XXIII
(Escrito em 11.10.2020)
Terça-feira. 23/03.
Jungkook estava sentado na grama junto aos outros garotos. Era hora do intervalo e eles estavam lanchando após Namjoon pegar no refeitório. Seokjin e Jimin já haviam acabado, portanto, optaram por brincar de 'soco, bate, vira' mais perto da árvore enquanto conversavam.
— Então, a Malika te disse 'pra usar uma gravata azul índigo? — perguntou Yoongi, dando outra mordida no misto-quente, sentado entre as pernas de Namjoon.
— Sim, ela disse que iria combinar com meu terno, já que ele é azulado. Mas, e vocês? Chegaram num acordo? — respondeu, arrumando os cabelos ruivos.
— Sim, amarelo. — respondeu Namjoon. — É uma das cores da bandeira pan, além de ser uma das nossas cores favoritas, então, não tem escolha melhor. Seokjin e Jimin?
— Estou forçando o Seokjin a usar uma verde comigo, da cor das nossas camisas daquele dia. — respondeu Jimin, sem parar de brincar.
— Jimin cismou que é a nossa cor. — disse, revirando os olhos e sentindo um tapa fraco em seu rosto. — Cuidado 'pra não arranhar.
— Sempre tenho, lindo. — puxou Seokjin e lhe deu um selinho.
— Mas e os caçulas? Como estão? — perguntou Hoseok.
— Não faço a mínima ideia. — disse Taehyung, sem graça.
— Não temos par ainda, né. — completou Jungkook.
— Ah, é. — disse Hoseok, mordendo outra vez o sanduíche, escutando o sinal bater. — Nosso intervalo é curto demais, porra. Bora lá.
Todos se levantaram, limpando as calças. Saíram andando, mas Jungkook segurou o pulso de Taehyung, o fazendo ficar. Os amigos viram, mas preferiram continuar seguindo.
— 'Tá tudo bem, Kook-hyung? — perguntou, o olhando nos olhos.
— 'Tá tudo sim, eu só... — se embaralhou nas palavras. — Ah, deixa. — ia saindo, mas foi segurado por Taehyung.
— Não, fala. — pediu, o voltando para onde estava antes.
— Sei lá, nossos amigos estão todos indo juntos, Hoseok já combinou de ser par de todo mundo e eu queria saber se, por um acaso, assim, de repente, você queira ir ao baile comigo? — perguntou nervoso. — Não precisa dizer sim só porque somos amigos, 'tá? Eu aceito de boa se você estiver pensando em convidar outra pessoa, aliás, eu não tenho que aceitar nada, mas-
— Cala a boca, eu quero. — respondeu após tapar a boca de Jungkook.
— Sério? — perguntou abafado, com os olhos arregalados. — Achei que você não iria aceitar.
— Por que? — perguntou rindo, puxando o mais novo para voltarem à sala.
— Sei lá, paranóia. Eu já 'tava pensando nisso, mas fiquei muito nervoso, sabe?
E, realmente, Jungkook estava hiper nervoso. No dia anterior, quando saíram do auditório e puderam ir direto para casa, ele se deitou em sua cama com sua cueca de coelhinhos e ficou pensando. E se Taehyung não quisesse? E se ganhasse a aposta — por mais que ele não desse a mínima, ainda estava rolando, e ele não queria ganhar —? Jungkook não queria estar certo, pela primeira vez na vida.
Desde que olhou Taehyung no sexto ano, com os óculos pretos recém feitos e a franja caindo por cima, sentiu seu peito aquecer, bem no centro. Mas, ele era pequeno demais, novo demais, inocente demais, para entender o que estava acontecendo. Só foi perceber no oitavo ano que, realmente, seu coração tinha um dono desde a primeira vez que sentiu oxigênio entrar em seus pulmões.
Não se lembrava da primeira vez que olhou Taehyung nos olhos, mas estava gravado. E ele sabia de cor como foi.
Ele tinha um mês, enquanto Taehyung, tinha dois meses. Suas mães esperaram esse tempo para que os dois pudessem ter certa noção, por mais que nem soubessem seus próprios nomes. Elas taparam seus olhos enquanto se sentavam na cama com os filhos nos colos, o mais perto possível. Assim que retiraram as mãos das frentes e eles abriram os olhos, esses foram arregalados, ficando maiores ainda. Instintivamente, buscaram as mãos um do outro.
Para susto dos pais, os filhos começaram a chorar. Elas tentaram se afastar, mas eles só seguravam ainda mais forte, numa força até mesmo surreal para bebês tão novos.
Jungkook escutava aquilo como choros de alívio, de "finalmente encontrei minha outra parte". Acreditava serem chamas gêmeas: nossa energia, dividida em dois para caber em dois corpos diferentes.
Voltou à realidade, percebendo já estar entrando na sala de aula, ainda de mãos dadas com Taehyung. O professor de matemática, Park Jaebeom, já fazia anotações na lousa ao que os garotos sentavam. Felizmente, a aula seria passada em slides. Sentiu seu celular vibrar no bolso, então o pegou e desbloqueou, vendo mensagens chegarem.
Taetae
| kook, eu já sei que cor vamos usar!
qual, hyung? |
| roxinho
eu,,, gosto de roxo |
mas pq? |
| porque azul e rosa dá roxinho
O encaro, vendo ele sorrir ao encará-lo de volta.
só topo se usarmos meias trocadas |
| an? como assim?
vc vem p minha casa no dia |
eu te explico |
| okay hmm
| agora vamos voltar p aula
| o prof tá olhando p nós
Desligou, vendo Taehyung piscar e fazer um sinal de positivo para si.
A aula passou rápido pela primeira vez em sua vida. Enquanto guardava seus materiais, sentiu uma mão em seu ombro. Olhou para cima e viu Hoseok sorrir para si, piscando com o olho direito.
— Fiquei sabendo que alguém conseguiu um par para o baile. — disse, serpenteando a língua entre o dentes.
— Ele contou, é? Sim, tenho.
— Interessante... — se abaixou, na altura do ouvido do mais novo. — Acho que alguém está perdendo a aposta.
— Aceitar ir ao baile não quer dizer nada.
— Se isso te faz dormir à noite...
Voltaram para casa sem pressa, conversando. Jungkook entrou direto para casa, vendo sua mãe sentada no sofá comendo um ramen completamente arrumada.
— De folga hoje? — perguntou, se sentando ao lado dela.
— Trabalho de tarde hoje. Jieun precisa da tarde livre e pediu para fazermos isso hoje. Inclusive, não esquece, viu?
— Claro que não esqueço, 'tô super animado.
— Okay então, filho. Vai descansar.
Ele subiu as escadas correndo, indo para seu quarto. Trocou de roupa, colocando uma calça de moletom de cintura alta e uma camiseta larga. Se sentou na cama, ligando o notebook para jogar enquanto o tempo não passava.
Próximo das 14h, se levantou, indo para a sala. Nayeon estava no sofá, abraçada com Jisoo e Dahyun; enquanto calçava seus sapatos, falou:
— Nie, 'tô saindo. A mãe sabe, se cuida.
— Okay, oppa. Boa saída. — ela respondeu, cheirando o cabelo de Dahyun.
— Tchau, Nie. Tchau, meninas.
— Tchau, oppa. — responderam juntas.
Assim que pôs os pés fora de casa, sentiu o sol forte bater em seu rosto. Caminhou pela calçada, batendo na porta da casa vizinha.
— Hyung? — Taehyung lhe encarou confuso. — Marcamos algo e eu esqueci? Puta que pariu, me desculpa.
— Não, Tae. Não marcamos nada.
— Ué, 'tá. Entra. — deu espaço para que passasse e quando ia fechar a porta foi interrompido por Soobin, que a segurou para entrar também.
— Amor? — Yeonjun estava confuso, saindo da cozinha com um copo de água. — A gente não ia fazer nada hoje, ia?
— Não, hyung. Não iríamos fazer nada.
— Então, o que aconteceu? — os irmãos perguntaram juntos.
— Finalmente vocês chegaram! Eu já ia mandar mensagem. — Jieun desceu as escadas, vestida com uma calça de moletom e uma camiseta do marido, com meias nos pés.
— Mãe? A senhora que chamou eles? — perguntou Taehyung.
— Sim, eu finalmente consegui uma folga 'pra chamar eles para virem aqui. — ela disse, dando um beijo na bochecha de cada um dos convidados.
— E o que nós vamos fazer? — perguntou Yeonjun.
— Vocês dois — apontou para os filhos. —, vão sair. — tirou dinheiro da carteira que estava em cima da mesa de jantar, entregando a Taehyung. — Eu, o Jungkook e o Soobin, vamos passar a tarde conversando.
— Sem nós? — disse Taehyung, indignado.
— Sim, sem vocês. — ela passou a levá-los para a porta. — Calcem os tênis e tchau.
— O que? — Yeonjun ainda estava confuso.
— Andem logo!
Os irmãos não entenderam, mas preferiram não contrariar a mãe, calçaram seus tênis.
— Não estejam em casa antes das 18h. — ela disse, dando um beijo em cada um para então fechar a porta. — Agora nossa tarde pode começar, garotos.
Jieun os levou para a cozinha, sentando-os na pequena mesa e colocando coisas para lancharem sobre ela.
— Tia Ji, era mesmo preciso tirar eles de casa? — perguntou Soobin, dando um gole no suco de uva.
— Sim, ou então como teríamos nossa tarde dos genros e sogra? — ela perguntou.
— Tia, ainda não sei porque a senhora me chama de genro, sabia? — disse Jungkook. — Eu não namoro o Tae.
— Mas eu sinto que ele gosta de você, Kook. — ela fez um carinho nos fios rosas do genro. — Mesmo ele sendo quieto, desde sempre vejo algo diferente em vocês.
— Ah, sei lá... — bebeu um gole do suco.
— E o baile, hyung? Resolveu algo? — perguntou Soobin, mordendo o sanduíche que havia feito.
— Sim, convidei ele.
— E aí? — os dois o olharam, ansiosos.
— Ele disse que sim. — respondeu envergonhado, sentindo suas bochechas esquentarem.
— Caralho! — berrou Jieun. — É disso que eu 'tô falando!
— Tia, meu deus! — Soobin riu da sogra.
— Meu casal 'tá acontecendo, Bin!
— Nosso casal, tia.
— Aish! Deixem disso! — Jungkook respondeu, mas se entregou às risadas.
— Decidiram cor da gravata? — ela perguntou quando conseguiu voltar a respirar.
— Sim, roxo. — respondeu, vendo os dois se olharem animados.
— Vão ficar lindos! Eu vou contar 'pra Dayang assim que eu falar com ela.
— Vou contar 'pro Junie!
— Aliás, como 'tá meu cunhadinho, Bin?
— Ai, como dizer? — começou a falar, claramente apaixonado. — O Yeonjun é perfeito, me trata como um príncipe, cuida de mim como ninguém, é hiper carinhoso. Eu não podia querer alguém melhor.
— Fico tão feliz por isso, anjo. — Jieun diz, sorrindo. — Gosto muito de ter dois coelhinhos na minha família, sabiam?
— Realmente, seus genros são coelhinhos, sogra. — Soobin disse rindo.
— Fazer o que? Coelhinhos precisam botar ordem em raposinhas e tigrinhos teimosos, não é? — completou Jungkook, também rindo.
— Aish, vocês são incríveis! — ela gargalha. — Mas, então, vocês viram aquele novo dorama?
🐯🤞🐰
Os três passaram a tarde toda conversando, comendo e rindo. Realmente, amavam a companhia uns dos outros — e com certeza, quando fossem oficialmente parte da mesma família, fariam dias como esse acontecerem bem mais vezes. Jungkook ria com Soobin de um vídeo no celular enquanto Jieun guardava a louça que eles haviam lavado. Taehyung e Yeonjun entraram em casa.
— Oi, gente. — disse Taehyung enquanto guardava os tênis na sapateira. — Tudo bem?
— Oi, Tata. Tudo sim e vocês? Como foi a tarde? — respondeu Jungkook, desviando a atenção do celular para o de fios azuis.
— Foi bem, ficamos no fliperama até agora pouco. — Yeonjun se sentou ao lado do namorado, o puxando para dar-lhe um beijo na bochecha.
Jungkook se intimidou e afastou-se um pouco de Soobin, bem na hora que Taehyung se sentava no sofá, e o mais velho, vendo o que estava acontecendo, puxou ainda mais Jungkook para si, encostando-o no seu ombro ao que passava o braço em volta de seu corpo.
— Fica aqui, deixa eles. — sussurrou em seu ouvido o mais velho, pegando o controle da TV que estava ao seu lado no sofá.
Jieun chegou a pensar em ir para a sala novamente, mas ao ver os filhos acompanhados, resolveu subir para seu quarto o mais quieta possível, mesmo que fosse correndo. E os adolescentes nem perceberam, cada dupla em seu próprio mundinho.
Taehyung puxou Jungkook devagarinho, pela cintura, o fazendo sair do sofá. Ainda o segurando, subiram escada acima fazendo o mínimo de barulho para não atrapalhar o casal da sala, tão envolto um no outro. Entraram no quarto do mais velho e praticamente suspiraram ao fecharem a porta.
— Eu já estava me sentindo deslocado. — disse Jungkook, se sentando na cama.
— Eu 'tô acostumado, mas sei que 'pra ti é diferente. — se deitou na cama e puxou o mais novo para deitar em sua frente, de conchinha, enquanto cheirava o pescoço. — Fica aqui, você é tão cheiroso...
— Vou ficar então, Tae.
Taehyung colocou o braço direito em baixo da cabeça, por cima do travesseiro, ao que o esquerdo circulava a cintura marcada de Jungkook — que tinha o braço direito por baixo da cabeça também, mas por baixo do travesseiro —, que aproveitava o carinho de olhos fechados.
— Você sentiu a minha falta? — perguntou Taehyung, se afastando da nuca do outro para falar.
— O que? — Jungkook se virou, ficando de frente para Taehyung, que ainda segurava sua cintura.
— Minha falta. Você sentiu a minha falta durante esses anos?
— Que pergunta é essa? Claro que senti!
— Por que? — se ajeitou.
— Primeiro, você sempre foi meu melhor amigo e a minha companhia. — começou, olhando o amigo nos olhos. — Você sabe, sempre fomos mais ligados de pequenos.
— Eu sei, também sentia isso.
— Segundo, você sempre cuidou de mim, e eu sentia falta do meu 'Tate'.
— Nossa, esse apelido você desenterrou do fundo do baú, né, 'Koogi'? — disse rindo.
— E você então? — respondeu, rindo ainda mais. — Saudades de Tate e Koogi, os aventureiros da Rua Sete.
— Por que os garotos não brincavam com a gente de aventuras mesmo?
— Eles preferiam brincadeiras mais calmas, a gente passava o dia todo nos pendurando em árvores, Tae.
— Realmente, mas era legal! Eu me sentia um macaquinho.
— Talvez porque você fosse? — indagou, soltando uma risada leve.
— Saudades de ser pequeno, comer na casa da tia Alanis, passar o dia todo trepando em árvore e rolando na areia e na terra...
— Eu sinto falta, mas não trocaria o momento de agora por esses, sabia?
— Eu sei, eu digo o mesmo.
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