Capítulo 35 - A Revelação
Andando pelos corredores da faculdade, Anne sorria tanto naquela manhã, que seu coração parecia dançar no peito. Ela sabia de onde vinha aquela felicidade e quem a provocava, e esta consciência era o que sustentava o seu dia e fazia tudo ter sentido.
Ela não sabia o quanto queria ser mãe, até de fato pensar nesta possibilidade, pois nunca imaginara que isso fosse tão importante no passado. A verdade era que estar apaixonada fazia toda a diferença, principalmente agora que sabia que também era correspondida.
Gilbert se tornara seu mundo tão de repente, que Anne às vezes se admirava de como seu amor por ele era profundo. E pensar que, quando o conheceu, ela queria apenas mantê-lo o mais distante possível dela, sem imaginar que aquela história teria um final diferente.
O som de seus passos ecoava por onde ela passava, mas até sua maneira de andar carregava uma postura firme e confiante. Não fora assim há um ano e nem mesmo alguns meses antes. Mas nas últimas semanas, Anne estava sentindo-se bem na própria pele, e esta era a melhor sensação do mundo.
Desde criança, a ruivinha não sentia que se encaixava em nenhum lugar. Ela era diferente das irmãs, que tinham seus objetivos claros para o futuro. Anne não conseguia traçar um caminho diretamente para onde queria chegar. Não tinha um plano ou mesmo grandes expectativas para si mesma.
Ela lutava com unhas e dentes pelo que acreditava ser justo, mas, no fundo, ainda estava à procura de si mesma. No entanto, Anne sentia que estava mudando, e se tornando alguém de quem se orgulhava.
Obviamente, Gilbert tinha participação nisso. E pensar que, no passado, ele seria a última pessoa a quem atribuiria tal coisa e a quem odiaria até o último fio de cabelo. E agora, viver sem ele era quase impensável, pois após tudo o que vinham partilhando, seu coração estava mais entregue do que nunca.
― Anne, faz tempo que não conversamos. ― Lindy veio em sua direção.
― Tenho andado ocupada ultimamente. ― Anne falou, sorrindo de um jeito que fez Lindy perguntar:
― Qual é o motivo desse sorriso deslumbrante?
― Eu estou feliz. É só isso. - Anne respondeu, dando de ombro.
― Não vai me contar o que está acontecendo? Sou sua melhor amiga e mereço saber. - Lindy disse, fazendo um biquinho engraçado, que fez Anne rir.
Estou apaixonada, meu marido me ama e decidimos ter um bebê.
― Anne respondeu, com naturalidade, enquanto Lindy arregalava os olhos e dizia:
― O quê? Me conta essa última novidade sobre o bebê. ― Lindy disse, quase gritando, o que fez Anne colocar um dedo na frente dos lábios, pedindo silêncio. ― Me conta, Anne. Não me deixe curiosa.- Lindy pediu, em um tom mais ameno.
― Eu e o Gilbert conversamos e decidimos ter um bebê. Quero muito dar um filho para o meu marido. Eu nunca me imaginei no papel de mãe, mas agora que decidi, não vejo a hora de isso acontecer. ― Anne respondeu, sorrindo para a amiga com ar sonhador. Era tão bom falar todas aquelas coisas em voz alta. Era admitir para si mesma seus sonhos mais profundos, que começara a acalentar em seu coração depois de descobrir que estava apaixonada.
As coisas tinham mudado dentro dela, assim como sua maneira de enxergar a vida. Andava se sentindo tão bem que tinha medo de que aquela sensação fosse embora de uma hora para outra. Ela nunca achou que a felicidade fosse para seu destino, mas agora que a encontrara, não queria deixar de senti-la dentro de si.
― Eu estou feliz por te ver assim tão radiante. Você não sabe o quanto eu odiava sua baixa estima, sem conseguir enxergar o quão valiosa você é. Acho que tenho que agradecer a Gilbert por ter feito essa garota maravilhosa vir à tona. ― Lindy disse, olhando carinhosamente para Anne.
Ela era sua irmãzinha. Não importava que não fizessem parte da mesma família. Havia muito amor entre elas para ser ignorado e, em todos aqueles anos de amizade, elas não tinham brigado seriamente nenhuma vez. Podiam discordar, trocar farpas algumas vezes, mas nunca de fato deixaram de se apoiar mutuamente.
― Eu não pensei que te diria isso um dia, mas Gilbert é um homem maravilhoso.. Ele me faz feliz diariamente e estar com ele é sempre a melhor parte do meu dia. ― Anne disse, sorrindo e com os olhos brilhando, como se tivesse realmente feito uma grande confissão.
― Que bom ouvir isso, querida. E também tenho uma novidade. ― Lindy falou, enchendo o ar de expectativa.
― Qual? ― Anne perguntou, encarando a amiga com ansiedade.
― Eu e Brian marcamos a data do casamento. ― Lindy respondeu, radiante.
― É mesmo? Que notícia maravilhosa. Quando vai ser? ― Anne perguntou, feliz com a novidade. Se havia alguém que merecia ser feliz, esse alguém era Lindy.
― Daqui a dois meses. Estou literalmente nas nuvens. ― Lindy respondeu, sorrindo de orelha a orelha.
― Eu imagino. Depois de tantos anos juntos, Anne comentou, sentindo-se verdadeiramente feliz pela amiga.
― Ainda estou indecisa sobre o vestido, mas não quero nada tradicional. Será que pode ir comigo no fim de semana para me ajudar a escolher?
― É claro, Lindy. Você sabe que pode contar comigo para qualquer coisa. ― Anne respondeu, sorrindo.
― Você vai ser minha dama de honra, não é? Combinamos isso ainda na nossa infância. ― Lindy a lembrou.
― Sim. Não precisava nem perguntar. - Anne disse, enquanto ela e Lindy.
começavam a caminhar pelo corredor em direção às suas respectivas salas de aula. E quando chegaram lá, Anne se despediu, dizendo:
― Nos falamos depois.
― Certo. ― Lindy respondeu, continuando o seu caminho.
A primeira aula de Anne foi de economia. Aquela era uma matéria que a agradava muito, e a qual tinha excelentes notas, diferente de estatística, que mesmo com toda a ajuda de Gilbert para estudar, ainda se constituía em um problema para ela.
Após três longas aulas, eles fizeram uma pausa para o lanche, no qual Anne encontrou Cole, que lhe perguntou:
― Como foi o jantar que seu sogro organizou?
― Foi tudo bem. Conseguimos que alguns empresários abraçassem nossa causa. Agora vamos torcer para que seja um sucesso. ― Anne respondeu, orgulhosa de si mesma por ter feito aquilo acontecer.
Ela, Cole, Lindy e outros colegas lutavam há anos por um pouco mais de igualdade para as mulheres na indústria, pois havia ainda muitas injustiças com o sexo feminino, cuja jornada dupla não era reconhecida.
Uma mulher, além de trabalhar fora, também tinha que trabalhar em casa, e esta segunda função não era remunerada por motivos óbvios, enquanto a maioria dos homens tinha mais prestígio e compensações, gastando seu tempo em apenas uma jornada de trabalho diária.
John foi maravilhoso em apoiá-la, oferecendo sua casa para que o tal jantar pudesse acontecer. Os ganhos que tiveram com grandes empresários locais foram muito bons para começar, e Anne pretendia lutar por mais melhorias nas condições de trabalho da mulher dentro das grandes e pequenas empresas. Ela queria apoiar a dignidade e o direito ao salário justo para todas as mulheres, que tentavam, dia após dia, levar seu sustento e um pouco de conforto para dentro de suas casas.
― Você tem sido uma inspiração, Anne. Estou muito feliz por ser seu amigo e partilhar com você essa luta. ― Cole disse, emocionado.
― Sou eu quem agradece pela oportunidade. Farei tudo o que estiver ao meu alcance para ajudar. Você sabe que pode contar comigo sempre. - Anne respondeu, encarando o rapaz por quem nutria um carinho especial.
― Digo o mesmo. ― Cole respondeu, deixando um beijo carinhoso no rosto de Anne, que retribuiu o gesto logo em seguida.
Quando as aulas terminaram naquele dia, Anne se sentia exausta. Não sabia bem o porquê de tanto cansaço, mas atribuiu aquela sensação ao fato de ter esgotado todas as suas capacidades de raciocínio na aula do último professor. Ele exigiu trabalho em grupo em um projeto que precisava ter a participação de todos, o que gerou muita discussão e desacordos, mas no final deu tudo certo.
Logo que passou pelo portão da faculdade, ela viu, com grande assombro, Gilbert encostado no seu carro esporte. Ele estava com os braços cruzados, e o sorriso que enfeitava o seu rosto era como o sol brilhando acima deles, quente e aconchegante.
Ele não tinha dito que viria, pois naquele horário, seu marido estava sempre ocupado, mas vê-lo ali, sem aviso prévio, era uma surpresa muito bem-vinda.
― Você veio. ― Ela disse, sorrindo de orelha a orelha, com a voz cansada.
― Estava morrendo de saudades, e precisava te ver. ― Gilbert respondeu, enlaçando-a pela cintura, assim que ela chegou perto dele.
― Aconteceu alguma coisa? ― Anne perguntou, passando a mão pelos cachos caídos na testa do rapaz.
― Não, só as reuniões intermináveis e sufocantes de sempre. Precisava respirar um pouco e olhar para este rosto tão lindo, pelo qual sou completamente apaixonado.
― Você sempre me deixa sem jeito com suas declarações. ― Anne disse, encostando a cabeça no peito do rapaz, sentindo que ali era o seu lar e sempre seria.
― O que ouve? Você não me parece bem. ― Gilbert disse, levantando o queixo de Anne com o polegar, para poder observá-la melhor.
― Não sei. Me sinto exausta. Talvez esteja ficando gripada. ― Anne respondeu, desejando uma cama para poder dormir por horas.
― Você não parece estar com febre. ― Gilbert falou, checando a temperatura de sua esposa com as mãos. Talvez fosse melhor você ficar em casa hoje, ao invés de ir para o escritório. ― Ele sugeriu, pois não estava gostando da expressão no rosto de Anne. Ela realmente parecia esgotada, e em parte Gilbert se culpava por não ter dado a ela mais atenção naquela semana.
O trabalho do escritório estava extenuante. Ele acabou acumulando horas e trabalhando mais do que devia, e quando chegava em casa, Anne já estava dormindo e acabavam se falando somente no café da manhã. Precisava consertar aquela situação, pois não queria negligenciar seu tempo com Anne de jeito nenhum.
― Acho que vou aceitar sua sugestão.
― Anne respondeu, reprimindo um bocejo involuntário.
― Vou te levar para casa. ― Gilbert disse, e assim que entraram no carro, ele a puxou para seu colo e falou:
― Você não sabe quantas saudades estou sentindo. Esta semana tem sido um caos. Desculpe-me por não te dar a atenção que merecia. ― Gilbert disse, tocando o rosto dela com carinho.
― Você anda ocupado. Eu entendo. Mas o que fez hoje, vindo até aqui me buscar, já compensou a semana inteira.― Anne respondeu, colocando a mão sobre o coração do rapaz, que disparou, fazendo-a sorrir.
Gilbert era tão transparente em suas emoções que não escondia nada dela, fosse por meio de palavras ou reações. Ela amava aquilo nele, mais do que qualquer outra coisa, porque a fazia se sentir importante para ele e cuidada.
― Um gesto tão pequeno. ― Ele disse, soltando os cabelos dela, presos em um rabo de cavalo costumeiro.
Gilbert amava tê-la assim em seus braços. Nada no mundo era mais importante para ele do que aquela garota, que lhe sorria e o olhava como
se ele fosse o único no mundo para ela, e aquilo não tinha preço.
― Não é pequeno. Você abdicou do pouco tempo que tinha livre para me ver e isso é uma prova de amor incrível. Eu te amo por isso. - Anne respondeu, beijando o rosto do rapaz, que não se contentou com isso e respondeu, antes de beijá-la de verdade, disse:
― Eu te amo mais do que pode imaginar.
Então, ele a beijou daquele jeito possessivo que parecia querer tirar tudo dela, seu fôlego, sua alma e seu coração, mesmo sabendo que tinha tudo isso há muito tempo. O que ela não percebia era que cada vez que Gilbert a beijava, ele queria uma confirmação para si mesmo de que ela estava ali e não o deixaria.
Queria contar para ela a verdade, mas cada dia que passava ao lado de Anne se tornava mais difícil, pois precisava aceitar que poderia perdê-la e não estava preparado para aquilo. Nunca estaria, pois naquele tempo em que estavam juntos, ela se tornara o seu oxigênio, seu apoio e o seu mundo, e ele sabia bem que estaria acabado no minuto em que Anne saísse de sua vida.
Eles se separaram, mas Gilbert continuou abraçado com ela por algum tempo, pois sua mente parecia sussurrar coisas em seus ouvidos que o deixavam aterrorizado.
Notando que seu marido estava diferente, Anne perguntou:
― Você está bem?
― Estou, sim. Foi só um momento de cansaço que me acometeu. ― Gilbert respondeu, soltando-a com relutância.
― Então devia ficar em casa comigo. O que acha? Somente nós dois naquele apartamento. ― Anne murmurou no ouvido dele, fazendo Gilbert sorrir e responder:
― Você não sabe o quanto é sedutora quando fala assim comigo. E juro que daria qualquer coisa para passar o resto do dia no apartamento com você, mas tenho muito trabalho e tenho que voltar para a empresa daqui a pouco. ― Gilbert respondeu, observando o desapontamento nos olhos da esposa. ― Por favor, não me olhe assim.
― Tudo bem. Eu entendo. Vou te esperar chegar do trabalho. Também estou com saudades e queria fazer alguma coisa relaxante com você. Talvez assistir a um daqueles filmes de suspense que você gosta. - Anne falou, acariciando o peito do marido por cima da camisa social que ele usava.
― Ou nosso banho de espuma. ― Gilbert disse, lembrando-a daquela prática frequente que os fazia perder mais tempo no banho do que necessário.
―Não seja indiscreto, Sr. Blythe. Não deve lembrar a uma dama o que ela faz na intimidade. ― Anne disse, brincando, enquanto suas faces ruborizadas mostravam o quanto ela estava envergonhada.
― Faz parte do meu charme provocar você. Te acho linda com essas faces coradas. Além do mais, estou adorando praticar para termos o nosso filho. ― Gilbert respondeu, deixando um beijo suave nos lábios dela.
― Você quer muito isso, não é? ― Anne perguntou, deslizando as mãos pelo maxilar do rapaz.
― Sim. Estou louco para termos um bebezinho só nosso. ― Gilbert respondeu, sonhando acordado com aquela possibilidade.
― Eu também. Cora vai ficar muito feliz com um bisneto ou bisneta. ― Anne comentou, lembrando-se das inúmeras vezes em que Cora lhes fizera aquele pedido.
― Eu só espero que ela esteja aqui para ver ele ou ela nascer. ― O rapaz disse com tristeza, pois pensar na morte de sua avó era outra facada em seu coração.
― Não pense assim, meu amor. Cora é forte apesar de tudo. Anne tentou consolá-lo. Seu coração doía por ele, mas também por Cora. Ela era a mãe que Gilbert não teve, além de ser a única que o conhecia verdadeiramente.
Anne desejava muito que Gilbert fizesse as pazes com John, pois poderia encontrar consolo no amor paterno, se o pior acontecesse com Cora, mas Anne não queria interferir. Gilbert lhe dissera várias vezes que não poderia perdoar John e, infelizmente, aquele era um caminho muito difícil de fazer.
― Tem razão. Preciso parar de pensar nisso. Vou te levar para casa. - Gilbert falou, colocando Anne de volta no assento do carro e a ajudando a colocar o cinto de segurança.
Quando ele estacionou o carro na porta do prédio, Anne tinha adormecido. Para não acordá-la, o rapaz a pegou no colo e a carregou até o apartamento, onde a colocou na cama e a observou por alguns momentos.
Ela estava encantadora, com os cabelos bagunçados e dormindo como um anjo. Gilbert não superava aquela beleza toda. Anne era como uma estrela brilhante demais na sua vida, que antes fora triste e sem propósito. Amá-la era tão fácil quanto respirar e agoraGilbert não conseguia se lembrar de quando não havia sido assim.
Ele saiu do quarto sem fazer barulho, e dirigiu até a empresa, de onde só sairia às cinco da tarde. Moody estava à espera dele, para lhe falar sobre um trabalho que Gilbert havia lhe pedido para fazer. Entretanto, ao ver a expressão séria do amigo, ele perguntou:
― O que aconteceu?
― Nada. Só a minha consciência me cobrando mais uma vez.- O rapaz respondeu, afrouxando a gravata e se sentando em sua mesa de trabalho.
― Anne? ― Moody perguntou.
― Sim. Eu queria contar para ela que a ruína do pai dela no jogo foi minha culpa, que eu arquitetei tudo para que ela fosse obrigada a se casar comigo, mas como se diz isso para a mulher que eu amo? Se eu soubesse que tudo acabaria desta forma, eu jamais a faria assinar aquele contrato ou a forçaria a ser minha esposa. Mas agora é tarde demais para eu voltar atrás. ― Gilbert disse, se lamentando verdadeiramente por suas atitudes do passado.
― Não é tarde,ainda pode contar para ela. ― Moody o incentivou.
― Sou um covarde, Moody. Um covarde que nunca mereceu aquela garota maravilhosa. ― Gilbert disse, sentindo seu coração doer com suas próprias palavras.
― Se você contar para ela, Anne pode te perdoar. Quanto mais o tempo passar, mais esta situação vai piorar, Gil. Existe amor demais entre vocês para ser fomentado por uma mentira.
― Preciso pensar. ― Ele disse, deixando a conversa morrer ali.
O que ele e Moody perceberam foi que a porta ficou entreaberta e Billy, que passara ali, ouviu toda a conversa, sabendo exatamente o que fazer com ela. Com um sorriso de vitória no rosto, o primo de Gilbert caminhou até a sua salae então colocou seu plano em prática.
No apartamento, Anne acordou no meio da tarde e, quando se levantou, um forte enjoo a fez correr para o banheiro, colocando tudo para fora. Quando voltou para o quarto, sentindo-se trêmula, ela se sentou na cama, sem entender o que estava acontecendo com ela. Depois de alguns minutos pensando, uma forte suspeita tomou conta de sua cabeça e ela ligou para a farmácia, pedindo um teste de gravidez.
Quando sua encomenda chegou, ela foi para o banheiro e fez o exame, esperando por alguns minutos que o resultado ficasse pronto. Então, ela respirou fundo, olhou para o objeto em suas mãos e sua suspeita se confirmou.
Um pouco surpresa e quase sem acreditar, Anne ficou olhando para o vazio à sua frente, até que a emoção a dominou e ela começou a chorar. Ela estava feliz e queria que Gilbert estivesse ali com ela para que comemorassem juntos aquela notícia maravilhosa.
Não desejando esperar mais, ela pegou o carro que Gilbert havia lhe presenteado e decidiu que já era hora de dirigi-lo, pois não queria perder mais tempo. Quando estava se arrumando para sair, uma das empregadas do apartamento disse:
― Sra. Blythe. Esta correspondência acabou de chegar e está endereçada à senhora.
― Obrigada. ― Anne disse, olhando intrigada para o envelope, cujo remetente estava em branco.
Ela abriu o envelope e, quando leu o conteúdo, ele pareceu cair feito uma bomba sobre ela. Sem acreditar no que estava escrito ali, ela arfou, como se tivessem lhe tirado todo o ar.
Não era possível que aquilo fosse verdade. Era nojento demais, e quem quer que tivesse lhe enviado aquilo, sabia o caos que iria causar em sua cabeça.
Decidida, ela saiu do apartamento e foi até a garagem, com sua indignação dando-lhe força para tirar aquela história a limpo. Com cuidado, ela manejou o carro até a empresa, esquecendo seu medo de dirigir, pois o que estava sentindo por dentro era horrível demais. Queria olhar no rosto de Gilbert para saber se aquilo era verdade, pois imaginar que o que vivera com ele tivesse sido uma grande mentira partia seu coração de forma dolorosa demais.
Ela chegou na empresa, passando pela recepção sem cumprimentar ninguém. Estava tão perturbada pelo conteúdo da carta, que não se importou de ser educada. Só uma pessoa podia tirá-la daquele estado e, por isso, marchou para a sala dele sem pedir licença.
― Me diz que isso é mentira. ― Anne disse à queima-roupa, jogando a carta sobre a mesa de Gilbert, que não teve tempo de esboçar nenhuma reação. Vendo a determinação no rosto de sua esposa, Gilbert pegou o papel dobrado dentro do envelope, passou os olhos sobre ele e engoliu em seco, olhando para Anne como se tivesse sido atingido por um raio.
― Quem te mandou isso? ― Ele perguntou, tentando ganhar tempo, pois mal conseguia pensar.
― Não interessa. Quero que me diga se isso que está escrito aí é verdade? ― Ela pediu, olhando para o marido quase em desespero, rezando para que ele dissesse que aquilo que estava na carta era um grande mal entendido.
― Anne...― Ele começou, gaguejando e então Anne soube que era verdade. Aquela maldita carta contava-lhe algo tão sórdido que lhe causava repulsa.
Ela se aproximou de Gilbert, com o ódio lhe esmagando o peito, o esbofeteou e disse, tremendo de ira:
― Como pôde fazer isso? Você se revelou exatamente o que eu pensava que fosse: um homem mimado e egoísta que passa por cima de todos para conseguir o que quer!
― Anne, eu sei que o que eu fiz foi terrível, mas eu te amo. Por favor, me perdoe. ― Ele pediu, desesperado. O mundo estava caindo em sua cabeça e Gilbert não sabia o que fazer.
― Não me fale de amor. Você não sabe o que é isso. Se me amasse, como diz, teria me contado antes toda essa sujeira. Eu nunca pensei que você pudesse ser tão cafajeste. ― Anne disse, sentindo seu coração se quebrar, pedacinho a pedacinho, enquanto encarava o marido, completamente decepcionada.
― Eu não tenho o que dizer em minha defesa. O que fiz foi complementarmente irresponsável. Eu apenas pensei em mim e em minhas necessidades naquela época, mas não é mais assim. ― Ele disse, abrindo a gaveta onde estava o contrato, e o rasgando na frente de Anne. ― Está vendo? Seu pai está livre da dívida comigo e você também. Por favor, apenas me perdoe, fica comigo e vamos viver nosso amor. ― Ele pediu de novo, sem suportar o olhar dolorido que Anne lhe lançou. Ele a estava perdendo e não podia suportar aquilo.
― Você acha que rasgar este contrato muda alguma coisa? Eu não posso te perdoar. Você mentiu para mim e destruiu qualquer chance de sermos felizes juntos. Eu confiei em você, me entreguei completamente a você, para depois descobrir que seu caráter é pior do que pensei. Acabou, Gilbert. Não quero te ver nunca mais. ― Anne disse, sentindo as lágrimas escorrerem pelo seu rosto. Ela estava chorando e detestava aquilo, mas não conseguia conter a dor que estava sentindo.
― Não, por favor, Anne. Não tem que ser assim. ― Ele disse, tentando se aproximar, mas Anne estendeu uma mão e disse:
― Nem tente. ― Gilbert estacou onde estava, sentindo as lágrimas chegarem em seus olhos. Ele não se importava de que Anne o visse chorando. Não se importava de que seu orgulho tivesse ido para o ralo; ele se ajoelharia aos pés dela se fosse preciso; faria qualquer coisa para que Anne não o deixasse.
― Sabe o que é mais terrível? É que, mesmo sabendo de tudo isso, eu te amo tanto que chega a doer. Maldito seja, Gilbert Blythe! ― Ela disse, saindo pela porta, o deixando atônito e sem chance de resposta.
Anne saiu pelos corredores da empresa, chorando feito louca. As pessoas a olhavam assustadas, mas ela não se importou. Ninguém tentou ajudá-la ou tentar entender o que estava acontecendo, pois ela não deu oportunidade para que ninguém fizesse isso.
Desesperada, ela correu para o carro, dirigindo para casa com cuidado, pois as lágrimas dificultavam sua visão. Anne suspirou aliviada quando estacionou o carro na garagem do prédio, pegando o elevador para chegar ao apartamento mais rápido.
Assim que chegou lá, ela foi para o quarto e arrumou as malas, disposta a deixar aquele apartamento o quanto antes, embora seu coração estivesse sofrendo pelas lembranças felizes que tinha dali.
Antes de partir, ela pegou Joy no colo e decidiu que levaria o cachorrinho com ela. Era a única coisa que levaria consigo das que Gilbert lhe dera, pois não suportava a ideia de usar qualquer coisa que ele tivesse lhe dado.
Ela saiu dali com a intenção de nunca mais voltar, pois estava deixando naquele lugar todo o seu sonho de amor e de construir uma família. Ao se lembrar do pequeno ser que começava a crescer em seu ventre, a chorou de novo, também se lembrando de que não contara a Gilbert sobre o bebê, mas aquilo não tinha mais importância.
Assim que deixou o apartamento, ela chamou um táxi e, enquanto entrou nele com Joy, confortavelmente aconchegado em seus braços, ela sabia exatamente aonde queria ir.
Quando Gilbert chegou em casa, um tempo depois, disposto a resolver aquela situação, ele encontrou o apartamento vazio. Desesperado, ele subiu as escadas correndo, indo em direção ao quarto, mas o que encontrou lá foi as portas do guarda-roupa abertas, e o local onde ficavam os pertences de Anne completamente vazios.
Então, o rapaz se deixou escorregar até o chão, soluçando sem parar ao entender que seu pesadelo tinha se tornado realidade; ele havia perdido Anne para sempre.
Olá, pessoal. Mais um capítulo postado. Beijos.
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