Capítulo 3 - Colocando as cartas na mesa
O detetive, que coincidentemente era amigo de Gilbert, levou exatamente três dias para descobrir o que o rapaz queria saber sobre Anne, e apareceu no escritório com as informações em mãos no horário que tinham marcado por telefone, logo após uma reunião de diretoria, na qual Gilbert tivera que suportar a presença de seu primo insuportável . Seu pai parecia realmente empenhado em fazê-lo se lembrar de ameaças que lhe fizera caso ele não seguisse suas imposições para se manter no testamento da família, e no cargo mais importante da empresa.
No fundo, Gilbert não era movido pela fortuna de seu pai, ou pela ambição de se tornar um dos homens mais importantes ou influentes do país. Ele confiava na própria capacidade de ganhar seu dinheiro e construir sua vida profissional de sucesso sem a ajuda do pai. O que realmente o incomodava era pensar em seu primo como parte de todo aquele processo sem realmente merecê-lo, pois Billy nunca trabalhara tão duro quanto ele para de repente ganhar tudo de mão beijada.
Talvez se John tivesse lhe dito que doaria seus milhões para qualquer outro funcionário, Gilbert teria torcido seu nariz para as exigências paternas e dado um outro rumo a sua vida, mas com Billy em cena, a situação mudava toda de figura. Ele jamais deixaria aquele oportunista colocar a mãos na fortuna de seu pai, e se casaria por conveniência se isso impedisse que seu primo se tornasse presidente das refinarias de petróleo Blythe.
Assim que a secretária anunciou a chegada do detetive, Gilbert pediu a ela que liberasse sua entrada. Estava ansioso para saber se havia alguma chance de tornar Anne sua esposa. Ele pensara nela, porque ela parecia ser o tipo garota honesta que jamais quebraria um acordo depois de firmado em cartório. Gilbert queria tudo por escrito, pois assim não haveria chance nenhuma de desistência de ambas as partes, e ele também contava que Anne nunca desenvolveria nenhum tipo de sentimento romântico por ele, já que deixara bem claro e na cara dele sua antipatia por tudo o que ele representava. Assim como Gilbert tinha certeza que jamais sentiria nada por Anne além de simpatia, pois garotas de língua ferida e personalidade agressiva nunca foram suas favoritas, pois até mesmo na cama não cediam a sua posição de dominadoras.
Sexo seria outro ponto que teria que conversar com Anne caso seu plano em se casar com ela desse certo, pois seu pai exigia netos e como fariam isso sem que tentassem se matar durante o tempo em que permanecessem casados, ele ainda não sabia, mas não pretendia manter a fachada do casamento por muito tempo. O que ele desejava era dar ao pai exatamente o que ele queria, e afastar a ameaça de Billy Andrews de entrar nos negócios da família de forma permanente da uma vez por todas. E depois deixaria Anne livre de qualquer obrigação com ele ou com sua família, e obviamente a recompensaria generosamente pelo tempo a seu lado.
Entretanto, o rapaz, sabia que ela não aceitaria sua proposta espontaneamente. Anne não parecia ser ambiciosa a ponto de se casar com um total desconhecido, e por isso, teria que ser persuadida. Não era a maneira com a qual gostava de fazer as coisas, e era a primeira vez que se valeria de chantagem para conseguir uma garota, mas as circunstâncias eram extremas e precisavam de medidas urgentes.
- Bom dia, Gilbert. - Moody o cumprimentou, se sentando exatamente na cadeira para a qual o amigo lhe apontou.
-E então? Eu presumo que você tem novidades, ou estou enganado? - Gilbert perguntou, olhando ansioso para a pasta azul cheia de papéis onde ele esperava encontrar a solução para o seu problema atual.
-Tenho algumas, mas não sei em como essas informações lhes podem ser úteis. - Moody respondeu, olhando de forma incerta para o amigo.
- Deixe-me dar uma olhada, e julgar por mim mesmo como posso usá-las a meu favor. - Gilbert disse, pegando a pasta que o amigo lhe entregou e a abriu quase que imediatamente, correndo os olhos pelas informações que estavam contidas ali. As primeiras linhas lhe davam uma descrição completa sobre Anne e sua vida familiar e acadêmica. Ela cursava o segundo ano de administração em uma faculdade renomada em Nova Iorque, sendo considerada uma das melhores alunas de sua turma, tinha vinte e um anos e vinha de uma família de mais três irmãs cujo pai era viúvo e dono de um pequeno comércio. Anne era solteira e de acordo com as investigações, nunca tivera um relacionamento sério com alguém, o que já era um ponto a favor de Gilbert que não teria que afastar qualquer pretendente que pudesse atrapalhar seus planos com a ruivinha, o que o fez sorrir satisfeito pelo menos em parte, pois ainda não havia visto ali nada que pudesse usar para convencê-la a ser sua esposa temporária.
-Você parece que ficou feliz com o que leu nesse relatório. - Moody comentou, tentando entender o interesse que Gilbert poderia ter na garota que ele lhe pediu para investigar. Ela era muito bonita, mas, esse não parecia ser o foco principal do amigo, que nunca lhe pedira para fazer esse tipo de trabalho antes.
- Em parte sim. Pelo que vejo a srta. Shirley tem um QI privilegiado. – Gilbert disse sem encarar o amigo. - Existe mais algum tipo de informação pessoal que possa me passar? Algum segredo de família, um passo errado ou algum fato que se viesse a público acabaria com a reputação da garota certinha que vejo aqui?
- Por que isso seria importante para você? – Moody perguntou, estranhando as palavras de Gilbert.
- Porque pretendo me casar com ela. - Gilbert respondeu sem pestanejar.
- O que? - Moody quase riu do que Gilbert dissera. Jamais poderia imaginar que seu amigo mundano pensaria em se tornar um homem sério um dia. - Então, está apaixonado?
- Apaixonado? O que o faz pensar em uma besteira tão grande?
- Bem, você me pediu para investigar sobre a vida dessa garota, e depois me diz que pretende se casar com ela. Se não está apaixonado, por que então quer se casar com Anne?- Moody perguntou, enquanto pensava que aquela história estava ficando cada vez mais esquisita.
- Meu pai ameaçou dar o cargo de Presidente ao meu odioso primo, e me tirar do testamento da família, se eu não me tornar um cara sério e me casar em três meses. Isso responde a sua pergunta? - Gilbert falou, fixando seu olhar em Moody que o fitava perplexo.
- Mas por que escolher uma garota que aparentemente nem conhece? Você tem tantas pretendentes que aceitariam casar com você em um piscar de olhos. Então por que se arriscar com uma desconhecida?
- Justamente por ela ser uma desconhecida e não envolver nenhum tipo de sentimento romântico entre nós. Essas garotas que mencionou iriam desejar um casamento para toda vida, e não é o que eu quero. Assim que que eu conseguir dar a meu pai o que ele deseja, pretendo terminar esse casamento o mais rápido possível, sem arrependimentos ou obstáculos em meu caminho, por isso, Anne seria a parceira perfeita. Ela não nutre nenhum tipo de sentimentos por mim, a não ser antipatia, e desta forma, terminar nosso compromisso não será um grande problema para nenhum de nós dois quando a hora chegar.
- Eu não sei se estou te entendendo, Gilbert. Como pretende fazer essa garota aceitar seu pedido de casamento se ela não sente nada por você? Isso parece loucura para mim. - Moody afirmou, sentindo-se cada vez mais confuso com as afirmações do amigo.
- Preciso descobrir alguma coisa que me ajude a persuadi-la a aceitar se casar comigo, algo que a deixe sem saída. - Gilbert explicou, deixando Moody ainda mais perplexo.
- Gil, você está me dizendo que pretende usar de chantagem para forçar essa garota a um casamento sem amor com você? Desculpe-me, meu amigo, mas esse não é o cara que eu conheço.
- Eu sei que parece canalhice da minha parte, mas eu realmente estou desesperado e não consigo ver outra saída imediata. Então, vai em ajudar a descobrir algo que a faça Anne me aceitar como seu marido? – Moody hesitou por um segundo. Aquilo parecia tão errado, e ele não conseguia se sentir confortável com aquela situação. No entanto, ele também não podia deixar de se lembrar das muitas vezes que Gilbert o tirara de enrascadas em seus tempos de colégio e faculdade, por isso, ele se lembrou de um detalhe que não sabia bem como o amigo usaria aquela informação em proveito próprio, mas talvez fosse um começo para o que ele pretendia fazer.
-O pai dela é viciado em jogo. Parece que foi para uma clínica de reabilitação e ficou bem por um tempo, mas pelo que averiguei, ele voltou ao velho hábito no último mês e tem visitado casas de jogos todas as semanas.- Gilbert ouviu o que Moody acabara de lhe contar com certo interesse e enquanto pensava sobre aquela nova informação, uma ideia se formou em sua mente, o que o fez perguntar:
- Sabe qual casa de jogos ele costuma visitar?
- Está no relatório, se o ler com atenção. O que pretende fazer, Gilbert?
- Eu não sei. Ainda não tenho um plano concreto, apenas uma vaga ideia. – o rapaz respondeu, anotando mentalmente o endereço de onde o pai de Anne gastava seu dinheiro em jogo.
-Gilbert, tome cuidado para não magoar a garota. Anne parece ser uma boa moça e não tem culpa do vício do pai.- Moody o aconselhou, pois tinha impressão que o rapaz levado pela sua ânsia em resolver seus próprios problemas pessoais, não estava levando em conta os sentimentos da garota e poderia acabar machucando alguém que não merecia passar por uma situação tão constrangedora.
- Não se preocupe, Moody. Não pretendo esconder nada dela, e Anne não sairá de mãos abanando em nosso acordo. Vou providenciar para que tenha uma ótima recompensa financeira quando nosso contrato terminar.- Gilbert respondeu com um sorriso irônico no rosto.
- Nem tudo se resume a dinheiro, Gil. E o que quer dizer com contrato? Pretende transformar esse casamento em um acordo comercial? - Moody perguntou, gostando cada vez menos dos planos de Gilbert com aquela garota.
- É melhor no nosso caso. Quero que Anne saiba que nosso casamento terá prazo de validade, e que estará completamente livre quando eu conseguir o que eu quero.- Gilbert não queria parecer tão frio ou sem coração, mas ele precisava colocar um pouco de coerência naquela situação, e quanto menos emoção e sentimentos fossem envolvidos, melhor seria para ele e Anne.
- E se você se apaixonar? Já pensou nessa possibilidade?
- Está brincando? Anne pode ser linda, mas é mais parecida com um porco espinho do que com uma rosa. Jamais me apaixonaria por alguém de gênio forte como o dela. Você sabe do tipo de garota que eu gosto. - Gilbert se levantou da mesa e foi até a máxima de café expresso que tinha ali em seu escritório e se serviu de um pouco do líquido escuro e quase sem açúcar, ainda sorrindo da pergunta absurda que Moody lhe fizera.
- Você gosta de desafios, e essa garota parece ser exatamente o tipo de desafio que mexeria com sua cabeça. - Moody tornou a insistir na mesma tecla, o que fez Gilbert responder:
- Lidar com Anne exige um gasto de energia extremo, e sinceramente não faço questão de me estressar por nada. Depois do nosso casamento, pretendo vê-la apenas o necessário, pois não quero perder totalmente minha liberdade como também não quero tirar a dela. Anne poderá fazer o que quiser, desde que respeite certas condições. De resto, não me interessa nem um pouco como ela decidirá passar o tempo longe de mim. – Gilbert tomou o resto de seu café, e se serviu de outro logo em seguida. Depois da reunião difícil que tivera, ele precisava de doses extras de cafeína para conseguir passar o resto do dia sem se sentir totalmente esgotado.
- E os filhos? Pretende ter filhos com ela?
- Não é um desejo meu, mas sim de meu pai. - Gilbert respondeu, parecendo completamente desinteressado por aquele assunto.
- E o que pretende fazer? Se Anne não gosta de você e aceitar o seu pedido de casamento apenas por ser chantageada, acha mesmo que ela iria gostar de dividir a cama com você?
- Isso eu converso com ela depois. Agora estou mais focado em voltar ao trabalho. Vou ficar atolado nesse escritório até o início da noite.
- Está bem, então. Também preciso ir. Se precisar de mais alguma coisa, sabe onde me encontrar. - Moody disse, e partiu logo em seguida.
Gilbert passou o resto do dia no escritório, pois sua agenda como todos os dias naquele último mês estava completamente tomada por inúmeros compromissos que não permitiram nem que o rapaz tivesse um almoço decente, comendo um lanche qualquer pedido por sua secretária enquanto revisava um contrato importante, No final do dia estava exausto, mas não menos preocupado com sua situação. Estava ansioso para resolver as pendências com seu pai, e melhorar sua imagem na empresa, pois ele andara reparando olhares maliciosos em sua direção, principalmente dos acionistas mais importantes. Seu pai dissera que o malfadado vídeo que fora postado na Internet fica retirado de circulação com sucesso, mas pelo que podia perceber pelos burburinhos e cochichos atrás de si quando andava pelos corredores da empresa, a ação de retirada não fora tão rápida quanto seu pai lhe contara.
Enquanto caminhava em direção ao estacionamento exclusivo da parte executiva da empresa, Gilbert decidiu deixar de lado o assunto do vídeo, pois aquilo era algo consumado e não havia nada que pudesse fazer para mudar o ocorrido. O que precisava fazer era olhar para frente, e precisamente resolver aquele assunto do casamento.
Era óbvio que estava aborrecido por ter que fazer tudo aquilo às pressas, mas seu pai não lhe dera escolha, e talvez se conseguisse tornar Anne sua esposa, não seria um fato tão desagradável assim. Como ele não cansava de afirmar, ela era uma moça muito bonita, mesmo que seu gênio fosse terrível, e ela parecesse ser do tipo que não se deixava dobrar facilmente. Todavia, Gilbert sabia usar seu charme, e tinha uma lábia como poucos, e acreditava que Anne poderia ser conquistada assim como toda mulher.
Não que ele estivesse interessado em conquistá-la no sentido mais amplo da palavra, porém não custava nada usar um pouco do seu talento com as mulheres para tornar a convivência entre eles mais agradável. O que ele ainda não conseguia imaginar era como chegariam a questão dos filhos. Naquele instante sua mente o acusou de ser um tanto apressadinho, pois sequer tinha a noiva e já pulara para a lua de mel. Tinha que deixar de fantasiar e se focar no plano que teria que traçar para ganhar a garota, mas primeiro teria que ganhar o sogro, e para isso já sabia o que fazer. Por isso, quando entrou no carro naquele fim de tarde, Gilbert associava uma música popular, e com um sorriso de satisfação no rosto, ele dirigiu até sua casa para colocar o que tinha mente ainda naquela noite.
Na casa dos Shirleys, Walter se preparava para sair. Era noite de reunião do grupo que participava às segundas feiras, das quais não faltava desde que saíra da reabilitação ou era nisso que suas filhas acreditavam. No início, especialmente nas primeiras semanas, ele seguira religiosamente o manual dos reabilitados. Viver um dia de cada vez, focar em coisas positivas e se afastar das tentações que poderiam levá-lo ao vício do jogo novamente. Não fora tão difícil se manter vigilante, se concentrar no trabalho e cuidar de suas atividades diárias, levando a vida de forma leve e saudável. Walter até pensara que estava curado e que nunca mais cairia na armadilha da fissura, da necessidade de se arriscar cada vez mais, chegando a beira de um abismo no qual cairia com um único passo em falso.
Mas no último mês, por influência de um amigo ele voltara a casa de apostas, e estava novamente naquele círculo vicioso, do qual sabia que não sairia sozinho. Contudo, em casa ele fingia bem, como todo viciado, ele representava o papel do homem recuperado pela fé e o amor a sua família, mas quando saía de casa, seus pés pareciam ter seus próprios desejos, caminhando por ruas tão velhas conhecidas dele no passado, e que passaram novamente a ser suas companheiras noturnas que o levavam diretamente ao ponto de fascínio que enchiam seus olhos de luz, da ilusão do ganho fácil e de sua ruína moral e social.
A culpa o consumia todos os dias, assim como prometia a si mesmo que seria a última vez que usaria o dinheiro da família em uma jogada no cassino. Mas o vício sempre o dominava, não importava o quanto se esforçasse, a fissura por jogar era maior que sua força de vontade, e acabava fracassando em todas as suas tentativas de resistir.
Assim, aquela era mais uma noite na qual sairia para a rua e caminharia mais uma vez pelo caminho da perdição. Ele ajeitou suas roupas, passou um pente nos cabelos, pegou as chaves do carro e se encaminhou para a porta.
- Já vai a sua reunião, papai? - ele ouviu Anne perguntar, ficando instantaneamente nervoso ao saber que teria que mentir à sua filha mais uma vez.
- Sim, hoje vou voltar um pouco mais tarde, pois teremos visitas de alguns ex-membros da associação que virão dar seus depoimentos. - Walter respondeu. Não conseguia encarar Anne nos olhos. Como no passado, ele usou sua capacidade de bom ator para convencer a filha de algo que não era nem de longe verdade. Contudo, apesar de não se sentir tão confortável naquela posição, o controle que sua doença tinha sobre ele era maior que o peso em sua consciência, e assim que saísse pela porta nem se lembraria mais da mentira que contara.
- Que bom, papai. Espero que aproveite bastante sua noite. - Anne disse sorrindo para o pai.
- Obrigado. Pelo jeito vai ficar ocupada. - ele comentou, vendo-a com um livro de contabilidade nas mãos.
- Sim, fiz uma pausa para um lanche rápido, mas quero passar as próximas horas estudando. Tenho uma prova difícil amanhã, e o senhor sabe que meu inferno astral são os números. - Anne respondeu, franzindo o cenho. Ela detestava matemática e não fazia segredo para ninguém disso.
-Vai ser sair bem filha. Tenha fé.
- Queria ter essa sua confiança, mas obrigada pelo incentivo. - ela disse, se dirigindo à geladeira.
- Vou indo ou chegarei atrasado. Boa noite.
-Boa noite, papai. - Anne falou, voltando sua atenção para o sanduíche que estava preparando.
O cassino não ficava muito longe da casa de Walter, mas ele fez um caminho diferente para não ter perigo de ser reconhecido. Em sua vizinhança, havia pessoas cujo passatempo favorito era tomar conta da vida dos moradores por ali, por isso, ele não queria ter que lidar com esse tipo de contratempo.
Assim que estacionou o carro, e atravessou a porta do cassino, Walter já sentiu os efeitos do ambiente sobre ele. Às luzes coloridas, os diferentes aromas que haviam por ali, o barulho das pessoas conversando, o ruído das roletas, tudo o que o atraía e tornava irresistível seu vício no jogo. Ele era um homem condenado e se tivesse juízo, jamais entraria em um lugar assim novamente, mas seu coração ainda era de um adolescente inquieto e aventureiro, e o gosto pelo perigo já havia nascido com ele.
Em passos rápidos, ele se aproximou de uma mesa onde acontecia um de seus jogos preferidos. Walter não começou a jogar imediatamente, pois primeiro ele sempre estudava quem estava jogando no momento, os números que pareciam mais propensos a dar sorte naquela noite, e também gostava de idealizar suas jogadas, antes de colocá-las em prática.
De longe, sem que ele percebesse, Gilbert o observava com interesse. Ele tinha seguido sua intuição e tentado a sorte no cassino que o pai de Anne frequentava, pois não tinha certeza se ele apareceria naquela noite, e por meio de uma foto que Moody lhe enviara, ele tinha reconhecido Walter prontamente, e poderia por fim pôr seu plano em prática.
Tentando não prestar a atenção a sua consciência que o acusava de estar trapaceando, Gilbert foi até a administração do cassino, explicou quem era, o que desejava e disse:
- Faço-o perder cada centavo que ganhar e não vai se arrepender.
O gerente lhe sorriu com cumplicidade, e Gilbert o viu caminhar até o funcionário que tomava conta da roleta onde naquele momento Walter começava a jogar, e falou com o rapaz discretamente, fazendo Gilbert pensar no quanto a influência e uma boa quantia em dinheiro podia conseguir rapidamente. Tal pensamento lhe causava certo asco, pois nunca antes fizera uso do seu sobrenome para conseguir algo. Mas ele estava em uma situação difícil e precisava conseguir se safar daquele problema o quanto antes, e não alcançaria um resultado satisfatório sendo ético.
Assim, Walter começou ganhando e em sua empolgação não percebeu que estava passando dos limites, sendo assim um alvo fácil para sua ambição. Pensando que a sorte estava do seu lado naquela noite, ele fez altas apostas, ganhando todas, o que o levou à beira do princípio de seu vício sem limites. A adrenalina corria solta em seu sangue, e seu desejo de ganhar casa vez mais o cegou para o perigo de suas ações, apostando tudo o que tinha e um pouco mais, sem pensar em mais nada a não ser na alta soma que ganharia, mas como predeterminado antes, e sem ele saber, o pobre homem perdeu tudo, e viu com desalento a enorme dívida que acabara de contrair sem ter como pagar, atestando assim sua falta de controle em algo do qual deveria se envergonhar.
Walter foi levado à administração, sentindo-se um fracasso e pensando no que diria às filhas que ficariam extremamente decepcionadas com ele quando soubessem que ele tinha perdido novamente sua dignidade para o jogo. Entretanto, quando entrou na sala, não foi o gerente costumeiro que encontrou ali, e sim um rapaz muito bem vestido que o olhava quase com compaixão.
- Boa noite, Sr. Shirley.
- Boa noite, posso saber quem é você? A não ser que tenham trocado o gerente desse lugar, devo dizer que você é bem jovem para o cargo.
-Não, o gerente continua sendo o mesmo. - Gilbert explicou, vendo a preocupação nos olhos do homem mais velho, fazendo com que ele se sentisse culpado mais uma vez pelo que iria fazer.
- Então, posso saber o que deseja de mim? - Walter o encarou com a expressão confusa.
- Soube que perdeu uma enorme soma de dinheiro hoje neste cassino. - o rapaz disse de forma direta.
- Sim, mas não vejo no que isso possa lhe interessar. - Walter disse bruscamente, ouvindo um alarme estranho soar dentro de sua cabeça.
- Me interessa muito, já que acabei de pagar sua dívida. - Gilbert revelou, lançando um olhar irônico ao pai de Anne.
- E posso saber por que fez isso? - Walter não estava entendendo nada, e se perguntou por que um estranho que cheirava a milhões de dólares se interessaria em pagar a dívida de um homem como ele e total desconhecido. Aquilo não estava cheirando nada bem, e esperou pela explicação de Gilbert que o olhava como se soubesse de algo a respeito dele que nem mesmo Walter sabia.
- É muito simples, Sr. Shirley. Pelo que sei o senhor tem quatro filhas. - Gilbert começou a dizer.
- Sim. - Walter confirmou, sentindo a garganta se apertar ao ouvir Gilbert falar das filhas.
- Diana, Anne, Ruby e Josie. Estou correto?
-Sim. - mais uma vez Walter concordou, começando a sentir falta de ar. Aquele rapaz parecia saber de tudo sobre sua família, e aquilo o deixava em uma posição extremamente desfavorável.
- Eu preciso de uma noiva, Sr. Shirley com quem pretendo me casar em três meses, e quero que me dê a mão de uma de suas filhas em casamento.
-O que? Ficou louco? Nunca obrigaria minhas filhas a se casarem com um completo estranho. Isso é absurdo. - Walter disse, demonstrando toda a sua indignação pelo que Gilbert acabara de lhe revelar.
-Então, farei com que sua dívida seja cobrada imediatamente. Terá que me pagar, Sr. Shirley, e não aceito receber meu dinheiro em parcelas, quero-o todo agora. - Gilbert disse com a voz tão cortante quanto de uma espada, fazendo com que Walter sentisse a frieza das palavras dele dentro de si.
-Isso é chantagem, meu rapaz. Sabe disso, não é?
- Pode chamar do que quiser, mas nada muda o fato de que o senhor me deve uma alta soma de dinheiro, e que posso mandar prendê-lo por recusar-se a pagar a dívida.- Gilbert não estava gostando de agir daquela maneira, mas aprendera com o pai a ser persuasivo nos negócios, e o que estava acontecendo ali era uma negociação, embora fosse diferente das que estava acostumado a fazer, porque envolvia não só dinheiro mas também a sua vida nos próximos meses.
-Você não pode fazer isso. - Walter disse com um fio de voz. Aquilo seria uma humilhação extrema, e não podia fazer suas filhas passarem por isso, depois de toda a vergonha que já tinham experimentado no passado por causa dele.
-Tanto posso como vou fazê-lo, caso o senhor se recuse a fazer um acordo comigo.
- Diana está noiva - Walter disse, sabendo que não tinha saída.
-Não se preocupe. Eu não pretendo estragar o noivado de sua filha mais velha, pois já escolhi qual de suas filhas eu quero para minha esposa. - Gilbert disse com um sorriso satisfeito, sabendo que aquela batalha ele tinha vencido.
-Qual delas? - Walter perguntou, sentindo seu coração disparado, a espera daquela revelação.
- Anne. - Gilbert disse sem rodeios.
Então, Walter soube naquele instante que estava no inferno.
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