Capítulo 33 - Desejos e paixões
O jornal matutino caiu feito uma bomba em cima da mesa de trabalho de John. Em letras garrafais na manchete sensacionalista, o redator destacava, mais abaixo e com uma matéria gigante, a participação do herdeiro Gilbert Blythe e sua esposa Anne em uma passeata local.
Aquilo não seria tão grave se essa passeata não fosse contra os empresários locais, o que acarretaria ao homem de negócios uma enorme dor de cabeça.
De todas as coisas que imaginara que seu filho pudesse fazer contra ele, não lhe passara pela cabeça que Gilbert tentaria atingi-lo daquela maneira e nem poderia culpar Anne, porque sabia que seu filho só fazia o que queria.
Se ao menos soubesse porque Gilbert o odiava tanto, John poderia tentar contornar aquela situação de outra maneira. Às vezes, ele tinha medo de pensar que aquilo nunca teria volta, que Gilbert nunca mais se aproximaria dele e que morreria, levando o ódio do filho com ele.
Ainda assim, John desejava acreditar que ele e o rapaz teriam tempo para voltar ao relacionamento que tinham antes.
Cora sabia o motivo, mas nunca lhe contara. Ela dissera que esse assunto era algo pessoal de Gilbert e que, se John quisesse saber, teria que confrontar o rapaz pessoalmente. Mas ele nunca tivera coragem. Gilbert já era ríspido com ele diariamente e não desejava criar mais um problema entre os dois.
Todavia, o problema com o qual teria que lidar naquele momento envolvia outras pessoas, portanto, não teria como evitar aquele embate com Gilbert.
- Suzy, quando Gilbert chegar, peça a ele para vir ao meu escritório. Preciso falar com ele com urgência. - John pediu, falando com a secretária pelo interfone.
Em seguida, ele se concentrou em seu trabalho do dia, pois tinha muitos e-mails para responder antes de se preparar para a conversa que teria com Gilbert.
No apartamento do rapaz, ele tinha acabado de acordar e olhou para sua esposa que dormia feito um anjo. Só de observá-la respirando calmamente, Gilbert se sentia tranquilo também.
Ele estendeu a mão, tocou o ombro dela com carinho e, logo em seguida, deixou ali um beijo, esperando que Anne abrisse os olhos.
Ela apenas resmungou e mudou de posição, voltando a dormir e fazendo Gilbert sorrir, enquanto seus olhos não conseguiam se afastar do rosto delicado.
Anne estava mais linda do que quando a conhecera, e parecia que cada dia, ela ganhava mais graça e consciência de seu poder sobre as emoções dele.
Ela sabia provocá-lo de um jeito sutil, que o deixava louco. Bastava que Anne o olhasse com aqueles olhos incríveis, para Gilbert sentir que seu coração estava completamente nas mãos dela.
Em alguns momentos, ele sentia certo receio daquele amor que sentia por ela, pois o deixava tão exposto e tão frágil, que sabia que se quebraria em mil pedaços se ela o deixasse.
Queria ter coragem de contar o que fizera, mas seu medo de perdê-la era sempre maior. Sua consciência sempre lhe dizia que a perderia de qualquer jeito, por isso, tentava aproveitar ao máximo seus momentos com ela, porque quando aquele dia chegasse, ele teria as melhores lembranças de sua vida para ajudá-lo a não enlouquecer de dor.
Afastando aquele pensamento incômodo de sua mente, ele se inclinou sobre Anne, deixou um selinho em seus lábios e depois falou em seu ouvido:
- Amor, você precisa acordar.
Os cílios de Anne tremeram um pouco antes que ela abrisse os olhos e, quando o fez, o rosto de Gilbert surgiu à sua frente, como se fosse apenas um sonho bom.
- Estou sonhando ainda? - Ela perguntou, tocando o rosto do rapaz, como se quisesse se certificar que ele era realmente real.
- Não é um sonho, amor. Precisamos nos levantar. Tenho que ir para o trabalho e você para a faculdade. - Gilbert disse, girando o corpo e ficando por cima do dela, sem deixar que seu corpo a esmagasse.
- Não podemos ficar nessa cama só mais um pouco? - Anne perguntou, enlaçando Gilbert pelo pescoço.
- Eu adoraria, mas não podemos. Hoje tenho uma reunião muito importante e não posso me atrasar. - Gilbert disse, deixando um beijo na pontinha do nariz de Anne.
- Então, me abraça. - Ela pediu com a voz manhosa.
- O que foi? Você nunca me pediu isso antes.- Gilbert comentou, correndo os olhos pelo rosto dela.
Amava aquela intimidade que tinham agora e como fora construída, principalmente pela maneira como seu relacionamento tinha se iniciado. Gilbert não imaginara que amaria tanto alguém como amava Anne, e nem que seria correspondido na mesma intensidade.
Era por isso que seu medo de perder Anne era maior, porque se ela fosse embora de sua vida, perderia tudo. A motivação, seus sonhos e suas esperanças.
Antes, Gilbert não queria compromisso com ninguém, pensava que ficaria melhor sozinho, que relacionamentos curtos não lhe trariam dor de cabeça e que construir uma família não era sua prioridade. E agora, olhando para si mesmo, quase tinha vontade de rir com ironia, pois caíra em sua própria armadilha.
- É que eu estou com saudades do meu marido.- Anne falou, surpreendendo Gilbert, que lhe respondeu com um sorriso:
- Tenho uma ótima ideia para acabarmos com essa saudade.
- Que ideia? - Anne perguntou com uma ingenuidade que fez Gilbert sorrir de novo.
Deus! Ela era tão inocente, que o deixava encantado ao saber que era ele a ensiná-la coisas, com as quais Anne não tinha ainda experiência nenhuma.
- Você disse que está com saudades, certo? - Gilbert perguntou, acariciando a bochecha direita dela com carinho.
- Sim.- Anne confirmou.
- Então, vamos acabar com essa saudade agora mesmo. - O rapaz disse, levantando-se da cama e pegando-a no colo.
- O que vai fazer? - Anne perguntou rindo.
- Vou matar sua saudade.- Gilbert disse, carregando-a para o banheiro.
Quando chegaram lá, ele a colocou no chão e a puxou para um beijo que tirou completamente o fôlego de Anne.
Gilbert era intenso e ela amava isso. Ele tinha uma maneira de fazê-la sentir que o mundo lá fora não existia quando estava nos braços dele e isso era tão maravilhoso, que ela podia facilmente esquecer de qualquer problema que pudessem ter longe dali.
Gilbert desgrudou os lábios dos dela com beijos curtos e encarando-a profundamente, ele afastou a alça da camisola de Anne com cuidado, deixando a peça cair suavemente até o chão.
Anne não tentou esconder os seios dessa vez, como sempre fazia quando estavam com as luzes acesas e Gilbert fazia questão de observar seu corpo inteiro e nu.
Ela estava se sentindo diferente dessa vez, como se sua autoconfiança estivesse pouco a pouco afastando sua inibição do passado, porque sempre se lembrava do que Josie costumava dizer sobre seu corpo e nunca de forma positiva.
Anne era a única das três irmãs a ter menos curvas. Até Ruby tinha um corpo mais cheio que o dela, detalhe que sempre provocava piadinhas de Josie, que dizia que a ruivinha mais parecia um garoto sem atrativos.
- Você é perfeita. Sempre me espanto com o quão linda você é. - Gilbert disse, desenhando a curva dos seios de Anne com as mãos.
Em seguida, ele abaixou a cabeça e capturou o mamilo direito, sugando-o devagar e fazendo Anne gemer baixinho e segurar no ombro dele com força.
A ruivinha deixou que as sensações tomassem conta do seu corpo, respirando fundo ao sentir seu marido brincar com seu mamilo esquerdo. Ela esperara tanto tempo para se entregar a alguém e se sentia feliz por ter esperado pelo homem certo.
Ninguém a faria sentir aquela necessidade de se entregar por inteiro, sem pudores, receios ou timidez. Gilbert a fazia se sentir linda, apreciada e amada como se fosse uma princesa, o que a fazia pensar que toda mulher deveria se sentir assim com o homem que amava.
Gilbert abandonou seus seios, distribuiu beijos pelo seu colo, subiu pelo seu pescoço, modificando seu queixo até beijá-la novamente com ardor. Quando o beijo terminou, o rapaz perguntou, sem deixar que seus lábios se afastassem dos dela:
- Você quer fazer amor comigo?
- Sim. - Anne respondeu, ansiosa pelo toque dele, seus beijos e por aquela nova experiência a qual ainda não tinha vivido.
- Quer ficar aqui ou voltar para o nosso quarto? - Gilbert perguntou, passando a ponta da língua pelo lóbulo da orelha de Anne, causando-lhe tantos arrepios, que ela sentiu suas pernas amolecerem.
- Quero ser sua aqui. Nunca fizemos amor assim.- Anne respondeu, deslizando as mãos pelo peito descoberto do rapaz.
- Você ainda tem muito que aprender e estou ansioso para te ensinar. - Gilbert falou em um tom tão quente que Anne sentiu sua intimidade umedecer mais ainda.
Ela o puxou para um beijo, e suas bocas famintas se devoraram, como se o desejo entre eles nunca tivesse fim. Quando Gilbert se separou dela de novo, suas mãos fortes correram pelas costas de Anne, até chegarem no elástico da calcinha, que ele a fez retirar quase que imediatamente.
Ele deu um passo para trás para se livrar da calça do pijama e quando foi tirar sua cueca boxer também, Anne disse:
- Deixa que eu faço isso.
Gilbert a olhou surpreso, mas assentiu com a cabeça, segurando a respiração ao sentir as mãos macias de Anne correr por todo o seu peitoral, passar pelo abdômen e alcançar a parte da frente de sua boxer preta.
Ela o tocou exatamente ali, acariciando o membro do rapaz sobre o tecido, e sorrindo ao vê-lo fechar os olhos e apertar a cintura dela com mais força, enquanto sua respiração se tornava irregular.
Um sentimento poderoso tomou conta dela ao se sentir no domínio da situação. Era a primeira vez que fazia isso espontaneamente, pois Gilbert era quem sempre tomava as rédeas do ato de amor deles. Estava um pouco insegura, seu rosto vermelho denunciava a sua inibição, mas queria fazer aquilo, porque era prazeroso demais ver Gilbert naquele estado só por causa dela.
Decidida, Anne puxou a peça de roupa para baixo, fazendo com que Gilbert gemesse baixinho quando ela o tocou novamente sem o tecido a impedi-la.
O rapaz estava literalmente pegando fogo e percebia que entraria em combustão a qualquer momento. Anne o estimulava com suavidade, mas ainda assim, ele sentia seu corpo responder aquele toque de forma febril e desesperada.
Quando estava quase chegando ao seu limite, Gilbert empurrou Anne com cuidado contra o boxe, beijando-a com sofreguidão e esfregando seu membro contra a intimidade dela que estava completamente molhada.
Aquele homem a fazia ferver como nunca ninguém tinha feito antes. Seu corpo precisava do dele, sua pele ardia por um contato maior, enquanto sua boca pronunciava palavras desconexas e dizia o nome dele baixinho, porque só Gilbert poderia libertá-la da doce prisão do desejo e paixão.
- Eu preciso sentir você em mim.- Ela disse ofegante, ao mesmo tempo em que o rapaz não parava de distribuir beijos pelo seu rosto, pescoço e colo.
Percebendo que não aguentaria muito tempo também, Gilbert pegou a proteção dentro do armarinho do banheiro e enquanto a colocava, o olhar de Anne o observava em uma ansiosa espera.
Naquele instante, a beleza dela era extrema. Seus cabelos ruivos caiam pelos ombros alvos em total confusão, seus olhos azuis tinham escurecido e o brilho deles pareciam querer desvendar a sua alma. O rosto corado na pele de pêssego de suas bochechas, tornava-a irresistível e o fazia pensar que tinha uma sereia diante de si.
Gilbert a penetrou devagar, observando suas reações que variavam entre luxúria e paixão. Seus gemidos um pouco mais altos agora o excitavam tanto, que o rapaz acelerou suas estocadas, gemendo junto com Anne e sentindo as mãos dela apertarem seu ombro com força.
Era tão maravilhoso senti-la assim tão sua, e tão entregue, que se pudesse, não mais sairia de dentro dela, porque aquela garota, cujo rosto demonstrava tudo o que ela estava sentindo naquele momento, era a única da qual teria sempre orgulho de chamar de esposa.
Eles explodiram juntos em um mundo de sensações que os tragou com sua força e intensidade. Tal sentimento tirou-lhes totalmente o fôlego e deixou em seu lugar respiração entrecortada e ambos os corações batendo feito loucos no peito.
Assim que a avalanche de sentimentos se acalmou, Anne permaneceu com a cabeça apoiada no peito de Gilbert, que por sua vez, tinha seu rosto enterrado nos cabelos dela.
- Eu te amo.- Gilbert sussurrou no ouvido dela, fazendo com que um lindo sorriso dançasse nos lábios rosados da ruivinha, que lhe respondeu:
- Eu também.
- Você é incrível. Não sabe o quanto me deixa louco quando toma a iniciativa como fez hoje. - Gilbert falou, abraçando-a pela cintura.
- Sou ainda tão inexperiente. - Anne respondeu, um tanto aborrecida com aquele fato.
- Mas está aprendendo rápido. - Gilbert disse, beijando-a no topo da cabeça. - Não precisa ter pressa. Temos todo o tempo do mundo para desfrutar desses momentos incríveis. - Gilbert disse, tentando sufocar a sua consciência que lhe dizia que seu tempo com Anne estava se esgotando.
- Mas não sou como as garotas que você está acostumado.- Anne comentou, sem olhar para ele, pois não queria que Gilbert soubesse que sentia ciúmes das garotas que tinham passado pela vida dele.
- Elas não importam mais. Você é minha esposa e é a única que tem meu coração. - Gilbert respondeu, deixando um selinho nos lábios dela e depois acrescentou: - Vamos tomar nosso banho, pois já estamos atrasados.
- Está bem - Anne concordou, observando o marido abrir a torneira do chuveiro.
Assim, eles tomaram banho juntos e logo estavam na mesa do café da manhã, que a cozinheira da casa deixara pronta para os dois.
- Tem algum compromisso hoje à tarde, além do trabalho? - Anne perguntou, comendo um bolinho de queijo com satisfação.
- Vou levar a vovó ao médico. É uma daquelas consultas de rotina que ela faz todo mês.
- E como ela está?- Anne perguntou, preocupada com Cora, pois desde que começara a trabalhar, quase não tivera tempo de vê-la.
- Ela diz que está melhor, mas acho que está mentindo. Minha avó é o tipo de pessoa que odeia depender de alguém ou causar qualquer forma de preocupação nas pessoas.- Gilbert respondeu, se sentindo ressentido com esse pensamento, pois não conseguia deixar de se sentir revoltado quando se lembrava que cada dia que passava, a vida de sua avó estava sendo abreviada por uma doença desprezível.
- Eu sei que o quanto toda essa situação é difícil para você, mas por que não se concentra apenas nas coisas boas? Aproveite seu tempo com Cora sem pensar no futuro? Acho que é isso que ela deseja também. - Anne disse, fazendo Gilbert a encarar e declarar:
- Eu não sei o que faria sem você. Minha vida mudou completamente desde o dia em que te conheci.
- Sou sua esposa, eu te amo e quero te ver feliz. Dói muito vê-lo sofrer cada vez que fala na Cora. Não há nada que possamos fazer por ela, a não ser cuidar para que a vida que lhe resta seja um pouco mais confortável. - Anne afirmou, enquanto Gilbert apenas ouvia sem dizer nada.
Não conseguia falar daquele assunto sem sentir que seu coração estava sendo arrancado. Perdera sua mãe e, em breve, sua avó seria levada dele sem que Gilbert pudesse fazer nada, e a impotência era a pior penitência que alguém poderia lhe infringir.
- Acho que você tem razão. - Gilbert respondeu, tornando a ficar em silêncio, e Anne entendeu que aquele assunto estava encerrado.
Ele ainda estava em negação, o que não era nada bom. A ruivinha podia ver a dor daqueles olhos incríveis, por isso, não insistiu naquele assunto, respeitando os sentimentos do marido.
Após o café da manhã, Gilbert a deixou na porta da faculdade e após um beijo que deixou Anne quente por dentro, o rapaz se afastou e disse:
- Te vejo mais tarde no trabalho.
- Sim, acho que vou contar as horas até lá. - Anne disse, encostando sua testa na dele.
Ela estava ficando cada vez mais dependente daquele sentimento que não parava de crescer em seu peito e, apesar de saber que não era um saldo positivo para seu coração, lutar contra isso estava ficando cada vez mais difícil.
- Não mais do que eu, acredite. Mas, agora preciso ir, vou ter uma reunião demorada e já estou atrasado pelo menos dez minutos. - Gilbert revelou, segurando o queixo de Anne e deixando um beijo em cada bochecha da ruivinha e o último em seus lábios, e disse:
- Preciso mesmo ir agora, senão não sairei nunca daqui.
- Está certo.- Anne disse, saindo do carro e suspirando longamente ao ver Gilbert partir.
Logo em seguida, ela entrou na faculdade e encontrou Lindy e Cole no corredor. A amiga lhe lançou um olhar malicioso depois de observá-la por dois minutos e disse:
- Posso imaginar o motivo dessa carinha feliz.
- Anne está casada com um dos homens mais lindos da cidade. É lógico que está feliz. - Cole disse, rindo ao ver o rosto corado da amiga.
- Parem vocês dois. Estão me deixando sem graça. - Anne pediu, morrendo de vergonha dos dois amigos que continuavam a rir de seu embaraço.
- É só brincadeira, Anne. - Cole disse, emendando logo em seguida:- Eu estava te esperando, porque queria te mostrar algo.
- O que é? - Anne perguntou, sorrindo para o amigo.
- Dê uma olhada nesse jornal. - O rapaz disse, estendendo-lhe o exemplar do dia.
Anne empalideceu ao ler a manchete e ver seu rosto e de Gilbert estampados na primeira página. Deus! Como aquilo pudera acontecer? Gilbert fora apoiá-la e agora poderia estar em uma enorme enrascada por causa dela.
Aquela luta era dela e de seus amigos. Seu marido estava do lado oposto e, ainda assim, ele se prontificara a estar naquela passeata por amor a ela.
- Algum problema, Anne? - Cole perguntou, observando sua testa franzida e a expressão chocada em seu rosto.
- Não. Estou apenas surpresa. Não pensei que nossa pequena passeata fosse ter tanta repercussão. - Anne respondeu, escondendo o real motivo de sua inquietação.
- Acho que o fato de seu marido ter estado lá foi um dos pontos mais marcantes. Isso nos deu uma excelente visibilidade. - Cole disse, animado e Anne não teve coragem de acabar com as esperanças dele. Por isso, ela apenas sorriu, sem de fato concordar com a fala do amigo.
Assim, enquanto caminhavam para a sala de aula, Lindy perguntou baixinho para que apenas Anne ouvisse:
- Essa manchete no jornal vai dar confusão, não é?
- Ainda não sei. Espero que não. - Anne respondeu, entrando na sala de aula, enquanto Lindy seguia para a dela.
Quando o professor de estatística começou a aula, Anne mal conseguia prestar atenção por conta das preocupações em sua mente, sabendo de antemão que aquele seria um longo dia.
Na empresa dos Blythes, John olhava frustrado para Gilbert, enquanto o rapaz fazia anotações em seu bloco de notas.
Estavam em reunião, e ele não pudera falar com o filho antes, porque o rapaz chegara cinco minutos atrasado, culpando o trânsito que naquele dia parecia se arrastar.
John precisava colocar a história do jornal a limpo antes que começasse a receber ligações e e-mail acusadores, pois Gilbert tinha estado em uma passeata que claramente os prejudicava.
Desta vez, seu filho passara de todos os limites, e limpar a barra dele não seria tão simples assim. Mas precisava ouvir o lado dele naquela questão antes de tomar qualquer atitude a respeito do que acontecera.
A reunião durou cerca de uma hora e, assim que todos tinham saído John se aproximou da cadeira de Gilbert e perguntou:
- Posso falar com você?
- Sinto muito, mas tenho que levar minha avó ao médico agora. Podemos conversar mais tarde. - Gilbert disse, colocando suas coisas dentro de uma pasta e se levantando da mesa.
- Certo. Como está Cora? Não consegui visitá-la nos últimos dias.- John disse, sentindo-se um pouco frustrado por não poder falar com Gilbert como tinha planejado. Mas ele entendia que a prioridade do rapaz sempre seria a avó acima de qualquer coisa.
- Aparentemente, ela parece bem, mas a enfermidade cardíaca dela continua do mesmo jeito.- Gilbert respondeu, incomodado com a insistência de seu pai em manter uma conversa familiar com ele, quando o rapaz já tinha deixado claro que entre eles só poderia haver interação sobre os negócios da família.
- Dê minhas lembranças a ela. - John disse, observando Gilbert caminhar para a porta.
- Certo. - Gilbert respondeu, deixando o pai sozinho na sala de reuniões e bastante pensativo sobre as atitudes do rapaz.
Fora da empresa, Gilbert seguiu até o estacionamento, pegou o carro e se dirigiu à casa de Cora, que o esperava impacientemente no jardim.
Paciência nunca fora um ponto forte em sua avó, principalmente se tivesse que depender de alguém para qualquer coisa. Ela era uma mulher independente e até naquele momento em que estava com sua saúde comprometida, Cora não abria mão de sua liberdade.
Gilbert a admirava exatamente por isso e sentia em seu coração um pesar imenso ao pensar que, assim como ele, o mundo perderia alguém de valor quando Cora se fosse. Ainda não estava preparado para isso e talvez nunca estivesse.
- Filho, achei que nunca chegaria.
- Calma, vovó. Ainda temos trinta minutos de crédito. Sua consulta é às dez, são apenas nove e meia. - Gilbert a lembrou, rindo da afobação de Cora.
- Vocês jovens fazem tudo em cima da hora. No meu tempo, isso nunca seria permitido. - Cora disse, sentando-se ao lado de Gilbert no banco do carona.
- Vamos chegar a tempo, vovó, eu prometo. - Gilbert afirmou, voltando a dirigir.
- E Anne? Como ela está? - Cora perguntou, assim que Gilbert parou em um sinal vermelho.
- Ela está ótima. Nesse momento, minha esposa está na faculdade. - Gilbert respondeu, sorrindo para a avó, pois falar de Anne era seu tópico favorito.
- Você tem bastante orgulho dela, não é? - Cora perguntou, virando-se para encarar o neto ao volante.
- Tenho sim. Ela é tão inteligente e dedicada. Meu pai ofereceu um estágio para Anne na empresa, e ela está se saindo muito bem. Estou pensando em oferecer a ela um cargo permanente, mas não sei se ela aceitaria. - Gilbert contou, enquanto ultrapassava uma caminhonete vermelha à sua frente.
- E por que ela não aceitaria? Está trabalhando na empresa da família. - Cora disse, se mostrando surpresa com a afirmação do neto.
- Anne é orgulhosa e quer vencer na vida sozinha. Ela acha que trabalhar na nossa empresa é uma vantagem que não deveria ter.
- Não posso discordar dela e a admiro por isso. Qualquer jovem se aproveitaria dessa oportunidade, mas sua ruivinha quer fazer a própria carreira sozinha, o que é bastante louvável na idade dela. Mas o que realmente quero saber é: quando vocês vão me dar um bisnetinho?
- Não sei como responder a essa pergunta. - Gilbert disse, tentando esconder da avó que Anne não pensava em ser mãe tão cedo, principalmente por conta de como a história deles tinha começado.
Ela nunca mais falou sobre o assunto, e Gilbert deixara aquele pensamento de lado, porque não parecia mais importante se tivessem um filho ou não.
- Bom, entendo que queiram esperar e não precisam se apressar por minha causa. Serão abençoados por mim do mesmo jeito. - Cora disse, sorrindo.
- Obrigado, vovó. - Gilbert falou, não dando mais pauta para aquele assunto. No entanto, Cora puxou outro assunto que era menos confortável ainda para o rapaz.
- Já fez as pazes com seu pai? - Cora perguntou, fazendo Gilbert engolir em seco antes de responder:
- A senhora sabe que não.
- Gilbert, eu te amo e entendo sua posição, mas torno a dizer que pode se arrepender se insistir nesse ressentimento. - Cora o alertou, o que fez Gilbert virar o rosto para ela e dizer:
- A senhora sempre me diz isso, porque não me conta o que não sei?
- Eu não posso, quem tem que dizer é o seu pai.- Cora revelou.
- Então tem mesmo alguma coisa, e vindo do meu pai não pode ser nada bom. - Gilbert falou, ao mesmo tempo em que Cora o olhava criticamente e ficava calada.
O médico não demorou a atendê-los logo que chegaram na clínica e, por isso, Gilbert não teve oportunidade de aprofundar aquele assunto. Cora sempre dava a impressão de que havia mais naquela história sobre seu pai que deixava transparecer. Entretanto, Gilbert se perguntava se valia mesmo a pena saber.
- Sra. Cora, pelos seus exames, creio que seu estado continua o mesmo. - O médico avaliou, após avaliar todos os exames da avó de Gilbert.
- Não teve nenhuma melhora, doutor? - Gilbert perguntou, sentindo seu coração diminuir de tamanho em seu peito.
- Infelizmente não. Temos que continuar com o mesmo tratamento, mas não posso garantir que teremos melhores resultados - O médico os avisou.
- Não pode fazer mais nada, doutor? - Gilbert perguntou novamente, desesperado por uma resposta afirmativa.
- O caso de sua avó é grave. Ela sabe disso, pois conversamos várias vezes sobre isso. - O médico respondeu.
- Gilbert, os médicos estão fazendo o melhor que podem por mim. - Cora disse, depois dirigiu-se ao médico e disse: - Obrigada, doutor por sua dedicação ao meu caso. Vou seguir com o tratamento.
- Vou marcar para que volte daqui há quinze dias. E aqui está a receita dos seus remédios. - O médico disse, estendendo a Cora a prescrição.
- Obrigada, doutor. Vamos Gilbert.- Cora disse, segurando na mão do neto, levando-o até a saída do hospital.
Quando estavam no carro, Cora disse:
- Gilbert, você sabe que tenho pouco tempo de vida. Por que não aceita isso? É melhor para você.
- Não consigo, vovó. Perder você é como perder minha mãe duas vezes. Não posso aguentar isso. - Gilbert disse, atormentado por aquele pensamento.
- Você nunca perdeu sua mãe, assim como, nunca vai me perder. Estaremos sempre em seu coração. - Cora afirmou, deixando um beijo no rosto do rapaz.
Gilbert ficou calado, tratando apenas de dirigir, pois se tentasse dizer qualquer coisa, ele começaria a soluçar sem parar, e não queria que Cora o visse daquele jeito.
Ele chegou no trabalho, depois de deixar sua avó em casa e almoçar com ela. O rapaz ainda se sentia agoniado, mas controlou suas emoções, pois tinha uma agenda cheia de compromissos para aquele dia.
- A Anne já chegou? - Ele perguntou, ao passar por sua secretária.
- Ainda não. - A moça respondeu, enquanto verificava as suas anotações na agenda.
- Diga a ela para vir falar comigo assim que chegar. - Ele pediu, caminhando apressadamente para seu escritório, pois queria ficar um pouco sozinho e tentar lidar com seus sentimentos em relação à sua avó.
Mas, ao abrir a porta, encontrou seu pai sentado perto da janela, olhando para a cidade lá embaixo, como se estivesse em profunda reflexão.
- O que é tão importante que precisava falar comigo com tanta urgência? - O rapaz perguntou de má vontade.
- Diga-me você? - John disse, estendendo o jornal com a foto de Gilbert na primeira página para que o filho pudesse vê-la.
- O que quer saber? - Gilbert perguntou, sem se abalar, pois a opinião de seu pai pouco lhe importava. Ele fizera aquilo por Anne e não se arrependia.
- Eu quero saber por que fez isso? Você sabe o problema que causou com nossos sócios? - John disse, cheio de ira, o que irritou Gilbert imensamente.
- O senhor tinha que tornar essa situação sobre sua empresa, não é? - Gilbert respondeu no mesmo tom.
- Porque é. Você tem noção do quanto foi irresponsável? - John perguntou, esperando que Gilbert lhe respondesse, mas foi Anne quem o fez ao entrar no escritório sem bater, pois ouvira a voz alterada de John do corredor:
- Ele não foi irrespirável. Na verdade, Gilbert foi maravilhoso. - Anne sorriu para o rapaz e segurou na mão dele.
- Deixe que eu resolvo isso. - Gilbert pediu, desejando protegê-la da raiva de John.
- Eu não posso deixar que leve a culpa por algo que não é de sua responsabilidade. - Anne disse com firmeza. Em seguida, ela se voltou para John e disse:
- Gilbert estava lá porque quis me apoiar. Eu participo dessas passeatas há muito tempo. Todas têm um propósito, que é lutar pelos direitos dos mais pobres, principalmente mulheres trabalhadoras que não têm quem as defenda. Então, se precisa punir alguém que seja eu. - Anne foi, encarando John sem medo.
- Não quero punir ninguém. Apenas queria saber porque Gilbert se envolveu nessa passeata. - John respondeu, sentindo-se um pouco mais aliviado por saber que, Gilbert não quisera atingi-lo como pensara a princípio.
- Agora já sabe. Ele fez isso por amor. - Anne disse, sorrindo novamente para o marido, que dessa vez retribuiu.
- Eu li um pouco da reportagem, mas não cheguei na parte em que dizia exatamente o propósito dessa passeata. - John comentou, interessado no que Anne tinha lhe dizer.
- Queremos que as empresas de grande e pequeno porte pensem nas mulheres que precisam trabalhar e ainda amamentam e cuidam de seus filhos pequenos. Nossa ideia é que essas empresas construam uma pequena creche para que as mães possam trabalhar, e também possam dar aos seus filhos o cuidado que merecem. E claro que as empresas teriam redução nos impostos por isso. Fizemos uma pesquisa cuidadosa e descobrimos vantagens para todos. - Anne explicou, olhando para seu sogro sem se deixar intimidar.
- É uma ótima proposta. Acho que poderíamos fazer uma festa em minha casa e convidar os empresários que se mostrarem interessados nessa proposta, pois acredito que conseguiremos muitos apoiadores. - John disse entusiasmado.
- Verdade? - Anne perguntou, tão surpresa quanto Gilbert.
- É claro. Vou pedir agora mesmo para minha secretária organizar tudo. - John disse, caminhando para a porta.
- Eu quero ajudar. - Anne falou, entusiasmada pela animação de John.
- Claro. Falamos melhor sobre isso mais tarde. - John respondeu, saindo do escritório.
- O que foi? - Anne perguntou, ao ver como Gilbert a estava encarando.
- Estou tão orgulhoso de você. Conseguiu dobrar meu pai, que nos negócios é a pessoa mais difícil de ser convencida. - Gilbert disse, sem deixar de observá-la porque a beleza dela enchia sua mente de admiração.
- Então, você acha que tenho talento para os negócios? - Anne perguntou, puxando-o para si.
- Você tem talento para muita coisa, meu amor. - Gilbert respondeu, trancando a porta e segurando-a pela cintura.
- O que pensa que está fazendo, meu marido? - Anne perguntou, sentindo as mãos dele apertá-la contra o corpo dele.
- Vamos comemorar sua primeira vitória nos negócios. - O rapaz disse com malícia.
- Gilbert, estamos no meio do expediente. - Ela disse entre chocada e excitada.
- Sou um dos donos dessa empresa e você é minha esposa, portanto, podemos fazer o que quisermos. - Gilbert falou, se sentando em uma das poltronas do escritório e fazendo Anne se sentar em seu colo.
Quando ela ia protestar, ele a calou com um beijo e, entre seus protestos silenciosos e os suspiros que escapavam de seus lábios, Gilbert abriu os botões de sua blusa e Anne deixou tudo de lado para mergulhar naquele sonho tão lindo de amor.
Olá, pessoal, espero que gostem desse capítulo e me deixem suas opiniões. Beijos e obrigada.
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