Capítulo 27- Ato de amor
Esperar por notícias de quem se ama nunca é uma experiência muito tranquila, e para Gilbert que estava ali a espera de notícias de sua avó, e que estava em uma situação em que poderia ser perigosa para sua saúde, essa espera chegava a ser desesperadora.
Ele ajeitou melhor a cabeça no ombro de Anne, e agradeceu mentalmente por ela estar ali. Não suportaria passar por aquilo sozinho, era demais para o seu coração pensar em sua avó naquela situação. Ela sempre fora seu porto seguro e sua base familiar. A referência de sua mãe sempre fora forte naquela mulher que significava todas as coisas que ele precisara ao longo de sua vida. Perdê-la era impensável, mas sabia que não podia controlar os rumos que a vida tomava.
Não havia como mudar algo inevitável como a morte. O que poderia ser feito era talvez adiar um pouco essa realidade com medicamentos ou tratamentos alternativos, mas no final não era possível evitá-la quando o corpo decidia que estava cansado demais para continuar, mas em sua cabeça, Gilbert não conseguia aceitar essa verdade. Cora estivera presente em todas as etapas importantes de sua vida, e não concebia a ideia de não tê-la nas outras também.
Ele sentiu, Anne tocar seus cabelos, e apenas por alguns segundos fechou os olhos e deixou que o carinho dela lhe chegasse ao coração, e lhe desse a sensação boa de ter alguém de seu lado que se importava com seu bem-estar.
-Gil. Não quer comer nada? Está amanhecendo e acho que seria uma boa ideia tomarmos o café da manhã. - Anne falou baixinho, preocupada com ele. Gilbert estava tão calado como no dia em que chegara em sua casa, arrasado pelo que soubera da saúde de sua avó. Ela não gostava quando ele ficava assim. Dava-lhe a impressão de que era impossível alcançá-lo e entender a sua dor. Anne podia sentir como ele estava abalado, mas se seu marido não lhe desse abertura, como poderia ajudá-lo?
Queria cuidar dele o melhor que pudesse nessa fase, e fortalecê-lo para quando o pior acontecesse com Cora, ele pudesse aceitar melhor, o que no momento não parecia ser o caso.
-Não estou com fome. - ele respondeu, abrindo os olhos para encará-la. Aquele rosto era sempre lindo para ele, sem maquiagem como agora, Anne lhe parecia um botão de rosa desabrochando no meio de um jardim de inverno. Ela o acalmava com a maneira como o olhava naquele momento, e aquecia-o por dentro, eliminando a sensação de estar no meio de frio congelante em seu coração.
-Você sabe que Cora vai ficar zangada se souber que está assim por causa dela. Precisa comer nem que seja um pouco.- Anne disse, deixando a ponta de seus dedos escorregarem pelo maxilar dele, enquanto pensava que queria ser mais corajosa e abraçá-lo com força, mas tinha medo que Gilbert pudesse ver o quanto o amava.
-Adoro quando cuida de mim. - ele disse, levando a mão à nuca dela, os dedos longos se enroscando nos fios ruivos e macios.
-Não é o dever de uma esposa? Cuidar de seu marido?- Ela perguntou, tentando escapar do magnetismo daqueles olhos, que a deixavam completamente enfeitiçada por seu brilho.
-Você não é uma esposa comum. É especial demais para mim.- Gilbert respondeu, aproximando o rosto do dela, mas sem atrever-se a beijá-la, por conta do ambiente em que estavam, sem saber que o coração de Anne tinha se acelerado tanto como se ela estivesse correndo em uma maratona.
Isso acontecia com ela todas às vezes em que estavam assim. E a pior parte era não conseguir mascarar totalmente seus sentimentos, porque Anne tinha certeza que Gilbert podia perceber como ela ficava quando ele se aproximava demais.
-Vou te dizer uma coisa que nunca te disse. Não gosto de te ver triste. Acho seu sorriso tão bonito. Sinto falta dele quando está sério como agora.- Anne confessou, deixando um pouco de lado seus receios para ser sincera com ele pelo menos uma vez.
-Acho um pouco difícil de sorrir nesse momento. Mas também quero te dizer que tem muitas coisas que gosto em você. - Gilbert disse, segurando as mãos dela entre as suas.- Você é sincera, e acho isso maravilhoso, principalmente porque encontrei poucas pessoas na minha vida que me dissessem exatamente o que pensam. A maioria das pessoas, quando sabem quem sou, mudam completamente, mas você nunca se preocupou em me agradar.
-Achei que não gostasse dessa característica minha.- Anne disse, corando com o elogio.
-É uma das coisas que mais gosto em você. Por favor, nunca mude.- ele pediu, beijando a testa dela, e depois continuou:- Quero também te agradecer por estar aqui comigo. Não sei como atravessaria essa noite se estivesse aqui sozinho.
-Entenda uma coisa Gil. Apesar de não termos um casamento convencional, eu sou sua esposa, e vou estar do seu lado para o que der e vier. Pode contar comigo.- ela disse, encarando aquele rosto magnífico, mas tão triste naquele dia.
Ela o amava tanto, que não tinha como explicar a dimensão do que sentia. Entrara naquele relacionamento com um ódio imenso no coração, e de repente, vira florescer aquele amor intenso do qual tentara fugir tantas vezes e acabara se rendendo.
Havia até uma beleza poética no que acontecera com ela. De um sentimento negativo que parecia nunca deixá-la, se tornou um sentimento maior que tudo, e que também transformou o seu mundo.
Gilbert Blythe tinha uma parte importante dela que Anne nunca recuperaria de volta, mesmo que saísse da vida dele dali a cinco anos, ainda assim ele a teria completamente. Era uma realidade que aceitara, depois de entender que tinha se apaixonado por ele, mas sabia que iria doer quando tivesse que partir, porque estava aprendendo a entender a alma de seu marido, e se encantava a cada dia um pouco mais por cada detalhe daquela personalidade complexa.
-Nós não temos um casamento convencional porque você não quer.- Gilbert respondeu, encarando-a com seu olhar ardente.
-Você sabe a minha posição sobre isso.- Anne disse sem jeito, tentando escapar de toda aquela intensidade.
-Eu sei. Você já me disse que não quer o meu toque, e muito menos ter um filho comigo. - Gilbert complementou, deixando que ela percebesse toda a sua frustração.
-Gil....- ela começou, chocada com o desabafo dele, e ao ver o rosto dela se entristecer, Gilbert se arrependeu no mesmo instante de suas palavras.
-Perdoe-me, sou um estúpido. Todo esse estresse está me afetando de um modo terrível. Você não mereceu o que eu disse. Eu respeito sua decisão, e nunca vou te cobrar nada por isso.- ele a puxou para seus braços,e Anne se acomodou entre eles, olhando para seu marido com toda compaixão que podia ter por ele naquele momento. Gilbert estava passando por mais um momento terrível e sua fragilidade era evidente. Era óbvio que se sentira atingida pelas palavras dele que não foram nenhuma mentira, pois muitas vezes ela as dissera em voz alta, para que ele as ouvisse, mas não podia deixar de perdoá-lo, pois em uma situação como aquela, o mínimo que ele merecia era sua empatia.
-Tudo bem. Por que não saímos um pouco daqui? Você está precisando de ar fresco.-Anne sugeriu e Gilbert acatou dizendo:
-Certo. Esse ambiente está me sufocando. Não consigo nem olhar mais para essas paredes brancas. Quem disse que essa cor serve para acalmar, não sabia o que estava dizendo.
Eles saíram para o ar frio da madrugada, e Anne estremeceu ao sentir a brisa gelada tocar seu rosto. Gilbert passou o braço pelo seu ombro e a trouxe para mais perto dele, tentando mantê-la um pouco mais aquecida, além do casaco grosso que ela usava por cima das roupas.
-O dia é tão lindo quando está amanhecendo. O vermelho que vem com ele, nos dá a impressão de chamas por trás das nuvens.- Anne disse sonhadora, sem perceber os olhos de Gilbert sobre ela.
-Exatamente como seus cabelos. - ele respondeu, fazendo Anne virar o rosto para ouvir melhor o que ele estava falando, e assim, ele continuou:- Sempre que olho para eles penso em chamas na lareira, que nos dá uma sensação de conforto, mas ao mesmo tempo nos fascina com sua luz.
Anne quase parou de respirar, ao sentir as mãos dele em seus cabelos, depois subir até sua nuca e puxá-la em direção ao rosto dele, e depois os lábios masculinos desceram sobre os seus, fazendo-a passar os braços pelo pescoço de Gilbert, para aproveitar melhor o beijo que apesar de ser suave e nada exigente, a derreteu toda por dentro.
-Você não sabe o quanto eu preciso de você agora.- ele disse continuando a beijá-la.
-Eu estou aqui.- Anne murmurou, interrompendo o beijo por um segundo, para logo em seguida, tornar a beijá-lo.
Quando inevitavelmente , tiveram que se separar, ficaram por alguns minutos olhando o sol nascer, depois de comum acordo, voltaram para dentro, e Anne observou que Gilbert continuava apreensivo, mas parecia mais calmo em relação à quando chegaram ali.
Assim que puseram os pés na recepção, o médico veio ao encontro de ambos, e sem saber o que esperar, Gilbert apertou a mão de Anne que segurava a sua, na esperança de encontrar um pouco mais de coragem para suportar o diagnóstico sobre sua avó.
-Sr. Blythe, temos que falar sobre sua avó.
-Como ela está?- Gilbert perguntou, sentindo a ansiedade crescente apertar sua garganta com suas garras impiedosas.
-Está estável, mas vamos mantê-la na UTI por mais alguns dias. Quero ter certeza de que essa melhora não é apenas passageira.
-O senhor acha que ela pode piorar?- Gilbert perguntou, sentindo a mão de Anne em seu ombro, fazendo-lhe um leve carinho.
-Na situação em que ela está, uma grande melhora não é esperada. O senhor deve saber sobre a doença dela, não é?- o médico perguntou, e Gilbert apenas balançou a cabeça concordando. Não se atrevia a responder, pois sentia sua revolta sobre aquilo atingi-lo a certo ponto que o faria responder de forma grosseira, e o médico estava ali apenas fazendo o trabalho dele.
-Posso vê-la?- ele perguntou esperançoso.
-Apenas pelo vidro. Não podemos autorizar visitas na UTI por questão de segurança aos pacientes. Quando ela for levada para o quarto, você poderá vê-la de perto e conversar com ela, mas infelizmente não hoje.- o médico explicou, deixando Gilbert arrasado.
-Obrigada, doutor por nos explicar. - Anne disse ao perceber que Gilbert parecia incapaz de dizer qualquer coisa naquele instante.
-Disponha. Se precisarem de mais esclarecimentos, estou à disposição. - o médico respondeu, e deixou-os sozinhos.
- Está pronto para vê-la? Anne perguntou, ao observar seu marido parado no corredor em uma posição estática como se não pretendesse sair dali nunca.
-Sim.- ele respondeu, mas quando Anne olhou dentro dos olhos dele, havia um medo velado que parecia paralisá-lo. Ela o puxou pela mão e disse:
-Eu vou com você.- o rapaz assentiu, e começou a segui-la pelo corredor .
Quando alcançaram as dependências da UTI, eles pararam perto do vidro do quarto onde Cora estava internada, e a cena vista por eles não fez bem nenhum a Gilbert. Cora estava ligada a alguns aparelhos , inclusive um que a ajudava a respirar com mais facilidade, e vê-la naquele estado tão frágil, o fazia ter vontade de gritar.
Anne viu a forma como ele comprimia o vidro com as mãos, e ao olhar para o rosto de Gilbert, viu que ele chorava silenciosamente. Preocupada, a ruivinha levou as mãos a face do rapaz e perguntou:
-Está tudo bem?- ele lhe lançou um olhar perdido e balançou a cabeça negando, fazendo com que Anne deixasse um beijo em seu rosto e dissesse:
-Cora vai melhorar. Ela é uma mulher forte e determinada. Adora a vida, é ativa. Não vai se deixar abater tão fácil, e te ama muito.- assim como eu, ela quase acrescentou, mas esse era um assunto que não queria compartilhar com ele, pelo menos por enquanto. - Por favor, não fique assim.- ela pediu tocando o rosto dele, com seu coração apertado por não conseguir ajudá-lo tanto quanto queria.
Gilbert continuou a encará-la por alguns segundos, depois levou a mão dela que estava em seu rosto aos lábios, a beijou e respondeu com a voz muito triste.
- Você não sabe o que ver Cora assim faz comigo. Me sinto completamente impotente.
-Eu posso imaginar. Mas não tem que ser assim. Podemos unir forças por ela, e podemos ajudá-la a se recuperar juntos. Talvez não possamos prolongar a vida dela, mas podemos fazê-la se sentir confortável e amada pelo tempo que lhe resta.- Anne afirmou, observando o rosto dele se contrair em sua última frase. Contudo aquela era uma realidade a qual Gilbert teria que aceitar, pois o tempo de vida de Cora estava sendo abreviado dia a dia, mas isso não queria dizer que não poderia viver seus últimos dias no mundo com qualidade e feliz.
-Eu sei que está certa, mas você entende que é difícil para mim aceitar que minha avó pode não estar comigo daqui a alguns meses? Eu juro que tento viver o agora, e não pensar nisso, mas não consigo.- ele baixou a cabeça desolado, e Anne pensou que já era hora de tirá-lo dali. Não faria nada bem ele ter que lidar com aquela situação de ver Cora presa aos tubos do hospital. Podia perceber como ele estava abalado, à beira de uma crise depressiva. Ele precisava de apoio e companhia,e era exatamente o que daria a ele naquele dia.
-É claro que entendo. - Anne respondeu, acariciando os cabelos dele, e depois continuou:- Agora, acho melhor irmos para casa. Você precisa dormir um pouco.
-Eu não queria deixá-la aqui sozinha.- Gilbert disse com voz agoniada. Cora cuidara dele a vida toda, e gostaria de fazer o mesmo por ela, e só de pensar que não podia, o fazia se sentir infinitamente pior do que antes.
-Ela não está sozinha. Tem ótimos profissionais cuidando dela. Além do mais, você não poderia fazer nada por ela ficando aqui. Somente iria desgastar seu emocional e se sentir pior do que já está.- Anne insistiu, pois podia observar que o cansaço estava impresso naqueles olhos que ela aprendera a compreender mais do que qualquer coisa, e pensava que com um bom descanso e alimentação necessária, ele poderia ganhar forças para voltar ali no dia seguinte e enfrentar aquela situação de forma melhor.
-Acho que está certa. Eu ia pirar ficando aqui dentro por mais tempo. Vamos para casa. Você parece cansada também. - ele constatou, tocando o rosto dela com o dorso da mão direita..
Anne concordou, e com um último olhar para Cora, Gilbert segurou na mão de Anne, e saíram do hospital com os dedos entrelaçados.
Chegaram no apartamento em pouco tempo, e assim que entraram, se depararam com os empregados da casa se preparando para iniciarem o seu dia de trabalho. Anne tinha até se esquecido de que teria que lidar com mais essa realidade.
Não estava acostumada a ter pessoas cuidando de cada uma de suas necessidades. Sempre fizera suas próprias coisas, e também nunca tivera que dar ordens a outras pessoas, e nem saberia como fazê-lo. Sua vida tinha sido simples até ali, e de repente se via atirada em um mundo do qual não sabia nada, e só esse pensamento foi capaz de causar-lhe um temor extremo.
-O que foi?- Gilbert perguntou, ao ver sua cara de assustada.
-Nada. Eu estou apenas cansada. Creio que vou tirar um cochilo. - Anne respondeu, apressadamente indo em direção à escada, para onde Gilbert a seguiu.
Quando chegaram no quarto, ela foi ao banheiro, vestiu o pijama, e ao voltar para o quarto, ela percebeu que seu marido já tinha se despido, e contava apenas com uma cueca boxer a cobrir sua nudez. Ela tentou não o olhar com muito interesse, mas era difícil ignorar aquele corpo masculino magnífico, se estava bem distante dos seus olhos e ela só precisava estender a mão e tocar.
-Deita aqui comigo. - ele pediu, estendendo os braços para Anne, que meio hesitante caminhou para eles, pois tinha se esquecido que era assim que seu marido dormia todas as noites. Aquela tentação ia consumi-la em pouco tempo, e já sabia que não resistiria por muito tempo mais. Gilbert estava minando seu autocontrole, e sabia exatamente como fazer isso.
Ela se deitou entre os braços dele, e sem ter onde colocar as mãos, ela as espalmou no peito dele, sentindo o calor intenso que vinha do corpo dele, notando surpresa a pele toda dele naquela região se arrepiar.
Anne levantou os olhos e encontrou os dele, que pareciam duas fogueiras em meio ao brilho castanho, aquecendo-a, a deixando inquieta, fazendo-a desejar saber o que ele estava pensando, mas não conseguiu, porque naquele instante Gilbert estava silencioso demais, contrariando os outros dias nos quais ele fazia questão de deixá-la saber como estava se sentindo.
E a verdade era que Gilbert estava tentando não pensar naquela noite na pousada, quando Anne quase se entregara para ele, e o rapaz recusara, porque ela não era dona de si naquele momento. Mas ali estava ela, toda linda em seus braços, e ao pensar em toda aquela situação que estava vivendo, o rapaz percebia que precisava dela ainda mais. Contudo, não ia induzi-la a fazer o que ele queria, pois o rapaz desejava ouvi-la dizer com todas as letras que queria a mesma coisa que ele.
-Está tudo bem?- ele perguntou, tentando resistir àquelas mãos sedosas em seu corpo.
-Sim.- Anne respondeu, fechando os olhos para que ele não percebesse sua vontade de continuar a explorar aquela parte do corpo dele e muito mais.
Ele não disse nada, e apenas deixou um beijo na testa dela, enquanto deitava completamente na cama, mantendo-a aconchegada a seu peito.
Ambos adormeceram quase que instantaneamente, e após duas horas de sono ininterrupto, Gilbert foi o primeiro a acordar.
Ele olhou para Anne que ainda estava adormecida em seus braços, e a colocou com cuidado na cama. Depois, ele lançou um olhar para o relógio e percebeu que eram nove da manhã. Sem conseguir ficar na cama, ele decidiu que se vestiria e iria para o trabalho.
Teoricamente, Gilbert só voltaria no dia seguinte para a empresa, mas como estava se sentindo inquieto, ele resolveu voltar naquele dia mesmo, pois sabia que enlouqueceria se não tivesse nada para fazer além de pensar em sua avó naquele hospital.
Tinha Anne a considerar, mas sabia que ela entenderia. Se ficasse em volta de sua esposa o dia todo, não seria uma boa companhia, e não queria estragar o bom relacionamento que estavam construindo, com a tensão que quase o deixava doente.
Assim, ele deixou um bilhete para Anne, passou pela cozinha tomando apenas um café preto, recusando o que a cozinheira havia feito para aquela refeição, e saiu do apartamento, deixando instruções para Anne não ser incomodada.
Por sorte, o trânsito não estava muito pesado naquela manhã, e Gilbert conseguiu chegar na empresa sem os problemas decorrentes de uma cidade grande em dia útil de trabalho.
Ao passar por sua secretária, antes mesmo que dissesse bom dia, ela o olhou espantada e disse:
-Não sabia que voltaria hoje ao trabalho. Pelo que entendi, o senhor só retornaria amanhã.
-Sim, mas decidi não perder tempo, e começar hoje mesmo.- Gilbert explicou e logo em seguida perguntou: - Meu pai está na empresa?
-Não. Ele viajou a trabalho, mas seu primo Billy está aqui. Quer que eu diga a ele que chegou?- sua secretária perguntou .
-Não precisa. Obrigado. Vou para minha sala. - Gilbert respondeu quase trincando os dentes.- Me mande todos os relatórios dos dias que fiquei fora. Quero ficar a par de tudo que andou acontecendo por aqui. - Gilbert pediu, caminhando apressadamente para sua sala, pois não queria encontrar Billy justamente naquele dia em que não se sentia bem para isso.
Contudo, a sorte não parecia estar do seu lado, pois assim que entrou em seu escritório, Billy apareceu por lá e lhe disse com sua voz cheia de deboche:
-Achei que demoraria mais tempo para aparecer aqui.
-O que veio fazer aqui, Billy? Não tem mais nada interessante para fazer do que me irritar com sua presença indesejável?- Gilbert perguntou com a voz cansada. Não estava com a menor paciência para aguentar as ironias de seu primo.
-Nossa. Que humor maravilhoso. Pensei que estar casado com uma mulher tão gostosa acabaria com essa sua irritação contínua. Ou será que não conseguiu amansar a tigresa ruiva com tanta facilidade assim?- Billy disse rindo, e Gilbert não esperou que ele terminasse. Se levantou em um pulo e disse quase rosnando de ódio:
-Sai daqui agora, antes que eu mesmo o jogue para fora!
-Calma, priminho Estou apenas brincando.- Billy disse se defendendo, mas sem perder seu ar de zombaria.
- Já disse para sair,Billy. Agora!- Gilbert quase gritou, caminhando até a porta, a abrindo e esperando que Billy fizesse o que ele estava pedindo.
-Já estou saindo.- Billy disse rindo, mas assim que passou perto de Gilbert, ele tornou a provocar:- Dê lembranças minhas à Sra. Blythe. Tenho certeza que ela vai adorar.
Gilbert sentiu seu sangue ferver, e só não socou o primo, pois não queria perder a razão e dar a Billy armas para indispô-lo com o pai. Seu relacionamento com John já era difícil o suficiente sem isso.
Assim que Billy saiu, Gilbert bateu a porta com força, descontando assim sua raiva, mas bem lá no fundo desejando que fosse o rosto do primo que ele tivesse batido com toda a sua ira. Em seguida, voltou a se sentar em sua mesa, respirou fundo, e tentou se concentrar no trabalho que naquele dia, seria sua válvula de escape.
No apartamento, Anne tinha acabado de se levantar, e como não viu Gilbert na cama, procurou-o em todos os cantos da casa, preocupada com seu estado psicológico naquele dia. Ficou surpresa ao encontrar um bilhete dele dizendo que tinha ido ao trabalho, o que a deixou mais preocupada ainda, pois se ele decidira ocupar a mente em um local que acabaria gerando mais estresse para o seu corpo, era porque não queria focar no problema principal que o estava afetando que era Cora,e isso não era nada bom.
Contudo, decidiu não ligar para ele e interferir em sua decisão, pois não queria dar a impressão que estava dizendo a ele o que fazer naquela situação. Gilbert era um homem adulto, e por isso responsável pelos seus próprios atos.
Deste modo, Anne decidiu que visitaria sua família naquela manhã, pois era seu último dia de folga e estava sentindo falta de seu pai e de suas irmãs, com exceção de Josie com quem nunca tivera um relacionamento fraternal.
Ao descer as escadas já vestida para sair, ela percebeu que a mesa já havia sido arrumada para o café da manhã. Se sentindo estranha por tomar café sozinha naquele ambiente, Anne comeu rapidamente uma torrada com geleia de morango e tomou uma xícara de café, levando logo em seguida os utensílios para lavar na pia. Quando estava procurando pelo detergente que parecia não estar em nenhum lugar, a empregada da casa apareceu e perguntou:
-Já terminou, senhora?
-Sim. Estou apenas procurando o detergente para lavar essa louça.- Anne respondeu com um sorriso simpático.
-Esse é o meu trabalho. A senhora não tem que se preocupar com os afazeres da casa.- A empregada disse com neutralidade.
-Não, mas uma xícara de café eu mesma possa lavar. Só me diga onde fica o detergente. - Anne respondeu, se sentindo sem graça com a situação. Definitivamente, ela não sabia como conseguiria tomar conta daquela casa, com empregados por todos os lados. Não nascera para ser uma mulher da sociedade de classe alta, e nisso Josie sempre tivera razão.
Quanto tempo levaria para Gilbert se envergonhar dela? Se não conseguia ter voz em um ambiente do qual supostamente era dona, como se sentiria em meio à pessoas a quem não conhecia, e cujo poder aquisitivo se igualava ao de seu marido?
-Senhora, como disse, é o meu trabalho. O Sr. Blythe ficará zangado se eu não acatar as ordens dele. - a empregada insistiu.
-E quais foram as ordens dele?- Anne perguntou, ainda se sentindo desconfortável.
-Que atendêssemos a todas as suas vontades.- a garota respondeu e Anne desistiu de insistir. Afinal, ela estava sendo paga para desempenhar suas funções dentro do apartamento, e não seria justo a ruivinha criar caso com ela por conta de uma xícara suja.
-Está certo então.- Anne respondeu, percebendo a expressão de alívio que a garota demonstrou após suas palavras.
Assim, ela pegou a bolsa e foi em direção à porta, porém antes de sair, ela ouviu a cozinheira atrás de si lhe dizendo:
-Sra. Blythe, Sei que deve estar com pressa, mas gostaria de saber se quer algo especial para o almoço hoje.
Anne franziu a testa,e pensou que aquele era mais um item com o qual se preocupar. Não fazia ideia do que pedir à cozinheira para preparar. Para fugir da saia justa,ela optou pelo prático e disse:
-Vou almoçar com minha família, assim não precisa se preocupar com isso.
-E para o jantar?- a cozinheira insistiu.
-Uma sopa está ótima. - Anne disse, caminhando o mais rápido que pôde para fora dali.
Quando chegou na portaria, Anne chamou um táxi e deu o endereço de sua antiga casa, e quando se viu na frente dela , uma saudade imensa a acometeu.
Sentia falta da simplicidade de sua vida de antes, sem complicações ou medos que agora com frequência tomavam conta de sua mente. Apesar de estar casada com o homem que amava, esse fato não anulava como aquele casamento acontecera, e o quão despreparada se sentia para ser esposa do magnata do petróleo.
-Anne!- Diana disse com um sorriso enorme, ao vê-la,na porta depois que a ruivinha tocara a campainha.- Como você está?
-Bem. - ela respondeu de forma incerta.
-Por que será que sua resposta não me convenceu? - Diana perguntou com seu olhar perspicaz sobre ela.
-Talvez porque eu me sinta um pouco confusa nesse momento.- Anne respondeu com sinceridade. - Onde está todo mundo?- ela perguntou em seguida.
-Ruby está no colégio, papai e Josie na mercearia. Hoje é dia de faxina, por isso estou em casa a essa hora. Vamos até a cozinha, eu te sirvo um café, e você me conta as novidades.
Anne assentiu, e foram juntas até a cozinha, onde os aromas familiares deixaram Anne feliz. Notando seu olhar nostálgico, Diana perguntou:
-Está tudo bem, Anne? Você não parece muito animada.
-Cora está no hospital e Gilbert completamente arrasado.- Anne contou se sentando à mesa junto com Diana que lhe serviu seu café com leite preferido.
-Sinto muito. Como ela está?
-Por enquanto na UTI, mas Gilbert não se conforma com a situação. - Anne respondeu, tomando um gole do seu café com leite.
-É compreensível. Uma vez que ela foi como uma mãe para ele a vida toda. Mas você não me contou ainda como foi sua lua de mel.- Diana afirmou, e Anne corou ao entender sobre o que ela queria saber.
-Não chegamos às vias de fato se é o que quer saber.- Anne disse de cabeça baixa.
-Por que não?- Diana tornou a perguntar.
-Eu não deixei acontecer. - Anne respondeu encarando a irmã.
-Mas quer.
-Não sei.- Anne baixou os olhos novamente.
-É claro que sabe. Você pode pensar que não sei como se sente em relação ao seu marido, e justamente por conhecer você, tenho certeza de que está apaixonada por Gilbert desde antes do casamento. - Anne a olhou espantada, mas não negou. Não fazia sentido dizer o contrário, já que não conseguiria esconder aquilo de Diana.
-É muito complicado. Não acho que Gilbert sinta o mesmo, e se tudo acontecer entre nós, não sei como vou me sentir depois.- Anne confessou.
-E vai deixar de viver uma experiência incrível com o cara que ama por medo? Viva o momento , Anne, pois não temos como saber como será nosso futuro. Não perca tempo por besteira. - Diana a aconselhou e Anne a ouviu atentamente, tentando decidir se isso seria bom para ela ou não.
Percebendo seu momento de incerteza, Diana mudou de assunto e perguntou:
-Vai ficar para o almoço?
-Vou sim.
-Então, vou te preparar seu prato favorito.- Diana disse, se levantando da mesa, e colocando o avental.
-Posso te ajudar?- Anne perguntou timidamente.
-É claro. Não é porque ficou rica que vai vir aqui em casa e ficar de mãos abanando.- Diana disse em tom de brincadeira, fazendo Anne se sentir melhor apenas por aquele clima descontraído que sempre tiveram entre elas.
Quando voltou para casa já era fim de tarde, e Gilbert ainda não havia voltado do trabalho, o que não deixou Anne nada tranquila, fazendo-a olhar no relógio de cinco em cinco minutos,esperando que ele aparecesse antes que ficasse maluca.
Ela acabou jantando sozinha, tentando não surtar cada vez que ouvia um barulho imaginário na porta e não era ele. Sua mente a estava torturando, e mesmo detestando a ideia, Anne acabou ligando para Gilbert , mas ele não atendeu, caindo na caixa postal, deixando-a ainda mais nervosa.
Às dez da noite, já de camisola, ela andava pelo apartamento sem saber o que fazer quando Gilbert finalmente chegou em casa.
Todo o sermão que tinha preparado para chamar a atenção dele por deixá-la quase louca de preocupação caiu por terra, quando Anne olhou para o rapaz e percebeu que ele havia chorado. Ela correu para ele, o abraçou e disse contra o peito dele:
-Fiquei tão preocupada. Que bom que chegou em casa.
-Desculpa. Eu não queria te deixar sozinha aqui, mas não consegui voltar para casa depois que saí da empresa. Eu precisava ver a vovó.- Gilbert disse, com a voz sofrida que fez Anne levantar a cabeça e perguntar:
-E conseguiu vê-la?
-Não. Fiquei parado na frente do hospital sem coragem de entrar.- ele respondeu, com as mãos enterradas nos cabelos dela.
Quanta paz encontrava naquele rosto, mais ainda do que a beleza incontestável de Anne, havia em sua expressão suave, tudo o que ele precisava naquele momento. E queria ficar ali, olhando para ela indefinidamente, deixando que seu coração se fartasse daquela garota extraordinária, a quem amava com toda a sua alma.
-Você comeu alguma coisa?- Anne perguntou, tocando o rosto dele com preocupação.
-Não.- ele respondeu de forma apática.
-Vamos até a cozinha. Temos sopa para o jantar. - ela disse, segurando na mão dele.
-Não estou com fome. Quero tomar banho e descansar. O dia foi terrível. - Gilbert respondeu suspirando, e mesmo não concordando, Anne decidiu não insistir. Ele precisava de paz e equilíbrio naquele instante, e ela estaria ao lado dele para garantir que tivesse exatamente isso.
-Vamos para o quarto então. - Anne concordou, segurando na mão dele e subindo às escadas até o quarto.
Enquanto Gilbert ia para o chuveiro, Anne arrumou a cama, a deixando o mais confortável possível e quando Gilbert voltou, ela engoliu em seco ao vê-lo de calça moletom e sem camisa.
Seu coração se acelerou quando seu marido a pegou olhando para abdômen dele fascinada, e aumentou ainda mais suas batidas cardíacas, , assim que o rapaz se aproximou dela e a ficou olhando como se admirasse uma obra de arte.
Eles ficaram se encarando por exatos cinco segundos, trocando uma mensagem ali que só ambos entendiam. Então, se moveram ao mesmo tempo como se tivessem ensaiado aquilo, e logo suas bocas colidiram em um beijo necessitado e apaixonado, fazendo ambos suspirarem contra os lábios um do outro.
Anne deslizou a mão pelo peito dele, querendo sentir a força dos músculos em seus dedos, enquanto Gilbert abandonava-lhe os lábios, e explorava o pescoço dela, chegando ao ombro onde afastou a alça da camisola, e deixou um beijo quente, fazendo Anne desejar muito mais.
Por isso, não ofereceu resistência quando ele afastou um pouco mais o tecido, deixando seus seios expostos aos olhos dele, que os admiravam por alguns segundos, e depois os tomou em sua boca, sugando-os lentamente, fazendo Anne se agarrar a ele e dizer:
-Gil.
-O que?- ele perguntou com a voz rouca, enquanto não parava de provocá-la com a ponta da língua.
-Eu quero você. - ela confessou, se rendendo de vez.
O rapaz quase não acreditou no que ela tinha dito, e levantou a cabeça para ter certeza de que não tinha ouvido errado , e quando a encarou, viu naqueles olhos azuis uma entrega tão completa que ele não pôde deixar de se sentir emocionado e dizer:
-Não sabe o quanto esperei por isso.
Assim, ele tirou a camisola dela, e em seguida sua calcinha. Anne pensou que se um dia aquilo acontecesse, ela se sentiria envergonhada , mas a maneira como Gilbert estava olhando para seu corpo como se ela fosse a sétima maravilha do mundo, a fazia se sentir feliz, linda e poderosa, pois o olhar de desejo nos olhos castanhos escurecidos do rapaz era a prova viva de que ele estava daquele jeito apenas por ela.
Muito vagamente, Anne se lembrou das palavras de Diana naquela manhã, pois o homem que se despiu na sua frente merecia toda a sua atenção. Ele era lindo da cabeça aos pés, seus músculos salientes e ainda levemente bronzeados, os braços fortes e cheios de ondulações, o abdômen desenhado sem uma grama de gordura e as pernas musculosas de contornos perfeitos.
Eles se deitaram juntos na cama, seus olhos conectados, e Gilbert inclinou a cabeça em direção ao ouvido dela e sussurrou:
- Você é fantástica, e estou louco para te fazer minha e saber se o gosto de sua pele é tão bom como eu imagino.
Anne não teve tempo de responder, pois ele tornou a beijá-la, descendo as mãos pelo corpo dela, passando pelo contorno dos seios, os mamilos eretos, desejosos de seu toque, seguindo pelo abdômen até alcançar a intimidade de Anne que já estava molhada e a espera de que ele a acariciasse exatamente ali.
E quando Anne sentiu os dedos dele se movimentarem em seu sexo, foi impossível não gemer e arquear os quadris em direção à mão que brincava escandalosamente em sua abertura. Ela estava quente, totalmente excitada, e sequer notava o efeito que tudo aquilo provocava em Gilbert.
Ele estava tentando não perder o controle, mas o jeito com que ela gemia em seu ouvido, e movimentava o corpo embaixo do seu estava destruindo o seu juízo. Ele imaginara que ela fosse intensa, mas não que fosse tão ardente, quase o queimando em seu calor.
Ele desceu os lábios pelo corpo dela, aprendendo a conhecer cada pequena sarda que ela tinha sobre a pele, a sensibilidade a seu toque, como ela reagia quando ele chegava a alguma região onde Anne sentia mais prazer.
Gilbert parou na linha entre o abdômen e o sexo dela, desejando loucamente tocá-la ali com sua boca, mas não ousou, pois era a primeira vez dela, e não queria chocá-la demais com uma intimidade tão audaciosa.
Ele fez o caminho de volta, tocando-a mais uma vez em todos os lugares, dando especial atenção para os seios dela que amaram o toque dele à primeira vista. Quando encarou Anne novamente, ela estava ofegante, e apertava os ombros dele como se estivesse em um sofrimento supremo.
Seu corpo e o dela se encaixavam perfeitamente, e quanto deixou que seu membro ficasse em contato com a intimidade úmida dela, Gilbert soube que não aguentaria mais por muito tempo.
Ela era deliciosa, o sabor da pele dela era divino, e em sua ingenuidade que mostrava exatamente que não sabia até onde todo aquele desejo os podia levar, o deixava louco, alucinado por provar mais dela, de mostrar como eram perfeitos juntos em uma união completa de seus corpos.
Ela arqueou os quadris novamente em direção aos dele, e Gilbert entendeu que ela estava pronta para ele. Assim, ele se levantou apenas para pegar a proteção em sua escrivaninha, e se preparou para colher o fruto que tanto desejava.
Ele se posicionou no meio das pernas dela, a penetrando devagar, ao ver Anne tensionar em sua investida. Porém, esse momento doloroso passou rapidamente, e Gilbert se viu dentro dela se movimentando devagar, enquanto Anne tentava o acompanhar, sem perder o ritmo.
Logo ele acelerou os movimentos, entrelaçando os dedos nos de Anne, vendo o rosto dela transtornado pelo desejo, esperando o momento final em que se encontrariam em uma única volúpia.
Então, ela arqueou o corpo, fazendo Gilbert entender que ela estava em seu limite, assim, ele acelerou mais um pouco, até que seu corpo explodiu com o dela em uma onda poderosa de amor e paixão.
Minutos depois, ainda esgotada pelo ato de amor que finalmente tinha acontecido entre eles, ela sentiu Gilbert deixar um beijo em sua testa, e o viu lhe sorrir ternamente. Anne se aconchegou ao corpo dele, e não disse nada, pois naquele momento não precisavam falar nada. Tudo o que desejavam era viver aquele momento, em que magicamente conectou suas almas, no ato mais lindo de amor que puderam um dia sonhar.
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Olá, pessoal desculpem a demora. Não passei bem esses dias, mas aqui estão capítulo. Me deixem seus votos e opiniões para eu saber se gostaram. Beijos e obrigada.
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