07. Changsha
Kyungsoo estava tão animado que quase fazia com que Jongin sentisse pena. Na noite passada, quando estava deitado em seu peito e pensando sobre qualquer banalidade da vida, seu marido havia sugerido que visitassem o Palácio, quem sabe, até ficassem para o jantar. A ideia de rever sua família foi recebida com muito ânimo, tanto que causava ao Kim aquele sentimento.
Pena.
Seu ômega estava longe de ser conhecedor da verdadeira índole de quem os cercava, restando apenas calcular em própria sorte quem era pior. Aquele sorriso inocente quebraria o coração de qualquer um. Deveria quebrar o seu também.
— Acha que estou bem? — Era a primeira vez que o ômega fazia esse tipo de pergunta. Ele nunca havia se arrumado tanto, nem dado tanta atenção ao cabelo, muito menos passado tanto tempo escolhendo a roupa certa. Aqueles tecidos dourados o deixavam magnifico, nem mesmo em seu casamento esteve tão belo como naquele dia — Acha que o Imperador vai reclamar de algo?
Jongin piscou os olhos algumas vezes.
— Por que o Imperador reclamaria de algo?
— Meu pai está sempre reclamando de algo. — O ômega soltou uma risadinha boba e envergonhada, teria se recolhido no casco, caso fosse uma tartaruga. Engraçado, já quis ser algumas vezes em sua vida — Você sabe, para o Imperador nada nunca está bom o suficiente, sempre é preciso fazer reparos.
O silêncio de Jongin tornou a cena constrangedora, demorou um pouco até que Kyungsoo se desse conta do peso do que havia dito. Peso este que estava apenas em suas costas.
— Você sempre foi perfeito para o Imperador. — Havia um nó em sua garganta, mas iria se sentir ainda mais ridículo — Eu é que sempre andei longe disso. Desculpe, acho que me excedi um pouco com esse assunto, por favor, esqueça tudo o que eu disse.
Jongin se aproximou de seu esposo e segurou seu rosto com ambas as mãos, o olhar de Kyungsoo era triste, o mais triste que já conheceu desde o dia em que se casaram.
— Não pense dessa forma, não está sendo justo consigo mesmo. — Tentou jogar fora o tom que usava a maior parte de seu dia, e por mais que andasse longe de ser o seu costume, o alfa falou e expressando um carinho que ele sequer era conhecedor de ter — Você é maravilhoso e não se deixar esquecer disso.
Tantas palavras, todas as vezes que Jongin falava se tratava da maneira mais simples de fazê-lo acreditar que aquele casamento daria certo.
— Você acha mesmo que sou maravilhoso? — A pergunta soou de maneira tão esperançosa que os olhos do ômega chegaram a brilhar. Era quase como se soubesse o que acontecia por baixo dos panos e quisesse de alguma maneira o desencorajar — Quer dizer, eu não quero parecer desesperado, é que nenhum alfa me disse isso dessa forma.
— Você é lindo, é gentil e é tudo o que eu precisava para tornar a minha vida completa. — O alfa beijou sua testa com todo o respeito do mundo, fazendo com que o coração de Kyungsoo tamborilasse no peito — Nunca mudaria nada em você, você é perfeito.
Ficou tão feliz com seu momento potencialmente romântico, que se deixou agir apenas pela emoção. Kyungsoo agarrou seu marido pelo pescoço e o beijou como se aquele alfa fosse sua salvação. Uma salvação sem motivos, um barco que partiria para o fim do mundo assim que embarcasse. O jovem príncipe só queria ter um segundo onde não precisasse se preocupar, onde o mundo fosse perfeito.
Não queria que aquele beijo acabasse, queria morar em seus lábios, e para nunca mais sofrer, poderia morrer neles também.
— Estou pronto. — Quando afirmou, sentiu que realmente estava — Já podemos ir.
Jongin o colocou na carruagem, e para sua surpresa, o alfa ficou ali dentro com ele. Por mais que fosse obviamente um homem de posses, o Kim era uma pessoa simples demais para se deixar rodear de empregados. Ele gostava do silêncio e da solidão, mas precisava levar em consideração que Kyungsoo estava acostumado a ter empregados para tudo. Por isso, o cocheiro.
Ao chegarem ao Palácio, segurou sua mão para que descesse, e o ômega praticamente se agarrou ao seu braço, era uma forma bastante explícita de deixar claro que precisava e iria fazer uso daquele apoio. Kim Jongin era o centro daquele Império, quem realmente fazia tudo girar, e estava na hora de usufruir um pouco desse poder.
O que era um príncipe em comparação a quem comandava exércitos? Nem mesmo Yixing causava aquele efeito nos criados enquanto caminhava pelos corredores do Palácio ou pelas ruas da cidade.
— Ah, General Kim, a sua visita é uma honra. — O Imperador caminhava na direção do casal, e Kyungsoo manteve a cabeça erguida, ignorando o fato de que o pai agia como se não estivesse ali — Fiquei muito feliz quando recebi a notícia de que traria seu esposo para um passeio agradável no Palácio.
Seu esposo. Às partir do momento em que Kyungsoo deixou aquela casa praticamente deixou de ser filho do Imperador, como se tivesse sido jogado fora. Se sentiu triste, entretanto, sabia que sentimentos tolos não adiantariam em nada, muito pelo contrário, só faria com que seu pai o visse como sendo ainda mais fraco.
— Kyungsoo sente falta do jardim, nossa casa tem um jardim bonito, mas ainda não se compara ao do Palácio. — O Kim mantinha sua mesma expressão de sempre, por mais que aos olhos do ômega ele parecesse um pouquinho desgostoso das palavras do Imperador. Iria enxergar assim, se sentia bem com a ideia de seu marido o defender, mesmo que de maneira sutil — Não tenho muito tempo livre, mas gosto de vê-lo feliz.
Kyungsoo sorriu, não conseguiu se conter, sorriu como um garoto apaixonado, vivendo seu primeiro amor. Até porque, realmente estava.
— Me agrada saber que estão se dando bem. — Era o mais perto que seu pai chegaria de uma aprovação, todos sabiam — Confesso que tive certo receio quanto a algumas coisas.
— Receios desnecessários, meu senhor. — Jongin disse — Kyungsoo tem me feito muito feliz.
O jovem ômega não ouviu mais nenhuma palavra, estava tão satisfeito com aquelas palavras que nada mais importava. Só se deu conta de que estava perdido em outro mundo quando já estavam no jardim, o perfume das flores o fez se sentir ainda mais leve, aquela era a parte do Palácio que mais gostava, o lugar onde podia fugir quando as coisas não estavam boas, e agora estava ali, quando tudo parecia finalmente bem.
Sentou-se em um dos bancos, observando os pássaros e as borboletas, uma brisa suave soprava em seu rosto.
— Nós já vimos o meu pai, e eu sei que viemos aqui com a intenção de visitar a família toda, mas...
— Não quer ver seu irmão.
— É, não quero. — Confessou — Meu irmão vive em seu próprio mundo, sempre viveu, ele é uma pessoa estranha, evasiva.
Jongin tentou não parecer imensamente interessado, mas haviam chegado ao assunto que queria. Estar de volta ao Palácio traria lembranças, por isso estavam sentados logo abaixo da janela do quarto do príncipe herdeiro.
— Por que acha seu irmão estranho? — Perguntou — O que te incomoda nele?
— Muitas coisas. — Kyungsoo não podia ficar falando mal de seu irmão para qualquer um, tinha medo de que alguém corresse e contasse tudo para ele. Todavia, que motivo Jongin teria para isso? Não era um criado desesperado pelo favoritismo de seu senhor, era bem mais fácil ser o contrário — Some do nada, fica dias sem falar com o próprio esposo, além disso, uma vez o Junmyeon me disse que... eu não deveria falar sobre isso, é muito íntimo.
Jongin segurou sua mão, o olhava nos olhos.
— Eu sou seu marido, não conseguirá ser mais íntimo do que isso com ninguém.
Kyungsoo precisou de um tempo para pensar, aqueles olhos escuros eram tão bonitos, ele poderia dizer qualquer coisa que aquele alfa perguntasse, contaria até seus segredos mais escondidos.
— Junmyeon me disse que Yixing parece não querer engravidá-lo, diz que o casamento é vazio, e que muitas vezes o marido dorme em outro quarto, como se o evitasse.
O alfa olhou para cima, para a janela, ela estava fechada, estava quase sempre fechada, aquele quarto sempre havia sido um mistério, e todas as coisas que aconteciam dentro dele. Jongin voltou seus olhos de volta ao amontoado de plantas, pensou sobre a porta, onde ela estaria?
— Não vai querer ver o seu amigo? Imagino que ele ainda esteja no Palácio, ele vai ficar feliz em vê-lo.
— Sim, o Baekhyun nem vai acreditar que estou aqui. — O ômega se levantou de uma vez, quase ficou tonto — Se incomoda se eu for vê-lo? Não sei onde ele está, vou precisar procurá-lo. Pode procurar comigo, se quiser.
— Eu o espero aqui.
Jongin esperou até que Kyungsoo sumisse por uma das portas do Palácio, ele precisava agir rápido, enquanto não estivesse sob olhares. Enfiou-se entre as flores e plantas, procurando pela porta. Os muros eram extensos, certamente não daria tempo, mas saberia por onde começar na próxima vez que tivesse a oportunidade.
Já Kyungsoo, correu pelos corredores quando ninguém mais o via, se sentindo livre no lugar que mais o prendeu. De repente, aquelas paredes já não o assustavam da maneira de antes, nenhuma gaiola com porta fechada.
Sabia que encontraria Baekhyun onde fosse mais aleatório, perdido entre as mil coisas que não tinha para fazer. Não havia mais príncipe para acompanhar, o rapaz estava perdido, procurando ocupar um espaço que não lhe cabia mais.
— Kyungsoo! — Ouvia uma voz em suas costas, a voz que reconheceria antes mesmo de se virar, e a voz que esteve ao seu lado quando mundo inteiro era silêncio e solidão — Está no Palácio, não esperava por isso.
— Baekhyun, estava sentindo sua falta.
Ele era seu único amigo, por mais que os criados vivessem dizendo que duas pessoas tão diferentes não pudessem. Diziam para Baekhyun que o príncipe o esqueceria assim que não precisasse mais de sua companhia, que seguiria com a vida. Mas eles estavam mentindo.
Seu amigo o amava, e se dava conta disso naquele abraço.
— Queria poder te visitar mais vezes, mas não posso simplesmente sair do Palácio e correr até a casa do General. — Era a casa de Kyungsoo também, porém, todos no Palácio usavam aquelas palavras "a casa do General" — Estou tão feliz que esteja aqui.
— Eu também... — Só então que reparou no rosto de seu amigo, um de seus olhos estava coberto por uma marca roxa muito evidente, que não adiantava em nada tentar disfarçar — O que aconteceu com você? Quem te machucou?
Baekhyun deu um passo para trás, assustado, sequer havia pensado no que iria dizer, nem imaginava que poderia ver Kyungsoo tão cedo.
— Não foi nada demais, eu só caí. — Mentiu da maneira mais esfarrapada possível, nem mesmo uma criança acreditaria — Não se preocupe com isso, não é importante.
Aquele sorriso amarelo só deitou tudo mais óbvio, sua gengiva estava cortada, não havia sido queda, nem mesmo um acidente, alguém havia feito aquilo de propósito.
Kyungsoo o segurou pelo braço e o puxou até uma escadaria de pedra, onde não havia muita luz e nem muitos ouvidos.
— Quem te bateu?
— Ninguém me bateu, está exagerando. — Foi sua última tentativa de fuga, não daria mais para correr, o olhar assustado de Kyungsoo o assombraria pelo resto de sua vida — Foi o Príncipe Yixing.
[...]
— É uma aliança por casamento.
Chanyeol estava no meio de sua refeição quando sua casa foi invadida, o que por si só era estranho, Jongin não era do tipo que fazia visitas inesperadas.
— Do que está falando?
— O Príncipe Yixing planeja se casar novamente, é assim que ele vai consolidar seu plano. — O Kim precisou de um tempo para respirar, toda aquela história era sufocante demais — Aquele merda está traindo seu povo, vendendo a si mesmo e vendendo as pessoas, como ele pode fazer isso? Eu quero matá-lo, não posso mais esperar.
Chanyeol se surpreendeu, era ele quem costumava ser o impaciente, Jongin quase pareceu tão humano quanto os outros.
— É você quem vive dizendo para termos calma.
— Eu o odeio mais do que tudo na minha vida. — Por mais que preferisse guardar tudo para si mesmo, uma hora ele precisava falar ou iria acabar ficando louco — Só vou ter paz depois de matar Zhang Yixing.
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