4° Acho que matei ele
Enrico estava no banho, a água quente escorrendo pelo seu corpo tenso. Depois de dias corridos, esse era o único momento de paz que ele conseguia encontrar. O vapor envolvia o banheiro, criando uma nuvem quente e relaxante que fazia com que ele fechasse os olhos por alguns minutos, aproveitando a sensação.
De repente, um barulho alto vindo do lado de fora quebrou a tranquilidade. Ele franziu o cenho, desligando a água e escutando com atenção. Parecia que alguém estava na cozinha. Enrico rapidamente pegou uma toalha, enrolou-a ao redor da cintura e saiu apressado do banheiro, a água ainda pingando de seus cabelos e ombros.
Ao virar o corredor, deu de cara com uma mulher agachada observando o gato comer sua ração. Assim que ela, o percebeu, os seus olhos se arregalaram em confusão. E logo foi falando:
— Quem é você? Um ladrão... um... um tarado? Assassino...
Ela começou a se levantar devagar, mas o homem deu um passo à frente, ainda mais confuso do que ela, e com uma expressão de puro espanto:
— Tarado? Ladrão? Assassino? Espera... você que está na minha casa! — Enrico exclamou, incrédulo. —
Milena, ainda apavorada, olhou ao redor, como se procurasse uma saída, mas o pânico a impediu de processar o que ele dizia. Ela estava convencida de que tinha sido pega de surpresa por um pervertido, e o fato de Enrico estar seminu, com a toalha frouxa na cintura, só reforçava suas suspeitas.
Antes que Enrico pudesse dar mais uma explicação, o azar o atingiu. Seus pés descalços e ainda molhados do banho escorregaram no piso, e em questão de segundos, ele perdeu completamente o equilíbrio. O tempo pareceu desacelerar enquanto ele tentava se segurar em algo, mas foi inútil. A toalha que ele tinha se soltou caindo no chão, e no processo de cair para frente, seus braços se ergueram instintivamente, na tentativa de evitar a queda, mas assustando a garota.
Num instante seguinte, ele sentiu o impacto violento de um soco direto no rosto. A dor explodiu em seu nariz, forte e repentina, e antes que pudesse reagir ou processar o que estava acontecendo, o loiro foi ao chão apagando por completo.
— Meu Deus, eu matei ele... — sussurrou, sentindo o pânico crescer em sua garganta. — O que eu faço? — perguntou a si mesma, enquanto hesitava entre fugir dali ou tentar ajudar.
Milena respirou fundo, e, finalmente, deu um passo à frente. Com as mãos trêmulas, ajoelhou-se ao lado do homem.
— Ai meu Deus, o que eu faço... — repetiu, mais para si mesma do que para qualquer outra pessoa. Apoiando dois dedos no pescoço do desconhecido, tentou verificar sua pulsação. Para seu alívio, sentiu um batimento firme.— Ele está vivo! — exclamou, mas isso não aliviou seu nervosismo. — Mas quem é esse homem? — Milena continuava ajoelhada ao lado do corpo desmaiado de Enrico, o pânico crescendo a cada segundo. Ela olhava para ele, para a toalha caída ao lado, e para a cozinha, como se o lugar pudesse oferecer uma solução mágica para a situação em que se metera. Seu coração batia tão rápido que ela mal conseguia pensar com clareza.
— O que eu faço? — murmurou, a voz trêmula.—
Ela estendeu a mão, hesitante, para tocar o ombro dele, na esperança de que isso o despertasse. Mas assim que seus dedos encostaram na pele dele, ela recuou, horrorizada pela nudez exposta de Enrico.
— Não posso acreditar que isso está acontecendo — sussurrou, olhando em volta como se o gato fosse capaz de lhe dar algum conselho, mas ele já estava bem longe dali.
Milena se levantou, começando a andar de um lado para o outro na cozinha, com as mãos nos cabelos, tentando se acalmar.
"Eu deveria ligar para alguém? Talvez, o Matteo, ele é médico... Para a emergência?
Milena pegou o seu celular que estava em cima da bancada da cozinha e começou a ligar para o irmão que não atendeu... Eufórica, resolveu mandar uma mensagem de voz.
"irmão, onde você está? Por que não atende minhas chamadas... Preciso da sua ajuda... Eu acho... Acho que matei ele... E se ele acordar e me matar por ter desmaiado ele?" — pensava, completamente apavorada.—
De repente, Milena ouviu um gemido vindo do desconhecido. Ele começava a se mexer, ainda inconsciente, mas claramente se recuperando do golpe. Isso só piorou seu estado de nervoso. Ele não estava morto. o que era um alívio, mas logo acordaria, e quem sabe o que ele faria? Ainda tinha medo de que ele fosse algum tipo de pervertido.
Milena deu um passo para trás, olhando ao redor como se procurasse uma rota de fuga.
"Será que eu tranco ele aqui dentro e saio correndo?" Pensou por um instante em arrastar Enrico até o sofá, mas a ideia de tocar nele a fazia estremecer de vergonha e pânico.
Milena, ainda em pânico, agarrou as pernas de Enrico, tentando levantá-las, sem realmente saber se isso era uma boa ideia. Foi nesse momento que a porta da casa se abriu, e Julieta surgiu, paralisada na entrada. Seus olhos se arregalaram ao ver a cena: Milena, com um pijama de coelhinho, segurando as pernas de um homem desacordado e... completamente nu.
— Milena?! O que... o que está acontecendo aqui?! — Julieta exclamou, claramente atônita.—
— Eu... eu... eu acho que matei ele! — Milena gaguejou, desesperada, apontando para o corpo do desconhecido. —
Julieta piscou algumas vezes, tentando processar a cena bizarra à sua frente. Ela então olhou mais de perto para o homem no chão e de repente começou a rir, uma risada tão incontrolável que ela precisou se apoiar no batente da porta para não cair.
— Julieta! Isso não é engraçado! — Milena gritou, exasperada. — Eu posso ter matado alguém!
— Milena... — Julieta conseguiu dizer entre risos. — Você nocauteou o meu irmão?! — Julieta perguntou entre risos. —
— Seu irmão? —
— Sim, ele é o Enrico meu irmão mais velho... — Ela sussurrou, incrédula. — Milena, ele é militar... Como você conseguiu fazer isso?!
Milena congelou.
"Eu soquei o irmão dela... E ele é militar"
— Irmão... — Milena exclamou, ainda mortificada. — Eu achei que ele fosse um invasor, e agi por impulso! Eu estou apavorada. O que eu faço?
Julieta respirou fundo, se acalmando um pouco, e olhou para o irmão caído no chão.
— Bom, a primeira coisa que você vai fazer é pegar uma toalha e cobrir ele, porque, convenhamos, essa visão ninguém merece. — disse a loira rindo divertidamente.—
Milena, ainda em choque, pegou a toalha e cobriu rapidamente Enrico, evitando olhar diretamente para ele. Julieta se ajoelhou ao lado do irmão e deu um leve tapinha no rosto dele.
— Ei, Enrico, acorda, grandalhão. — Julieta riu. — Você foi nocauteado por uma garota!— Enrico, para de fingir, você já assustou a garota o suficiente!
Milena olhava com os olhos arregalados, enquanto Julieta continuava a dar leves tapas no rosto de Enrico, até que ele soltou um gemido baixo e começou a se mexer.
Enrico mal sabia o que tinha o atingido. Em um segundo ele estava tranquilo no banho, e no próximo... bom, estava no chão, com a visão embaralhada e um gosto estranho de sangue na boca. Tudo o que eu conseguia ver eram vultos e, no meio da confusão, alguém dando batidinhas no seu rosto e murmurando coisas.
"Que porra tinha acontecido?"
Aos poucos, o cenário foi ficando mais claro, ele foi abrindo os olhos lentamente.
" E aí eu vi. Uma morena linda, usando um pijama de coelhinho e cenouras, e com lindas orbes azuis, que mais parecia dois lagos de águas cristalinas onde ele poderia se afogar."
Senti o sangue correr mais rápido pelo meu corpo.
— Ai... — Enrico gemeu, e piscou, confuso, e olhou para as duas mulheres acima dele. — O que... aconteceu?
Milena soltou um suspiro tão profundo que mal percebeu que estava segurando a respiração. Ela se abaixou rapidamente e agarrou os ombros de Enrico.
— Graças a Deus, você está vivo! Eu achei que tinha te matado! — disse, sua voz ainda carregada de pânico e alívio.
Enrico piscou, ainda atordoado, e tentou se sentar, mas parou ao perceber sua total falta de roupas.
— O que diabos... — Ele olhou para Milena, confuso e ligeiramente envergonhado segurando a toalha com força.—.
Julieta não conseguiu se conter e explodiu em outra risada.
— Ah, Enrico, essa foi uma entrada triunfal! — disse Julieta, com um sorriso brincalhão. — Deixa eu apresentar minha amiga, Milena, que achou que tinha te assassinado com um soco!
— O quê?! — Enrico olhou para Milena, chocado, enquanto Milena cobria o rosto com as mãos, claramente mortificada. Enrico piscou algumas vezes, tentando entender a situação. Seu olhar vagou da irmã para a morena, que estava recuando com o rosto mais vermelho do que nunca, claramente em pânico. Ele tentou se levantar, mas ainda estava grogue do soco que tinha levado.— Um... soco? — ele perguntou, a voz grave e um pouco rouca, enquanto levava a mão à cabeça.—
Julieta, agora mais controlada, se levantou e cruzou os braços, olhando para Milena com um meio sorriso nos lábios.
— Sim, Enrico, você foi nocauteado pela Milena.— disse Julieta, apontando para a amiga, que parecia prestes a desmaiar de vergonha. — Ela achou que você era um pervertido que tinha invadindo a casa.
—Me desculpe! Eu não sabia quem você era. — Milena finalmente encontrou sua voz, embora gaguejasse, completamente envergonhada. — Eu nunca te vi antes, e você apareceu sem avisar... e... — Ela olhou para o chão, desejando que a terra se abrisse e a engolisse. — Eu agi por instinto!
Enrico ainda parecia confuso, enquanto ele se apoiava no balcão da cozinha para se levantar. Ele olhou para a toalha que cobria sua cintura e, com um toque de ironia, disse:
— Bom, pelo menos você tem um soco forte. Me pegou de surpresa. — Ele passou a mão pela mandíbula, sentindo o local que havia sido atingido.—
Julieta começou a rir de novo, não conseguindo se segurar.
— Enrico, acho que sua reputação de militar durão acaba de ser destruída por essa garota aqui.
— Eu... estava só tentando me defender — ela murmurou.— Me desculpe.
No meio de toda a confusão, a porta dos fundos da casa se abriu subitamente, e Giulia entrou carregando algumas sacolas de compras. Ela parou na entrada, sua expressão de surpresa congelada ao ver a cena diante de si. Enrico estava serio, e enrolado apenas em uma toalha, com uma expressão de quem queria estar em qualquer outro lugar do mundo, e Milena, usando um pijama infantil de coelhinho e cenouras que parecia ter sido tirado de personagens de desenho animado.
Giulia franziu a testa, sem entender nada, e então olhou de um para o outro.
— O que... está acontecendo aqui? — ela perguntou, sua voz soando incrédula.
Enrico, ainda segurando a toalha com força ao redor da cintura, estava serio, e seu rosto agora estava levemente vermelho de irritação. Ele virou-se para Giulia com uma expressão mista de incredulidade e exasperação.
— O que está acontecendo? — ele repetiu, a voz cheia de frustração. — Eu fui nocauteado pela sua amiga! Ela achou que eu fosse um pervertido, e me deu um soco. Olha pra mim Giulia. — Falou apontando para o nariz que estava sangrando.—
— Eu... eu não sabia que ele era seu irmão, Giulia! — Milena exclamou, tentando se explicar. — Ele apareceu do nada... eu estava só tentando me defender.
Giulia colocou as sacolas em cima do balcão e cruzou os braços, olhando para os dois, como se estivesse tentando não rir da situação absurda.
— Certo... então você achou que meu irmão, o militar durão, era algum tipo de invasor e resolveu... nocautear ele? — Ela olhou para Milena, erguendo as sobrancelhas com um sorriso de incredulidade no rosto. — E você fez isso vestida de coelhinho?
Milena soltou um suspiro frustrado e baixou a cabeça, seu rosto queimando de vergonha.
— É... mais ou menos isso — ela murmurou.—
Enrico, por sua vez, bufou e passou a mão pela cabeça, ainda furioso, mas agora começando a perceber o quão ridícula era a situação. Ele olhou de Julieta para Giulia com uma expressão derrotada, sem saber se deveria rir ou continuar zangado.
—Vocês precisam avisar suas amigas que eu moro aqui também! Que essa é a minha casa!— Ele exclamou, com um toque de irritação ainda presente na voz. — Não quero ter que lidar com... isso novamente...
Giulia riu finalmente, não conseguindo mais segurar.
— Ok, ok, eu vou avisar a todas as minhas amigas, que nessa casa tem um macho alfa! — Ela respondeu, ainda rindo. — Relaxa Milena, o Enrico vai sobreviver.
Milena suspirou novamente, ainda tentando esconder o rosto.
— Eu vou... Vou para o quarto dormi.— ela disse baixinho, desaparecendo rapidamente na cozinha, e deixando o desconhecido para trás com ás irmãs.—
Giulia continuou rindo enquanto ajudava Enrico a se acalmar.
— Bem-vindo de volta, mano. Parece que sua volta para casa vai ser mais... animada do que você pensava.— Disse Giulia para o irmão.—
— Da onde saiu essa maluca?
— Nós estudamos juntas na universidade Michelangelo Buonorrati...— Foi Julieta quem falou.—
— Nós falamos dela para você, não se lembra ? — Giulia falou sorridente para o irmão.— Ela é uma boa pessoa. Tenho certeza que você vai gostar dela, apesar desse "encontro" desastroso.
Enrico revirou os olhos e soltou um suspiro pesado.
— Encontro? Se isso foi um "encontro", prefiro não repetir a experiência, obrigado — ele resmungou, massageando o nariz dolorido.
Julieta gargalhou, tentando esconder o riso.
— Dizem que o amor começa com um pouco de dor. — provocou, piscando para ele. — Mas você levou isso a um nível um pouco extremo, não acha?
Enrico lançou-lhe um olhar irritado.
— Se amor significa levar um soco de uma completa desconhecida que invadiu a minha casa, então eu passo. — Enrico falou se retirando do local e deixando ás irmãs rindo na cozinha.—
*********
Bạn đang đọc truyện trên: Truyen247.Pro