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13° Não posso me envolver



- Você sabe, Tenente... - disse, com o olhar semicerrado e um sorriso no canto dos lábios. - Você é um gato. E... eu tenho uma queda por homens fardados... e mais velhos.

- Ah é mesmo? - respondeu, tentando disfarçar o efeito que as palavras dela tinham causado e focando na estrada. - Então talvez você tenha bebido um pouco além da conta.

Milena balançou a cabeça, ainda sorrindo.

- Pode ser... ou pode ser só a minha coragem natural aparecendo. Vai saber, Tenente.

Enquanto dirigia, não conseguia tirar da cabeça a sensação daquele beijo. Milena estava de olhos fechados, ainda sorrindo com aquela expressão de quem tinha um segredo divertido guardado.

E Enrico, contra a própria vontade, se pegou sorrindo também, com um pensamento inevitável na cabeça:

Aquela "maluca" tinha entrado na sua vida como um furacão. Mas era atrevida demais, e perigosa demais... ele sabia que isso poderia ser bem perigoso... por que era fato que Milena era linda e sexy. E aquele beijo por mais simples que tenha sido, tinha mexido em alguma coisa adormecida dentro dele.

O carro seguia pelas ruas silenciosas de Aosta, e o clima entre eles estava envolto em uma tensão divertida e, ao mesmo tempo, inesperada. Milena, sentada ao lado de Enrico, parecia adormecida ou apenas relaxada, com a cabeça encostada no vidro, os lábios ainda curvados em um sorriso satisfeito. Ele observava-a de relance, mas cada vez que desviava os olhos do volante, o sorriso travesso dela parecia crescer, como se ela estivesse ciente de que ele a olhava.

Depois de alguns minutos, Milena abriu os olhos devagar, sentindo o peso do olhar dele sobre ela.

- Sabe... - disse, quebrando o silêncio com a voz baixa e ainda meio sonolenta. - Você é um daqueles caras que acha que consegue controlar tudo, não é tenente?

Enrico deu uma risada breve, sem saber exatamente para onde aquela conversa iria.

- E isso é ruim?

Milena se ajeitou no banco, inclinando-se levemente em sua direção.

- Não é ruim, é só... previsível. - Ela sorriu, um toque de provocação em cada palavra. - Gosto de homens que perdem o controle quando estão ao meu lado. Igual hoje na festa, por exemplo.-Ele ficou em silêncio por um momento, não sabendo ao certo o que responder. Havia algo na forma como ela o olhava, como se enxergasse através da fachada que ele mantinha.- Você acha que perdeu o controle comigo tenente?

- Eu diria que você... - ele hesitou, olhando para frente e depois de voltando para ela. - Me pegou de surpresa. O que é raro, a propósito.

- Acho que eu deveria me sentir lisonjeada, então - disse, com um brilho de travessura nos olhos. - Mas, honestamente, tenente, acho que você se subestima. Eu posso apostar que tem mais... escondido aí do que você admite.- Ele sorriu, ciente de que ela estava brincando com ele, testando-o de uma forma que ninguém costumava fazer. Parou o carro em frente a casa. Milena então se aproximou um pouco mais, até que ele pudesse sentir o perfume dela e a intensidade daquele olhar.- Só pra constar, Tenente, gosto de homens que sabem surpreender... - Ela deslizou os dedos pelo ombro dele, provocando-o. - Será que você é capaz?

Enrico, sem quebrar o contato visual, inclinou-se levemente na direção dela, o rosto a poucos centímetros do dela, e entrou na onda da morena. Ela estava um pouco alegre demais, pois logo após regressarem a festa ela começou a beber.

- Se é isso que você quer... acho que posso me esforçar... Mas não hoje, pois acho que você está um pouco alegre demais.- falou ao abrir a porta do carro e descer para lhe ajudar a sair do veículo. Assim que abriu a porta, Enrico sentiu o toque dos dedos dela percorrendo levemente seu peito, até a gola de sua camisa, de maneira provocante.-

- Tá me dispensando, Tenente? - ela sussurrou, a voz baixa e carregada de uma confiança arrebatadora.- Só para o seu governo, eu não estou bêbada... Estou sóbria até demais meu caro.

Enrico deu uma risada baixa, tentando disfarçar o desconforto que sentia diante da proximidade de Milena. Ele sabia que ela era intensa, mas aquela confiança ousada estava o deixando sem palavras. Ele inclinou a cabeça levemente, olhando diretamente nos olhos dela, que brilhavam sob a luz fraca do poste próximo.

- Não estou te dispensando, Milena - respondeu, a voz grave, mas controlada. - Só acho que você gosta de testar os limites das pessoas... e os meus já estão sendo bem desafiados.

Milena arqueou uma sobrancelha, o sorriso em seus lábios se tornando ainda mais provocante. Ela segurou a gola da camisa dele com mais firmeza e puxou-o levemente para mais perto.

- Testar os limites, Tenente? - murmurou, a voz sedutora. - E o que você faria se eu ultrapassasse?

Enrico segurou delicadamente o pulso dela, afastando sua mão com cuidado, mas sem desviar o olhar.

- Eu diria que você está jogando com fogo, Milena. - Ele inclinou-se ligeiramente, sua voz agora baixa e carregada de algo que ela não conseguiu identificar. - E fogo, por mais bonito que seja, pode queimar.

Por um momento, Milena hesitou. Enrico aproveitou a pausa para recuar e abrir espaço para ela sair do carro.

- Agora, vamos. Acho que você precisa de um café forte... ou de um bom banho de água fria. - Ele sorriu de lado, divertido, enquanto Milena o observava, claramente avaliando se continuava o jogo ou deixava para depois.

Milena desceu do carro com elegância, mantendo aquele olhar desafiador que fazia Enrico sentir que estava sempre um passo atrás dela. Ela ajeitou o vestido de maneira casual, mas que parecia cuidadosamente calculada para manter a atenção dele fixada nela.

- Você fala como se não quisesse se queimar, Enrico - disse ela, o tom levemente provocador, enquanto começava a caminhar ao lado dele. - Mas eu acho que você gosta da adrenalina, mesmo que não admita.

Enrico soltou uma risada curta, enfiando as mãos nos bolsos para evitar qualquer impulso de reagir fisicamente à intensidade dela. Ele sempre fora disciplinado, controlado, mas Milena tinha uma habilidade impressionante de testar seus limites.

- Adrenalina faz parte do meu trabalho, Milena. - Ele lançou-lhe um olhar de canto, a seriedade mascarada por um sorriso discreto. - Mas não sou do tipo que mistura isso com encrenca.

Ela parou abruptamente, forçando-o a fazer o mesmo. Virou-se para ele, a cabeça inclinada de leve, os lábios curvados em um sorriso cheio de segundas intenções.

- Encrenca? - perguntou, quase como se a palavra fosse uma novidade para ela. - Então é assim que você me vê?

Enrico encarou-a, tentando ignorar o magnetismo daquele olhar. Ele deu um passo em sua direção, diminuindo a distância entre eles, mas mantendo uma postura firme.

- Eu vejo você como alguém que sabe muito bem o que está fazendo - disse ele, a voz baixa, porém firme. - E isso, Milena, é perigoso.

Ela ergueu a cabeça, desafiadora, enquanto seu sorriso se tornava ainda mais intrigante.

- Perigoso para quem? Para mim ou para você?

Enrico ficou em silêncio por um momento, analisando-a. Finalmente, inclinou-se levemente para sussurrar perto do ouvido dela:

- Talvez para nós dois.

Antes que Milena pudesse responder, ele se afastou, retomando o caminho em direção a casa.

- Vamos, Milena. Você tem duas escolhas, ou me acompanha agora, ou continuamos essa conversa em outro momento.

Ela o observou com uma mistura de frustração e fascínio. Um sorriso malicioso escapou de seus lábios.

- Está bem, Tenente... mas saiba que essa conversa está longe de terminar.

Ela apressou o passo, seguindo-o, enquanto Enrico se perguntava até onde Milena estava disposta a ir para testar sua paciência. E, mais importante, até onde ele estava disposto a resistir.

Milena caminhava ao lado de Enrico, a postura relaxada, mas com aquele ar confiante que fazia parecer que ela estava no controle da situação, mesmo quando não estava. O silêncio entre os dois parecia carregado, como se cada palavra não dita pesasse no ar.

Ao chegarem à entrada da casa, Enrico abriu a porta para ela, mantendo o gesto cordial. Milena parou ao passar por ele, inclinando-se levemente para que apenas ele ouvisse.

- Sabe, Enrico... você pode até resistir agora, mas está jogando tão duro quanto eu. - Ela sorriu, a voz baixa, como se fosse um segredo. - E eu adoro um jogo difícil.

Enrico suspirou, esfregando a nuca como se tentasse aliviar a tensão que Milena parecia criar com tanta facilidade. Ele fechou a porta atrás deles e a encarou nos olhos.

- Eu não estou jogando. - Ele a encarou, os olhos fixos nos dela, tentando manter a compostura. - Só estou tentando evitar que as coisas fiquem... complicadas.

Ela riu suavemente, encostando-se na parede, assim que as portas se fecharam.

- Complicadas? - repetiu, com um tom divertido. - Enrico, a vida é cheia de complicações. Algumas valem a pena... outras nem tanto. - Ela inclinou a cabeça, o olhar travesso. - Mas, no seu caso, eu apostaria que valeria.

Enrico não conseguiu evitar um sorriso de canto, balançando a cabeça. Milena sabia exatamente como provocá-lo, e ele não podia negar que, em algum nível, gostava disso.

- Você é impossível, sabia? - Ele respondeu, o tom entre divertido e exasperado.-

- E você está adorando isso. - falou depositando um beijo no canto dos lábios de Enrico antes de se afastar com um sorriso malicioso.- Boa noite, Tenente.

Enrico ficou parado, observando enquanto ela desaparecia pelo corredor, deixando-o com um misto de frustração e expectativa. Ele avistou o gato esparramado no sofá e soltou um longo suspiro enquanto balançava a cabeça.

- Essa mulher ainda vai me enlouquecer. - Murmurou para si mesmo, enquanto o elevador descia.

E no fundo, ele sabia que talvez não fosse algo ruim. Mas ele não queria se apegar, e não queria um relacionamento...
Enrico sabia que Milena era uma tempestade imprevisível, intensa e, acima de tudo, irresistível. Desde o primeiro momento em que a viu, algo dentro dele mudou. Ele não era o tipo de homem que se deixava levar por impulsos ou paixões. Sempre foi disciplinado, racional, guiado pela lógica. Mas Milena... ela bagunçava tudo isso com um simples olhar e sua ousadia.

A confiança dela o desafiava e o fazia querer se aproximar, mesmo sabendo que isso era um erro.

Ele passou a mão pelo rosto, frustrado.

- Não posso me envolver... - murmurou para si mesmo, como se a repetição da frase pudesse torná-la mais verdadeira.

Ele não queria complicações em sua vida, não queria a bagunça de um relacionamento, e certamente não queria se apegar a alguém que o fazia sentir como se o chão estivesse constantemente se movendo sob seus pés.

Mas, ao mesmo tempo, havia algo nela que o fazia acreditar que talvez essa bagunça fosse exatamente o que ele precisava.

Já no seu quarto, ele se jogou na cama, olhando para o teto e respirando fundo. Tentou se concentrar em outra coisa, mas a imagem de Milena, os olhos dela, o sorriso, o tom provocante em sua voz, o beijo, parecia gravada em sua mente.

- Droga... - ele disse, fechando os olhos e passando a mão pelo cabelo. - O que essa mulher está fazendo comigo?
***






















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