II
(Escrito em 21.02.2020)
Terça-Feira. 02/03.
Revirando em sua cama, Jeon tentava abafar o despertador de seu celular que ecoava por todo o quarto; chegou até cogitar a ideia de jogá-lo no chão, mas lembrou-se, que precisava dele 'pra conversar com seus amigos.
Sem pressa, sentou-se e desligou o despertador, fazendo L'aventure, de Kokoro, parar de tocar. Se espreguiçou e estralou seu corpo. Foi para seu banheiro com os olhos quase fechados, e quase caiu por ter tropeçado no tapete.
Depois de pronto e já acordado, desceu para a cozinha, observando a casa vazia, a não ser por sua irmã ali. Viu na geladeira, um post-it amarelo com uma caligrafia simples, a letra de sua mãe. Dizia: "Crianças, nós fomos mais cedo para o trabalho. Tomem café direito, não se atrasem e vão para a escola. Nos vemos à noite. Um beijo, mamãe e papai", com um coraçãozinho do lado. Jungkook sorriu.
Abriu a geladeira, pegando um leite fermentado e indo para a sala de jantar, sentando na cadeira da ponta, como sempre. Pegou seu celular e começou a conversar no novo grupo, onde todos já falavam há uma meia-hora. Enquanto respondia e interagia, a campainha toca, ele olha Nayeon com um semblante curioso e ela sorri de lado, levantando e arrumando sua saia. Ao aberta, ele viu Dahyun e Jisoo.
— Puts, é a creche! — Jeon bateu na própria testa.
— Você é um idoso, oppa! — Dahyun rebateu.
— Bla, bla, bla!
— Jogou tanto The Sims que afetou seu cérebro, 'tá vendo? — essa foi a vez de Jisoo falar.
— É terminantemente proibido julgar The Sims na minha casa! — ele gritou, arrancando risos das meninas.
— Okay, okay! — Nayeon disse e se aproximou dele, dando um beijo na testa. — Vou para a escola com as meninas, é melhor você comer algo além desse leite fermentado, senão, vou entrar no seu quarto de madrugada, desinstalar seu The Sims e apagar todos os arquivos. — Jeon fez uma expressão assustada e negou rapidamente. — Então, é bom você comer. Tchau, oppa!
— Tchau, Nie! — sua irmã sorriu e correu para suas amigas, saindo e fechando a porta.
Jeongguk levantou, indo jogar o potinho do leite fermentado no lixo. Pegou na fruteira, uma maçã, para comer no caminho e na mesa pegou sua mochila, saindo de casa. Subiu em sua bicicleta e pedalou para a escola, sempre com seu fone no ouvido direito.
Ao chegar no pátio e ver seus amigos, sem a mínima cerimônia, atirou-se em cima deles. Hoseok o xingou por quase ter deixado cair seu celular e ele pode ver Malika rindo na tela.
— Bom dia, hyungs! Boa tarde, noona!
— Bom dia, Gguk! — Namjoon e Seokjin responderam, cutucando Hoseok para que ele também respondesse.
— O que? — tirou o fone.
— Você e a Mali, dêem bom dia para o coelhinho.
— Bom dia, miguinho! — Hoseok desconectou o fone do celular. — Amor, tem que dar bom dia 'pro Kook, senão, ele chora.
— Bom dia, bunny! Como está?
— Bem, noona. Obrigado por perguntar. Agora, você e o Hobi podem voltar a namorar.
— Okay! — Malika riu e Hoseok conectou o fone novamente, voltando ao seu pequeno mundo.
Os três ficaram conversando, e logo mais três se aproximaram.
— Bom dia, gente! — Jimin disse, sentando ao lado de Seokjin.
— Bom dia! — todos responderam. — Como vocês estão? — Namjoon perguntou.
— Bem, e vocês? — Yoongi disse.
— Muito bem! — Seokjin respondeu. — Já começaram a fazer o trabalho da fera?
— Ainda não. — Yoongi respondeu. — Joon e eu, treinamos bastante, precisamos arrumar tempo. E vocês?
— Eu e Jungkook ainda estamos no planejamento — foi a vez de Taehyung falar.
— Não esqueçam que é para daqui duas semanas. — Namjoon os alertou.
— Sim, pode deixar — Jimin observou Hoseok. — Por que ele 'tá isolado de nós e falando inglês com o celular?
— Ele está conversando com a namorada dele. — Jungkook respondeu, mas Jimin continuou com uma expressão confusa. — Ela é canadense e mora lá, eles namoram a distância.
— Ah, sim! Agora faz sentido.
— Ei, Hobi? — Seokjin o cutucou, o fazendo tirar o fone e observar todos.
— Oi, gente.
— Hoseokie, apresenta a sua menina para eles. — Namjoon disse e Hoseok não evitou sorrir.
Ele tirou o fone e contou para ela o que estava acontecendo, virou o celular.
— Pessoal, essa é a Malika, a minha garota. Diz "oi", querida.
— Oi, pessoal! — ela disse em um coreano enrolado. — Espero que estejam bem.
— Mano, você é muito bonita. — Yoongi disse e a garota sorriu.
— Gentileza tua. Me digam seus nomes.
— Eu sou o Jimin, esse é o Yoongi e aquele é o Taehyung. — Jimin os introduziu.
— Ah, oi, garotos! Espero que vocês cuidem bem desses quatro, eles dão muito trabalho.
— Pode deixar, eu já cuido bem desse gatinho aqui. — Yoongi disse sentando no colo de Namjoon. — Mas pode deixar que cuidamos deles. Quantos anos tem?
— Dezoito, que nem o Joon e o Kook.
— Ah! Então, se quiser, pode me chamar de oppa, tenho dezenove. Ou então, me chame de Yoon.
— Hm, que tal Yoon oppa?
— Adorei! — Yoongi riu.
— Nós temos a mesma idade. — Tae disse, apontando para si e Jimin. — Podemos te chamar de noona?
— Claro que sim, garotos! Fiquem à vontade!
— Todo mundo ama a minha Mali! — Hoseok disse e fez todos rirem.
O sinal tocou, os garotos levantaram juntos e seguiram para dentro da escola. Nas terças, todas as quatro aulas antes do intervalo, seriam para os alunos se dedicarem aos seus clubes. Eles se separaram, cada um seguindo seu caminho e Hoseok ainda conversando com Malika.
Jungkook desceu as escadas do auditório, vendo todo seu grupo sentado no palco. Correu para o palco, escorregando e caindo, fazendo Yongsun se aproximar e o levantar.
— Tudo no lugar? — perguntou, ainda segurando sua mão.
— Sim, acho que sim. — Jungkook respondeu e foi com Sun para o palco, onde foi recebido com "bom dia" ou "machucou?".
Sentaram-se em círculo, retirando seus roteiros de suas mochilas.
— Bom, como líder do clube — Lalisa, em pé, começou —, declaro iniciada nossa reunião semanal oficial. Lembrando, que vocês podem vir ao auditório para treinar sempre que quiserem. Hoje, ensaiaremos as falas para a peça 'O Mágico De Oz', ou 'Ozinho', como diz nosso Mingyu. — disse fazendo todos rirem e Mingyu se curvar, também rindo. — A peça foi escolhida por votação de todos os membros. Sem mais enrolações, bem-vindos ao penúltimo ensaio antes da nossa última peça do ano. E última peça escolar dos terceiranistas. — se sentou no círculo. — Podemos começar, crianças.
Memorizavam suas falas em grupo, sentados, lendo e relendo, fazendo alterações na entonação e até no próprio texto. Depois de uma aula, passaram a ensaiar fielmente, encenando sem seus roteiros. Lalisa coordenava, dizendo-os como fazer determinadas cenas. As outras três aulas se passaram rapidamente, e então, todos saíram para o intervalo.
Jungkook viu seus amigos em uma mesa, já sentados e comendo, junto a uma bandeja extra. Se aproximou sorrindo.
— Oi, pessoal! Como foram seus clubes? — sentou em frente a bandeja.
— Muito bem, caçulinha. — Jimin respondeu. — E o seu?
— Incrível! Eu mal posso esperar.
— Eu ainda não sei qual é a peça. — Yoongi disse.
— É regra do clube. — Jungkook disse. — Temos tudo pronto, mas só anunciamos uma semana antes da peça. Mas podem ter certeza, vocês vão ouvir sobre essa peça, até não aguentarem mais.
— Eu ouvi dizer que vocês tem meio que um ritual para passar o líder. É verdade? — Tae perguntou.
— Sim, nós temos. É bem louco, mas não pensem que matamos animais ou usamos sangue. — riram. — Já conheci muita gente que pensava assim. É só um ritual fofo.
— Okay, né... — Tae disse rindo. — Nosso único ritual de saída do clube de pintura, é deixar os primeiranistas e os segundanistas pintarem os nossos rostos, cada um de um lado, na última reunião. É bem doce.
— No clube de dança, os mais novos nos fantasiam e temos que fazer qualquer coreografia que eles quiserem, também na última reunião. Eu nem sei o que eles vão nos fazer dançar esse ano, é sempre um segredinho. — Jimin disse.
— No jornal, é um ritual mais elaborado. — Hoseok disse. — Eles fazem um jornal para cada um dos terceiranistas, desejando o que aconteça de bom com cada um. Eles fazem tipo um caderno, cheio de colagens. Além das "matérias", tem fotos e no final, tem pequenas mensagens manuscritas pelos outros membros, e todos assinam seu caderno. Eu simplesmente amo.
— Parece tão bonito. — Taehyung disse, e todos concordaram. — Como é no basquete, hyungs?
— Eu ou você? — Namjoon perguntou para Yoongi.
— Você, gatinho. — abraçou-o de lado.
— Okay, no basquete, é um jogo especial, terceiranistas contra os dos outros anos. Inclusive, as arquibancadas ficam abertas, então qualquer um da escola pode ir assistir, e depois do jogo, no vestiário, nós pegamos a regata daquele dia e todos assinam, e cada um dos terceiranistas ganha uma medalha de ouro, por ter cuidado da honra do time por três anos, e damos uma festa para eleger o novo capitão, que é decidido pelo atual capitão e pelo técnico.
— Parecemos estar falando sobre filmes, caramba. — Hoseok disse, fazendo todos rirem. — Seokjin-hyung, conta do grêmio.
— Ah, nós reunimos todos os participantes e vemos nossas ações do ano enquanto comemos lanches e jogamos conversa fora, pelo menos uma vez por ano. Afinal, nós quase não nos mexemos tentando zelar a imagem de alunos exemplares. Depois, nós pegamos nossa camiseta do grêmio e todos assinam. E então, elegemos o novo presidente por votação. São sempre três opções. — Seokjin disse. — É bem tranquilo.
— Poxa, agora eu quero falar sobre o ritual do teatro, mas tem que ser longe de todo mundo e vocês não podem contar para ninguém. Isso vai mudar o jeito que vocês assistem às peças.
— Que mistério, Jungkook! — Jimin exclamou. — Vamos logo, estou quase arrancando meus cabelos.
Eles se levantaram, deixaram as bandejas na mesa de pratos da cafeteria e saíram para o pátio, indo para a árvore mais distante e sentaram-se embaixo dela, todos envolta de Jungkook – o olhando com os olhos saltados.
— Okay, nós sempre temos uma brincadeira de repassar objetos durante a peça. Antes dela começar, nós damos algo como um botão para o primeiro que for falar, e ele passa para outra pessoa. O desafio, é fazer o público não perceber que estamos passando algo, e ninguém nunca percebeu. Inclusive, duvido que vocês percebam. Já passamos botões em beijos, danças, lutas... É simples–
— Como vocês passaram um botão em um beijo? — Yoongi perguntou.
— Geralmente, colocamos embaixo da bochecha e durante o beijo, passamos para a boca do outro. É nojentinho de imaginar, mas é bem de boa. Continuando, é simplesmente como se o botão não existisse, porque ninguém vê até que o tenha em mãos.
— Isso é muito louco! Eu vi todas as peças e nunca percebi nada! — Hoseok exclamou e Jungkook riu.
— A eleição do novo líder não é diferente – Jeon começou –, mas, na última peça, o líder atual fica o tempo todo com o botão, e só passa no final, durante a reverência, para o futuro líder. É bem emocionante porque todo mundo chora sempre. O líder atual chora por passar seu cargo a outro e confiar o teatro a ele, o futuro líder chora por ter a responsabilidade de cuidar de todos e das peças, os membros do clube choram por encerrar mais um ano e os terceiranistas choram por saberem que foi a última peça escolar. É gratificante. Depois, nós fazemos uma reunião uns dias antes da formatura para fazer o ritual de eleição do novo líder. Mas isso é realmente proibido contar, eu fiz um juramento a Dionísio no meu primeiro ano.
— Vocês parecem a CIA, credo! — Yoongi diz. O sinal que anuncia o fim do intervalo toca.
— E como dizemos no teatro, o show tem que continuar! — Jungkook exclama se pondo em pé. — Vamos para a aula, senhores.
🐯🤞🐰
Faltava cinquenta minutos para o sinal bater, Jungkook já não aguentava mais seu professor de matemática falando. Passava a mão no cabelo, pelo menos, umas vinte vezes por minuto. Estava a ponto de surtar. Resolveu se acalmar, então passou a observar Taehyung, mas isso o deixou curioso – e um pouco angustiado.
Taehyung tinha a cabeça em mãos, e seus polegares, tapavam seus ouvidos. Sua perna, tremia sem parar e Jeon pôde ver uma gota de suor escorrendo por sua têmpora, por mais que o ar-condicionado estivesse ligado.
O professor os deixou fazendo atividade e saiu para ir ao banheiro, Jungkook rapidamente, levantou-se e se agachou ao lado de Taehyung, o cutucando levemente. Ele retirou o polegar do ouvido esquerdo e se inclinou levemente, ainda sem tirar as mãos do rosto.
— Sim? — murmurou.
— Tae — falou baixo —, é o Jungkook. Você está se sentindo bem?
— Ah, oi. Sim, eu estou be– Argh! — deitou a cabeça sobre a mesa e Jungkook o ouviu chorar.
— Taehyung? O que houve? — Jeon estava mais preocupado do que nunca.
— M-minha cabeça, J-jung. D-dói.
Essa fala disparou um alerta no corpo do mais novo. Jungkook virou Taehyung lentamente, o mais velho levantou a cabeça, o encarando com os olhos completamente encharcados. Jungkook o aproximou mais e rodeou os braços de Taehyung por seu pescoço, segurando suas coxas e o levantando em seu colo. Tae escondeu sua cabeça na curvatura do pescoço de Jeon, ainda chorando.
Quando o professor entrou e perguntou o que estava acontecendo, Jungkook nem conseguiu ouvir, saiu em disparada para a enfermaria, chegando em trinta segundos e sentando Taehyung na cadeira. Jihyo logo se aproximou, desesperada.
— Cabeça, Tae? — perguntou, e ele logo concordou.
Ela se afastou, indo buscar um remédio junto ao copo de água, entregando e o fazendo beber. O guiou até a maca, o deitando.
— Dez minutos e então faz efeito, Tae, fica calmo. — disse e se virou para Jeon. — Eu não vou deixar ele sair daqui, e seria bom se ele tivesse uma companhia. Pode ficar com ele? — perguntou e Jungkook concordou rapidamente. — Obrigada, vá buscar seus materiais, por favor.
Jungkook concordou e saiu rápido, voltando para a sala e encontrando um professor confuso olhando para o nada.
— Com licença, professor Park Jaebeom. — disse e o professor o olhou, assentindo.
— O que houve com o Taehyung?
— Enxaqueca. A enfermeira pediu para eu pegar nossos materiais, eu posso?
— Claro que sim, só lembre-se de pegar a matéria com seus amigos depois.
— Obrigado, senhor Park. — Jungkook guardou rapidamente os materiais e saiu, voltando à enfermaria e vendo Tae.
Colocou as mochilas em um canto e se sentou novamente ao lado dele, vendo seus olhos fechados e os braços cruzados sobre o peito. Jungkook retirou os óculos do rosto de Tae, os colocando de lado. Taehyung se mexeu e abriu os olhos, observando Jungkook.
— Obrigado. — disse baixo, pela sensibilidade que ainda sentia. — Acabei esquecendo meus remédios hoje...
— Não foi nada, acho que somos amigos, e é isso que amigos fazem, não?
— É, acho que sim. — sorriram.
Enquanto o sinal não batia, jogavam juntos, um jogo de completar palavras no celular de Jungkook. Tae sempre descobria rápido, e isso fascinava o mais novo.
— Woah, hyung! Você é bom nisso.
— Você passou 507 níveis, eu só fiz 18, você que manda bem.
— Ambos mandamos.
Quando bateu o sinal, Jungkook ajudou Taehyung a se sentar, arrumando seus cabelos e desamassando suas roupas.
— Alguma dor? Consegue andar? — as perguntas foram respondidas por acenos, que indicaram "não" e "sim".
Jungkook desceu Taehyung da maca e o entregou a mochila. Se despediram de Jihyo e saíram da enfermaria, indo para o portão e vendo seus amigos.
— Tae? — Yoongi correu. — Você está bem?
— Agora estou, hyung. O Jungkookie cuidou de mim.
— Ah, ele cuidou? Bom mesmo.
Nem puderam dizer algo, pois Yoongi se virou e andou de volta para Namjoon. Eles se entreolharam e seguiram. O mais novo iria para sua aula de teatro, então, se despediu de todos no portão. Taehyung foi o último.
— Obrigado novamente, saeng.
— Não foi nada, hyung. Tome mais cuidado, okay?
— Está bem! Tenha uma boa aula!
Jungkook observou seus amigos andarem até que virassem a rua e sumissem de sua vista; virou para o outro lado, colocou o fone e começou a andar, pensando em seu dia, enquanto Easier, do 5SOS, tocava. Finalmente, estava conseguindo conversar com ele.
🐯🤞🐰
Obrigado, @dejunmars, pela betagem.
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