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21° CENA DE FILME


Enquanto voltavam para casa de moto, o céu, que antes exibia apenas nuvens esparsas, começou a escurecer rapidamente. Em questão de minutos, a chuva desabou sobre eles em uma torrente fria e implacável. Enrico segurava firme o guidão, e Milena, agarrada à cintura dele, tentava manter-se o mais seca possível, mas o aguaceiro parecia não ter fim. O vento e a chuva se tornaram intensos em poucos minutos, forçando Enrico a desacelerar e buscar refúgio.

— Precisamos parar, bella. Se continuarmos assim, vamos congelar. — gritou ele para ser ouvido em meio ao som da chuva e do motor.

 Após alguns quilômetros, avistaram uma pequena pousada iluminada no meio da estrada, quase escondida pela neblina e pelas árvores. Assim que chegaram, estacionaram a moto e correram para a entrada, encharcados e ofegantes, enquanto as gotas continuavam a tamborilar no telhado de madeira.

 Era um local aconchegante e rústico, com uma luz acolhedora escapando pelas janelas embaçadas, prometendo um refúgio do frio. Ao entrarem, enxarcados e trêmulos todos os olhares se voltaram para o casal recém chegado. Principalmente para Enrico que estava usando o uniforme milita... Eles caminharam até a recepção, e foram recebidos por uma recepcionista simpática que, com um olhar de desculpas, informou:

— Boa noite! Infelizmente, parece que todos decidiram se abrigar da chuva por aqui — disse, gesticulando para o pequeno saguão repleto de hóspedes, alguns já acomodados em cadeiras e outros nas mesas esperando pelo pedido do jantar, enquanto tentava se esquentar.

— A senhora não teria... nada? — insistiu ele.—

— Estamos lotados esta noite. Só nos resta um quarto... e apenas com uma cama de casal. Não há mais nada disponível

Milena sentiu suas bochechas corarem, e um sorriso nervoso escapou ao olhar para Enrico, que pareceu ponderar por um momento. Ele então a encarou com um leve arquear de sobrancelhas, como quem diz: "O que acha?"

— Bem, já estamos aqui, encharcados e sem alternativa... — disse ele, com um tom divertido e um meio sorriso no rosto.—

Milena suspirou e assentiu, tentando não se deixar afetar pela ideia.

— Claro... parece que não temos escolha.

— Estamos lotados esta noite. Só nos resta um quarto... e apenas com uma cama de casal.

Enrico e Milena trocaram olhares brevemente, e ele ergueu uma sobrancelha em um gesto de aceitação, com um sorrisinho malicioso no canto dos lábios.

— Parece que teremos que nos virar, não acha, cara mia? — disse ele, fazendo-a rir e revirar os olhos.

Milena suspirou e assentiu, tentando não se deixar afetar pela ideia.

— Claro... parece que não temos escolha.

— Eu vou ficar com ele. — Enrico acrescentou de maneira tranquila, e pegando a carteira para pagar pela hospedagem.—

Milena lançou um olhar quase de alívio ao ver Enrico resolver a situação. Entretanto, o frio logo a trouxe de volta à realidade, e ela olhou para ele, tocando o braço dele com as mãos geladas.

Amore... — disse ela em um tom trêmulo, tentando chamar sua atenção.

Ele virou-se, um tanto surpreso pela forma como ela o chamara como pelas suas mãos geladas e tremulas.

 — Sì, che c'è?

— Ali — apontou com um movimento de cabeça, indicando uma pequena lojinha de conveniência do outro lado do quiosque. — Per favore, compra algo para eu me aquecer. — Os olhos dela imploravam, um leve tremor escapando em sua voz.

Ele soltou uma risada suave, segurando os ombros dela brevemente.

— Va bene, andiamo li!

Assim que a recepcionista entregou as chaves, Milena não hesitou em pegar o braço de Enrico e puxá-lo para a lojinha ao lado da recepção. Era um lugar simples, com algumas prateleiras e araras abarrotadas de agasalhos, camisetas e artigos variados, todos com estampas turísticas da região.

Ela parou em frente a uma arara de roupas, passando os dedos rapidamente por uma sequência de camisetas que exibiam frases exageradas, e cores excêntricas...  Ela ergueu ás mãos, em uma delas, uma camiseta roxa com uma estampa de vaca sorridente, e na outra uma camiseta branca escrito " salve ás baleias" e mostrou para Enrico.

 Enrico riu e pegou outra camiseta da arara, uma preta com a frase em italiano "Sono un duro"  "Eu sou durão". 

— Acho que essa combina mais comigo, não acha? — Ele ergueu a camiseta e fez uma expressão exagerada de seriedade, arrancando uma gargalhada de Milena. —

— Sem dúvida, durão — disse ela, rindo. — Vou levar esse agasalho aqui também. — Ela pegou um moletom de cor neutra e uma calça de moletom para combinar.

Após escolherem as roupas, seguiram para a seção de higiene pessoal. Milena pegou uma escova de dentes e uma pequena pasta, enquanto Enrico apanhava um sabonete e um frasco de shampoo. Quando ele pegou um pente, ela ergueu uma sobrancelha.

Ela parou em frente a uma arara de roupas, passando os dedos rapidamente por uma sequência de camisetas que exibiam frases exageradas como "Eu amo o campo!" ou— O que acha dessa, Enrico riu e pegou outra camiseta da arara, uma preta com a frase em italiano— Sem dúvida,— Sem dúvida, durão

— Vai querer se pentear, tenente? — provocou, com uma risadinha.

— Você acha que eu vou te impressionar com o cabelo bagunçado pirralha? — respondeu ele, piscando, e colocando o pente no carrinho improvisado.

Com as roupas e os artigos de higiene escolhidos, seguiram para o caixa. A expressão de cansaço em seus rostos logo foi substituída por um brilho animado; a situação havia tomado um rumo inesperado e, de certa forma, divertido.

— Pronta para enfrentar essa noite, cara mia? — perguntou Enrico, pegando as sacolas com as roupas e produtos.

Milena assentiu, rindo, enquanto ele segurava a porta da lojinha para ela passar. 

— Vamos nessa, tenente.

Com as sacolas em mãos e o som da chuva forte caindo lá fora, Enrico e Milena subiram pela escada estreita até o andar onde ficava o quarto. A pousada tinha uma atmosfera rústica e acolhedora, com paredes de pedra e corredores iluminados por lâmpadas de luz amarelada, que deixavam o ambiente ainda mais aconchegante.

Eles pararam diante da porta marcada com o número 12. Enrico girou a chave e empurrou a porta, revelando um quarto simples, mas confortável, com móveis de madeira escura e uma janela que dava vista para a estrada, agora coberta pela neblina da chuva. No centro, uma cama de casal, coberta por uma colcha azul-marinho, ocupava a maior parte do espaço, e havia um tapete macio e colorido ao lado. Milena entrou primeiro, soltando um suspiro enquanto tirava o casaco molhado e o deixava sobre uma cadeira. Enrico fez o mesmo, pendurando o seu junto ao dela, antes de largar as sacolas na mesa ao lado da cama.

— Bem, é o que temos para a noite, cara mia — disse Enrico com um sorriso meio brincalhão, ajeitando os ombros para aliviar o cansaço.

Milena deu uma risadinha, observando o quarto pequeno mas acolhedor.

— Parece perfeito pra mim. — Ela passou as mãos pelos braços, ainda sentindo um leve arrepio pelo frio.—

Enrico notou e pegou o moletom que tinham acabado de comprar, estendendo-o para ela.

 — Troque essa roupa. Não quero você gripada.

Ela deu um meio sorriso e respondeu, puxando a colcha da cama para se ajeitar ao lado dele.

— Parece cena de filme, não acha?

— Totalmente. 

Ela sorriu agradecida e, com o moletom nas mãos, sumiu no banheiro para se trocar. Enquanto isso, Enrico deu uma última olhada pela janela, observando a chuva que ainda caía pesada, antes de sentar-se na beira da cama, o leve som da água trazendo uma tranquilidade inesperada, que foi interrompida por poucos segundos com um grito de Milena.

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