Capítulo 15 - A passeata
O quarto de Anne estava repleto de cartazes da passeata. Ela e Cole tinham ficado responsáveis por terminá-los e levá-los na hora do evento, onde os outros membros daquele protesto estariam à espera, para que pudessem enfim realizar o que tinham planejado por dias.
Ela soltou os cabelos do elástico que os prendia, e refez o rabo de cavalo com a habilidade de anos que tinha com aquele penteado, pois desde que era uma garotinha, ela usava seus cabelos assim. Quase nunca os cortava, por isso, o comprimento chegava bem abaixo das costas. Diana tinha sugerido que ela tentasse um corte moderno para o casamento que se aproximava, porém ela ainda não tinha se decidido.
O casamento!, ela pensou, sentindo seu coração dar um pulo. Aquele era o único assunto que cruzava sua mente naqueles dias, ao mesmo tempo que sabia que não estava preparada para ele. Como se tornaria a esposa de um dos homens mais importantes do país, se sequer sabia como se comportar nos ambientes que ele frequentava? Aquele mundo não era para ela, e Anne não queria ter que mudar nada em si mesma para se encaixar nele, e embora Gilbert nunca houvesse lhe pedido isso, ela sabia que eventualmente teria que fazê-lo, e não lhe agradava pensar como isso afetaria sua vida.
Ela gostava da simplicidade na qual vivia, e agir com gestos ensaiados ou ter falas calculadas apenas para satisfazer uma sociedade com a qual não concordava não a animava nem um pouco.
Nunca tivera que estar em um ambiente onde precisara representar um papel onde todas as cartas eram marcadas, onde o dinheiro falava mais alto do que qualquer outra coisa. Ela não sabia ser outra pessoa, pois sempre fora ela mesma em todas as situações, como mudaria esse princípio dentro de si se não via sentido em fazê-lo?
Anne começou a organizar os cartazes e panfletos, enquanto sua mente continuava trabalhando nesses pensamentos que a levaram até seu imprevisível noivo. Seu relacionamento com Gilbert tinha melhorado, apesar de ela não confiar nele totalmente, e no grau em que estava agora ela não sabia dizer o que realmente eram.
Ela de certa forma, abrira seu coração um pouquinho para Gilbert, e também se permitira conhecê-lo um pouco mais, e admitia que havia algumas coisas que gostava nele, e que antes não conseguia nem cogitar a possibilidade de se simpatizar com ele.
Gilbert era engraçado, e sabia fazê-la rir, mesmo quando a situação não parecia tão cheia de humor assim. Ele era inteligente, o que tornava um ótimo adversário em uma discussão, era persuasivo de um jeito que a assustava, principalmente quando a convencia sobre os seus motivos de beijá-la em determinados momentos.
E Anne descobrira, mesmo a contra gosto, que adorava os beijos dele, mesmo que proibisse a si mesma de pensar sobre isso com frequência. E era ali que morava o perigo, porque quando pensava no quanto se sentia confortável nos braços dele, isso consequentemente a levava diretamente ao tema lua de mel.
Esse assunto era outro problema que a deixava inquieta, pois embora já tivesse discutido com Gilbert sobre isso, e ele a tivesse tranquilizado a respeito daquela questão, ele pontuara que teriam que dividir o mesmo quarto, para não levantar suspeitas de que aquela união era apenas um contrato com benefícios para ambas as partes.
Anne não conseguia se acostumar com a ideia de que teria que perder sua privacidade para unir-se a outra pessoa que não amava. Gilbert a atraía, mas não passava disso, e ela também não tinha intenção de deixar que fosse além daquela atração. Contudo, a verdade era que mesmo que visse Gilbert um pouco diferente do que o via no início, ele continuava sendo aquele que acabara com sua paz e ameaçara a liberdade de seu pai.
-Anne, olha quem eu encontrei no portão de sua casa. - Cole disse, trazendo Lindy com ele pela mão.
-Oi, amiga. Veio nos ajudar?- Anne perguntou, sorridente.
-Se precisarem de ajuda, mas também quero perguntar, por que não me convidou para ir com você escolher seu vestido de noiva ontem? Achei que tínhamos combinado isso desde quando éramos crianças, se lembra? Uma ia ajudar a outra a escolher o vestido com qual iria se casar.- Lindy parecia magoada, e Anne não pensara que isso podia acontecer, por isso tratou de desfazer aquela situação, pois a última coisa que queria era ficar estremecida com sua melhor amiga.
-Lindy, desculpa, é que ontem meu pai me pegou de surpresa com a história do vestido, e Diana foi até o shopping comigo, porque você sabe que quando se trata de roupas, nunca fui a pessoa mais adequada para escolhê-las.
-E sequer pensou em chamar sua melhor amiga para ir também? A Ruby me disse que até o Cole foi com você.- Lindy perguntou de forma incisiva.
-Ele estava aqui e por isso eu o convidei. Não faz essa cara, Lindy. Você sabe que é minha melhor amiga, e por isso quero te fazer um pedido.- Anne disse, segurando na mão dela com carinho.
-O que é? - ela perguntou, ainda parecendo emburrada. Anne conhecia bem a amiga para saber que ela era um pouco difícil de ceder quando estava magoada com alguém.
-Quer ser minha dama de honra? - a expressão amarrada de Lindy foi se desfazendo, enquanto ela processava aquele convite, quando por fim um sorriso enorme brotou em seus lábios, ela disse:
-É claro que sim.- e abraçou Anne tão apertado que a ruivinha pensou que iria se sufocar.
-Vai precisar ir comigo na minha prova de vestido de noiva, para escolher o modelo do seu e a cor.- Anne a avisou assim que se separaram.
-Claro. Serei a única dama de honra? - Lindy perguntou passando a ajudar Cole a organizar os cartazes.
-Não, Diana e Ruby também serão. A Ruby escolheu rosa, e a Diana escolheu verde, a sua cor favorita eu ainda imagino que seja azul.- Anne comentou, se lembrando da fixação de Lindy por aquela cor quando criança e depois na adolescência. Quase tudo no guarda roupa dela tinha algum tom de azul naquela época, e imaginava que isso não tinha mudado muito.
-Sim, sou bem previsível. - a garota disse rindo.
-É uma cor muito bonita. Eu também gosto de azul, pena que o vestido de noiva tem que ser branco.- Anne disse torcendo o nariz.
-Não tem que ser branco. Você pode se casar com a cor que quiser. - Cole sugeriu com um sorriso.
-Consegue me imaginar entrando na igreja para casar com Gilbert Blythe, herdeiro das empresas Blythe, vestida com uma cor que não seja branco? Tenho certeza que seria um escândalo de rede nacional. - Anne disse, quase rindo. Nunca perguntara para Gilbert sobre isso, mas pelo que ele falava do pai, ele jamais aceitaria algo que fosse fora dos padrões.
-Eles são tão tradicionais assim?- Cole perguntou, com um arquear de sobrancelha.
-Tudo indica que sim.- Anne respondeu.
-De qualquer forma. Seu vestido é lindo. Vai parecer uma princesa dentro dele. Pena que não temos nenhuma foto para mostrar para a Lindy. - Cole comentou, terminando de colocar os cartazes em uma bolsa grande.
-Ela vai vê-lo, quando for escolher o vestido dela.- Anne afirmou, enquanto Cole caminhava para a porta do quarto.
-Vou guardar esses cartazes no carro, e volto daqui a pouco.- O amigo disse, e Anne assentiu.
Quando teve certeza que estavam sozinhas, Lindy perguntou:
-Vai mesmo participar dessa passeata? E se Gilbert descobrir?
-Vou sim. Não posso deixar minhas coisas de lado por causa dele. Se Gilbert não gosta das minhas atividades fora desse relacionamento que não pedi para ter, ele que desista do casamento. Tenho certeza que não faltarão pretendentes para ele.- ela respondeu com certa segurança que fez a amiga comentar:
-Você realmente não se importaria se ele escolhesse outra moça para casar?
-Não.- Anne respondeu desviando o olhar da amiga, tentando ignorar a pontada desconfortável em seu coração, e dizendo a si mesma que se não estava apaixonada por Gilbert, por que se importaria se ele quisesse casar com outra pessoa que não fosse ela?
-Tem certeza? Vocês parecem estar se dando tão bem nos últimos tempos.
-De certa forma somos amigos, e isso é tudo. - Anne disse, querendo encerrar aquele assunto, mas Lindy fez mais uma pergunta, não permitindo que Anne escapasse dela tão fácil
-Você não gosta dele nem um pouquinho? Eu tenho visto vocês dois, e penso que Gilbert poderia te fazer tão feliz se você permitisse.
-Eu não gosto dele desse jeito. - ou não queria gostar. Era confusão demais para sua cabeça.
-Anne, somos amigas praticamente desde que nascemos, e sei o quanto se sente carente de afeição. Você merece ser amada pela pessoa incrível que você é. Então, por que não se permite viver isso? Eu sei que sua história com o Gilbert não começou bem, mas pode terminar de outro jeito, se você deixar. - Lindy queria tanto a felicidade de sua amiga, pois ela mais do que ninguém, entendia como a cabeça de Anne funcionava, e existia alguma coisa em Gilbert Blythe que lhe dizia, que ele gostava mais da ruivinha do que ela pensava.
-Ele não é o cara certo, Lindy. Vou me casar com ele e daqui a cinco anos seremos um casal feliz e divorciado. Você vai participar da passeata com a gente?- ela mudou drasticamente de assunto para não dar a Lindy a oportunidade de insistir naquilo.
-Vou sim.- a amiga respondeu, entendendo o recado.
-Ótimo. - Anne disse, e assim ela e Lindy continuaram conversando sobre outros assuntos, e não perceberam que Josie ouvia atentamente cada palavra do que diziam. Contente com sua descoberta, ela sorriu para si mesma, caminhando até seu quarto, e sabendo exatamente o que fazer para estragar a harmonia entre Anne e Gilbert.
Em seu trabalho, o rapaz não estava tendo um dia fácil, mas ainda assim ele conseguia arrumar um tempinho para pensar em sua noiva. Quem diria que ela se tornaria uma de suas pessoas favoritas no mundo?
Ele aprendera a gostar da companhia dela, de conversar sobre assuntos diversos, da maneira como os olhos dela brilhavam felizes quando falava de algo sobre o qual gostava, até mesmo quando implicava com ele, ou discutiam por bobagens.
Anne tinha uma alma nobre, e se preocupava com os problemas sociais do mundo. Quem dera ele ainda tivesse essa mesma disposição que ela, para acreditar que poderia modificar o sistema apenas com a boa vontade de seu coração. Gilbert se tornara cínico demais para acreditar em altruísmo, mas tinha uma coisa que nunca contara a Anne e que talvez nunca contaria, era como se sentia orgulhoso dela, por ela ser exatamente assim.
A lembrança do shopping no dia anterior o fez sorrir e se cumprimentar pela boa ideia que tivera. Roubara um beijo dela, e por mais que Anne se esforçasse para ficar zangada, ele sabia que ela aproveitara o beijo tanto quanto ele. Anne não daria o braço a torcer nunca, e ele não pretendia forçá-la a admitir que por mais que o odiasse, ela o queria de outra forma também.
Ele saiu de sua sala para falar com sua secretária sobre um determinado cliente que ligara para ele naquela manhã, quando a voz de seu pai o fez-se virar, e parar estático quando seu olhos cruzaram com de seu primo que o olhou divertido e disse:
-Dia ocupado, primo?
-O que faz aqui, Billy?- Gilbert perguntou.
- Ele veio ter uma reunião comigo.- John Blythe disse, aparecendo logo atrás do rapaz.- Billy vai nos representar na filial em Acapulco, onde acontece a feira anual dos empresários relacionados ao mundo do petróleo internacional. - Gilbert olhou para o pai chocado e respondeu:
-Achei que seria eu a ir nessa feira. Pelo menos é o que temos discutido a três meses.
-Sim, mas a feira é bem no mês do seu casamento, por isso decidi mandar Billy no seu lugar. - John Blythe lhe respondeu, enquanto Gilbert olhava para o pai sem acreditar que ele ia mesmo fazer aquilo com ele.
-O senhor sabe que dou conta. Não precisa mandar ninguém no meu lugar. Posso ir para essa feira, e voltar para o casamento a tempo. - Gilbert afirmou, detestando o olhar sarcástico de Billy sobre ele. O primo simplesmente estava adorando ver Gilbert naquela situação.
-Acho desnecessário que você vá até lá, enquanto tem tanta coisa para providenciar. Deixe que Billy faça isso, assim você pode dedicar todo o seu tempo livre ao casamento e a sua noiva. - John declarou, fazendo Gilbert assentir sem realmente o desejar.
O rapaz viu o olhar cheio de zombaria de Billy, e desejou naquele momento que o primo não fosse de sua família, para não ter que encará-lo ou falar com ele novamente.
-Perdeu, priminho.- o rapaz resmungou ao passar por Gilbert quando John estava fora do alcance de ambos.
-Você não perde por esperar, idiota.- Gilbert respondeu de volta, ouvindo Billy gargalhar pelas suas costas.
Gilbert voltou para o seu escritório, sentindo que iria explodir. Billy sempre conseguia tirá-lo do sério, principalmente porque parecia ter a preferência de seu pai em relação aos negócios da família. Se não fosse para proteger o patrimônio de seu pai, que cairia em mãos erradas se ele não fizesse algo a respeito, desistir de tudo seria uma opção bem atraente.
Ele precisava falar com alguém antes que tivesse um ataque de fúria, por isso, ligou para a única pessoa com quem queria falar no momento. O telefone tocou por dois minutos até que ele ouviu a voz tão desejada:
-Alô. - Anne disse assim que seu celular emitiu o terceiro toque.
-Alô, Anne. Você está ocupada? Preciso muito ver você.
-Hoje eu não posso, Gilbert. Aconteceu alguma coisa?- ela perguntou, e o rapaz suspirou. Precisava estar com ela, olhar em seus olhos, abraçar aquele corpo esguio, para sentir sua paz ser recuperada. Anne era a calmaria dentro daquele furacão que crescia dentro dele, e ameaçava entrar em erupção a qualquer momento.
-Nada de muito grave. Apenas meu pai colocando Billy Andrews acima de mim dentro dessa empresa.- Gilbert disse em um desabafo frustrado.
-O que aconteceu?- Gilbert ficou em silêncio por dois segundos, e logo em seguida começou a falar:
-Meu pai e eu estávamos conversando a três meses sobre uma feira em Acapulco da qual eu iria participar, representando nossa empresa, e por isso venho me preparando para ela todo esse tempo, e hoje ele me disse que o Billy vai no meu lugar, pois ele quer que eu me foque no nosso casamento.
-E isso está te incomodando?- Anne perguntou de um jeito tão suave que fez Gilbert desejar que ela estivesse ali com ele.
-Sim, porque toda vez que penso que ele vai valorizar meus esforços, eu acabo me desapontando.- Gilbert disse com sua garganta queimando da ira que sentia por dentro.
-Então, pare de fazer as coisas esperando o reconhecimento dele. Faça as coisas por você, sem se importar se John vai aprovar ou não. Eu sei que ele é seu pai, e que você gostaria que ele te enxergasse diferente, mas se tudo o que você faz não tem o retorno da parte dele que espera, apenas pare de tentar e vai se sentir muito melhor. - Anne o aconselhou, fazendo o rapaz sorrir. Daquilo tudo, ele sabia, mas precisara ouvir de alguém, especificamente de Anne, que tentar ser o melhor para alguém, na maioria das vezes, era se frustrar terrivelmente.
-Obrigado. Eu adoro conversar com você, sabia? Me faz pensar em coisas que nunca sequer tinha imaginado. - Anne não disse nada,e assim Gilbert continuou:- Quero te ver. Que horas vai estar livre?
-Hoje tenho um compromisso, Blythe. Nós combinamos de sair amanhã, se lembra?- ela perguntou, e ele respondeu:
-Eu sei, mas eu preciso te ver antes. Acha que não sobra nem cinco minutos do seu tempo ocupado para falar com seu noivo?- o rapaz perguntou com seu humor muito melhor.
-Sinto muito. Meu dia está complicado.- ela explicou.
-Tudo bem. Nos vemos amanhã mesmo estando louco para te ver hoje.- ele confessou, e assim se despediu:- Até amanhã, noivinha.
-Até amanhã. - Anne respondeu, e quando Gilbert desligou, ela ficou ainda um tempo olhando para seu celular, sentindo seu coração disparado. O que ele estava tentando fazer com ela? Se Gilbert pensava que ia seduzi-la com palavras bonitas, estava muito enganado. Não ia deixar que ele chegasse mais tão perto, e iria proteger seus sentimentos daquele rapaz manipulador. Assim, ela se juntou a Lindy e Cole que a esperavam do lado de fora da casa, e logo deixou para trás suas emoções conflituosas e a imagem do rapaz que as provocara.
- Você demorou. Disse que ia apenas pegar sua bolsa. - Lindy comentou, abrindo espaço dentro do carro de Cole para que Anne se sentasse ao lado dela.
-Gilbert me ligou, e tive que falar com ele por alguns minutos. Parece que ele teve um problema com o pai, e precisava desabafar.- Anne respondeu, fugindo do olhar malicioso da amiga que lhe disse:
-Ah, ele ligou para a noiva para pedir conselhos.
-Não foi bem assim. Acho que me ligou porque não tinha com quem falar. - Anne ajeitou seu cinto de segurança, e fixou o olhar para fora da janela do carro.
-Anne, o Gilbert tem milhares de amigos, se você não se lembra, e ainda assim preferiu ligar para você. Isso não quer te dizer nada?- Lindy perguntou, impressionada com a negação de Anne acerca dos sentimentos de Gilbert por ela.
-Não sei o que quer dizer.- Anne desconversou.
-Vou te deixar descobrir sozinha, então. - foi a resposta de Lindy.
-Do que vocês duas estão falando? Não estou entendendo nada.- Cole perguntou enquanto conduzia o carro até o local da passeata.
-Não é nada, Cole. É só a Lindy me perturbando por nada. Vamos nos concentrar no nosso objetivo principal de hoje.- Anne retrucou, terminando a conversa ali, mas sabia que a amiga havia achado um ponto para perturbá-la acerca de Gilbert, e por isso, já podia esperar mais provocações como aquela.
Gilbert estava no meio do expediente da tarde, fazendo mil planos para seu encontro com Anne no dia seguinte, no qual prometera a Moody que o ajudaria com Ruby quando recebeu uma mensagem anônima que dizia:
Quer saber o que sua distinta noiva anda fazendo nas horas vagas? Vá até o centro da cidade, às 16 horas de hoje, e saciará sua curiosidade.
Por um segundo, ele pensou em ignorar aquelas palavras, que mais pareciam uma fofoca mentirosa do que uma grande revelação, mas então, ele se lembrou que quando ligara para Anne naquele dia e sugerira de se verem, ela lhe dissera que não podia, pois tinha um compromisso. Será que ela andava metida com algumas daquelas atividades que ele lhe pedira para não se envolver publicamente?
Do jeito que ela era teimosa, Gilbert não duvidava nada que estivesse aprontando alguma, e pior do que isso, estava escondendo dele, para que ele não lhe passasse um sermão novamente. O rapaz balançou a cabeça e se perguntou quando ela pararia de criar confusão entre eles. Nunca conhecera uma garota tão propensa a não aceitar regras, e fazer somente o que lhe interessasse.
Antes de casar com ela, já estava percebendo o tamanho da encrenca que estava comprando, mas o engraçado era que gostava dela exatamente por ter esse lado rebelde que não aceitava imposições de ninguém. Como ele gostaria de ser assim, mas fora treinado por John para apenas usar a cabeça, e ignorar completamente a emoção, e não acreditava que conseguiria mudar esse seu lado com facilidade.
Ele tentou voltar ao trabalho, mas a mensagem que recebera não o deixava em paz, por isso decidiu checar a informação, apenas para manter sua consciência em tranquila. Assim ele encerrou seu expediente antes do previsto, passando por sua secretária que o olhou admirada por vê-lo pronto para ir para casa aquela hora, e disse:
-Estou saindo e não volto mais hoje. Preciso resolver um problema importante, por isso, anote todos os recados que amanhã dou um jeito de resolver os assuntos pendentes.- e sem esperar que ela lhe dissesse nada, Gilbert pegou o elevador que o levou até o térreo, correu para o estacionamento, e saiu apressado com o carro, esperando que o que estava imaginando sobre Anne estivesse completamente equivocado.
Porém, quando se aproximou do centro da cidade, e logo viu um pequeno grupo de pessoas reunidos, e uma garota de inconfundível cabelos ruivos distribuindo cartazes e panfletos, enquanto outros dois participantes começavam a organizar o som dentro de um carro que seria usado na passeata, ele percebeu que realmente a mensagem não mentira.
Gilbert estacionou seu Lamborghini, e saiu do veículo, marchando para onde Anne estava. Sem esperar que ela percebesse que ele estava ali, o rapaz a segurou pelo pulso, e a puxou de lado para que pudessem conversar com privacidade.
-Então, era por isso que não podia me ver hoje? Outra passeata, Anne?- ele falou, encarando-a seriamente.
-O que está fazendo aqui, Blythe? - ela perguntou, lívida por ver que seu noivo tinha descoberto sobre a passeata. - Eu vou participar dessa passeata, e você não vai me impedir. Então, por que não volta para seu carro caro, sua empresa milionária, e me deixa em paz?- Anne estava quase gritando, pois ver Gilbert ali a fez se lembrar da humilhação que ele a fizera passar da outra vez, quando prometera a si mesma que nunca mais aconteceria.
-Eu quero saber por que mentiu para mim?- ele perguntou, observando o rosto de sua noiva cada vez mais alterado. Não viera ali para impedi-la de nada, mas não iria embora enquanto ela não lhe explicasse por que não conversara com ele sobre aquilo.
-Não é óbvio. Dá última vez você me arrastou daqui como se eu fosse um saco de batatas, me fazendo passar pelo pior vexame da minha vida. Acha mesmo que eu me arriscaria a passar por tudo outra vez?
-Anne, me escuta...- ele começou a falar, mas ela não deixou, e mais uma vez no auge da sua fúria Anne disse:
-Não, escuta você. Eu não vou desistir daquilo que acredito por conta de um casamento que não desejo. Sinto muito se você vive em uma sociedade egoísta, que pensa apenas em gastar o dinheiro que ganha em coisas fúteis, do que abraçar uma causa que vale a pena. Então, eu quero que se dane o seu sobrenome distinto, e sua empresa conceituada, porque se pensou que ia encontrar alguém para casar com você que fosse como um cordeiro pronto para ir para o abatedouro, sinto informá-lo que escolheu a noiva errada! - lágrimas começaram a rolar pelo rosto dela, e Anne nem sabia bem porque estava chorando, mas estava tão zangada por Gilbert não entender que tudo aquilo era importante para ela, que não conseguia controlar suas emoções em completa ebulição.
Vendo-a naquele estado, Gilbert a abraçou apertado, enquanto dizia:
-Calma. Não precisa ficar assim. Não vim aqui para impedir que participe da passeata.- ele revelou.
-Então, por que veio?- ela perguntou, tentando controlar sua voz trêmula por causa do choro.
-Não vou dizer que não fiquei chateado de saber que estava aqui. Mas depois eu entendi que isso faz parte de você, e nunca te tiraria algo que é tão importante. Eu só queria que não tivesse mentido para mim, e eu tivesse descoberto sobre a passeata de outra maneira. - Anne levantou a cabeça, envergonhada por ter deixado o terno dele caro manchado de lágrimas e perguntou:
-Como posso saber que não está falando isso, apenas para fazer a mesma coisa que fez antes no futuro depois que estivermos casados?- ele acariciou o rosto dela com carinho, se sentindo imediatamente atraído pelos lábios vermelhos virados na direção dos seus.
-Vai ter que confiar em mim, noivinha. - Ele respondeu, continuando a olhar para os lábios dela, percebendo que ela também fazia o mesmo com os seus. Porém, para não perder a confiança dela, roubando-lhe um beijo em um momento tão inapropriado, Gilbert apenas pressionou os lábios na testa dela carinhosamente, enquanto a ouvia dizer:
-Não sei se consigo.
-Então, me espere por um instante.- ele pediu, se afastando dela, indo em direção ao seu carro, onde tirou o paletó, a gravata, ficando apenas de camisa, cujas mangas foram dobradas até o cotovelo. Em seguida, ele pegou um boné e óculos escuros no porta luvas, os colocou e voltou para perto de Anne.
-Vamos. - ele disse, segurando na mão dela.
-O que pensa que está fazendo, Blythe?- ela perguntou, surpresa pela atitude dele.
-Vou te acompanhar nessa passeata.
-Mas e o seu pai? Você me disse que ele não aprova esse tipo de coisa.
-Então, vamos dar a ele um motivo para ficar duplamente zangado.- ele disse, sorrindo para Anne que retribuiu, e ele aproveitou para dizer: - Agora, me passa esse cartaz.
O sorriso de Anne se alargou, e assim se misturaram com a multidão que gritava palavras de protesto, e quando Anne olhou para Gilbert, percebeu que ele também gritava as mesmas palavras, e no momento em que ele a encarou, e lhe deu uma piscada, ela internamente percebeu que Gilbert Blythe havia bagunçando seus sentimentos mais uma vez.
Olá, mais um capítulo postado. Obrigada pelos comentários e incentivo. É muito importante para mim. Beijos.
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