12° um beijo
— E aí, tenente? O que acha de darmos uma volta na roda gigante? — sugeriu, com um sorriso desafiador.
Enrico arqueou uma sobrancelha, surpreso com a proposta inesperada, mas logo sua expressão relaxou em um sorriso de canto.
— Achei que você só queria dançar. Já mudou de ideia?
Milena deu de ombros, fingindo desinteresse enquanto ajeitava o cabelo.
— Não é todo dia que estou com um guia local. Quero aproveitar a noite ao máximo, e a roda gigante parece um bom lugar para começar. Ou será que está com medo de altura?
— Medo? — Enrico deu uma risada curta e cruzou os braços. — Eu salto de aviões em missões, Milena. Não acho que uma roda gigante vá me intimidar.
Julieta, que observava a interação com evidente diversão, decidiu provocar.
— Vai lá, Enrico. Mostra para a Mila que você é bom em mais do que missões militares.
Milena riu, enquanto Enrico balançava a cabeça, resignado.
— Tudo bem, vamos lá — disse ele, estendendo a mão para Milena.—
Ela aceitou a mão dele sem hesitar, o toque rápido, mas suficiente para enviar um arrepio inesperado por ambos. Giulia e Julieta, que assistiam à cena de longe, trocaram olhares cúmplices, claramente torcendo para que algo a mais surgisse entre eles.
Enquanto caminhavam em direção à roda gigante, Milena olhou para Enrico de canto de olho, fingindo um tom casual:
— Então, você traz muitas pessoas para andar na roda gigante por aqui?
Ele soltou uma risada curta.
— Você é a primeira.
Milena ergueu uma sobrancelha, surpresa com a resposta.
— Sério?
— É sério. Não costumo frequentar esses eventos. Mas confesso que essa noite está sendo... diferente.
Ela sorriu, satisfeita com a resposta, e os dois se aproximaram da entrada da roda gigante.
— Vamos ver se "diferente" fica ainda melhor lá de cima, então — disse Milena, entrando na cabine com um olhar desafiador.
Enrico entrou logo atrás, fechando a porta enquanto a cabine começava a subir. A cidade de Aosta se estendia abaixo deles, iluminada por milhares de luzes cintilantes, e o som distante da festa parecia mais suave a cada metro que subiam.
Dentro da cabine, o silêncio entre eles não era desconfortável, mas carregado de algo novo, uma energia que nenhum dos dois queria quebrar. Milena olhou pela janela, encantada com a vista.
— Uau... É lindo.
Enrico, no entanto, não estava olhando pela janela.
— É mesmo — ele respondeu, mas seus olhos estavam fixos nela.
Milena percebeu o olhar e, por um momento, hesitou. Mas em vez de desviar, virou-se para ele, encontrando o olhar intenso do tenente.
— O que foi? — perguntou, a voz saindo mais suave do que pretendia.
— Nada. Só estava pensando que você se adapta bem a qualquer situação. — Ele sorriu, inclinando-se levemente. — Até parece que nasceu para estar aqui.
— Aqui? Em uma roda gigante? — Ela brincou, tentando quebrar a tensão, mas sua voz ainda carregava um tom de curiosidade.
—Não... comigo. — disse Enrico sem pensar direito ou raciocinar.—
A frase pairou entre eles, pesada e ao mesmo tempo leve, como uma confissão inesperada. Milena abriu a boca para responder, mas a cabine parou no ponto mais alto da roda gigante, e as luzes ao redor pareceram brilhar mais intensamente.
Enrico se aproximou, o olhar fixo no dela.
— Milena...
Ela sentiu o coração disparar enquanto ele se inclinava mais, o rosto dele perigosamente perto do dela.
— Se me beijar agora, prometo que não vou correr — ela sussurrou, o tom desafiador, mas a respiração entrecortada.
Enrico sorriu, e sem hesitar, fechou a distância entre eles, selando a noite com um beijo que parecia apagar o mundo ao redor.
O beijo foi suave, mas intenso, como se os segundos se estivessem esticando até se tornarem eternos. O mundo ao redor desapareceu enquanto Milena e Enrico se perderam naquele momento. A leve brisa que soprava de fora da cabine acariciava seus rostos, mas nada parecia importar mais do que a sensação do toque das bocas. Milena sentiu o coração disparar de uma maneira que não esperava, e Enrico, com um leve sorriso, a puxou mais para perto, como se quisesse prolongar aquele instante de maneira quase possessiva.
Quando finalmente se afastaram, ambos estavam ofegantes, mas sem dizer uma palavra. Milena olhou para ele com os olhos semicerrados, tentando absorver tudo o que acabara de acontecer. O silêncio entre eles era confortável agora, mas carregado de algo mais profundo, uma compreensão silenciosa, uma conexão.
— Uau — ela murmurou, ainda com a sensação do beijo na pele.
Enrico deu uma risada baixa, passando uma mão pelo cabelo de forma descontraída.
— Eu sabia que a vista seria boa, mas não esperava que fosse assim — ele respondeu, o olhar ainda fixo nela, como se tentasse decifrar o que estava acontecendo entre eles.
Milena deu um pequeno sorriso e, de repente, a cabine começou a descer. O movimento a fez sentir um friozinho na barriga, mas desta vez, não era por causa da altura. Quando a roda gigante finalmente parou e a porta se abriu, Enrico estendeu a mão para ela com um sorriso, como se tudo tivesse sido apenas uma parte de algo maior.
— Vamos sair daqui? — convidou, a voz baixa e suave.
Ela o fitou, surpresa, mas sentindo-se envolvida pela curiosidade.
— Para onde vamos? — perguntou, tentando decifrar o olhar enigmático dele.
Ele apenas deu de ombros, sorrindo, e respondeu de forma enigmática:
— Logo você vai ver...Milena aceitou o convite, e eles deixaram a agitação da festa para trás, saindo pelas ruas mais calmas da cidade. Caminharam lado a lado, em silêncio, enquanto o céu mudava de um tom de azul profundo para o laranja suave do entardecer. Enrico a guiava por ruas que subiam em direção a um local mais afastado, onde o barulho da cidade ia ficando distante, e o ar era mais leve e fresco.
Logo, o caminho os levou a uma trilha que seguia entre pequenas colinas e algumas pontes de pedra, escondidas por árvores e flores selvagens. O silêncio era quebrado apenas pelo canto suave dos pássaros e pelo som dos passos tranquilos deles sobre a trilha.
Milena olhou ao redor, fascinada. Ali, o cenário parecia saído de um sonho: as colinas suavemente onduladas se estendiam até o horizonte, e mais adiante.
Eles pararam em um ponto mais alto, onde a vista era perfeita. De lá, podiam ver a cidade aos pés da colina.
— Nossa, isso é... incrível, — Milena murmurou, impressionada com a beleza da vista.
Enrico sorriu ao ver a expressão encantada dela.
— Achei que você fosse gostar — disse, apoiando-se ao lado dela.—
Milena sentiu o ar tranquilo e morno ao redor, como se o mundo inteiro houvesse desacelerado apenas para aquele momento.
Por um instante, ficaram em silêncio, apenas aproveitando a paz e a beleza ao redor, e Milena percebeu que, talvez, aquele lugar era ainda mais especial do que qualquer palavra poderia descrever.
— Esse é um dos meus lugares favoritos — Enrico quebrou o silêncio, falando suavemente, quase como se não quisesse perturbar o momento.
Ela virou-se para ele, notando o olhar sereno com que ele encarava o horizonte. Aquela calmaria parecia quase contradizer o homem sério e determinado que conhecera antes.
— É fácil entender o porquê — respondeu com um leve sorriso, deixando a vista do pôr do sol envolver os dois. — Obrigada por me trazer aqui.
Ele acenou com a cabeça, ainda contemplando a paisagem, como se estivesse absorvendo cada detalhe.
Após um momento, Milena respirou fundo e decidiu perguntar o que tinha em mente, sentindo a necessidade de romper o encantamento do instante com uma realidade que logo se aproximava.
— E o que pretende fazer nos próximos dias Tenente? — perguntou, sua voz revelando um toque de preocupação. Ela sabia que ele retornaria à base militar em um mês, enquanto ela também partiria para casa em breve.Enrico desviou o olhar do horizonte para ela, uma sombra de melancolia passando por seus olhos.—
— Não sei ao certo, mas talvez aproveitar o tempo que ainda tenho fora da base. Esses dias têm sido um pouco como uma pausa... antes de tudo voltar ao ritmo intenso — respondeu, uma pequena hesitação na voz, como se houvesse algo mais que queria dizer, mas preferisse guardar para si.
— Imagino que seja difícil deixar tudo isso para trás. — comentou, observando-o com uma compreensão silenciosa.
Ele soltou uma risada breve, mas sem humor.
— Às vezes é mais fácil não criar laços... não se apegar a certos lugares ou a certas pessoas — admitiu, e o olhar dele encontrou o dela por um instante, mais longo, como se uma pergunta não dita pairasse entre eles. Milena sentiu o peso daquela afirmação. Sabia que a vida dele não era fácil, que a carreira que escolhera o levava para longe e exigia sacrifícios constantes.—
— Talvez... às vezes vale a pena correr o risco.
Ele a observou por mais um instante, e então, desviou o olhar, deixando que um sorriso leve surgisse em seus lábios.
— Talvez, Milena — respondeu, sua voz quase um sussurro, como se aquela fosse uma promessa silenciosa.—
— Você gosta do que faz?
— Gostar... é uma palavra forte — disse, após um instante, a voz baixa. — Acho que é mais uma questão de propósito. Ser militar tem desafios que nem sempre são fáceis de explicar, mas traz um senso de dever. Um motivo para levantar todos os dias, mesmo sabendo o que vem pela frente. É um trabalho que exige sacrifícios, e nem sempre é fácil. Mas a sensação de proteger e servir algo maior... isso dá sentido. Acho que essa é a melhor parte. É menos sobre gostar e mais sobre aceitar o que vem com a responsabilidade.— ele fez uma pausa e a olhou de novo, os olhos sérios, mas havia um toque de leveza em seu sorriso.— Às vezes, é solitário, e tem coisas que a gente perde pelo caminho. Mas, de alguma forma, vale a pena.
Milena o observou em silêncio, captando a profundidade nas palavras dele. Havia algo intenso em cada resposta que Enrico dava, uma honestidade crua que o tornava fascinante e, ao mesmo tempo, distante. Ela sentia que, por trás daquela postura firme e das respostas medidas, havia uma parte dele que ainda guardava suas próprias batalhas.
— Deve ser uma vida difícil — ela disse, com suavidade. — Carregar esse peso todos os dias... nem todo mundo conseguiria.
— A gente se acostuma. — respondeu, mas Milena percebeu que era apenas uma parte da verdade. Enrico se acostumava porque precisava, não porque era fácil. —
Milena deu um passo à frente, diminuindo a distância entre eles. Cada movimento parecia acontecer em câmera lenta, e ela não conseguia desviar o olhar, como se o brilho nos olhos de Enrico a atraísse de uma forma que ela não sabia explicar.
Ela se aproximou ainda mais, as pontas dos dedos tocando levemente o ombro dele, e sem pensar duas vezes, Milena fechou os olhos e deixou que seus lábios encontrassem os de Enrico.
O beijo começou suave, hesitante, como uma descoberta tímida, mas rapidamente se intensificou.
Enrico a segurava com uma firmeza que transmitia proteção, mas também um desejo intenso, como se ela fosse algo precioso e raro que ele não queria soltar.
Quando finalmente se separaram, Milena abriu os olhos lentamente, o rosto ainda próximo ao dele, as respirações entrelaçadas. Ela o olhou, e havia uma mistura de surpresa e intensidade no olhar de Enrico, que não disfarçava o quanto o beijo havia significado para ele também.
— Milena... — Ele começou, com a voz rouca, como se procurasse palavras e não as encontrasse.—
Isso não é certo... — murmurou, tentando manter a razão. — Eu vou embora daqui uns dias, preciso voltar para o exército... e você, para Gênova.
— Vamos apenas curtir o momento, tenente — respondeu ela, em um sussurro.—
Enrico suspirou, desviando o olhar por um instante, como se suas palavras pesassem mais do que ele pretendia mostrar. Ele voltou a encará-la, os olhos refletindo uma mistura de emoções complexas.
— A minha unidade pode ser reenviada a qualquer momento. Eu sou um militar, Milena. — disse, com a voz grave e pausada. — Esse tipo de vida... é complicado. Nunca sei quando terei que partir de novo, e de novo... E não sei quando volto. Já vi coisas difíceis, perdi muitos companheiros...
— Enrico, foi só um beijo — disse, com um sorriso travesso. — Você é bonito, atraente, tem um corpo que qualquer um notaria... Eu admito, você faz o meu tipo, mas não estou apaixonada por você, nem nada assim. Não é como se eu estivesse te pedindo em casamento, tenente.
Ele levantou uma sobrancelha, claramente surpreso e intrigado pela franqueza dela.
— Estou falando de curtir o momento, Enrico. A gente está aqui, juntos... E só porque eu quero aproveitar o hoje, não quer dizer que seja algo mais profundo.
— Acho que nunca conheci alguém tão direta assim. — murmurou, dando um passo para mais perto. — Você me deixa sem argumentos, Milena.
Ela deu de ombros, provocativa, enquanto o observava com um olhar divertido.
— Então, que tal parar de pensar tanto e me beijar? — disse, sua voz quase um sussurro. — A gente pode aproveitar o que temos agora. E amanhã... bem, amanhã a gente deixa para amanhã.
Ele a encarou por mais um instante, e sem dizer mais nada, Enrico se aproximou, suas mãos deslizando para a cintura dela enquanto se inclinava. Desta vez, o beijo foi ainda mais intenso.
Milena sentiu o calor do toque dele e respondeu com a mesma intensidade, esquecendo de qualquer preocupação, do amanhã incerto, das partidas que os aguardavam. Ela sabia que aquilo era passageiro, mas naquela noite, não queria nada além do que estavam vivendo, e parecia que Enrico sentia o mesmo.
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