35° Uma missão
— Aproveitou as férias, tenente Rizzo? — Kaleb perguntou com um sorriso travesso, enquanto se aproximava com os outros atiradores de elite. Sua expressão estava mais leve, mas seus olhos carregavam o mesmo foco e precisão de sempre. O sorriso, no entanto, não conseguiu esconder a familiaridade que sempre existia entre eles. A saudade da rotina intensa e a confiança mútua eram palpáveis.— Mas, fala sério, eu imagino que a saudade de todos aqui tenha te feito voltar mais rápido.
Enrico Rizzo ergueu um sorriso cansado, mas sincero, e apertou a mão de Kaleb com firmeza. A conexão entre eles era mais do que profissional, era uma amizade construída nos piores cenários, em meio à poeira, ao caos e ao perigo. Ele podia sentir a energia da equipe crescendo à medida que todos os outros atiradores se reuniam ao redor, o que lhe dava um conforto que ele não soubera que precisava até aquele momento.
Os outros atiradores se reuniram ao redor, trocando olhares e cumprimentos. Havia algo especial na maneira como essa equipe se reconectava, como se o tempo fora da zona de combate fosse apenas uma pausa temporária. Agora, com todos ali, a missão parecia ter um peso maior, mais urgente.
Enrico deu uma olhada para cada um dos membros de sua equipe. Lucas, com seu olhar focado, parecia mais maduro desde a última vez que estiveram juntos. Mariana estava no centro do grupo, sempre atenta, e até mesmo o veterano Gustavo parecia mais leve, como se a missão que se aproximava fosse mais uma oportunidade para sua experiência brilhar.
Enrico fez uma pausa antes de falar, o peso da responsabilidade começando a se infiltrar em sua mente novamente. Ele sabia que a missão que estavam prestes a embarcar não seria fácil. O resgate de reféns em território inimigo sempre carregava um risco imenso. Cada movimento errado poderia custar vidas, e ele não podia se permitir falhar.
— Eu sei que todos estavam prontos para voltar, mas a missão... — Enrico falou com um tom grave, fazendo com que todos se calassem e prestassem atenção. — O resgate vai ser complicado. Estamos indo para uma área de alto risco, cheia de inimigos bem treinados. Precisamos estar completamente focados. Cada um de nós vai ser a chave para a sobrevivência dos outros.
Kaleb fez um gesto de concordância, cruzando os braços e se encostando em uma das pilastras de metal da base, enquanto os outros atiradores trocavam olhares e acenavam silenciosamente com a cabeça.
— Sempre fomos melhores quando estamos juntos. — Logan disse, com o tom de quem sabia exatamente do que estava falando. — Mas esse resgate... as chances de fracasso são pequenas se tivermos o controle da situação. Eu sei que cada um aqui é capaz de fazer o que for preciso.
Gentilli, como sempre, foi o primeira a falar após o silêncio. Ele era a voz da razão quando a tensão se instalava, a calma no meio da tempestade.
— Você tá certo, Kaleb. — Ele olhou para Enrico. — Nós treinamos para isso. Não tem missão impossível para a nossa equipe. E você, tenente, sabe que temos seu apoio incondicional. Só precisamos que você continue liderando como sempre fez.
O apoio de Mariana trouxe um alívio momentâneo para Enrico, embora ele soubesse que o peso da decisão recairia sobre seus ombros. Mas ele também sabia que tinha pessoas em quem confiar. Pessoas que compartilhavam o mesmo comprometimento e a mesma dedicação à missão.
— Eu confio em cada um de vocês. — Enrico disse, agora com mais confiança, olhando para os olhos de cada um dos membros da sua equipe. — Agora, precisamos de foco total. O terreno é traiçoeiro e o inimigo é imprevisível. Vamos precisar ser rápidos, eficazes, e, acima de tudo, unidos. A missão é resgatar os reféns e sair daqui com vida. Não podemos nos permitir perder ninguém.
Greg, o veterano que sempre tinha uma visão pragmática das missões, acenou com a cabeça.
— E quem vai nos guiar no terreno? — Ele perguntou, seu tom sempre direto. — Precisamos de um ponto de partida claro. Onde vamos?
Enrico respirou fundo e olhou para o mapa detalhado que estava estendido na mesa à sua frente. O local de resgate estava marcado em um ponto crítico, uma zona de confronto onde qualquer erro poderia ser fatal.
— Eu, Russani e Kaleb vamos liderar a infiltração. Gentilli, Hernani e Greg, vocês vão se concentrar na cobertura e evacuação. Moretti e Logan, vocês vão coordenar as posições de apoio e garantir que nada saia do controle. — Enrico explicou, traçando as direções com o dedo no mapa. — Lembrem-se, a missão é resgatar e sair rapidamente. Nada de heroísmo. Nosso foco é salvar vidas, não buscar vingança.
Gentilli sorriu, sua expressão sempre misturando leveza e seriedade.
— Acho que o Zeus vai gostar dessa missão. — Ele disse, referindo-se ao cão de trabalho que sempre os acompanhava em suas operações, com sua habilidade aguçada para detectar explosivos e inimigos.
Enrico olhou para o cão, que estava deitado na sombra, aparentemente descansando, mas sempre atento.
— Espero que ele seja mais rápido que o resto de nós. — Enrico sorriu, e a tensão no grupo pareceu diminuir por um momento.—
Era isso que ele precisava, a equipe ao seu lado, com confiança, dedicação e uma unidade que nenhum inimigo poderia quebrar. Não importava o que o futuro lhes reservava, Enrico sabia que, enquanto estivessem juntos, eles seriam mais fortes do que qualquer desafio que encontrassem.
A equipe se dispersou rapidamente, cada um indo para o seu posto de preparação, com a confiança de quem sabia exatamente o que estava fazendo. A tensão ainda estava lá, invisível, mas agora o foco era total. Enrico observou todos se movimentando em sincronia, como se fossem uma extensão do próprio corpo. A missão estava prestes a começar, e ele sentia o peso da responsabilidade em cada passo que dava.
Kaleb se afastou, dirigindo-se ao armário de equipamentos, enquanto Hernani e Russani conferiam as munições e os dispositivos de comunicação. Logan, o veterano, já estava ajustando o seu fuzil de precisão, com a calma de quem já esteve em situações muito mais extremas. Ele sabia que a cobertura deles seria crucial para o sucesso da missão.
Enrico observou o céu mais uma vez. O calor do dia estava se dissipando lentamente, e a noite começava a cair sobre o campo, trazendo uma falsa sensação de calma antes da tempestade que se aproximava. Ele sabia que a escuridão seria tanto uma aliada quanto uma inimiga. O tempo estava contra eles.
— Vamos revisar os detalhes uma última vez. — Enrico disse, olhando para sua equipe, agora reunida ao redor da mesa, os rostos iluminados pela luz fraca das lanternas. Ele respirou fundo e começou a traçar novamente o plano de ação no mapa.
— Nosso objetivo é simples: — ele disse, firme, olhando cada um nos olhos. — Entrar rápido, localizar e resgatar os reféns, neutralizar qualquer ameaça e sair com a evacuação garantida. Não temos tempo para hesitação. Se algo der errado, o plano de contingência entra em ação. Mas precisamos ser rápidos, silenciosos e, acima de tudo, eficazes.
Kaleb levantou uma sobrancelha.
— E quanto ao perímetro inimigo? — Ele perguntou. — Temos certeza de que não estão esperando por nós?
— O alvo está em uma área de alto risco, mas temos inteligência suficiente para fazer a infiltração sem sermos detectados, desde que sigamos o plano. — Enrico respondeu, apontando para uma área no mapa onde o inimigo estava concentrado, mas onde a cobertura natural poderia ser usada a seu favor. — A infiltração será por via terrestre, por uma rota secundária. O helicóptero fará a evacuação, mas vai ter que ser rápida, sem grandes acenos de luz ou som. O último ponto de extração será no topo de uma colina. Se algo der errado, será nossa única chance.
Russani, o mais jovem da equipe, olhou para o mapa com uma expressão concentrada.
— Você acha que a rede de comunicações vai aguentar a distância? — ele perguntou, com um tom cauteloso. — Sabemos que a área está cheia de interferências, e qualquer falha pode comprometer toda a operação.
Enrico acenou com a cabeça.
— A tecnologia está mais confiável agora, mas sempre temos que estar preparados para o pior. Eu confio nos nossos rádios, mas se houver uma falha, vamos nos comunicar por sinais de luz. O plano vai funcionar se cada um fizer sua parte.
— E quanto ao tempo de resposta do inimigo? Eles sabem que estamos chegando ou nossa aproximação será uma surpresa?— Hernani perguntou.—
— Não temos certeza de nada, mas o mais provável é que o inimigo não saiba da nossa operação até estarmos a caminho. — Enrico respondeu, com uma expressão séria. — Os reféns estão sendo mantidos em uma instalação isolada, sem comunicação com o exterior. Se conseguirmos manter o elemento surpresa, temos uma chance maior de sucesso.
Logan deu uma última olhada no seu rifle, testando as miras e ajustando a configuração para um tiro a longa distância.
— E se o plano falhar? O que é o nosso plano B? — Ele perguntou de forma direta, como sempre.
Enrico olhou para cada um dos membros da sua equipe. A pergunta de Logan era válida. Ele sabia que nenhuma missão estava garantida, especialmente em território inimigo, mas ele não queria alimentar o medo. Queria que sua equipe estivesse concentrada no que precisavam fazer, não nas possibilidades de falha.
— A missão continua, sem importar o que aconteça. — Enrico disse, com a confiança que ele tentava passar, mas que também era um reflexo de sua própria determinação. — Se houver falhas no caminho, a prioridade será a evacuação dos reféns e a segurança de nossa equipe. Não vamos deixar ninguém para trás.
Kaleb fez um gesto com a cabeça, assentindo com a estratégia.
— Bom. E se der certo, o que vai ser? Vamos para um resort no Havai? Ou você vai nos levar para mais uma missão suicida? — Kaleb riu, tentando aliviar um pouco a tensão do momento, mas Enrico percebeu que ele estava, na verdade, buscando segurança em meio ao caos iminente.
Enrico sorriu brevemente, mas o brilho nos seus olhos era mais sério do que qualquer piada que Kaleb pudesse fazer.
— Se der certo, vamos tirar uns dias de folga, mas só se vocês me deixarem dormir sem essa cara de cachorro perdido. — Ele brincou, mas logo se recompôs. — A missão vem em primeiro lugar, pessoal. Agora, vamos para a preparação final. Revisem os equipamentos e mantenham-se prontos. Estamos indo para algo que ninguém pode prever.
A equipe acenou, entendendo o que estava em jogo. A camaradagem, a confiança mútua e o entendimento de que sua força estava na união deles se refletiam nos olhares e na atitude de cada membro.
Enrico olhou para o relógio. O tempo estava passando rápido. O helicóptero de evacuação estaria pronto em trinta minutos, e eles precisavam estar a postos. Não havia mais tempo para hesitação. Eles tinham uma missão a cumprir, e nenhum de seus integrantes faria a diferença sozinho. Como sempre, a equipe era maior do que qualquer um de seus membros.
— Vamos. Hora de fazer o trabalho. — Enrico concluiu, sua voz firme e cheia de determinação.
A equipe se dispersou novamente, indo para suas posições. Enrico se manteve onde estava, um pouco afastado, observando. Sabia que, apesar de tudo o que estava em jogo, ele tinha os melhores homens e mulheres ao seu lado. Eles não seriam derrotados.
A missão estava prestes a começar.
****
O sol estava se pondo no horizonte desértico, tingindo o céu de tons de laranja e vermelho. Enrico ajustou o rádio em seu ombro enquanto observava o terreno montanhoso à sua frente. Ele e sua equipe estavam no Afeganistão, em uma missão de resgate para recuperar dois reféns mantidos por um grupo insurgente em um complexo isolado. A tensão pairava no ar como uma presença invisível, cada som amplificado pela incerteza.
O plano era simples: infiltrar-se rapidamente, resgatar os reféns e sair antes que os insurgentes tivessem tempo de reagir. Contudo, enquanto avançavam pelo desfiladeiro estreito, algo não parecia certo. O silêncio era opressor. O som do vento parecia quase inexistente, e até mesmo os pássaros haviam desaparecido.
— Tenente, está muito quieto. — murmurou um dos soldados, segurando o fuzil com força.
Enrico assentiu, seus olhos examinando os penhascos ao redor. — Fiquem atentos. Isso pode ser uma emboscada.
Foi quando o primeiro tiro ecoou. Um disparo seco que atingiu o chão a poucos metros deles, seguido por uma explosão que levantou poeira e pedras no ar. O mundo ao redor explodiu em caos. Enrico gritou ordens pelo rádio enquanto sua equipe buscava cobertura entre as rochas.
— Temos franco-atiradores! Localizem as posições! — ele ordenou, sua voz firme apesar da adrenalina correndo por suas veias.
Os insurgentes estavam escondidos nos penhascos acima, atirando de posições estratégicas. A equipe de Enrico respondeu ao fogo, mas estavam em desvantagem. Ele sabia que precisavam agir rápido antes que fossem completamente cercados.
— Delta, flanqueiem pela esquerda. Bravo, cubram a retaguarda! — gritou ele, avançando para uma posição mais alta.
Enquanto o tiroteio continuava, Enrico percebeu que o rádio estava cheio de interferências. Os insurgentes provavelmente estavam bloqueando o sinal para isolá-los.
De repente, uma explosão mais forte sacudiu o desfiladeiro, fazendo pedras deslizarem das encostas. Enrico foi jogado ao chão, seu capacete absorvendo parte do impacto. O som agudo nos ouvidos o deixou temporariamente desorientado, mas ele forçou-se a levantar, com o gosto de poeira na boca.
Olhando ao redor, ele viu dois de seus homens tentando avançar para resgatar os reféns, que haviam sido movidos para uma pequena caverna. Enrico sabia que era agora ou nunca.
— Carga de fumaça! Cobertura total! — ele ordenou. Uma cortina de fumaça começou a se espalhar, bloqueando a visão dos franco-atiradores.
Enrico liderou o avanço, seu coração martelando no peito. O tempo parecia desacelerar enquanto ele e os outros corriam sob fogo pesado. Ele disparou contra um insurgente que apareceu à frente, derrubando-o antes que pudesse reagir.
Finalmente, alcançaram a entrada da caverna. Os reféns estavam lá, amarrados e amordaçados, mas vivos. Enrico rapidamente cortou as cordas enquanto seus homens davam cobertura.
— Estamos saindo! Recuem agora! — ele gritou pelo rádio.—
Enquanto corriam de volta pelo desfiladeiro, os tiros ainda ecoando, Enrico sentiu o peso da missão em seus ombros.
Antes que pudesse dar mais instruções, o som de uma explosão os fez se abaixar instantaneamente, procurando abrigo atrás de um grande pedaço de concreto. A força da explosão lançou pedaços de metal e terra para todos os lados. Enrico, com o corpo tenso, observou pela sua mira o movimento dos inimigos ao longe, prontos para atacar. Ele sabia que o tempo estava se esgotando.
Eles estavam quase atravessando o desfiladeiro quando um disparo rápido cortou o ar. Enrico mal teve tempo de reagir antes de sentir uma dor lancinante em braço esquerdo. O impacto foi violento, e ele cambaleou para trás, caindo parcialmente no chão, o peso do ferimento o puxando para a terra.
Kaleb, que estava ao seu lado, viu o sangue escorrer rapidamente pela camisa de Enrico. A expressão de preocupação no rosto de seu amigo foi instantânea, mas não havia tempo para hesitar. Ele se abaixou rapidamente, pegando Enrico pelos ombros.
— Porra, Tenente! Isso não está bom! Preciso de você comigo agora! Logan, Gentilli, Russani! Alguém! Socorro!"
Mas os inimigos estavam se aproximando rapidamente, e eles não podiam parar. Logan e Russani começaram a atirar em direção ao som dos disparos, forçando os inimigos a se agacharem, enquanto Enrico tentava se recuperar.
— Não... não parem! Continue... precisamos...
Ele estava com dificuldade para respirar. O peito ardia, e a dor era insuportável. Mas, como sempre, sua determinação era mais forte do que qualquer ferimento. Ele tentou se apoiar, mas o mundo ao redor parecia girar. Ele olhou para Kaleb, que estava se esforçando ao máximo para ajudá-lo, mas seu corpo já estava lutando contra o impacto do tiro.
—Kaleb... só... apenas... resgatem...
Kaleb, ainda segurando seu comandante, olhou para ele com um misto de raiva e preocupação. O fogo e o caos ao redor não faziam a situação mais fácil, mas ele sabia que não podia deixar Enrico para trás.
—Eu não vou deixar você aqui, tenente. Vamos sair daqui juntos! Você não vai morrer no meu turno Rizzo.
Ele olhou para os outros, fazendo um gesto rápido. Logan e Gentilli já estavam se movendo para ajudar, enquanto Russani. Moretti e Greg cobria as costas de todos, atirando e mantendo os inimigos à distância. O som das balas atravessando o ar e os gritos de comando de Enrico eram agora um pano de fundo distante, obscurecido pela dor que tomava conta de seu corpo.
—Não pense nisso, Enrico! Agora é a nossa vez de cuidar de você!"
Mas Enrico estava determinado. Ele gritou para os outros.
—Não... não... voltem atrás... resgatem os outros... não podemos...
— Já basta, tenente! Vamos sair daqui, agora!— Falou Kaleb com raiva.—
Enquanto Kaleb e Logan ajudavam Enrico a se mover, uma série de tiros próximos fez todos se abaixarem instintivamente. O medo de ser atingido novamente pairava no ar, mas a missão estava longe de ser concluída. O som das explosões ainda os cercava, e Enrico, com os olhos semicerrados, se agarrava a sua liderança e coragem, sabendo que, mesmo com a dor, a equipe não poderia parar agora. Eles precisavam terminar o que haviam começado.
Com uma última tentativa de se manter acordado, Enrico viu Greg, Moretti e Russani se movendo para limpar o terreno e resgatar os outros sobreviventes. Mesmo ferido e à beira da perda de consciência, Enrico sabia que seus homens não o deixariam para trás.
***
O helicóptero cortava o céu em alta velocidade, o som do motor abafando qualquer outro ruído. Enrico estava deitado na maca, seu rosto pálido e suado, enquanto as mãos tremiam ligeiramente. Ele pressionava a região do peito com força, tentando ignorar a dor lancinante que vinha do ferimento. O tiro, um rasgo violento perto do coração, havia sido quase fatal, mas a sorte parecia estar ao seu lado. Seus olhos estavam vidrados, a consciência começando a se esvair.
"Milena..." sussurrou ele, com um fio de voz, o nome dela escapando de seus lábios como uma oração. Seus olhos se fecharam por um instante, o corpo inteiro se apertando de dor.
Os paramédicos no helicóptero, atentos, estavam concentrados em estabilizá-lo. A pressão arterial de Enrico estava caindo rapidamente, e eles sabiam que cada segundo contava. Ele parecia flutuar entre a realidade e a inconsciência, com o nome de Milena reverberando em sua mente.
Finalmente, o helicóptero aterrissou em um campo do hospital militar. As portas se abriram, e as equipes de emergência correram até Enrico, levando-o rapidamente para dentro do hospital. O ambiente frio e clínico parecia distante para ele, que ainda chamava o nome de Milena em delírios.
—Preparem a sala de cirurgia, rápido!— gritou o cirurgião chefe. Eles o conectaram a máquinas, e os monitores começaram a bipar com regularidade, enquanto os médicos faziam o primeiro corte no peito de Enrico. A bala estava perto do coração, e a operação exigia precisão. A sala de cirurgia estava em completo silêncio, exceto pelo som das lâminas cortando a carne e os comandos rápidos do cirurgião.
Após momentos de tensão, a bala foi finalmente retirada. Enrico estava inconsciente, mas ainda respirava com dificuldade. Os médicos continuaram a operar, fazendo os reparos necessários nas artérias e tecidos danificados. Seu corpo estava enfraquecido, mas havia resistência nele.
—Ele vai ficar bem, mas precisamos monitorá-lo de perto nas próximas horas.— disse o médico, ao ver que o ferimento havia sido tratado com sucesso.—
Enrico foi colocado em uma cama de recuperação, os monitores em silêncio agora, e ele permanecia inconsciente, ainda chamando o nome de Milena em sua mente, onde as imagens dela o confortavam em meio à dor e à escuridão.
****
O silêncio na sala de recuperação foi quebrado por um som suave, quase imperceptível, mas suficiente para alertar os enfermeiros próximos. Os olhos de Enrico se moveram lentamente sob as pálpebras fechadas, um pequeno tremor passando por seu corpo, como se ele estivesse voltando de um longo e profundo abismo.
Gradualmente, os sons começaram a se tornar mais claros — o bip do monitor cardíaco, o som constante da respiração artificial, o sussurro distante de conversas na enfermaria. Sua mente estava confusa, como se estivesse tentando reunir as peças de um quebra-cabeça que não fazia sentido. Ele não sabia o que havia acontecido, não lembrava da dor ou da situação que o havia levado até ali.
Então, uma sensação de dor fina e constante atravessou seu peito, e ele deixou escapar um suspiro fraco. Seu corpo, ainda fraco, protestava contra o simples ato de tentar se mover. A respiração, ofegante e irregular, era o único indício de que ele estava começando a emergir da inconsciência.
Com dificuldade, Enrico abriu os olhos. A luz forte da sala de recuperação invadiu sua visão, tornando tudo em borrões e formas indistintas. Ele piscou várias vezes, tentando ajustar o foco, até que finalmente viu o rosto de uma enfermeira à sua frente, com um semblante tranquilo, mas preocupado.
—Tenente? Pode me ouvir? —A voz dela era suave, mas firme, tentando alcançar sua mente atordoada.
Ele tentou falar, mas a garganta parecia seca, e a única coisa que conseguiu foi um som rouco e abafado. Sentiu uma pressão em seu peito e percebeu que algo estava conectado a ele, talvez tubos ou fios, mas a sensação era nebulosa, como se ele estivesse em uma névoa densa.
—Milena. — murmurou com voz trêmula, sem controle. O nome saiu de seus lábios, como um reflexo automático, uma tentativa desesperada de alcançar algo familiar, alguém que estava em sua mente, talvez uma lembrança distante, uma pessoa que ele queria desesperadamente ver.
A enfermeira olhou para ele com expressão suavemente preocupada.
—Você está seguro, Tenente. Tudo está bem agora. Você passou por uma cirurgia, mas está se recuperando.
Enrico tentou mover a cabeça, buscando mais clareza, mas a dor no peito e a fraqueza o impediram. Seus olhos se fecharam por um momento, e ele tentou concentrar-se em se lembrar, em perceber o que estava acontecendo, mas as palavras de Milena ecoavam em sua mente.
O som do monitor cardíaco se estabilizou, seus batimentos voltando ao ritmo normal, e a enfermeira anotou alguns dados, vendo que ele começava a despertar.
—A recuperação será lenta, mas você está vivo, Tenente.— ela disse com um leve sorriso, tentando tranquilizá-lo.
Enrico, com a voz fraca e entrecortada pela dor, tentou se mover, mas o peso da exaustão e do ferimento o manteve imóvel. Seus olhos estavam opacos, mas uma expressão de desespero surgiu em seu rosto. Ele tentava alcançar algo, alguém, e o nome que escapou de seus lábios novamente foi o mesmo.
—Milena... Eu preciso ver ela... Eu preciso ver a Milena...— A voz dele estava trêmula, sua voz estava grogue, como se ele estivesse implorando, sua necessidade de ver a mulher que preenchia sua mente quase dominando seus pensamentos.
A enfermeira, percebendo a angústia e o esforço do tenente, se aproximou com mais cautela, mantendo uma postura tranquilizadora. Ela sabia que a situação era delicada, que o choque e a dor poderiam estar distorcendo suas percepções. Colocando uma mão suave sobre o ombro dele, tentou acalmá-lo.
—Calma, tenente. —disse com uma voz gentil, mas firme. —Não se esforce tanto, o senhor precisa ficar calmo. A sua família já foi informada. Está tudo sob controle. O senhor precisa descansar...
Enrico fechou os olhos, tentando processar as palavras dela, mas o nome de Milena ainda estava em sua mente como uma obsessão. Ele queria sentir a presença dela, queria ver o rosto que parecia ser a única coisa que poderia dar-lhe alguma paz.
A enfermeira fez uma breve pausa e, com a experiência de quem já lidou com muitas situações semelhantes, percebeu a necessidade emocional de Enrico, apesar de sua fragilidade física.
Enquanto ela se afastava para verificar os monitores e os sinais vitais, Enrico ficou imóvel, tentando lidar com a angústia que o consumia. O vazio de não poder estar com Milena, o desejo urgente de vê-la, era um peso sobre ele, mas ele não conseguia fazer nada além de esperar que sua vontade fosse atendida.
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