaria as coisas.
Eu [12:43] Minha mãe está curada do câncer
Harry ♥️🌷♥️🌺 [13:09] Sério? Isso é ótimo Chelly!
Harry ♥️🌷♥️🌺 [13:11] Vou ser pai de uma menina
Ele excluiu a mensagem, mas eu já tinha lido. Ele digita, digita e digita, os minutos passam, mas não envia nada. Então quem envia sou eu.
Eu [13:15] Já escolheu um nome para ela?
Harry ♥️🌷♥️🌺 [13:15] Marie Anne
Harry ♥️🌷♥️🌺 [13:15] O nome da minha mãe.
Harry ♥️🌷♥️🌺 [13:20] Vou voltar para Inglaterra em dezembro, Chelly.
Continua...
Notas: Oi meus amores como vocês estão?
Gostaram do capitulo? Dezembro logo ali né....
O que acharam da historia dos pais da Michelle?
Espero que tenham gostado, não deixem de votar e comentar o que acharam, vejo vocês logo. Anna. Xx
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