Capítulo 9- Reunião de amigos
Os números como sempre não faziam sentido nenhum para Anne, pois passara quase uma hora em cima de cálculos que não conseguia resolver. Pela milésima vez se perguntou, por que não escolhera literatura que era sua paixão, e optara por um curso que a tirava do sério toda vez que tinha uma prova? Matemática nunca fora seu forte, mas se saía relativamente bem na escola por conta dos ótimos professores que tivera. No entanto, na faculdade, um simples cálculo tinha o dobro da complicação, e por mais que os professores fossem também bons, ela não conseguia chegar a um entendimento da matéria que facilitaria sua vida cem por cento.
Lindy sempre a ajudava quando podia, mas naquela semana, ela também estava abarrotada de provas, e por isso, Anne não ligara para a amiga lhe pedindo socorro. Ela também sempre contara com Phillip, mas o amigo a vinha tratando diferente depois que descobrira que ela estava noiva. E até nisso Gilbert tinha culpa, por tê-la feito perder um de seus melhores amigos.
O urso de pelúcia que ele lhe dera fora colocado em uma poltrona do seu quarto, e naquele instante capturou a atenção de Anne. Ela ainda não entendera porque ele lhe dera tal brinquedo, e muito menos porque aceitara já que nunca fora fã desse tipo de coisa. Quando era criança, Anne nunca se sentira atraída por coisas de menina, e por conta disso nunca sequer tivera uma boneca. Suas brincadeiras favoritas eram jogar futebol com os meninos da rua, participar de competição de corrida, queimada ou soltar pipa com os garotos da escola.
Enquanto suas irmãs brincavam de casinha, Anne se divertia em brincadeiras mais interessantes na sua opinião. Seu pai ficava de cabelo em pé, e era alvo de piadinhas de Josie que não perdia a oportunidade de zombar da irmã mais nova, dizendo que Anne parecia mais um moleque que uma menina de verdade. Josie também dizia que ela tinha nascido no corpo errado e que devia assumir sua personalidade masculina de vez.
Anne nunca se importara com a zombaria da loura, pois sempre soubera quem era, e nunca tivera que provar nada para ninguém, pois apesar de ter uma personalidade mais dura do que se esperaria em uma menina, sua alma era sensível. Ela chorava com um poema de amor bem escrito, ou um filme cheio de sentimentos, assim como.as pequenas coisas a emocionavam e a faziam se sentir grata pela vida que tinha, e os amigos que conquistara.
Ela era uma idealista, e isso Josie sempre falhara em perceber, pois a sua irmã materialista e sem nenhum tipo de empatia ou compaixão com quem quer que fosse, não entenderia que o que para ela era tolo e banal, para Anne tinha um valor imenso, por isso, ela lutava para tentar melhorar a vida daqueles que não tinham a mesma oportunidade que ela de conseguirem mudar suas condições de vida
Anne continuou a encarar o ursinho em questão, enquanto se lembrava da conversa que tivera com Gilbert no último fim de semana. Ele tentara se desculpar e lhe mostrara que sabia que agira errado, mas os argumentos que ele usara não a convenceram totalmente. Ela não pedira para ser uma Blythe, então por que tinha que deixar de fazer as coisas que mais gostava para provar que merecia fazer parte daquela família? A ruivinha pouco se importava com o que John iria pensar, pois apesar de ter gostado dele, não mudaria quem era apenas porque Gilbert achava que devia agradá-lo.
-Anne, posso entrar?- a voz suave de Ruby a fez desviar o olhar do ursinho, sorrir para a irmã e dizer:
-Sim. Precisa de alguma coisa?
-Não. Eu vim ver se quer limonada. Você ficou trancada nesse quarto a tarde toda.- Ruby disse, colocando a jarra da bebida gelada em cima do criado mudo de Anne.
-Obrigada. Estou ficando maluca com esses cálculos. - Anne afirmou, apontando para todos os cadernos em cima da cama que estava usando para estudar.
-Por que não pede ajuda para Lindy? Ela sempre te socorre nesses momentos.- Ruby sugeriu.
-Lindy está ocupada com as provas dela também. Dessa vez vou ter que me arranjar sozinha.- Anne respondeu com um suspiro.
-E esse ursinho de pelúcia?- Ruby perguntou. - Nunca vi nada parecido em seu quarto.
-Gilbert me deu no dia do Bingo.- Anne respondeu a contragosto, principalmente quando viu os olhos de Ruby brilharem emocionados.
-Que romântico. E você ainda diz que ele não é um príncipe encantado.
-E não é. Ele me deu isso, porque brigamos e quis se desculpar, mas não se engane, Gilbert Blythe é uma raposa muito esperta.- Anne disse de mau humor. Se já não bastasse a prova difícil para a qual tinha que estudar, ainda tinha que aguentar os suspiros de sua irmã pelo noivo arranjado dela.
-Ah, Anne. Eu sei que não acredita, mas eu acho que ele gosta de você. No bingo, Gilbert não tirava os olhos de você. Até Diana notou.- Ruby disse, enchendo um copo de limonada, e o estendendo a Anne.
-Deve ter sido a consciência pesada.- ela retrucou com teimosia. Ela também não tirara os olhos de seu noivo, mas por motivos bem diferentes.
-Eu não sei porque pensa tão mal de seu noivo. Sei que as circunstâncias que te obrigam a casar com ele são realmente complicadas, mas não acha que pode se apaixonar por ele e vice versa? Todo mundo que o conheceu domingo, gostou imensamente dele. Gilbert não é tão ruim quanto pensa.
-Não, não acho.- ela respondeu com convicção.
-Por que, Anne?- Ruby a questionou, fazendo Anne beber um gole grande de limonada antes de responder:
-Consegue mesmo ver Gilbert Blythe apaixonado por alguém como eu?
-Consigo sim, por que isso não seria possível?- a irmã perguntou, enquanto Anne suspirava alto e dizia:
-Eu não faço o tipo dele. Com certeza Gilbert gosta desses modelos de corpo escultural, e pele de pêssego. Sou totalmente esquisita e sem graça. - Anne disse sem mágoa nenhuma. Sua aparência nunca fora seu foco principal, mas seu caráter sim.
-Você é linda, Anne. Não sei porque fala essas coisas de si mesma.- Ruby comentou, balançando a cabeça em desaprovação.
-Porque é verdade. Você sabe o quanto detesto meu cabelo ruivo. Sempre quis ser loira como você e Josie, ou morena como a Diana. Vocês sim são lindas. Quanto a mim, fui a única que puxou a nossa mãe, ainda assim não sou como ela.- Aquilo era algo que sempre comentara em conversas com suas irmãs, mas não se sentia particularmente aborrecida por isso. Aceitava-se como era, e nunca tivera problemas com baixa estima, embora uma vez ou outra reclamasse de seus fios rubros.
-Você é linda sendo você mesma. Não precisa mudar nada em sua aparência.- Ruby disse, tocando o rosto da irmã suavemente.
-Eu realmente não me importo com isso, você sabe.- Anne respondeu, e depois de assentir, Ruby comentou:
-Josie está saindo com o primo de Gilbert. Ela e Diana discutiram muito essa semana por causa disso, mas Josie não quer escutar a razão .
-Não adianta. Já tentei alertá-la sobre ele, mas ela também não quis me ouvir.- Anne disse, dando de ombro. Josie estava procurando por confusão, e acabaria encontrando uma das grandes.
-Não há nada que se possa fazer?- Ruby perguntou, enquanto ajeitava os próprios cabelos com as mãos.
-Não. Josie é maior de idade, portanto, é dona do próprio nariz. Só espero que ela não sofra por conta daquele idiota. - Anne falou, ao mesmo tempo em que Ruby a olhava com a testa franzida.
Josie sempre fora diferente delas. Vivia em um mundo cheio de grandeza, onde sua vida era rodeada de riqueza e luxo. Desde criança, ela era assim, avessa a pobreza, ao trabalho duro, ou dedicação aos estudos. Nunca quisera fazer faculdade, pois dizia que como se casaria com um homem rico, não precisaria acabar com sua vista em óculos de grau, estudando feito louca, para se formar em uma profissão que não lhe daria a fortuna que desejava. Tinha traçado o próprio destino ainda menina, e vivia iludida com a ideia de que só seria feliz se fosse rica. Talvez por isso tivesse se apegado à ideia de conquistar o primo de Gilbert. Por certo , já estaria avaliando uma maneira de levá-lo ao casamento. Infelizmente, o rapaz não parecia não ser do tipo que levava uma garota a sério.
-Acha que tem chances de isso acontecer? De ela se apaixonar?- Ruby perguntou, e mais uma vez Anne viu ali sua mania se achar que tudo envolvia romance.
-Não acho que ela pode se apaixonar, mas pode vir a se magoar se acreditar em algo que nunca poderá acontecer. Billy pode lhe fazer promessas e não cumprir - Anne respondeu, observando Ruby franzir a testa mais uma vez .
-Isso tudo é muito complicado para mim. Eu ainda prefiro acreditar que o amor é a base que importa entre um casal.- a menina se levantou da cama e continuou, assim como caminhava para a porta:- Se precisar de mais limonada é só falar, e saiu, deixando Anne mais uma vez perdida entre seus terríveis exercícios de cálculos.
Naquele dia,Gilbert não estava de melhor humor que Anne. Ele tinha enfrentado uma reunião longa e entediante, enquanto tivera que suportar a presença de Billy entre os participantes. O primo tinha o poder de irritá-lo de qualquer maneira, mesmo que não conversassem, ele mantinha aquele olhar debochado sobre Gilbert como se fosse superior a qualquer coisa que o rapaz pudesse ser, ou qualquer coisa que pudesse fazer. O que magoava Gilbert era que seu pai parecia valorizar mais o trabalho de Billy, do que o seu, pois vivia enchendo o rapaz de elogios, enquanto a ele só delegava mais tarefas que nem sempre o deixavam satisfeito com o resultado. Por mais que se esforçasse ou desse o melhor de si, John Blythe nunca lhe dirigia uma palavra de gentileza, mas não o poupava das críticas, se tivesse que lhe fazer alguma.
Às vezes, ele se perguntava se não teria sido melhor se Billy fosse filho dele, pois assim teria em sua empresa alguém que o enchesse de orgulho, e não outro que apenas o decepcionava. Estava cansado de tentar, e naquele dia, Gilbert desejava não ter que trabalhar o tinha inteiro, sentindo que tudo o que fazia era inútil e sem sentido.
De repente, uma necessidade imensa de sair daquele ambiente que o estava sufocando o acometeu, e o rapaz sentiu que precisava sair dali e respirar ar puro. Como ainda não tinha saído para almoçar, ele decidiu que faria exatamente aquilo naquele instante. Assim, ele avisou sua secretária que estava saindo e respirou aliviada quando sentiu o ar fresco do lado de fora.
Enquanto dirigia para fora do estacionamento da empresa, e ganhava mais velocidade quando alcançou a rua, Gilbert se permitiu observar a paisagem outonal pela qual passava naquele instante. Em Nova Iorque, dias assim eram encantadores. Pena que não conseguia aproveitá-los como gostaria.
Sua vida estava sempre atrelada a empresa do pai, e com o ultimato dele, o rapaz se afastara até dos amigos. Mas estava sentindo falta da pequena liberdade que tinha antes, e tal sentimento o estava deixando extremamente estressado. Gilbert não sentia falta da bebedeira, ou das festas barulhentas das quais costumava frequentar antes. Sentia falta das conversas descontraídas que tinha, dos momentos de risada, e de ter a oportunidade de liberar de dentro de si toda a tensão que vivia no dia a dia sob as asas de John Blythe. Cedo ele descobrira que era mais fácil trabalhar para um completo estranho, do que trabalhar para o próprio pai. John era mais duro com ele do que seria com um subordinado, e assim aprendera a aceitar que de seu pai em relação a ele viriam mais cobranças do que elogios, e assim tentava não se importar demais com algo que nunca teria.
Ele estacionou o carro em um shopping mais próximo da empresa, e pediu para si mesmo um café expresso e um hambúrguer. Não estava com muita fome, por isso aquilo deveria bastar até que encerrasse o expediente e fosse para casa. Enquanto estava distraído, lendo algumas notícias no celular, um toque em seu ombro o fez se virar e encarar um de seus velhos amigos que não via a meses:
-Sean! O que faz por aqui?
-Deveria te perguntar o mesmo. Faz tanto tempo que não nos falamos. Até pensei que estava casado com a empresa de seu pai. - o rapaz disse, se sentando na mesa com Gilbert.
-De certa forma, mas realmente estarei casado daqui a três meses.- ele contou. Aquilo não era mais novidade depois do jantar de noivado, e não queria especulações sem sentido, por isso já estava dando em primeira mão a notícia para um de seus amigos, que com certeza repassaria a informação para todos os outros.
-Não acredito. O que aconteceu com o cara que tinha alergia à palavra compromisso? - Sean perguntou, realmente impressionado com a notícia.
-Ele amadureceu e se tornou mais responsável. - Gilbert mentiu. Não queria ter que explicar que estava se casando por imposição de seu pai. Era de certa forma uma situação humilhante para alguém com vinte e sete anos que deveria ser dono de sua própria vida, e por conta de uma lealdade familiar, não era.
-E quem é a sortuda da vez ou devo dizer a azarada?- Sean disse em tom de brincadeira, fazendo Gilbert rir e responder:
-Eu espero que ela escolha a primeira opção, se caso alguém lhe perguntar isso. Ela se chama Anne, tem vinte e um anos e cursa Administração. É linda, inteligente e extremamente geniosa.- ele disse, descrevendo Anne exatamente como a via. Naquele exato momento, ele podia enxergá-la em sua mente com suas bochechas coradas, seus olhos brilhando de raiva exatamente como quando era contrariada, e seus cabelos ruivos esvoaçantes por todos os lados.
-Preciso conhecer essa garota que roubou o coração do meu amigo tão rapidamente. - Sean disse, encarando Gilbert com um sorriso.- Você sabe que a Helen não vai gostar de saber dessa novidade.
-Nós nunca tivemos nada sério. Ela não pode me cobrar nada.- Gilbert respondeu, terminando o seu suco, enquanto o hambúrguer continuava em seu prato pela metade.
Helen fora sua ficante oficial por um bom tempo, mas nunca de fato tinham assumido nada. Quando Gilbert lhe dissera que não desejava mais sair com ela, porque ela merecia alguém que estivesse inteiro em uma relação, a garota parecia ter aceitado bem sua explicação. Não a via há vários meses, e depois de tantos problemas, Gilbert nem se lembrara de lhe telefonar ou mandar mensagens.
-Ela continua apaixonada por você - Sean o alertou.
-Mas eu nunca fui apaixonado por ela, e tínhamos um acordo. - Gilbert explicou, empurrando seu hambúrguer para longe dele.
-Tenho certeza de que ela sabia disso, mas acho que Helen sempre esperou que você mudasse de ideia.
-Mas não mudei. Continuo pensando da mesma maneira, para o próprio bem dela. Você sabe como sou, Sean.
-Pobre Helen. Ela nunca teve uma chance real com você, não é?- Sean constatou, no que Gilbert concordou completamente.
-Não, ela sempre soube disso. Quando começamos a sair, combinamos que não nos envolveríamos sentimentalmente, e foi o que aconteceu, pelo menos de minha parte.- Gilbert respondeu, olhando para seu relógio de pulso.
-Pelo jeito Anne derreteu seu coração de pedra, já que conseguiu te fazer mudar de ideia a respeito de casamento. - Sean disse, fazendo Gilbert pensar que em outras circunstâncias talvez fosse verdade.
-Ela é diferente. - foi tudo o que conseguiu responder. Não queria entrar em mais detalhes, ou acabaria deixando todos saberem das reais condições daquele casamento.
-Posso imaginar. - Sean disse e em seguida sugeriu. -Vamos ter uma daquelas nossas reuniões de amigos na quinta feira à noite, por que não a leva até lá? Seria uma grande oportunidade para que nós a conhecêssemos.
-Vou falar com ela, e depois te envio uma mensagem dizendo se iremos ou não. - Gilbert respondeu, ponderando se seria uma boa ideia ir nessa reunião, mas ao mesmo sabia que se negasse aquele convite geraria mais perguntas as quais não gostaria de responder. - Preciso voltar ao escritório. Até logo Sean.
-Até logo, Gilbert. - o rapaz respondeu, antes de Gilbert sair da cafeteira e caminhar para o próprio carro.
Anne ainda estava estudando quando seu telefone tocou. Ela franziu a testa ao ver quem estava ligando, e demorou alguns segundos para atender, pois tentava imaginar porque seu noivo estaria tentando contatá-la em plena tarde de quarta-feira.
-O que você quer, Blythe?- ela perguntou com rispidez. Detestava ser interrompida quando estava estudando para um teste importante, pois atrapalhava sua concentração totalmente.
-Minha noivinha é sempre carinhosa. - ele disse em um tom debochado, que fez Anne trincar os dentes de raiva.
-Estou ocupada. Quer por favor me dizer o que te fez me ligar exatamente nesse momento?- Gilbert riu do outro lado da linha. Ela realmente não disfarçava sua irritação quando se tratava dele, e não fazia questão nenhuma de esconder o quanto ele a aborrecia. Adorava a sinceridade de Anne, mesmo que isso o tirasse do sério às vezes, porque fora adulado a vida inteira por ser quem era, e saber que Anne não ligava a mínima para isso era um grande alívio.
-Quero saber se está livre quinta à noite para ir comigo a uma reunião de amigos? - Anne suspirou baixo. Ela não gostava de mudanças em sua rotina diária, pois não estava acostumada a sair à noite durante a semana, e muito menos dormir tarde. Tais atividades a deixavam de mau humor no dia seguinte, pois acordava cedo para ir para a faculdade.
-Não sei se é uma boa ideia. Tenho aula no dia seguinte e não funciono direito se não durmo minhas oito horas completas.
-Por favor, Anne. Não seja tão difícil. É só uma reunião de amigos. Prometo que te levo para casa cedo.- Gilbert pediu. Não costumava ser tão insistente em outras vezes em que recebera uma recusa como essa de uma garota, pois sempre havia outra em sua lista para acompanhá-lo, mas naquele caso não havia opção.
-Você não pode ir sozinho? Continuo achando uma péssima ideia. - Na verdade, ela não queria ir por vários motivos, e a principal delas era que não queria se misturar com os amigos de Gilbert, pois deveriam ser todos milionários como ele e virem de famílias com nomes importantes. Iria se sentir deslocada com certeza, e não queria impor a si mesma tal situação.
-Você é minha noiva, Anne. Como vou explicar sua ausência para meus amigos?- ele perguntou, já imaginando que teria uma trabalhão para convencer Anne a ir com ele naquela reunião. Realmente, ela não facilitava em nenhuma situação.
-Pode dar a desculpa que quiser, já que é tão bom em manipular e mentir. - ela respondeu secamente.
-Pensei que já tínhamos conversado sobre isso.- Gilbert disse aborrecido, balançando os pés impaciente.
-Conversar não muda nada o fato de que mentiu para mim na questão dos filhos, e também não significa que vou me esquecer disso.- ela retrucou de forma ríspida novamente.
-Quanto tempo vai usar isso contra mim, Anne?- Gilbert disse com a voz cansada. Odiava ser lembrado do que fizera de errado, pois tivera seu pai para fazer isso por toda vida, e não precisava de mais um juiz para lhe mostrar o quão imperfeito era.
-Ainda não me decidi. Detesto que mintam para mim, Blythe. Isso é algo que nunca deve esquecer. - ela afirmou, brincando com o lápis em suas mãos.
-Tudo bem, não vou esquecer. Agora me diga, vai ou não comigo nessa reunião?
-Eu vou, mas tem que me prometer que não vamos ficar muito tempo. Realmente preciso levantar cedo no dia seguinte. Agora se não se importa, preciso voltar a estudar. Tenho um teste muito difícil amanhã. - ela pediu, já preocupada com o tempo gasto naquela conversa telefônica.
-Obrigado. Te pego na quinta às sete da noite. Espero que faça uma boa prova amanhã. Até logo.
-Até logo. - ela respondeu, inspirando profundamente ao pensar que sua vida dali para frente seria assim, cheia de compromissos que não lhe agradavam.
Enquanto isso, Gilbert não conseguia não sorrir por ter conseguido persuadir Anne a acompanhá-lo naquela reunião. Ela era um páreo duro, mas ele também era, então poderia computar mais um ponto para o time Blythe. Assim, ele mandou uma mensagem para Sean confirmando sua presença e se Anne no encontro entre amigos, e voltou a trabalhar com um humor melhor do que tinha iniciado o seu dia.
A prova que Anne fez no dia seguinte ao telefonema de Gilbert não foi tão difícil quanto ela esperava, mas tampouco ficaria satisfeita com a nota. Só depois que entregara o exame foi que percebera que cometera um erro grave em um de seus cálculos, e isso lhe custaria alguns pontos que fariam sua nota cair drasticamente. Ainda se lamentava silenciosamente sobre esse fato, quando encontrou Cole na saída da faculdade.
Instantaneamente se sentiu envergonhada por não ter falado com ele após seu sumiço repentino no dia da passeata. Ela gostaria de dizer que não tivera tempo de procurá-lo, ou não tinham se esbarrado no campus, mas a verdade era que tentara evitar esse encontro. Se sentia uma verdadeira covarde por não conseguir encontrar uma boa explicação para o que acontecera, mas o destino resolvera lhe dar um empurrãozinho.
-Oi, Anne. Eu queria mesmo falar com você. O que aconteceu no dia da passeata? Você desapareceu.- A simpatia no rosto de Cole, fez Anne se sentir mais mal ainda. O rapaz era o tipo de pessoa que não julgava nada ou ninguém sem saber de todos os lados de uma história. Talvez por ter sentido na pele o julgamento de outras pessoas, o tivesse tornado esse ser humano maravilhoso.
-Eu sinto muito, Cole. Precisei resolver um problema.- Anne disse sem graça.
-Tem a ver com o seu noivo? Eu vi vocês dois juntos, e ele parecia zangado.
-Eu e Gilbert não concordamos em tudo, mas já resolvemos nossas pendências. - Anne respondeu, colocando as mãos no bolso de sua calça jeans.
-Está certo, então.- ele disse, ficando calado de repente o que fez Anne comentar.
-Você parece que quer me dizer alguma coisa.
-Na verdade sim. Só não quero que leve a mal o que vou dizer, mas, eu sinto que antes desse noivado você parecia mais interessada em nossos projetos.
-Isso não é verdade,Cole. Eu me interesso muito.- Anne disse, sentindo-se mal demais por aquela situação.
-Não sei. Talvez você esteja vivendo uma outra fase de sua vida, e causas como as nossas não combinam mais com seu estilo de vida. - Anne o olhou chocada. Cole não podia estar pensando que ela tinha mudado quem ela era apenas por causa da fortuna de Gilbert.
-Está enganado, Cole. Eu continuo a mesma Anne de sempre. Nada vai mudar quem eu sou. Sei que andei falhando com você, com nossos projetos, mas me dê apenas um tempo para eu organizar minha vida, e juro que vou ser mais ativa em todos eles.
-Anne, eu não estou te criticando. Se não deseja mais fazer isso, eu vou entender. Não quero que tenha problemas por minha culpa - Cole disse, colocando o braço no ombro de Anne, como se quisesse que ela sentisse que o que estava dizendo era mesmo verdade.
-Você é um amigo incrível, Cole. Pode contar comigo para os próximos projetos, e prometo que estarei lá. - ela disse com um sorriso.
-Está bem. Eu te mando depois a programação. - ele disse, deixando um beijo no rosto da ruivinha, indo em direção ao portão de saída.
Pela primeira vez na vida, Anne se sentiu triste consigo mesma, por deixar que seu noivado com Gilbert afastasse seus melhores amigos. Assim, enquanto se dirigia a van que a esperava do outro lado da rua, ela prometeu a si mesma que faria de tudo para nunca mais decepcionar Cole Mackenzie.
Na quinta-feira, Gilbert saiu da empresa no encerramento normal do expediente. Geralmente trabalhava uma ou duas horas extras antes de finalmente ir para casa, mas naquele dia queria ter tempo para relaxar antes de ir buscar Anne. Ele não conseguira falar com ela durante o dia, mas esperava que ela não estivesse tão aborrecida quanto no dia em que lhe fizera o convite.
Quando chegou na casa dos Shirley, ela já o esperava. Esse era outro ponto que gostava em Anne. Não se atrasava e nem o deixava esperando como a maioria das garotas gostavam de fazer, e parecia não ligar muito para questões femininas que poderiam justificar esses atrasos. A impressão que ele tinha era que ela sempre sabia o que queria vestir, sem perder tempo em ficar na frente do espelho tentando mil combinações de roupa, maquiagem e acessórios diferentes. E ela sempre acertava em suas escolhas simples, pois ficava linda de qualquer maneira.
Naquela noite, ela usava jeans preto que lhe davam um ar elegante, acentuando suas curvas esbeltas, uma blusa de gola alta e mangas compridas em azul marinho, e sapatos de salto médio. Os cabelos ruivos eram uma obra de arte à parte. Ela os deixara solto, apenas presos de um lado com uma presilha prateada, compondo assim sua aparência perfeita.
-Boa noite, Anne.- ele disse enquanto a admirava abertamente.
-Boa noite. - ela respondeu para em seguida acrescentar.- Espero que cumpra sua promessa de me trazer para casa cedo, Blythe. Eu realmente não quero ficar fora de casa muito tempo esta noite.
-Fique tranquila, gatinha. Prometo que não vou fazê-la perder muitas horas de sono.- ele respondeu, vendo Anne bufar diante do apelido que vinha usando desde o dia em que a conhecera. Era quase irresistível não fazê-lo, porque ela ficava adorável com aquela cara amarrada de garotinha.
Ela o acompanhou até o carro sem fazer nenhum comentário. E Gilbert percebeu que essa era a maneira que ela encontrava para colocar uma barreira entre os dois. Era quase como se dessa forma ela impedisse que ele se aproximasse dela demais. Anne estava determinada a fazer daquele casamento apenas um contrato, impossibilitando que qualquer tipo de amizade surgisse entre eles.
Gilbert não sabia se isso o deixava aliviado ou extremamente desapontado. Ele gostaria que nos cinco anos que permanecessem juntos, eles pudessem ao menos ter certa cortesia no relacionamento deles, para que assim não se tornassem apenas dois estranhos vivendo na própria casa, mas Anne não parecia disposta a isso, e era algo que pretendia respeitar.
O lugar para o qual Gilbert a levou não era tão imponente quanto o apartamento dele, mas não deixava de ser charmoso e luxuoso por conta do tamanho. Anne se sentiu um pouco estranha ao observar as pessoas ao redor, e sem perceber se agarrou mais à mão de Gilbert que segurava a sua, procurando conforto e proteção.
Um rapaz simpático veio recebê-los e Anne gostou dele no mesmo instante quando ouviu-o dizer:
-Sejam bem-vindos.
-Obrigada, Sean. Esta é minha noiva Anne.
-Muito prazer, Anne.- ele disse apertando-lhe a mão carinhosamente.
-O prazer é todo meu.- ela respondeu.
-Fiquem à vontade e circulem por aí. O pessoal quer muito te ver, Gil.- na verdade, Gilbert sabia que seus amigos queriam saber quem era Anne, pois a curiosidade em ver como sua noiva era devia deixá-los extremamente ansiosos. Mas mesmo que não gostassem de Anne, ele não se importaria, pois não precisava da aprovação de ninguém.
Deste modo, ela foi apresentada a várias pessoas que Anne tinha certeza que não se lembraria do nome depois e a maioria delas lhe agradou profundamente. Ela não poderia imaginar que alguém como Gilbert tivesse amigos tão divertidos, principalmente Sean, de quem se viu rindo várias vezes naquela noite.
Apenas uma pessoa havia lhe despertado antipatia, e era uma garota que a estava encarando desde que chegara com Gilbert. Elas tinham sido apresentadas logo no início da reunião, mas não tinham trocado meia dúzia de palavras, o que não aborreceu Anne de forma nenhuma, pois a loira não lhe inspirava nenhum sentimento positivo. Assim, preferia ficar longe desse tipo de pessoa que parecia apenas sugar a boa energia daqueles que permaneciam próximos a elas, como se fossem verdadeiros vampiros humanos.
No entanto, quando Gilbert se afastou para pegar um refrigerante que Anne havia lhe pedido, a tal garota se aproximou e disse:
-Então, você é a tal noivinha de Gilbert que tanto ouvi falar.- o sarcasmos era indisfarçável na voz dela , o que fez Anne responder no mesmo tom:
-Sim, sou eu mesma. Por que? Te incomoda?
-De forma nenhuma. Como é mesmo o seu nome? Acho que me esqueci. - ela disse com a voz falsamente doce.
-Anne. Acho que me esqueci do seu também.
-Sou Helen. Qual é o seu sobrenome?- a inteligência afiada de Anne logo lhe mostrou onde a garota queria chegar, e por isso respondeu cheia de orgulho.
-Shirley.
-É filha de algum empresário? Acho que não ouvi esse sobrenome entre os nossos amigos.
-Não, sou filha do dono de uma pequena mercearia, que trabalha duro todos os dias para dar uma vida digna a suas quatro filhas. Enquanto o seu pai empresário acorda às oito e começa no trabalho às nove, meu pai já está de pé desde às seis da manhã atendendo seus clientes na periferia da cidade. É, acho que realmente nunca ouviu falar do meu sobrenome.- Anne disse para a garota que a olhava chocada.
-Algum problema, Anne?- Gilbert perguntou, ao ver que as duas garotas se encaravam em silêncio.
-Nenhum. Apenas contava para sua amiga um pouco sobre minha família que mora do outro lado da cidade, e que não é membro de nenhum dos clubes importantes do qual ela frequenta. - Anne respondeu com ironia, fazendo Gilbert perceber que ela estava zangada.
-Com licença.- Helen disse, se afastando do casal, sem olhar para Gilbert que tornou a perguntar:
-Ela te disse alguma coisa que te incomodou?
-Ela bem que tentou, mas eu a coloquei no lugar dela, e acho que quem saiu incomodada foi ela.- Anne disse com um sorriso sem muito humor.
-Eu não duvido. - ele respondeu, se lembrando o quanto Anne era boa nessa coisa de colocar alguém em seu devido lugar, já que o fizera com ele várias vezes.
Durante o restante da festa, Anne recebeu vários olhares estranhos da tal Helen, e depois descobriu por Sean que a garota fora uma das namoradas de Gilbert, e logo Anne entendeu porque ela a encarava com tanto ressentimento. Pelo jeito, antes de ficarem noivos, o rapaz fora um grande quebrador de corações, e deixara para trás todas as suas namoradas, sem se importar se as magoava ou não. Ele era exatamente o que ela imaginara. Um aventureiro sem medida, que se divertia colecionando garotas, e as descartava quando não lhes serviam mais. Esse era mais um motivo para manter-se longe de qualquer tentativa de Gilbert em seduzi-la com seu charme inegável.
Eles deixaram a reunião um pouco depois, pois como Anne havia dito a Gilbert que teria aula no dia seguinte, e por isso precisava dormir cedo, o rapaz não queria que ela pensasse que ele não era capaz de cumprir uma promessa.
Assim, se despediram de seus amigos que, com exceção de Helen, pareciam ter aprovado Anne totalmente, e caminharam para o carro de Gilbert com a sensação de que tinham representado perfeitamente o papel que coubera aos dois naquela noite.
No momento em que entraram no carro, Gilbert disse:
-Espero que tenha gostado dessa noite, e que não tenha sido muito cansativo aturar meus amigos.- Anne riu do comentário e respondeu:
-Eu gostei, Blythe. Seus amigos são legais.
-Que alívio. Pensei que quando entrássemos aqui, você iria tentar encontrar qualquer coisa para atirar em cima de mim.- Anne o olhou com curiosidade e disse:
-Está subestimando minha capacidade de socializar, Blythe. Eu sei ser simpática quando quero.
-Isso também depende da pessoa, não é?- ele perguntou, ficando sério de repente.
-O que quer dizer com isso?- Anne indagou, sem entender a súbita carranca do rapaz.
-Eu vi você sorrindo para Sean, e ele também pareceu ficar encantado com você.
-Conversamos bem pouco e apenas quis ser educada com alguém que me tratou bem. - ela parou de falar e depois olhou para o rapaz desconfiada e comentou- Não é possível que esteja com ciúmes.
-E não estou, pois para sentir ciúmes de você eu teria que estar apaixonado, e não é esse o caso.- Anne riu e afirmou.
-Graças a Deus! Você apaixonado deve ser um desses caras que fica todo meloso, manda flores e bombons, liga a toda hora.- Gilbert arqueou a sobrancelha com o comentário e perguntou:
-E não é assim que vocês mulheres gostam? De um cara que as trate como se fossem de cristal, que fale coisas românticas e que as leve para jantar à luz de velas?
-Não essa garota aqui. Eu gosto de rapazes movidos a desafios. Coisas românticas demais nunca foram minhas favoritas.- Gilbert a olhou de canto e perguntou:
-E acha que eu também não gosto de um bom desafio?- Anne lhe lançou um olhar de dúvida e respondeu:
-Você? Não acredito nisso nem um pouco.
-Então me diga algo que quer que eu faça, e vou te mostrar que não tenho medo de nada.
Anne parou para pensar um pouco, olhou para fora do carro e percebeu que começara a chover fino. O outono era sempre assim, os dias pareciam sempre cinzentos, e nunca se sabia se teriam chuva ou não, e olhando para as roupas engomadinhas de Gilbert, ela teve uma ideia súbita e divertida, e pediu no mesmo instante.
-Pare o carro!- Gilbert a olhou com a testa franzida como se ela tivesse enlouquecido, e parou o carro no acostamento.
-O que foi?- ele perguntou, vendo brotar no rosto de Anne um enorme sorriso, e logo em seguida a ouviu dizer:
-Quero ver se realmente é capaz de aceitar um bom desafio.- assim, ela arrancou os sapatos e abriu a porta do carro, fazendo Gilbert perguntar:
-O que está fazendo, sua maluca? Não vê que está chovendo? Deve estar frio lá fora.
-Você não disse que topa qualquer desafio? Quero ver se isso é mesmo verdade. - e sem esperar mais, ela abriu a porta, e andou até a parte da frente do carro onde Gilbert poderia vê-la e disse:
-Vai ficar aí parado, Blythe? Onde está seu espírito corajoso?
Em poucos segundos estava ensopada, mas não se importou, pois mesmo com o frio, ela adorava chuva, e estar ao ar livre, podendo participar daquele fenômeno incrível da natureza a deixava imensamente feliz. Deste modo, ela levantou a cabeça e deixou que tais gotas preciosas molhassem seu rosto, fazendo-a sorrir.
Ainda dentro do carro,Gilbert balançava a cabeça em negativa, sem acreditar que Anne estivesse mesmo fazendo aquilo, ao mesmo tempo em que não conseguia parar de pensar no quanto ela estava linda daquele jeito, pois parecia tão alegre e tão leve por dentro. Deste modo, ele resolveu se juntar a ela, pois fora desafiado e não pretendia deixar que ela o vencesse em seu próprio argumento.
-As coisas que essa maluca me obriga a fazer.- ele resmungou para si mesmo, antes de sair do carro.
Logo que se aproximou dela, ele falou:
-Anne, está frio aqui fora, vamos voltar para o carro antes que você fique doente.
-Não seja estraga prazeres, Gilbert. Está frio porque você está parado. Olha, a gente pode dançar. - ela disse, fazendo alguns passos de dança desajeitados na frente dele. - Ou podemos apenas rodar.- ela continuou, rodopiando feito uma garotinha sapeca demais. Porém, seu giro foi mais rápido que deveria, e ela acabou ficando zonza e tropeçou. Quando ia cair, Gilbert a segurou com firmeza pela cintura, fazendo-a se chocar com o corpo dele.
Anne começou a gargalhar sem parar, e aquele som cristalino chegou aos ouvidos de Gilbert como algo incrivelmente especial. Ele acabou gargalhando com ela, até que seus olhos se encontraram e eles pararam subitamente de rir para se encararem profundamente.
De repente,Gilbert tinha consciência do calor do corpo dela contra o seu, especialmente por causa das roupas molhadas, que pareciam diminuir a barreira de pele entre eles. Seus olhar correu pelo rosto dela, parando nos olhos que brilhavam tanto, parecendo duas joias incomparáveis e raras.
Anne também não estava indiferente ao rapaz que a segurava com cuidado, e aquele rosto masculino era de uma perfeição tão extrema que ela não conseguia desviar o olhar. Sem pensar, ela subiu as mãos pelos braços dele bem devagar, sentindo a textura e força de cada músculo, fazendo-a ofegar. Nervosa com o que estava sentindo, Anne mordeu seu lábio inferior, chamando a atenção de Gilbert para esse seu gesto, o que tornou a ele quase de forma irresistível não cobiçar aquela boca rosada que ele já tinha beijado duas vezes por motivos diferentes. Ele baixou a cabeça com a intenção de relembrar o sabor dela, mas parou a um centímetro dos lábios tentadores, quando percebeu o que estava a ponto de fazer.
Ele se afastou dela apressadamente e disse com o semblante sério:
-Vamos voltar para o carro, antes que peguemos uma pneumonia. - Anne assentiu, também perturbada pelo que quase acontecera.
Então, Gilbert voltou a dirigir, e durante o restante do caminho, nenhum dos dois falou, pois tentavam entender suas próprias emoções completamente desordenadas naquele momento. Quando chegaram na casa de Anne, ele se despediu dizendo:
-Obrigado por ter me acompanhado até a reunião.
-Eu é que agradeço. Me diverti bastante.
-Fico feliz em saber disso. Boa noite.
-Boa noite. - ela disse, saindo do carro e entrando em casa. Mas naquela noite, enquanto estava indo para o banheiro para tomar uma ducha quente e espantar o frio de seu corpo, Anne não sabia dizer porque se sentia tão frustrada.
Olá, mais um capítulo postado. Espero que gostem e me deixem seus comentários. Obrigada por lerem. Beijos.
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