22° A dona aranha
Milena pegou as roupas e foi até o banheiro, que, apesar do espaço pequeno, era aconchegante. As paredes tinham azulejos antigos, e a luz amarelada criava um ambiente agradável e convidativo.
Ela suspirou, pronta para o banho, até que notou algo que a fez congelar.
No canto superior da parede, uma aranha enorme, com patas longas e um corpo escuro, estava imóvel, quase como se a estivesse encarando. Milena prendeu a respiração, e uma sensação de pânico começou a tomar conta dela. Sem conseguir tirar os olhos da criatura, deu alguns passos para trás, mas logo perdeu qualquer traço de coragem e, num impulso, soltou um grito assustado. Em questão de segundos, ela correu para fora do banheiro e praticamente pulou nos braços de Enrico.
Pego completamente de surpresa, Enrico deu um passo atrás, segurando-a firme enquanto tentava se equilibrar, os braços ao redor dela.
— Milena! O que... você está fazendo? — Ele perguntou, alternando entre a confusão e a risada, ainda tentando entender o que tinha acontecido.
— Mio dio! Tem uma aranha lá dentro! — Ela apontou com o dedo trêmulo na direção do banheiro, o rosto enterrado contra o peito dele como se não aguentasse encarar o "inimigo" de novo.
Enrico olhou para o banheiro e encontrou a aranha, que, pequena e imóvel, parecia bem menos ameaçadora do que a reação de Milena sugeria. Ele segurou uma risada, mas não conseguiu esconder o sorriso que se formava.
— Você só pode estar brincando. Davvero? Está com medo de uma aranha, Milena?
— Muito sério! Enrico, faz alguma coisa, por favor! — Ela olhou para ele, a súplica no olhar, e ele não resistiu.—
— Achei que você não tivesse medo de nada, cara mia... — Ele provocou, o sorriso crescendo ao notar o pavor genuíno dela.—
— Enrico, aquilo é um monstro de oito patas! Não posso ficar lá com essa coisa que pode pular em cima de mim a qualquer momento!
— Você me usou como escudo humano por causa de uma aranha inofensiva? — Ele riu, achando a cena engraçada e inesperada.
Milena, ainda agarrada ao pescoço dele, ergueu o rosto, os olhos brilhando de medo e um toque de indignação.
— É um monstro, Enrico. Tem oito patas, e eu juro que estava me encarando. Ela pode ser venenosa... E tamanho não é documento...
Ele suspirou, ainda rindo baixinho.
— Va bene, va bene... Eu resolvo. — Ele piscou para ela, tentando tranquilizá-la. Ao tentar se afastar para pegar a aranha, no entanto, notou que Milena ainda estava firme em volta dele, sem intenção de soltá-lo tão cedo. Ele deu uma leve sacudida para que ela descesse. — Milena, você vai me soltar? Ou pretende ficar aí o resto da noite?
Ela suspirou e desceu dos braços dele, dramaticamente, mas ficando em cima da cama.
— Só porque confio que você é um excelente caçador de monstros de oito patas, capito?
Ainda segurando o riso, Enrico pegou um copo e um pedaço de papel, enquanto Milena o observava a uma distância segura, em pé sobre a cama e pronta para se atirar nele novamente caso a aranha tentasse escapar.
Com um movimento rápido e preciso, ele capturou a aranha sob o copo, e, levando-a até a pequena janela, libertou-a para fora com uma leve sacudida. Ele fechou a janela e voltou-se para Milena, que soltou um longo suspiro de alívio, a mão no peito enquanto tentava controlar o coração acelerado.
— Problema resolvido, a missão foi cumprida, principessa... — Enrico disse, o tom cheio de humor, olhando para Milena com um brilho de diversão nos olhos.
Ela respirou fundo, ainda sentindo o alívio e a adrenalina do susto.
— Grazie mille, Enrico. — Ela disse, sorrindo um pouco embaraçada, enquanto ele apenas ria.
— Sempre ao seu dispor, cara mia.
Milena riu, ainda um pouco nervosa, enquanto Enrico, sem tirar o sorriso do rosto, se aproximava dela com o ar de quem tinha acabado de ganhar uma medalha.
— Quer dizer então que a garota que salta de aviões e se aventura sem medo... é derrotada por uma simples aranha? — Ele perguntou, ainda rindo, provocando-a com uma sobrancelha arqueada.
— Ei, era uma aranha enorme! — Milena protestou, cruzando os braços, com um toque de indignação nos olhos brilhantes. — E você, senhor corajoso, com certeza já enfrentou situações bem piores do que monstros de oito patas, então não deveria estar rindo assim de mim.
Ele sorriu, piscando de forma provocadora.
— Verdade, já enfrentei, mas nenhuma foi tão divertida quanto esta. — Ele disse, observando-a com cautela.—
Milena balançou a cabeça, tentando ignorar o rosto divertido dele.
— Não foi divertido para mim. — Ela murmurou, tentando manter o tom sério, mas sem sucesso, pois acabou rindo. Enrico apenas observou, os olhos brilhando em um misto de ternura e humor.—
— Tudo bem, agora que a ameaça foi neutralizada, — ele deu uma leve batidinha no peito como se fosse um herói, arrancando mais uma risada dela, — é a sua vez de enfrentar o banho sem monstros. Não vou deixar mais nenhum bicho entrar no banheiro, prometo. — Enrico disse, apontando para a porta do banheiro com um gesto cavalheiresco.
Milena soltou um suspiro, finalmente relaxando.
— Só vou aceitar porque você prometeu. — Disse, levantando o dedo para ele de forma divertida antes de ir em direção ao banheiro. — Antes de entrar, ela se virou para ele com um sorriso brincalhão.— E se eu encontrar outro monstro, vou correr para o meu herói italiano me salvar de novo.
Ele deu uma risada calorosa, balançando a cabeça.
— Sempre a tua disposizione, principessa.
Milena finalmente entrou no banheiro, rindo, e Enrico ficou do lado de fora, balançando a cabeça enquanto se sentava na poltrona. O som do chuveiro ligando trouxe uma paz inesperada, e ele relaxou, sentindo uma satisfação tranquila. Por mais simples que fosse, aquela situação entre eles — as risadas, os momentos de susto e as provocações — fazia Enrico sentir que, talvez, esse fosse o momento mais significativo que haviam compartilhado em muito tempo.
Quando ela terminou, Milena saiu do banheiro com os cabelos ainda úmidos, vestindo a roupa confortável que ele comprara para ela, e lançou-lhe um olhar agradecido.
— Agora é a sua vez. — Ela disse, cruzando os braços com um sorriso vitorioso.
— Vou tentar sobreviver sem monstros. — Ele respondeu, erguendo as sobrancelhas.
Assim que ele entrou no banheiro, Milena se jogou na cama, rindo sozinha ao lembrar do salto acrobático que dera nos braços de Enrico por causa de uma simples aranha. Era estranho como a presença dele tornava tudo mais leve, mais divertido. Ela se aconchegou nos lençóis, sentindo a sensação gostosa de segurança e conforto.
Enrico saiu pouco tempo depois, ainda com os cabelos molhados, e parou na porta, observando Milena, que agora estava deitada, olhando o teto com um sorriso no rosto.
— Parece que alguém está mais tranquila agora. — Ele comentou, secando os cabelos com uma toalha.
Milena sorriu, sentindo o rosto esquentar. — Talvez um pouco.
Ele apagou a luz principal, deixando apenas um abajur aceso. Aproximou-se, sentando na beirada da cama, e ficou em silêncio por um momento, observando-a.
— Buona notte, cara mia. — Ele murmurou, a voz baixa e suave.
— Buona notte, Enrico. — Ela respondeu, fechando os olhos com um sorriso suave, e a puxa para mais perto, envolvendo-a em um abraço que transmite segurança e carinho. Suas respirações se misturam, e ambos sentem o coração acelerar, como se cada batida sincronizasse com a do outro. Suas mãos se entrelaçam, os dedos deslizando suavemente, explorando a textura da pele do outro em uma dança tranquila. No silêncio, a conexão entre eles se torna ainda mais intensa, criando uma lembrança que parece suspensa no tempo.—
— Enrico...
— Sim!
— Isso não está dando certo... Não vou conseguir dormir com você me cheirando e me abraçando dessa forma.
Ele sorri, com aquele brilho travesso nos olhos, mas não afasta o abraço, apenas o aperta um pouco mais, fazendo com que ela se aconchegue contra seu peito.
— Estou te incomodando tanto assim? — ele murmura, a voz baixa e calorosa junto ao ouvido dela.
Ela solta uma risada suave, sentindo o coração disparar.
— Você sabe muito bem o que está fazendo Tenente... — responde, tentando soar firme, mas há um riso em sua voz.
Ele desliza os dedos delicadamente pelo cabelo dela, afastando uma mecha para olhar em seus olhos. O toque é suave, quase como se ele quisesse prolongar aquele momento.
— Só estou tentando me certificar de que você fique por perto... — ele diz, a voz quase um sussurro. — Só estou aqui cuidando de você — diz ele, com uma expressão brincalhona. — Vai que outra aranha aparece por aí. Preciso estar preparado para te proteger... Mas, se eu estiver te incomodando, posso parar...
Ela solta uma risada mais solta, mas o coração dispara ainda mais com as palavras dele.
— Está me protegendo, então? — ela responde, com um sorriso leve. — Não tenho certeza se você é mais perigoso que a aranha...
Ele ri baixinho e aproxima o rosto, seus olhos intensos fixos nos dela.
— Prometo que só vou te assustar o suficiente para você não querer ir embora — sussurra, a voz suave e carinhosa.
Ela balança a cabeça, os rostos próximos o suficiente para que a respiração de ambos se misture, e responde:
— Acho que não tem perigo de eu querer ir a lugar algum, ainda mais com essa chuva...
Enrico sorri, e seus dedos deslizam lentamente pelo rosto dela, traçando o contorno de sua pele com uma gentileza que faz o coração dela bater ainda mais rápido.
— Ainda bem... porque eu não te deixaria escapar tão fácil — ele diz, a voz baixa e envolvente.
Ela fecha os olhos, sentindo o toque suave de Enrico e a calmaria que ele traz, como se estivessem no mundo deles, fora de qualquer outra preocupação. Quando abre os olhos, ele está ainda mais perto, o rosto tão próximo que quase não há distância entre eles.
— Não vai me deixar escapar? — ela pergunta, a voz num sussurro que carrega uma mistura de nervosismo e expectativa.
Enrico solta uma risada baixa, mantendo o olhar fixo nos dela.
— Nem um pouco — responde, os dedos agora segurando o rosto dela com ternura. — Vou ficar aqui... protegendo você de todas as aranhas, medos e qualquer coisa que te faça querer fugir.
Ela sente o peito aquecer com aquelas palavras, e, sem pensar muito, aproxima-se ainda mais, até que seus lábios finalmente se tocam, num beijo suave, sem pressa, que traduz toda a intensidade que ambos tentavam esconder.
Com calma, ele a conduz a um beijo, primeiro suave e hesitante, como se quisesse saborear cada segundo. O beijo se aprofunda lentamente, e ambos se perdem na sensação, esquecendo-se do mundo lá fora. Estão apenas os dois, envolvidos naquele instante que parece eterno, onde o tempo se dilui em pura conexão e ternura.
Quando se separam, ele a envolve novamente em seus braços e sussurra:
— Agora, prometo que vou tentar deixar você dormir. Mas só um pouco.
Ela sorri, aconchegando-se ainda mais no abraço dele, com a certeza de que, naquela noite, naquela noite, estava exatamente onde queria estar.
***
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