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❝O amor e o ódio se misturavam em um coquetel explosivo, pronto para destruir tudo. A luta pelo poder estava apenas começando, e as consequências seriam devastadoras.❞
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𝐎 𝐀𝐌𝐀𝐍𝐇𝐄𝐂𝐄𝐑 surgiu com uma nova perspectiva a Jimin. Depois da noite de entrega e promessas sussurradas, Park sentia-se renovado. Certo de que seus passos seriam firmes em busca da verdade.
Permitiu-se observar a figura morena que repousava serena em seu braço. Os lábios avermelhados, as bochechas rosadas e marcadas pelo lençol, Jeon suspirava profundamente entregue ao sono.
O dia mal havia clareado, mas a necessidade do dever falava mais alto. Jimin não queria deixá-lo, em seu íntimo, ardia o desejo de acordar seu amado com beijos e tomá-lo mais vez para si, mas contentou-se em apenas deslizar os dedos sobre a pele sedosa e marcada pela intensidade da noite anterior.
Depositou um selar singelo nos lábios de Jungkook e desvencilhou-se com cuidado do atleta, colocando os travesseiros em seu lugar e o cobrindo para mantê-lo aquecido. Dirigiu-se ao banheiro, onde permitiu que a água quente relaxasse seus músculos e clareasse sua mente.
Calculava meticulosamente seus próximos passos, começando com a desculpa que daria a Han Seong-Min. Se era para ser um filho submisso, executaria seu papel com maestria.
Assustou-se quando dois braços o envolveram pela cintura e um beijo foi deixado no lóbulo de sua orelha.
━━ Onde andam esses pensamentos? Te chamei umas três vezes e você nem me deu atenção. ━ Murmurou, a voz rouca e manhosa pelo sono recente.
━━ Perdão baby, ━ sorriu beijando a mão que deslizava por seu torso, virando de frente para o mais novo. ━━ Pensava em como será o dia. Mas diga-me o que o ‘senhorito’ faz acordado tão cedo? ━ havia divertimento e cuidado em sua entonação.
━━ Senti falta do seu calor. Achou mesmo que aqueles travesseiros podiam substituir você? ━ um leve bico se formou nos lábios finos.
Jimin riu, um sorriso genuíno que ecoou pelas paredes do box de vidro. ━━ Tão manhoso, meu bebê; depois não reclame quando te trato como criança.
Jungkook abriu a boca em um ‘O’ perfeito e cruzou os braços fingindo falsa ofensa. ━━ Fique aí no seu banho sozinho, Sr adulto! ━ virou-se para sair, mas foi agarrado pela cintura, deixando um grito fino escapar de seus lábios.
━━ Não ouse fazer birra Jeon Jungkook. Meu bebe está muito teimoso, merece levar umas palmadas. ━ Jimin sussurrou mordiscando o ombro de Jeon que inclinava-se de olhos fechados, dando mais acesso ao namorado.
━━ Am… Amor! ━ manhou apoiando-se na parede fria.
━━ Não fale assim baby, não sabe a vontade que estou de você desde que acordei.
━━ Fa.. faça. ━ o mais novo pediu entregue ao desejo.
Sem mais espera, Park atendeu aos desejos de Jeon, o banho que deveria ser rápido, tornou-se uma sinfonia de gemidos abafados e o choque delicioso de seus corpos molhados sob a água quente que escorria por eles, misturando-se ao aroma cítrico do sabonete.
Depois do banho, que durou mais tempo que o programado, o casal dirigiu-se à cozinha. Jimin sabia que se atrasaria, mas sua prioridade era Jungkook e não havia no mundo, vingança que fizesse ele deixar seu amado sem o café da manhã, principalmente quando este o pedira com um biquinho tão adorável, implorando que ele ficasse, pois sentia falta do desjejum compartilhado.
Regado a carícia e mingau de arroz, os dois prolongaram um pouco mais o momento de calmaria antes da tempestade iminente. Após o café, o mais velho ajudou a recolher a mesa e cuidar das louças. Um aperto na garganta o sufocou, uma pontada de angústia no peito, como se um nó se formasse ali, justo antes de se despedir de Jeon, sabia que era chegada a hora e não tinham ideia de quando teriam um momento assim novamente.
Jungkook o levou até a porta, abraçou apertado e desejou-lhe boa sorte. Trocaram beijos apaixonados e promessas de permanecerem unidos por maior que fossem as dificuldades. Ao cruzar o portal e sentir o vento frio em seu rosto, Jimin respirou fundo, sabendo que a partir daquele instante sua vida mudaria radicalmente.
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Para Jeon, o amanhecer trouxe consigo uma inquietação. Mesmo enquanto repousava nos braços de Jimin, sentia um conforto profundo, como se o peso do mundo fosse suavizado pela proximidade do namorado. Mas, à medida que os minutos passavam, uma leve inquietação começava a se infiltrar em sua mente, como uma sombra fugaz. A serenidade do quarto não conseguia apagar a sensação de que o tempo estava se esvaindo, levando consigo algo que lhe era precioso.
Quando abriu os olhos, a primeira coisa que notou foi a ausência do calor que o acalmava. O espaço ao seu lado, onde Jimin estivera há poucos momentos, parecia frio demais, e isso apertou seu peito de forma inexplicável. Ele ergueu o olhar, observando o contorno familiar do namorado se movimentando pelo banheiro através da porta entreaberta. Ainda assim, a sensação de perda já se fazia presente, um temor de que aquele momento perfeito escapasse de suas mãos mais uma vez.
Decidido a não se entregar à melancolia que o rondava, levantou-se e foi ao encontro de Park. Quando o envolveu pela cintura e sentiu a pele quente sob suas mãos, o aperto em seu peito afrouxou um pouco, mas não desapareceu por completo.
Ao indagá-lo, a resposta de Jimin foi suficiente para arrancar um sorriso tímido, mas não para dissipar suas preocupações. Jeon sabia que o dia traria desafios e que Jimin precisaria enfrentá-los sozinho, isso o consumia por dentro. Queria protegê-lo, impedir que qualquer coisa ou pessoa o afastasse de si novamente.
O carinho do namorado a leveza de seus gestos o acalmaram momentaneamente, mas sentia que cada segundo ao lado dele era precioso demais para ser desperdiçado. Por isso, deixou-se levar pelo momento, pelo calor compartilhado, pela intimidade que só os dois compreendiam. O banho que deveria ser breve transformou-se em uma declaração de amor e desejo, como se ambos quisessem gravar cada instante na memória antes de enfrentarem o desconhecido.
Na cozinha, enquanto compartilhavam o café da manhã, Jungkook observava cada movimento de Jimin com uma intensidade quase desesperada. Por mais que tentasse, aquele momento não poderia durar para sempre. A cada risada, a cada toque, a cada colherada de mingau de arroz, ele sentia a despedida se aproximando inevitavelmente.
Quando chegaram à porta, Jeon o envolveu em um abraço apertado, tentando transmitir tudo o que não conseguia colocar em palavras. Ele precisava que o mais velho soubesse que estaria ali, que o esperaria, não importava quanto tempo ou quais desafios surgissem no caminho.
━━ Prometa que vai voltar para mim ━ pediu, sua voz em um sussurro, repleto de emoção. ━ Não importa o que aconteça, eu preciso de você, Jimin.
Os olhos de Jimin brilharam com emoção enquanto ele segurava o rosto de Jungkook entre as mãos.
━━ Sempre, baby. Eu voltarei para você.
Com um último beijo, apaixonado e cheio de promessas, Park cruzou a porta. Jungkook ficou ali por alguns minutos, observando enquanto o vento bagunçava os fios mesclados do namorado e o levava para longe. Ao fechar a porta, sentiu como se uma parte de si tivesse ido junto com Jimin. Precisava ser forte, mas a saudade já começava a se instalar, deixando um vazio que só seria preenchido com o retorno daquele que era o centro de seu mundo.
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Park Jimin
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O vento da manhã era cortante, um açoite gélido que queimava minha pele, mas não conseguia apagar o calor que ainda ardia em meu corpo. A noite com Jungkook havia sido uma tempestade ━ de emoções, de desejos, de promessas sussurradas. Ainda sentia o toque de seus dedos traçando carícias pela minha pele, o peso de seu olhar oceânico e intenso que parecia desvendá-la camada por camada. E agora, como uma ironia cruel, ali estava eu, pisando novamente nos trilhos de uma vida que nunca foi meu desejo.
O dever me chamava, implacável, e eu atendia. A máscara precisava estar intacta, impecável. Para o meu pai, eu não era Park Jimin, o homem que se permitiu amar por uma noite. Eu era apenas o herdeiro, o filho obediente, o fantoche bem treinado. A mentira que construí para sobreviver precisava resistir mais um dia, a mais um olhar carregado de julgamento.
Respirei fundo, repetindo o discurso que havia ensaiado na mente. "Passei a noite num hotel", diria a Seong-Min. Uma desculpa banal, quase preguiçosa, mas suficiente para reforçar a narrativa de que eu era um jovem responsável, ciente dos perigos de sair à noite. Era uma história frágil, mas convenceu antes em minha juventude ━ por que não agora? O filho que retornava ao caminho correto, o herdeiro arrependido que desejava ser digno da confiança do pai novamente. Um teatro exaustivo, mas essencial.
A mansão apareceu no horizonte, imponente e fria, como um gigante de pedra que observava todos os meus movimentos. Meu estômago revirou; aquele lugar nunca foi um lar, apenas uma prisão de luxo. Mas eu sabia como jogar o jogo. Entraria como um cordeiro manso, ocultando os dentes de lobo sob um sorriso ensaiado.
Sora abriu a porta, o rosto esculpido por uma mistura de alívio e preocupação. Seus olhos, tão familiares, me perfuraram com um calor que sempre me fazia sentir uma culpa insuportável. Ela acreditava na minha fachada; sempre acreditou.
━━ Jimin, minha criança, onde esteve? ━ perguntou com a voz carregada de ternura, mas sem dar tempo para respostas. ━━ Não importa. Que bom que você voltou! Venha, não temos muito tempo.
Ela me conduziu rapidamente para o quarto, os passos apressados quase me fazendo tropeçar em minha própria hesitação. Ao abrir a porta, encontrei o terno cinza já à espera. As abotoaduras de ouro e esmeralda refletiam a luz suave do quarto, como se zombassem de mim. Era como se Sora sempre soubesse o que eu precisaria para enfrentar Seong-Min: a armadura perfeita, polida e brilhante, mas pesada com o peso das mentiras que sustentava.
Agradeci com um sorriso breve, o máximo que consegui, enquanto meu peito apertava. Trocar de roupa era mais do que vestir o terno; era vestir o papel que esperavam de mim. A seda fria deslizou por minha pele, um lembrete de que eu era um prisioneiro, mas também um ator. Ajustei as abotoaduras com dedos firmes, ignorando o nó que se formava na garganta.
E então, como se invocado por meus pensamentos mais sombrios, ele chegou. O som dos passos de Seong-Min ecoou pela casa como um prenúncio de tempestade. Seus passos eram firmes, autoritários, e sua presença sufocava o ar, roubando qualquer vestígio de liberdade que eu ainda pudesse sentir.
━━ Onde está o jovem mestre desta casa? ━ A voz dele soou seca, carregada de desdém, como se cada palavra fosse um desafio.
Engoli em seco, mas mantive minha compostura. Do alto da escada, endireitei os ombros e desci com passos precisos, cada movimento milimetricamente calculado. Meu coração batia forte, apertei os punhos sentindo as unhas cravarem na pele, mas minha expressão era inabalável. Cada degrau era um ato de resistência, ainda que disfarçado de submissão.
Quando nossos olhares se encontraram, percebi o breve lampejo de surpresa em seu rosto. Era sutil, quase imperceptível, mas estava lá. Ele não esperava isso ━ essa perfeição teatral, essa obediência que parecia natural, mas que eu sabia ser fruto de muito treinamento.
━━ Aqui estou, meu pai. ━ Minha voz saiu firme, controlada, como um reflexo perfeito do papel que ele exigia de mim.
Por dentro, no entanto, eu era um caos. A memória de Jungkook ainda queimava em cada fibra do meu ser, um lembrete de quem eu realmente era. Mas ali, diante dele, eu era apenas Park Jimin, o filho que ele podia moldar à vontade.
━━ A que horas você chegou, Jimin? ━ A pergunta de Seong-Min rasgou o silêncio como uma faca atravessando carne viva
Senti o coração acelerar, batendo com força suficiente para ecoar em meus ouvidos. A pergunta fora simples, mas carregava um peso sufocante, um teste disfarçado de curiosidade casual. Mantive o rosto sereno, a máscara firmemente ajustada. Não podia permitir que ele visse através de mim.
━━ Bem cedo, pai ━ respondi, e até me surpreendi com a firmeza na minha voz, que contrastava com o turbilhão que fervia sob a superfície.
Eu já tinha ensaiado essa mentira inúmeras vezes durante o trajeto até ali. Cada palavra parecia envenenada, mas precisei engolir o amargor e cuspir o roteiro sem hesitar.
━━ Aproveitei uma balada com amigos ontem à noite. Para evitar atrasos no meu primeiro dia na empresa, preferi pernoitar em um hotel.
Observei que os olhos de Seong-Min se estreitaram, avaliando cada palavra como um predador analisando sua presa. Senti um suor frio começar a se formar na nuca, embora o ambiente estivesse longe de ser quente. Meu corpo estava rígido, cada músculo em alerta, como se aguardasse um golpe que não viria.
Ele parecia buscar falhas, uma rachadura na máscara que eu vestia, mas encontrei sua mirada com firmeza, uma faísca de desafio escondia-se no fundo dos meus olhos.
━━ Espero que não tenha sido um hotel qualquer. A imagem de nossa família depende de cada escolha que você faz, Jimin. ━ Sua voz era como o som de vidro quebrando, fria e cortante.
━━ Naturalmente, escolhi um lugar à altura do nome Park. ━ Disse, mantendo o tom calmo, mas firme. Por dentro, no entanto, minha mente pulsava com a memória das mãos de Jungkook segurando as minhas, dos sussurros que prometiam um amanhã melhor.
Atrás dele, vi Sora. Seu olhar encontrou o meu por uma fração de segundo, mas foi o suficiente para sentir o fio tênue de solidariedade que ela oferecia. Um sorriso breve, quase imperceptível, curvou seus lábios, como quem dizia: “Você conseguiu mais uma vez.” E, pela primeira vez naquela manhã, senti que não estava completamente sozinho naquela casa.
A governanta, que permanecia na penumbra do corredor, acenou levemente com a cabeça. O gesto era pequeno, mas, para mim, parecia um grito de encorajamento. Respirei fundo, tentando usar aquele apoio como um escudo contra a pressão crescente.
Seong-Min finalmente assentiu, mas o sorriso que se formou em seus lábios era frio, afiado. Um sorriso que não prometia nada além de controle absoluto.
━━ Bom. Venha, desça para o café da manhã.
O cheiro adocicado do café da manhã, que vinha da cozinha, me fez lembrar do mingau de arroz que compartilhei com Jungkook. A lembrança do seu toque, do seu calor, me atingiu como um soco no estômago.
A ideia de compartilhar uma refeição com Seong-Min sentado sob aquele teto de olhares calculados e julgamentos constantes, era insuportável. Engoli em seco, sentindo um gosto metálico na boca. Meu maxilar estava tão travado que só então percebi que havia mordido o interior da bochecha.
━━ Já tomei meu café no hotel, pai ━ menti novamente, forçando um tom submisso, enquanto cada palavra saía arranhando minha garganta. ━━ Para não me atrasar.
“ Tomei café ao lado do homem que amo” era o que gostaria de dizer.
Ele parecia satisfeito, ou talvez apenas entretido pela ideia de que sua autoridade estava funcionando. Aquele sorriso discreto, quase triunfante, me fez querer virar a mesa e quebrar aquele teatro em mil pedaços. Mas não era o momento. Não ainda.
O gosto metálico se intensificou. Passei a língua pela ferida na bochecha, saboreando o sangue misturado à minha raiva. Meu corpo inteiro estava rígido, como se cada fibra muscular lutasse para manter o controle. As têmporas latejavam, e sentia o pulsar da raiva ecoando no fundo da cabeça, quase uma presença viva, exigindo ser liberta.
Sora ainda estava lá, me observando. O breve sorriso de antes parecia um lembrete para que eu mantivesse o foco. Era engraçado como algo tão pequeno podia me sustentar.
Endireitei os ombros e ajeitei o nó da gravata, mais por hábito do que por necessidade, enquanto meu pai se afastava em direção à saída. Não me mexi até que sua presença desaparecesse pela porta. Só então soltei o ar que vinha segurando.
Encarei meu reflexo no espelho da sala. Meu rosto estava perfeito. Nenhum traço de emoção, nenhuma rachadura na máscara. Mas, por dentro, eu sabia que estava desmoronando. Cada dia seria uma batalha. Cada mentira um tijolo a mais no muro que me separava de mim mesmo.
“Só mais um dia, Jimin. Só mais um dia.”
Enquanto seguia os passos dele, ouvi a voz gentil de Sora atrás de mim. ━━ Seja forte, meu querido. ━ Suas palavras carregavam um peso que apenas ela e eu podíamos entender. Não respondi, mas permiti-me um pequeno sorriso, quase imperceptível, como uma forma de agradecimento.
Preparei-me mentalmente para dividir o mesmo ar que Han Seong-Min, ele já me aguardava no carro da família. O motorista mantinha-se de pé segurando a porta, uma formalidade desnecessária a meu ver, mas para ele era essencial mostrar sua soberania sobre os menos favorecidos.
Sentei-me no banco de couro, que deveria ser confortável, mas que me parecia feito de tachas. O cheiro do interior do carro, uma mistura de madeira polida e algo doce e artificial, me fez sentir como se estivesse engolindo aquele ar pesado, sufocante. A luz suave das telas ao meu redor iluminava meu rosto, mas eu não queria olhar para elas, não queria me deixar envolver pela perfeição daquele lugar. Olhei para o lado, tentando não encarar o reflexo dele no vidro escuro, mas não consegui evitar.
Han estava ali, sentado ao meu lado, com aquele semblante impassível que sempre usava. Tão confortável naquele lugar, tão em casa no luxo que me parecia uma enorme mentira. Cada movimento dele era calculado, cada palavra não dita parecia pesar no ar.
O automóvel deslizava suavemente pelas ruas, quase sem fazer barulho. Mas eu não conseguia respirar. O ar estava denso demais. A cada curva feita me sentia mais preso, mais distante de mim mesmo.
A música suave que tocava ao fundo só aumentava a sensação de desconforto, como se o luxo ao meu redor fosse uma piada de mau gosto, uma lembrança cruel de que, apesar de estar imerso naquelas riquezas, eu ainda estava ali, ao lado de um homem que não era meu pai, e nunca seria.
Eu queria gritar, correr, fugir de tudo aquilo, mas não havia para onde ir. O carro me engoliu inteiro, estava preso, condenado a dividir aquele espaço com ele, com o homem que nunca soube o que é realmente ser um pai.
Quando Han finalmente interrompeu o silêncio foi para instruir-me sobre o império Park, para ditar suas regras e deixar claro que não aceitaria falhas de minha parte. Mal sabia que eu buscaria por suas falhas.
━━ Você tem noção do que está em jogo, Jimin? ━ A voz de Seong-Min não era alta, mas soava forte, como se cada palavra tivesse sido cuidadosamente escolhida para atingir um ponto sensível.
Eu olhei pela janela, tentando ignorar a sensação de sufocamento que crescia em meu peito. As ruas se estendiam à nossa frente, mas não havia liberdade em nenhuma delas. Só o peso de sua autoridade, de sua presença.
━━ Sim senhor. Posso entender com clareza. ━ Minha voz estava controlada, talvez até mais do que eu gostaria. Mas ele não poderia perceber a falha. Não agora.
Ele não parecia convencido. Com um movimento suave, seu olhar encontrou o meu, tão penetrante que me fez desviar os olhos por um instante.
━━ Não é sobre entender, Jimin. É sobre cumprir. O império Park não tem espaço para erros. Cada passo seu será observado, e não há margem para falhar. Ou você cumpre as regras, ou desaparece… no mercado. ━ A última frase foi dita com uma frieza que gelou o ambiente, como se não houvesse a menor dúvida de que ele seria capaz de apagar minha existência sem hesitar.
Eu senti a pressão aumentando, a necessidade de controlar minha respiração, de manter minha máscara intacta. Porque, no fundo, sabia que ele estava me desafiando, esperando que eu vacilasse. Mas eu não podia. Não ali, não diante dele.
━━ Farei o que é preciso, pai. ━ Tentei soar convincente, embora o gosto amargo das palavras me enjoasse. Eu estava apenas dizendo o que ele queria ouvir, mas o problema era que, ao mesmo tempo, eu começava a acreditar nisso. Eu começava a me ver, cada vez mais, no jogo que ele traçava.
Seong-Min se acomodou no banco, seus olhos ainda fixos em mim. A tensão entre nós não se dissipava, pelo contrário, aumentava a cada segundo que passava.
━━ Não se esqueça, Jimin, ━ ele continuou, a voz mais baixa, mas ainda carregada de um poder quase tangível, ━━ o império Park está em suas mãos agora. E a sua obediência é tudo o que importa. O resto... o resto não vale nada se você falhar.
Eu poderia sentir a raiva crescendo dentro de mim, mas mantive o controle. Não podia deixá-lo ver. Não podia mostrar que, por trás das palavras suaves e da postura impassível, a verdade era outra.
━━ Não vou falhar, pai. ━ disse, mais firme. A certeza na minha voz era a única coisa que me permitia acreditar nas minhas próprias palavras.
O carro deslizou suavemente pelas ruas, e, por um breve momento, o silêncio tomou conta novamente. Não era um silêncio confortável, mas o tipo de silêncio que existia entre dois homens que sabiam que, em algum ponto, a guerra estava prestes a começar.
Estava aprisionado em uma rede de mentiras, buscando uma maneira de sair, mas, ao mesmo tempo, entendia que só dentro daquele império poderia ter o poder necessário para destruir tudo. Se fosse necessário, destruiria até mesmo a imagem que ele criou de mim, principalmente, iria destruí-lo.
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A Parks Corporation erguia-se à minha frente, uma fortaleza de vidro e aço, imponente e indiferente. O cheiro metálico de ambição se misturava ao aroma sutil de café e tinta fresca que se desprendia do prédio, um convite disfarçado de ameaça. As janelas espelhadas, reluzentes como facas, refletiam o céu azul sem nuvens, um sorriso forçado que me recebia, vazio de qualquer calor humano.
O carro parou diante da entrada principal, e o motorista abriu a porta com um movimento tão preciso e impessoal que parecia um gesto mecânico, como se oferecesse um tributo àquela estrutura de concreto que engolia tudo à sua volta. A reverência dos funcionários, alinhados com precisão impecável, lembrava-me de um ritual ancestral, uma oferenda a um deus frio e inclemente.
Seong-Min, com sua postura rígida e expressão impenetrável, foi o primeiro a sair do carro. Seu terno preto, imaculado, funcionava como uma armadura de poder, e seu olhar glacial varreu a fileira de subordinados, examinando cada rosto, como se estivesse pesando a utilidade de cada um. Andava com passos firmes e decididos, como se cada movimento tivesse um propósito profundo, imprimindo em suas mentes a hierarquia que ele comandava com precisão.
Eu o segui com minha máscara cuidadosamente ajustada, perfeita em sua simulação de conformidade. Os olhares dos funcionários, carregados de admiração e respeito, percorriam-me, e um arrepio percorreu minha espinha. Eles me viam como um herdeiro, como o futuro CEO da corporação, mas, por trás de seus olhos, havia uma pena disfarçada, de compreensão um achismo de que eu era a peça mais frágil no tabuleiro de seu jogo.
As reverências, as cabeças baixadas, os sorrisos forçados, tudo me sufocava. Estava preso em uma encenação, um ator em uma peça escrita por ele, dirigida por ele. Mas dentro de mim, algo se rebelava. Cada passo que dava, cada gesto, se tornava um pequeno ato de resistência. Aquele cenário opressor, aquela atmosfera carregada de expectativas, apertava meu peito, mas eu não podia parar. Por trás da máscara, sentia meu coração pulsar com força. O desejo de liberdade, o sonho de um futuro que fosse só meu, me mantinham em movimento. Um fantoche, sim, mas um fantoche com um coração selvagem, incontrolável.
O olhar de Seong-Min encontrou o meu por um breve instante. Gélido, cortante, como se ele tentasse penetrar minha alma. Ele queria me testar, medir até onde eu era capaz de ir em minha subordinação. Queria saber se minha obediência era real ou apenas uma fachada, se eu estava, de fato, moldado como ele desejava.
A caminhada pelos corredores da Parks Corporation era quase um rito, um desfile de posturas ensaiadas, olhares de respeito que mal escondiam a indiferença e sorrisos que mais pareciam máscaras. Cada passo meu reverberava nas paredes de vidro e aço, e o movimento de Seong-Min, à minha frente, parecia calculado, como se ele estivesse encenando a chegada de seu "legítimo" herdeiro, uma peça disposta com precisão em seu jogo de poder.
Quando a porta da sala de presidência se abriu, era como se estivéssemos entrando no centro do palco de uma peça teatral. Seong-Min fez um gesto amplo, apresentando uma conquista, um troféu que ele considerava seu. ━━ Aqui está o futuro da Parks Corporation, anunciou com um sorriso falso, sua voz carregada de uma alegria forçada. ━━ O herdeiro legítimo do império Park. Jimin.
Me olhou, esperando que eu retribuísse com a mesma exibição, com o mesmo sorriso protocolar. Mas não cedi. Não ao sorriso, nem à encenação. Aquilo era só mais um ato, um espetáculo feito para agradar os subordinados, para impressionar os olhos vazios dos funcionários que nos observavam. O que eles viam ali não era um futuro, mas o reflexo de uma fachada que, por mais bem construída que fosse, começava a ruir.
Os olhares se voltaram para mim. Alguns surpresos, outros céticos, muitos com um leve medo disfarçado. Era isso o que Seong-Min queria: uma demonstração de poder, uma reafirmação de sua posição.
Ele me conduziu até os subordinados que ele escolheu a dedo, uma linha de rostos que mais pareciam sombras de um sistema que respirava mentira e medo. Cada um deles fazia parte da engrenagem que movia a Parks, mas seus olhares evitavam o meu, como se eu fosse uma ameaça em forma humana. Sabiam quem eu era, sabiam o que representava, e aquilo os incomodava.
Fiquei em silêncio enquanto Seong-Min fazia as apresentações formais, descrevendo com autoridade as funções e responsabilidades de cada um, como se estivesse no controle absoluto da situação. Mas, quando terminou, não me calei. Minha voz não era submissa, nem duvidosa. Carregava a certeza de quem sabia o que estava acontecendo, de quem entendia o peso do momento.
━━ Seong-Min, meu pai. ━ comecei, minha voz firme, cortante, sem hesitação. ━━ Aprecio as escolhas que fez, mas a partir de agora, a Parks será minha. E a equipe que estará ao meu lado não será formada por suas escolhas, mas pelas minhas.
O silêncio foi absoluto, e a tensão na sala cresceu. Os funcionários e subordinados nos observavam, sem ousar desviar o olhar. Seong-Min, por um instante, paralisou. O sorriso que ainda tentava manter desapareceu, e uma expressão gélida tomou seu lugar, disfarçada por uma fachada de polidez que não enganava ninguém.
Pude sentir o peso da mudança que minhas palavras causavam, a ruptura que estava prestes a acontecer. O que eu dissera não era apenas uma ordem, mas uma declaração. Uma afirmação de que o império Park, finalmente, seria meu. E a luta por ele, contra Seong-Min e todos os que ainda tentassem me derrubar, começava naquele momento.
Han, finalmente, respirou fundo, engolindo a frustração, e deu um passo atrás. Não podia desafiar minha decisão na frente de todos, mas o veneno em seus olhos era claro. A tensão continuava no ar, densa e elétrica. Era o começo de um novo jogo. O império Park seria, finalmente, meu. E a batalha para mantê-lo e conquistá-lo de fato, estava só começando.
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