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Chapter II

Mikhail ainda não estava acostumado a acordar sem ouvir nada além de zumbidos e barulhos desconexos que deveriam ser vozes, mas seu cérebro precisava trabalhar muito para compreender o que diziam.

Também não estava acostumado a dormir num chalé confortável sem precisar manter um olho aberto para ter certeza de que não seria atacado durante o sono. Ele ainda sempre mantinha a corrente enrolada em sua mão sob o travesseiro para poder socar alguém que por ventura viesse fazer algo.

Isso lhe rendeu um certo problema nas primeiras semanas de volta ao acampamento, quando ele quebrou narizes e cortou os rostos de quem teve o azar de tentar acordá-lo repentinamente agitando seu corpo. Era um reflexo seu, um impulso quando despertava assustado, pronto para se defender. 

Todavia, ele já estava muito habituado aos olhares desconfiados que recebia de campistas mais antigos e dos assustados de recém chegados quando algum deles lhe dizia o motivo para olharem-no daquela forma. Não eram todos, claro. Alguns eram mais compreensíveis, como Annabeth.

Talvez ela fosse a pessoa que melhor o entendia naquele acampamento e a única razão para ele continuar ali.

Fora o fato de que se ele fosse embora, os deuses certamente o matariam. Ele ainda não havia demonstrado sua lealdade o bastante nem sua gratidão por continuar vivo.

Às vezes, ele realmente preferia não estar.

— Hora da inspeção — ele disse, sentindo a vibração de sua voz na garganta e ela chegando aos ouvidos, mas não realmente a ouvindo tão bem quanto deveria. Não além de zumbidos e um som distorcido.

Os outros campistas do chalé pararam ao lado de suas camas, todos perfeitamente a postos. Todos ali eram seus irmãos, mas não conseguia ver muitas semelhanças entre si. Cada um era totalmente diferente do outro, vindos de várias partes do país e do mundo. 

Ele próprio vinha de um lugar que parecia estar do outro lado do mundo, embora a distância literal era de menos de cem quilômetros.

Era difícil assimilar que realmente haviam tantos ali. Que depois de tudo, os deuses estavam reclamando seus filhos ao ponto de até mesmo no inverno ter um número grande de campistas e que agora ele e seus irmãos tinham um lugar.

A justiça chegou para eles, afinal.

Passou por cada uma das camas, cada uma arrumada ao seu modo com as decorações de seu campista, algumas mais organizadas que outras. Como Conselheiro-Chefe do chalé 16, seu dever era garantir que tudo estivesse em seu devido lugar antes do café da manhã, e ele próprio prezava por um bom ambiente, embora deixasse os irmãos livres para dar seu toque ao lugar.

Aquele seria um lar para eles, então precisava parecer um. Não importa se o conselheiro ainda não conseguia considerá-lo como tal.

— Dispensados para o café da manhã.

Mikhail foi o último a deixar o chalé, como todos os dias, e seguiu para o pavilhão refeitório em completo silêncio, como permaneceu durante todo o café da manhã.

Seus irmãos conversavam alegremente entre si. Eles riam e brincavam uns com os outros, e ele apenas observava. Alguns recém chegados ainda tentavam puxar conversa consigo, e ele tentava respondê-los gentilmente, torcendo para não estar falando alto demais ou sussurrando muito baixo, e tentava focar a atenção em um de cada vez, o que não é fácil quando se tem TDAH.

Os olhos claros foram para a garota conversando com Quíron no outro lado do pavilhão. Não precisava pensar muito para saber do que se tratava.

Uma leitura labial rápida e ele compreendeu um nome. Percy.

Todo o acampamento estava comovido com o desaparecimento de Percy Jackson, sobretudo os veteranos vindos da guerra. 

Mikhail era um desses veteranos, mas não saberia dizer exatamente se estava tão comovido, algo que não ousava dizer em voz alta.

E esperava não dizer sem querer quando não ouvisse a própria voz. Seria constrangedor.

Ao final da refeição, ele direcionou os irmãos para as tarefas da manhã e também foi para as suas próprias. Hoje, ele deveria ajudar o chalé de Apolo no arco e flecha.

Apesar de não ser filho do deus da arquearia, Mikhail possuía uma ótima mira e deixou alguns novatos do chalé impressionados ao demonstrar como atirar. Ele, pessoalmente, preferia sua espingarda, mas não era tão ruim com o arco.

Os veteranos de Apolo reviraram os olhos e apontaram para os alvos. Mikhail entregou o arco de volta para o garotinho loiro de cerca de dez anos que estava auxiliando.

Seguiu para os alvos e começou a arrancar as flechas presas em cada um deles e as caídas no chão. Após tirar duas flechas presas na base de um alvo, viu por sua visão periférica outra chegando e abaixou-se agilmente para desviar antes de seguir para o próximo sem dizer uma única palavra.

Já estava habituado. E se fosse acertado por uma flecha, teria dois dias de folga na enfermaria e o direito de acertar uma de volta para revidar.

As advertências por revidar são irrelevantes.

Quando seguia para outro alvo, ele paralisou no instante que percebeu outra flecha. Cerrou os punhos e olhou na direção do filho de Apolo que a atirou, que apenas deu de ombros com um sorriso. Disse ter errado o alvo na demonstração.

Pela distância, Mikhail poderia não ter tanta certeza se estava lendo os lábios corretamente, mas dado ao contexto, tinha certeza que ele havia dito aquilo.

Seguiu para o próximo. Tirou a flecha presa no alvo e abaixou-se para desviar de outra. Então de novo, ainda no caminho, o mesmo garoto. 

Próximo. Tirou a flecha do alvo. 

Outra veio em sua direção e acertou em cheio o alvo, passando de raspão por ele.

Seus olhos seguiram para o arqueiro, que apenas dava de ombros e ria. Olhou para baixo e viu o fino rastro vermelho do arranhão em seu braço.

Colocou-os à frente do alvo, segurando as flechas recolhidas e encarando o garoto em desafio. Sem dizer uma única palavra, quebrou todas as flechas que segurava. 

O garoto arregalou os olhos e começou a reclamar. Mikhail não fez questão de tentar entender. 

Retirou uma de suas adagas e atirou antes que ele pudesse notar. Não acertou, apenas passou de raspão e causou um arranhão no braço, exatamente como o seu. 

O garoto abandonou o arco no chão e avançou em sua direção. Pela forma com sua boca se abria, a expressão em seu rosto e o zumbido mais alto que o normal, Mikhail sabia que ele estava gritando.

Era mais complicado ler pessoas gritando. Os movimentos labiais costumam ficar mais abertos ao gritar, o que poderia confundir algumas palavras.

Pôde perceber que gritava algo como: “COMO OUSA ME ATACAR?”, “SE EU CONTAR AO QUÍRON”, “DIGA ALGUMA COISA, IMBECIL”.

Talvez uma porção de xingamentos em gregos também.

— Você é filho de Apolo, tenho certeza que pode curar esse arranhão. E mais uma coisa…

Ele tirou a flecha que o cortou que estava presa ao alvo. Segurou-a com ambas as mãos a sua frente e quebrou-a ao meio no joelho com toda sua força, entregando os restos ao outro garoto.

— Toda ação tem uma justa reação. E digo mais: Eu sou um Conselheiro de Chalé e mais velho que você, então tenha cuidado com suas flechas porque vocês de Apolo não são os únicos com uma boa mira.

O garoto encarou-o furioso e empurrou-o com força, batendo as mãos em seu peito e jogando-o no chão. Mikhail xingou em russo enquanto voltava os olhos igualmente em fúria para o outro, lendo cada uma de suas palavras.

— Uma pena que você não recebeu o que realmente merecia. Sua irmã pelo menos está sofrendo nos Campos de Punição como deve. — Ele cuspiu em Mikhail.

Aquilo ultrapassou todos os limites.

Mikhail limpou o cuspe de seu rosto, a expressão fechada. Retirou a corrente presa em sua calça como um cinto e começou a enrolar em sua mão enquanto ficava de pé. O garoto já estava de costas para ele, se afastando.

Foi rápido. Puxou-o pelo ombro. Um soco. Ele foi ao chão com um novo corte no rosto.

Ele socaria de novo, se não tivesse sido puxado. Outros campistas se aproximaram do garoto de Apolo e o impediram de avançar contra si outras vez.

Annabeth Chase colocou-se à sua frente e falou algo com o garoto, apontando na direção da enfermaria. Os campistas o encaravam irritados, outros assustados, mas ninguém ousou dar um passo sob os olhos de Annabeth.

Ela pegou sua adaga do chão, agarrou seu braço e começou a puxá-lo para outra direção. Mesmo não vendo seu rosto, sabia que ela não dizia uma única palavra.

Então pararam, distante de outros campistas, e ela o soltou, ficando de frente para ele.

Ela suspirou, ainda em silêncio.

Era visível o quão exausta ela estava. As olheiras profundas, os olhos cinzentos exalando cansaço, os ombros caídos, o fato de não estar lhe dando uma enorme bronca agora.

Annabeth não lhe dava muitas broncas, na verdade. Ela era uma das pessoas mais compreensivas consigo, que o acolheu, entendeu e perdoou seus erros. Porém, quando ele passava dos limites, ela sabia dar uns bons puxões de orelha.

Desde que Percy desapareceu três dias atrás não tem visto ela no acampamento com muita frequência. Estava surpreso que ela encontrou tempo para tirá-lo de uma encrenca enquanto buscava pelo namorado.

— Eu vou falar com Quíron para pegar leve sobre isso, mas você precisa ter mais cuidado — ela falou, sinalizando com as mãos o que vinha aprendendo.

— Ele ficou atirando flechas em mim e falou da minha irmã! — Mikhail tinha a impressão de talvez ter falado mais alto do que deveria.

— Tudo bem, isso pode aliviar seu lado. Mas, por favor, sem mais problemas agora.

— Ele falou da minha irmã! — repetiu.  — Que ela merece estar nos Campos de Punição!

— Nico disse que ela não está lá.

— Não é justo que digam que ela merece a punição eterna, enquanto o Luke é considerado um herói.

Annabeth riu baixo, sem ânimo.

— Bom, nem todos concordam com isso, na verdade.

— E esse não é nem de longe o problema. Só… Sinceramente, não julgo o Dr. D por odiar seu castigo. E até ele conseguiu escapar!

— Will também pode ajudar a resolver isso. Agora, guarde essa corrente. 

Ela pareceu não lembrar o sinal para correndo e apenas apontou para sua mão e sinalizou como se a desenrolasse da mão.

Mikhail obedeceu, usando a própria camisa para limpar o sangue nela antes de passá-la por sua calça e prender como um cinto, e fez o mesmo com a adaga quando ela lhe devolveu.

— Não deveria estar procurando Percy?

— Era exatamente por isso que estava te procurando.

— Me procurando? Eu já te falei que não vou ajudar a procurar pelo Percy, tenho outras tarefas por aqui.

— Eu tive um sonho. — Ela fez o sinal de “mente”, tocando o indicador na cabeça.

— Um sonho? — Mikhail questionou e tocou a lateral da cabeça com o indicador e afastou dobrando-o como um gancho várias rapidamente, o sinal correto para “sonho”. 

— Isso, um sonho. — Ela fez o sinal correto. — Uma visão com uma pista. Ele está com o Hedge, já pedi para enviar uma mensagem a ele que estamos indo fazer um resgate.

Nós?

— Pensei que gostaria de sair um pouco do acampamento. Ainda estará ajudando em uma missão, o que não foge de suas obrigações. Quíron liberou sua saída.

Mikhail comprimiu os lábios, pensativo. Ele realmente adoraria respirar um ar que não fosse do acampamento, estava sendo realmente cada vez mais sufocante estar ali.

E ele estava condenado a viver isso pelos próximos anos até os deuses acharem que foi o bastante.

— E você se dá bem com os pégasos. — Annabeth concluiu.

— Eu irei com você, mas só se convencer Quíron a me liberar das outras tarefas pelo resto do dia.

— Já fiz isso, exceto as aulas de sinais, essa você não pode faltar. — Ela sorriu fraco. — Irei falar com Will para pedir a biga do chalé de Apolo emprestada e ter um conversinha com alguns de seus irmãos. Nyssa já consertou seus aparelhos auditivos como Will pediu, prepare-se.

Mikhail piscou, desconcertado, raciocinando se havia entendido corretamente. Pela expressão de Annabeth, aparentemente sim.

— Tudo bem! Vou me preparar.

— Tente não arranjar mais brigas pelo caminho.

— Eu não as arranjo, elas vêm até mim.

Ele deu de ombros antes de seguir seu caminho. Caminhou rapidamente em direção a área de chalés, ignorando todos ao seu redor.

Meses haviam se passado e os olhares ainda estavam ali vindos dos campistas com a conta do Empire State rodeado de nomes. Com o nome de sua irmã. Por muito pouco Mikhail não foi um daqueles nomes.

Ele andou apressadamente até a construção de metal que por sua porta arredondada mais parecia um cofre que um chalé. Na verdade, lembrava muito o enorme cofre secreto de seu avô na Rússia que ficava no porão da casa onde costumavam passar o final de ano. Ele guardava suas melhores e mais sigilosas invenções ali, pois temia que “proklyatyye amerikantsy” infiltrados roubassem suas ideias.

Seu avô era tão paranóico com a ideia de espiões americanos quanto eles eram sobre os russos e tanto gostavam de usar em seus filmes.

Não o culpava, já que ele trabalhou ativamente no governo durante a Guerra Fria — e talvez ainda trabalhasse. Mikhail ouviu dezenas de histórias quando pequeno sobre como o avô criou sistemas que desmascararam diversos invasores e como supostamente impediu uma guerra nuclear ao impedir um infiltrado de apertar um botão.

Mikhail acreditava na veracidade da maioria dessas histórias tanto quanto nos filmes de Hollywood. 

— Eu adoraria fazer um sinal de cumprimento agora, mas acho que estou meio impossibilitado — disse Jake Mason, o conselheiro do chalé 9. 

Ele estava completamente engessado e enfaixado com ataduras da cabeça aos pés em um beliche, apenas o seu rosto livre. A face estava bastante machucada, mas ainda era possível que Mikhail fizesse uma leitura labial minimamente decente.

— Contanto que consiga abrir a boca, posso te entender. Nyssa está nas forjas?

Ele assentiu com a cabeça. Mikhail desceu lá e caminhou por entre todos os filhos de Hefesto que trabalhavam martelando ou cerrando alguma coisa até a garota com uma bandana vermelha nos cabelos volumosos.

Ela cumprimentou-o e entregou uma caixa.

— Will pediu para hoje ainda. Melhor testar aqui antes de sair.

— A prova de batalhas? — Mikhail questionou.

— Infelizmente, não posso garantir, nossos trabalhos estão bem… Você sabe. — Apontou para um dos irmãos amassando uma invenção defeituosa. — Qual é o sinal para instável?

Mikhail franziu o cenho. Ele ainda não havia aprendido algo tão específico.

— Contanto que dure até eu voltar…

Pegou a caixa das mãos dela e abriu. Tirou os aparelhos dali e colocou-os nos ouvidos com cuidado. Eles eram quase do tamanho de fones de ouvido, cor de bronze com fio transparente que se camuflava bem.

Click. Mikhail resmungou de dor com a invasão de sons repentinos em sua mente.

Levou ambas as mãos às orelhas e abaixou a cabeça. O som ensurdecedor de metal batendo, vozes altas e serras. Nyssa gritou com alguns irmãos e puxou Mikhail para longe.

Ela mexeu em algo nos aparelhos, sem tirá-los de seus ouvidos. A dor diminuiu, o barulho parecia mais distante e suportável. Sua mente estava um pouco confusa com os novos sentidos vindo e levou alguns minutos para se habituar aquela barulheira habitual.

Ainda haviam alguns zumbidos, porém as vozes estavam mais claras e compreensíveis. 

Ao mesmo tempo que ainda não estava acostumado ao silêncio ao acordar, também não estava a voltar a ouvir de um segundo a outro quando colocava os aparelhos. Ele precisava se esforçar para aprender a diferenciar os sons como antes.

Aqueles aparelhos não eram definitivos, pois, segundo Will, ainda era muito cedo para isso. A primeira vez que o colocou foi um mês atrás, três depois de perder cerca de 90% a 95% de sua audição na guerra, ainda não conseguia definir exatamente.

Semideuses podem fazer muitas coisas, mas não milagres. E com o Olimpo fechado e ele estando preso naquele acampamento… Will, Nyssa e Quíron faziam o que podiam. 

Na melhor das hipóteses, poderia ter um definitivo no próximo verão.

— Aqueles filhos de Ares fizeram um baita estrago — Nyssa falou. O som de sua voz estava um tanto estranha. — Fiz o que pude. Está me ouvindo?

— Sua voz sempre foi estranha desse jeito?

— Seu sotaque é sempre tão ridículo? — ela rebateu.

Mikhail revirou os olhos, e a garota riu. Ele não fazia a menor questão de perder seu sotaque, por mais que parte dele realmente tivesse amenizado após tantos anos nos Estados Unidos.

— Os ampliadores estavam terríveis. Traga de volta depois da missão, vou tentar melhorá-los a tempo para o Capture a Bandeira.

— Tudo bem. Obrigado, Nyssa.

— Tente não arranjar briga de novo. Espero que esse sangue na sua camisa seja seu.

— Não é algo que está totalmente no meu controle. Eu apenas revido a altura, é o equilíbrio da justiça. — Deu de ombros.

— Okay, Justiceiro. Você tem uma missão para ir. Boa sorte.

Ela sorriu de forma confortante, e Mikhail retribuiu timidamente. 

— Obrigado mesmo.

Ele então saiu do chalé de Hefesto e seguiu para o seu próprio, onde trocou sua camisa por uma limpa e limpou o arranhão em seu braço, fazendo um curativo simples.

Também limpou sua adaga e guardou-a numa bainha escondida dentro da calça, como sua irmã ensinou-o a fazer, e outra faca presa na perna, por precaução. 

Como seria apenas uma missão de resgate, não pegou mais armas. O que tinha seria o bastante para o caso de imprevistos, ainda tinha seu cinto caso ficasse realmente ruim.

Um longo suspiro deixou seus lábios, sentado na beliche após calçar seus coturnos. Seu olhos logo seguiram para a parede onde sua cama estava. Ele havia colado as fotos restantes que tinha de sua casa.

Uma foto sua aos dez anos junto do pai. O homem alto e forte, os cabelos negros e olhos claros como os seus com uma barba rala, estava ajoelhado ao seu lado e segurava uma espingarda apoiada contra o chão ao lado, e ambos estavam vestidos com roupas de inverno. Eles haviam saído para caçar, como era tradição de família. 

Uma aos oito anos com o avô em sua oficina de trabalho. Mikhail segurava um rádio amador que ele tentou construir com o avô enquanto ele lhe ensinava sobre o ofício da família.

Sentia falta deles. De todos eles. 

Ele focou em uma fotografia em específico, e seus dedos logo se estenderam até ela, tocando o papel amassado.

Mikhail estava com seus treze anos, vestido na camiseta do acampamento, sendo abraçado por sua irmã mais velha, ambos sorrindo. Os longos cabelos ondulados dela, também muito escuros, caíam em cascata por seus ombros, os olhos claros brilhando contra a luz. 

Ele sorriu fraco e triste para a foto. Não via seu pai ou os avós há anos, mas era da irmã de quem sentia mais falta. 

Ela merecia estar viva. Merecia ver que, de alguma forma, o que tanto sonhava foi conquistado.

Mikhail ainda não se sentia merecedor, mas fazia por ela. 

Por eles.

Além de sua irmã, havia mais uma pessoa na fotografia. Um garoto da idade dela, com um braço ao redor dela e outro  também abraçando Mikhail, a grande cicatriz cortando o lado esquerdo de seu rosto.

Um dia a justiça será feita por nós. Todos os semideuses terão seu lugar de direito” ele lhe disse naquele dia, seu aniversário de treze anos.

De um jeito ou de outro, aconteceu. Ele cumpriu a promessa... A um grande custo.

Não percebeu o tempo passar enquanto era inundado por lembranças da irmã, de sua risada, de quando cantava para ele em russo antes de dormir, de seus abraços. Ele apenas ouviu de repente as batidas na porta.

Ouviu as batidas. Ele saltou de susto, pois o chalé estava tão silencioso que por um instante esqueceu-se dos aparelhos auditivos.

Annabeth aproximou-se dele, ansiosa.

— Está pronto?

— Estou. Só estava…

— Eu sei. — Ela suspirou, chegando mais perto e também encarando a foto. 

— Tenho sonhado com ela… Com nossa casa.

— Você poderá voltar um dia.

— Se os deuses quiserem. 

E aquela frase estava longe de soar como uma prece ou algum tipo de expressão. Ele não poderia ser mais literal sobre aquele assunto.

Sentiu a mão de Annabeth em seu ombro, e então ficou de pé.

— Bom… Vai me contar sobre o seu sonho? Percy realmente está com Gleeson?

— Eu sei que está. Te conto no caminho, vamos!

Eles deixaram o chalé e seguiram para os estábulos, onde a biga dourada do chalé de Apolo reluzia ao Sol enquanto alguns campistas prendiam as rédeas nos pégasos.

Will estava entre eles, com os cabelos loiros brilhando quase tanto quanto a biga. 

— Hey, Micky! — Ele acenou com a palma da mão o sinal de “Olá” com um sorriso brilhante. — Boa sorte hoje. — Tocou o queixo e então soletrou “Sorte” em sinais.

— Hey, Will. Obrigado, e eu estou te ouvindo agora.

— Eu sei, mas não posso perder a prática. Bom que você vai conseguir ir.

— Meu dever é ajudar o acampamento, não é? Que ajuda melhor que trazer seu grande herói de volta — respondeu com certo sarcasmo em sua voz que não passou despercebido pelos outros.

— Bem, ainda desejo sorte!

Mikhail se aproximou dos pégasos com cuidado e segurou a cabeça de um deles delicadamente, fazendo uma leve carícia.

— Senti sua falta também, garota — disse com uma sorriso leve. — Tem açúcar? 

Will jogou alguns torrões para ele, que pegou-o no ar e deu para os pégasos. 

— Agora podemos ir. Até mais tarde, Will!

Ele subiu na biga junto de Annabeth e segurou as rédeas com firmeza, agitando-as em seguida e os cavalos logo começaram a correr e levantar voo.

— Certo… Podemos voltar à parte do cara sem sapato? Eu não entendi bem. Estamos procurando Perseu ou o Jasão? 

***

Mikhail não sabia se acalmava Annabeth antes que ela explodisse ou se caía no riso pela grande peça que o destino e suas visões pregaram.

Assim que pousaram, ele logo percebeu que Percy não estava lá. As únicas cabeças loiras ali eram uma garota baixa e magra mais cor de rosa que o chalé de Afrodite com as mãos sujas de sangue e um garoto alto de camiseta roxa com pose de capitão do time da escola. 

E o garoto estava sem sapatos.

Ele começou a explicar sobre como espíritos da tempestade disfarçado de alunos os atacaram, e o treinador os protegeu.

— O QUE VOCÊ QUER DE MIM? — Annabeth gritou para o céu.

Ela estava visivelmente frustrada. Por todo o caminho ela estava ansiosa e esperançosa, confiante de que encontraria Percy. Depois de três dias, a aflição dela teria fim.

Mas, como sempre, os deuses estavam apenas brincando com sua cabeça. Percy não estava ali.

Fora os dois loiros ali, estavam outra garota em jeans surrados com um corte sangrando na testa e um garoto baixo de cabelos encaracolados que parecia um elfo de jaqueta do exército.

Nada de Percy Jackson.

E saber que Hedge não estava ali mexeu um pouco com Mikhail, embora tentasse não demonstrar. Ele gostava daquele velho sátiro. Gleeson foi o sátiro que resgatou sua irmã, que ajudou quando ele foi levado para o acampamento.

Ele foi levado por espíritos da tempestade. Aquilo não era um bom sinal. Porque eles iriam querer um sátiro?

Tentou ser calmo e racional. Annabeth o encarou, frustrada e impaciente. Ela não queria ir. Ela queria respostas. Porém, cedeu quando disse para eles voltarem e obterem suas respostas lá, pois sabia que era o mais sábio a ser feito agora.

O garoto loiro pareceu bastante intimidado por ela, sem querer ir, mas Mikhail rapidamente os convenceu a subir na biga.

Porém, antes de ir, o garoto pegou uma espada do chão. Mikhail franziu o cenho, pois ela era feita de ouro e não possuía o formato comum de espadas gregas. Lembrava muito mais os modelos que viu em retratos romanos em museus.

— Onde conseguiu essa espada?

— Pela milésima vez… Eu não sei — o garoto respondeu e suspirou, parecendo cansado de dizer aquilo.

Ele olhou para a espada franzindo o cenho e então girou o cabo na mão, e ela tomou a forma de uma moeda que ele guardou no bolso.

Mikhail franziu o cenho e arqueou a sobrancelha, desconfiado, mas não gastou tempo questionando. Subiu de volta na biga e segurou as rédeas dos pégasos, erguendo voo.

Annabeth estava ao seu lado ajustando o dispositivo de navegação, e ele estava focado em sentir o vento em seu rosto e aquela sensação temporária de liberdade.

Ouviu as vozes dos outros atrás. Ele então se esforçou para compreender o que diziam.

— Isso parece tão legal! Para onde vamos? — perguntou o garoto moreno, que ao que parecia se chamava Leo.

— Para um lugar seguro. O único lugar seguro para nós — respondeu Annabeth.

Infelizmente, o único, Mikhail pensou.

— Acampamento Meio-Sangue.

— Isso é algum tipo de piada? Meio-sangue?

— Significa que nós somos semideuses. Meio mortais, meio deuses — disse o garoto loiro, o que deixou Mikhail ainda mais desconfiado.

— Você é um fugitivo? — perguntou voltando os olhos para ele por um instante.

— Fugitivo?

— Um semideus fugitivo. Sabe o que é e vive sozinho fugindo dos monstros. Você tem uma espada.

— Você parece saber bastante, Jason — Annabeth disse e trocou um olhar breve com Mikhail. Ela também estava desconfiada dele. — Mas, sim, você está certo. Minha mãe é Atena, deusa da sabedoria. Mikhail é filho de Nêmesis, deusa da vingança.

— Sua mãe é deusa da vingança? — Leo perguntou.

— Sim.

— Então você é meio que um Vingador? 

— Como é?!

Mikhail encarou-o de cenho franzido.

— Você nunca viu Vingadores, cara? Ou Caverna do Dragão?

— Er… Não?

— Você viveu numa caverna ou o quê?

— Num navio cruzeiro, na verdade… E tecnicamente uma caverna, mas.. Ah, mas isso não importa agora. — Mikhail agitou a cabeça para voltar a se concentrar.

— Seu sotaque é engraçado.

— Annabeth.

— Certo, deuses. Vocês são…

— Eu conheço muito bem os meus pais e acho que saberia se um deles fosse um deus — disse Penelope, interrompendo Annabeth.

— Acho que não há uma forma mais delicada de dizer… Um deles é apenas seu padrasto ou madrasta.

— Ou você é adotada — Mikhail completou.

Penelope arregalou os olhos.

— Eu não sou adotada! 

Um raio cortou o céu, e a biga estremeceu. Mikhail olhou ao redor ao sentir o cheiro de algo queimando.

— A roda esquerda está queimando! — Jason exclamou.

Ao olhar para trás, eles viram figuras feitas de ar e fumaça na forma de cavalos. Mais espíritos da tempestade. Mikhail xingou em russo.

— Por que esses parecem cavalos? — Piper perguntou.

— Eles assumem diferentes formas. Annabeth, já podemos usar velocidade máxima?

— Ainda não.

— Assume aqui. 

Mikhail passou as rédeas para Annabeth, porém continuou agarrando-se a elas e de costas para os anemoi thuellai. Ele sacou a adaga e começou a tirar o cinto de corrente.

— O que você tá fazendo, cara?! — Leo perguntou confuso.

— Impedindo que aquelas coisas destruam a biga.

Jason tirou a moeda do bolso e jogou-a no ar, porém Mikhail lançou-lhe um olhar sério para ficar parado. Ele prendeu a corrente no cabo da adaga e enrolou a outra ponta em seu pulso.

Permaneceu parado e fechou os olhos, ficando nos barulhos ao redor. O som do vento, a direção do ar.

— ELES ESTÃO…

— Eu sei! 

Mikhail continuou de costas, apoiado na carroceria da biga. Então, antes que alguém gritasse mais alguma coisa abriu os olhos e virou-se repentinamente e lançou a adaga como um chicote. A corrente se esticou até a faca cortar o espírito mais próximo e explodir em pó.

O impulso o puxou para frente, mas o fato de ainda agarrar-se às rédeas o manteve no lugar. 

Recolheu a corrente e olhou para o painel.

— Tudo ponto — Annabeth disse. — SEGUREM-SE!

Ela agitou as rédeas com força, e eles foram então a toda velocidade. O mundo ao redor era apenas um borrão, e o estômago de Mikhail se revirou.

E então eles estavam de volta ao acampamento. O vale se estendia abaixo, rodeado de colinas e árvores cobertas de neve. Os pégasos estavam exaustos pela viagem e não aguentariam muito tempo.

— Vou guiar para o lago!

— NÃO! — Mikhail gritou, mas Annabeth já havia o feito. — O LAGO NÃO!

E então… BUM!

O choque contra a água veio junto ao frio repentino e a escuridão do fundo do lago, a dor em seu corpo. Sendo um semideus treinado que vive nesse meio há cinco anos, Mikhail já deveria saber como lidar com uma situação como aquela e manter a calma, porém, tudo o que ele fez foi entrar em pânico.

Ele não se viu mais no lago do acampamento, mas em pleno alto mar. A dor da queda era também uma dor de algo queimado, corroendo sua pele; a dor em seus ouvidos. Ele se perdeu num silêncio repentino, não havia nada além de um zumbido alto em sua cabeça.

Ele gritou. A água invadiu seus pulmões. Ele se debateu, sequer notando a náiades que tentavam ajudá-lo.

A única coisa que apareceu em sua mente foi a imagem de sua irmã o puxando por corredores estreitos. Ele viu Percy. Viu sua irmã o abraçando com força antes de empurrá-lo em um bote.

E viu uma explosão.

Um flash e Mikhail não estava mais na água. Ele estava tremendo e chorando enquanto alguém o abraçava com força.

— Yelena… Yelena… — ele murmurava. 

***

Jason não sabia mais o que esperar daquelas pessoas e do acampamento depois daquela manhã.

Quando sentiu o impacto na água, seu primeiro impulso foi prender a respiração e inflar as bochechas de ar. Era uma sensação familiar, como se já tivesse feito isso várias vezes.

Ao abrir os olhos ele viu uma garota, os cabelos escuros flutuando ao seu redor. Sua visão estava turva, porém ele teve um único pensamento.

Darya.

Aquele mesmo nome de antes, como uma lembrança querendo retornar a sua mente e sendo arrancada para longe. 

A tal garota o puxou para cima e o deixou na praia.

Bem, não era bem uma garota, ele viu logo. Era uma ninfa do lago. Não saberia dizer como conhecia essa informação. Com certeza não era Darya.

Jason tossiu um pouco e logo um garoto loiro com um arco e flecha nas costas lhe estendeu a mão e o ajudou a ficar de pé. A mesma ninfa que o tirou do lago jogou sua espada ao seus pés na praia de cascalho da margem e acenou antes de mergulhar de volta.

O garoto pegou a espada e o entregou.

— Acho que é sua?

— Sim, é. Obrigado.

Pegou a espada e a transformou em moeda de novo. 

— Annabeth, eu te emprestei a biga para uma missão de resgate, não para destruir ela! — o garoto exclamou.

— Desculpa, Will.

Os outros foram tirados do lago também, todos exceto Mikhail. Ele demorou mais, e Jason teve a impressão de ouvir um grito. O filho de Nêmesis foi tirado do lago por três náiades, debatendo-se contra elas.

Ao ser jogado na praia, ele tossiu e cuspiu água. Um outro garoto aproximou-se para ajudá-lo, porém ele o empurrou e arrastou-se no cascalho para longe. Ele, de repente, estava trêmulo e chorando, falando numa língua que Jason não compreendeu, seus olhos completamente sem foco.

Ele então começou a murmurar o que parecia um nome.

— Ele enlouqueceu de vez — alguém comentou atrás.

Jason percebeu que uma multidão se reuniu para vê-los, mas ele observou preocupado o garoto transtornado e fora de si. Ele começou a soluçar e respirar fundo, como se sentisse dificuldade.

— Ele está em choque! — Jason falou. — Ele tem hidrofobia?

— Não — disse o garoto que ajudou-o a se levantar. — Micky, hey! Olha pra mim.

Will e Annabeth correram até o garoto e ajoelharam-se ao seu lado. Ela abraçou-o com força, consolando-o e mantendo-o parado.

— Estamos no Acampamento Meio-Sangue. Você está seguro. — Will fazia sinais enquanto falava.

Foi apenas então que Jason reparou. Ele não tinha prestado muita atenção em Mikhail e agora percebia que os pontos em seus ouvidos eram aparelhos auditivos que estavam no momento quase caindo de suas orelhas.

Jason se sentiu levemente intimidado por Annabeth, de fato. Ela parecia prestes a matá-lo no Grand Canyon. Mas agora, ela parecia completamente diferente. Ela abraçava o garoto, apertando-o forte com uma mão em seus cabelos, ambos completamente encharcados.

Parecia carinhosa, cuidadosa, preocupada.

Quando Mikhail pareceu se acalmar, enquanto todos cochichavam atrás deles, Jason se viu de repente com uma toalha ao redor dos ombros que nem percebeu quando colocaram e outro grupo cuidava dos pégasos.

Retirou seu casaco e enrolou mais a toalha em seus ombros, ainda observando a movimentação, atento.

— Will, leve-o até a enfermaria. Eu irei depois que resolver tudo por aqui — Annabeth disse.

— Okay. Vem, Mikhail. Está me vendo? 

Mikhail assentiu com a cabeça, mas não parecia menos abalado. Will ajudou-o a ficar de pé e pegou uma toalha que lhe estenderam, colocando sobre os ombros dele e o levando até onde deveria ser a enfermaria.

Annabeth ficou de pé com um longo suspiro, parecia abalada pelo amigo.

— Acho que também estou precisando de um enfermeiro — Leo ergueu a mão. — Acho que desloquei o ombro.

E realmente, o ombro dele não parecia no lugar.

— Algum sinal de Percy, pelo menos? — alguém na multidão perguntou.

— Não.

Todos suspiraram.

Jason queria entender o que havia de importante sobre esse Percy além de ser namorado de Annabeth. E ele não saberia dizer se era um bom sinal que houvesse tantas pessoas preocupadas com seu desaparecimento ou se sentia pena do garoto por provavelmente ser visto com alguém de tanta importância.

Não sabia o porquê, como tudo em sua vida naquele dia.

— Espero que eles valham o problema — disse uma garota bem maquiada surgindo na multidão que olhou para todos eles, especialmente para Jason.

Jason não gostou do olhar dela para si.

— Somos seus mascotes por acaso? — Leo bufou.

— Que tal começarem a responder que lugar é esse exatamente e quanto tempo vamos ficar?

— Tudo será respondido, Jason. Apenas… Espere.

— Claro, todo o tempo que quiser.

— Vocês duas também parecem feridas por causa dos espíritos da tempestade, então vão com Leo para a enfermaria. — Apontou para Piper e Penelope. — Depois, designaremos um guia para cada um. Com sorte, vocês serão reclamados na fogueira.

— O que quer dizer com reclamados? — Piper perguntou.

Na hora exata, um símbolo brilhante surgiu na cabeça de Leo.

— Isso é ser reclamado.

— Hã? — Leo franziu o cenho e olhou para cima.

Acima da cabeça dele brilhava a imagem de um martelo de fogo. O garoto arregalou os olhos e tentou fugir do símbolo, mas ele o seguia e isso apenas o fez reclamar de dor pelo ombro.

— O que é isso?! 

— Você foi reclamado por um deus. É o símbolo de Vulcano… Não é? — Jason comentou.

— Jason… Como saber disso? — Annabeth perguntou.

Ele suspirou.

Eu. Não. Sei — respondeu pausadamente.

— Vulcano? Eu nem gosto de Star Trek! — Leo exclamou.

— Vulcano é o nome romano para Hefesto, o deus dos ferreiros e do fogo.

— Isso não é um bom sinal — alguém murmurou e imediatamente recebeu um olhar fulminante de Annabeth.

Ela analisou-o com cuidado, e Jason engoliu em seco.

— Jason, mostre seu braço.

— O quê?

— Mostre seu braço.

Jason estava confuso, mas assim o fez e revelou sua tatuagem no antebraço. Uma águia com doze linhas, como um código de barras, e com as letras SPQR.

— Onde conseguiu essas marcas?

— Eu já estou cansado de dizer isso. Não me lembro de nada, okay? Eu não sei de nada!

Annabeth suspirou. Ela ficou em silêncio por alguns instantes, ainda o analisando.

— Vamos falar com Quíron, vou te levar até ele. Drew, leve eles até a enfermaria.

— Sério? Se for pra fazer algo, eu posso acompanhar ele até a Casa Grande — a garota respondeu e então sorriu para Jason.

— Estou realmente curioso para ver esse Quíron se ele vai me trazer respostas, Annabeth. Podemos ir logo? — respondeu e ignorou a garota, podendo ouvir ela bufar.

Piper sorriu com isso.

— Vamos. Todos vocês, voltem para suas atividades! 

Todos obedeceram Annabeth prontamente, embora ainda olhassem para trás. Era claro como todos ali a respeitavam como uma líder.

Ela começou a caminhar em uma direção, e Jason a seguiu enquanto tentava se secar com a toalha e Annabeth fazia o mesmo com uma própria que lhe entregaram. 

Não disse uma única palavra, o que tornava a caminhada bastante desconfortável. 

Jason observou os arredores enquanto andava. Era uma enorme campina e ao longe podia enxergar, com certa dificuldade, outros montantes de jovens em camisetas laranjas em suas atividades.

— Me conte mais uma vez — Annabeth pediu de repente.

— O quê?

— Tudo o que se lembra.

— Nada. Isso que estou dizendo. Eu simplesmente acordei naquele ônibus mal lembrando do meu próprio nome ou minha idade.

— Você não deve ter mais que dezesseis. 

— Eu poderia ter vinte anos e não me lembrar disso. Eles até tentaram fazer eu me lembrar de algo, mas não deu certo. Eu supostamente tenho uma namorada que nem conheço, mas eu sei que não deveria ter… Eu acho.

— Você acha?

— Eu não me lembro da minha vida!

Jason bufou impaciente.

— Eu me lembro de um nome, mas não faço ideia de quem seja.

— Qual nome?

Jason hesitou. Algo o mantinha desconfiado de toda aquela situação, daquelas pessoas. 

Annabeth o encarou, aguardando uma resposta. Ele comprimiu os lábios, pensativo. Se queria respostar, confiar e dar algumas era um caminho para uma troca justa.

— Darya. 

— Algum sobrenome?

— Eu não lembro nem o meu sobrenome. E por algum motivo, ela sempre me vem à mente quando penso em água… — Ele ergueu o pulso e analisou a pulseira. — Ou golfinhos.

— Golfinhos? — Annabeth arqueou a sobrancelha.

— Por favor, não pergunte. Não vou saber responder.

— Tudo bem, Jason. Você parece estar com uma séria amnésia.

— Eu nem imaginaria. 

Eles continuaram a caminhar, então Jason avistou a casa. Era um casarão de quatro andares, as paredes na cor azul bebê e acabamento em branco. Na varanda, havia cadeiras de balanço, uma mesa de cartas e uma cadeira de rodas vazia. 

Não parecia ameaçadora, mas Jason sentiu um calafrio.

— Eu não deveria estar aqui.

— Você está exatamente onde deveria, Jason. Aqui é um lugar seguro — Annabeth falou. — Se lembra de mais alguma coisa?

— Não, nada. O ventus… Anemoi que estava infiltrado, Dylan, disse que me conhecia, na verdade, mas eu não lembro de conhecê-lo. 

— Suas memórias escondem uma história bastante intrigante, eu diria.

— Gostaria de tê-las de volta. Ele disse algo sobre ter uma cria de Netuno para me salvar na última vez e…

— Cria de Netuno? — Annabeth paralisou.

Sua expressão era de puro espanto. Jason não entendeu o motivo, como muitas outras coisas naquela manhã. A mente dela parecia trabalhar a todo vapor, analisando-o surpresa.

Ele não teve a chance de perguntar a ela o motivo, pois logo ouviu… Galopes?

Jason cambaleou para trás ao ver um homem surgir da lateral da varanda. Na verdade, metade homem. A outra metade era um de cavalo. Um centauro.

Ele aparentava ser um homem de meia idade, barba bem feita e cabelos esbranquiçados contrastando na pele escura. Carregava um arco com uma aljava nas costas, e Jason esperava que nenhuma daquelas flechas fosse ser apontada em sua direção.

— Ah, Quíron… Este… Este é Jason — Annabeth o apresentou, ainda abalada.

A expressão de Quíron foi quase a mesma de Annabeth instantes antes, mas talvez até pior. Os olhos arregalados por pouco não saíram da órbita.

— Você… Você devia estar morto.

E então foi a vez de Jason arregalar os olhos em espanto.

Morto? Ele estava muito bem vivo, obrigado. Por que alguém esperaria que ele estivesse morto?!

— Conhece ele? — Annabeth perguntou.

Quíron hesitou antes de responder.

— Queira entrar.

— Entrar? 

— Sim, por favor.

Jason franziu o cenho e olhou receoso para Annabeth antes de se aproximar hesitante da varanda.

— O que o senhor estava dizendo?

— Annabeth, pode retornar aos seus afazeres e garanta que os novos campistas estão bem alocados — Quíron ignorou a pergunta. Isso não alegrou Jason.

— Mas… E-ele…

— Por favor, Annabeth. Volte depois para acompanhá-lo.

Annabeth não pareceu gostar daquilo, mas não questionou. Ela assentiu com um longo e deu meia-volta.

Naquele momento, Jason quis muito ir com ela.

Ele engoliu em seco enquanto o centauro ia até a cadeira de rodas. Viu que uma de suas patas traseiras era, na verdade, uma prótese metálica.

Após tantas loucuras naquela manhã, ver a grande traseira de cavalo desaparecer na cadeira de rodas e fazer Quíron parecer apenas um velho senhor mortal qualquer foi a menor das surpresas.

— Siga-me. Temos limonada.

Jason o seguiu para dentro da casa um tanto desconfiado.

A sala parecia a um passo de se tornar uma vinícola com várias videiras pelas paredes e se estendendo até o teto, com folhas verdes e cachos de uvas vermelhas, não parecendo afetadas pelo inverno. Elas cresciam por entre as máscaras típicas de teatro grego e carnavais presas na parede que decoravam o local.

Sofás de couro rodeavam uma lareira, e Jason se perguntou se aquilo espremido ao canto era realmente uma máquina de Pac-Man e o que ela fazia em um acampamento.

A cabeça de leopardo empalhada era apenas um charme a mais.

Ah! E realmente tinha limonada.

— Pelos deuses! — Jason saltou de susto quando a cabeça empalhada rosnou. — Isso está vivo?!

— Seymour, Jason é amigo, comporte-se — Quíron o repreendeu. — Desculpe a decoração. Esse foi um presente de despedida do nosso antigo diretor antes de ser chamado ao Monte Olimpo para nos lembrarmos dele. O Sr. D tem um senso de humor estranho.

Sr. D. Um belo nome para um diretor. Considerando que aquele era um tipo de acampamento divino grego e todas aquelas videiras…

— Sr. D… Dionísio? — tentou. — Com essas videiras não consigo imaginar muitas outras alternativas.

— Exatamente. Você está indo bem.

— Depois de ser atacado por espíritos de tempestade e vir para cá numa biga dourada arrastada por cavalos alados… Nada me surpreende. E tenho a impressão de que isso não é a coisa mais extraordinária que já me ocorreu e de que tudo é bastante familiar.

— Presumo que não. E quanto a Seymour, o Sr. D o encontrou em uma venda de garagem em Long Island. O leopardo é o animal sagrado de Dionísio, e ele ficou bastante horrorizado ao perceber que alguém foi capaz de empalhar tal nobre criatura. Ele lhe deu a vida, considerando que viver como uma cabeça era melhor que não viver. Devo dizer que é um destino mais bondoso do que o antigo dono de Seymour teve.

Quíron tirou um pacote de biscoitos do bolso e jogou para o leopardo, que o abocanhou imediatamente.

— Devo perguntar para onde vai a comida?

— Melhor não. Sente-se.

Jason sentou-se no sofá e Quíron parou em sua cadeira de rodas não muito longe, e serviu-lhe um copo de limonada. Não havia percebido com quanta sede estava até aquele momento e bebeu metade do copo de uma só vez.

Também estava com fome. Quando seria a última vez que ele comeu alguma coisa?

— Então, Jason… De onde você é?

— Também gostaria de saber.

— Conte-me como chegou aqui.

Jason respirou fundo antes de, mais uma vez, contar tudo. Como acordou naquele ônibus com os outros, o ataque dos espíritos da tempestade, o resgate de Annabeth e Mikhail, o pouso forçado no lago. Não poupou detalhes, até mesmo mostrou as marcas em seu braço.

Quíron era um ótimo ouvinte, não interrompeu em nenhum momento, apenas ouviu atentamente sem esboçar grandes reações.

Quando Jason terminou, bebeu o restante de sua limonada e encheu o copo outra vez, sentindo a boca seca, enquanto o homem dava um gole em sua própria.

— Você deve ter muitas perguntas para mim.

— Sim, tenho. Primeiro: podemos voltar a parte que eu deveria estar morto? Eu não gosto muito dessa ideia.

Quíron o estudou calmamente, como se esperasse alguma reação.

— Garoto, você sabe o que essas marcas em seu braço significam? A cor de sua camisa? Você se lembra de algo?

— Essa é a questão. Eu não me lembro de nada! Não sei nem meu nome completo, minha idade, de onde vim, se tenho uma família… 

— Você sabe onde está?

— Er… Acampamento Meio-Sangue? 

— Entende que lugar é esse e quem eu sou?

Jason não estava entendendo o caminho daquela conversa. Algo dentro dele o deixava em estado de alerta, como se o perigo estivesse a espreita.

Porém, de alguma forma, ele sabia. Jason não se lembrava de sua vida, mas se lembrava de muitas coisas sobre o mundo, sobre aquele mundo.

— Você é Quíron… O centauro… — respondeu. — O mesmo das histórias antigas, não é? Que treinou Hércules, Aquiles, e vários outros heróis gregos. Esse é um acampamento para filhos de deuses gregos, um lugar seguro para eles.

— Então acredita que os deuses ainda existem?

— Depois de tudo isso, difícil não acreditar. — Riu baixo. — Não acho que todos os adorem como antigamente, talvez ainda haja quem o faça em algum lugar, pessoas mortais que ainda acreditem e sejam fiéis a eles, mas… Eles estão por perto. São uma poderosa parte da civilização. Eles vão de país em país conforme o centro do poder se move… como eles foram da Grécia Antiga para Roma.

— Não poderia descrever melhor. — A voz de Quíron pareceu mudar de algum jeito. — Então você já sabe que os deuses são reais. Você já foi reclamado, não foi?

— Talvez — Jason respondeu. — Mas não tenho certeza. Sei que tenho uma espada e já lutei contra aquelas coisas antes… Apenas não me recordo.

O leopardo rosnou.

Quíron pareceu satisfeito de um jeito estranho, como se suas suspeitas sobre Jason fossem repentinamente confirmadas. Então o garoto percebeu o que houve e arregalou os olhos.

A mudança na voz… Quíron mudou de idioma.

— Quis erat… — Jason travou. Ele estava respondendo automaticamente no idioma. — O que foi isso?

— Você sabe latim muito bem. Alguns semideuses sabem algumas frases, claro, está em seu sangue, mas não tão bem quanto o Grego Antigo. É preciso prática para falar latim fluentemente.

Okay, Jason era fluente em latim. Porém, obviamente, não sabia o que aquilo significava. 

Ainda sentia que estava em perigo, mas Quíron não estava o ameaçando. Parecia preocupado, na verdade, temendo sua segurança. Talvez fosse um instinto dele se preocupar com todos os semideuses e protegê-los.

— Eu ensinei o seu xará, o Jason original. Ele teve um caminho árduo. Eu vi vários heróis irem e virem. Ocasionalmente, eles têm finais felizes. A maioria, não. Isso parte meu coração, é como perder um filho sempre que um dos meus pupilos morre. Mas você... você não é como qualquer pupilo que eu já treinei. Sua presença aqui poderia ser um desastre.

— Muito inspirador.

— Desculpe, mas é verdade. Eu esperava que depois do sucesso de Percy…

— Percy Jackson. O namorado da Annabeth que está desaparecido.

— Sim. 

Quíron respirou fundo. Era perceptível que pensar em Percy e seu sumiço não era fácil. Ele era um de seus pupilos, um que ele esperava que tivesse um final feliz.

— No último verão, houve uma nova Guerra Titã. Depois do sucesso e de ter salvo o Monte Olimpo, esperava que tivéssemos alguma paz. Eu deveria ter me informado melhor. O último capítulo se aproxima, assim como foi antes. O pior ainda está por vir.

— Isso soa divertido — Jason retrucou sarcasticamente. — Agora, eu ainda não entendi a parte que eu deveria estar morto.

— Receio que não possa explicar muito mais. Eu jurei pelo Rio Estige que nunca diria… Mas você está aqui. Isso também, não deveria ser possível. Eu não entendo. Quem faria tal coisa? Quem…

Quíron parou de falar, como se um estalo chegasse a sua mente, como quando Jason lembrava de algum detalhe, algo vindo a mente.

— Isso é realmente algo arriscado.

— Isso o quê? 

O homem suspirou, olhando para Jason quase com pena. Ele não gostou disso, não gostava de ser olhado daquela forma.

— O significado da sua marca em específico, essa águia em seu braço. Em geral, o destino das pessoas ligadas a ela nem sempre é bom. Sua amnésia talvez tenha relação com isso.

Os olhos de Jason recaíram sobre o próprio braço, observando a marca. A águia marcada em sua pele, quase como se queimada diretamente ali. Não era um símbolo qualquer.

— A águia é o símbolo de Júpiter… De Zeus, quero dizer. O Rei dos deuses.

— Sim. Treinei muitos de seus filhos, o fim deles raramente é bom. Há muito tempo, os Três Grandes, Zeus, Poseidon e Hades, fizeram um juramento.

— Um juramento? — Jason franziu o cenho.

— De que nunca mais teriam filhos. Seus filhos eram muito poderosos e imprevisíveis. Entretanto… Zeus foi o primeiro a quebrá-lo. Sua filha, apesar de hoje estar bem, não teve um bom destino por um bom tempo. 

— O que aconteceu com ela?

— Pergunte a Annabeth, ela saberá contar essa história muito melhor. E Percy…

— Ele é filho de um dos Três Grandes.

— Poseidon, deus dos mares. E o destino do mundo esteve em suas mãos. Crianças proibidas não são bons agouros. Sua chegada foi o início de grandes acontecimentos, assim como o retorno de Thalia, filha de Zeus. 

Jason congelou ao ouvir aquele nome. Um aperto em seu peito que lhe pareceu familiar. Uma sensação de falta, algo que foi arrancado dele, como uma dor muito antiga. Não entendia, como sempre, mas não conseguia impedir de sentir. Sua cabeça doía, uma pontada tentando puxar algo que não conseguia se lembrar.

Quíron o observou em silêncio, aguardando sua reação. O nó cresceu na garganta do garoto, suas mãos ficaram trêmulas.

Ele bebeu a limonada e segurou o copo com ambas as mãos. Por que ele estava sentindo aquilo? O que aquela Thalia significava?

Uma gota molhada caiu em sua mão. Ele franziu o cenho e abaixou o olhar, então levando a mão até o rosto e percebendo o rastro de uma lágrima. Secou os olhos rapidamente e fungou.

— Não posso falar muito, mas acho que se minhas suspeitas sobre sua reclamação estão certas, você sabe ao menos parte do perigo que corre.

— Eu meio que sobrevivi a um raio que deveria matar um exército. 

— Suspeitas comprovadas, então.

Jason engoliu em seco.

— Ju… Hera. Ela sempre arranja um jeito de atrapalhar a vida dos frutos das traições de Zeus. Uma cobra no berço, matar os tutores de loucura… E apagar memórias?

— Não posso julgar os métodos da rainha do Olimpo de sanar sua raiva. Mas temo quais sejam os planos por trás disso.

— Eu não tenho culpa de ter nascido!

Quíron apenas exibiu um fraco sorriso reconfortante para ele, um olhar de quem já deve ter ouvido aquelas palavras de muitos como ele.

— Apesar de tudo, você terá um lugar aqui. Será muito mais perigoso se não estiver.

— Er… Obrigado, então?

— Estará seguro aqui, Jason. Não precisa agradecer, todos os semideuses merecem uma chance de viver em segurança.

Jason ficou um tanto sem jeito e retribuiu um fraco sorriso, apenas um curvar de lábios. Suas mãos ainda tremiam, mas ele se sentiu um pouco menos acuado e perdido que antes.

— Você deve estar exausto após tudo o que passou. É melhor que conheça o acampamento e se instale. Depois veremos o que os deuses reservaram para você, garoto.

Jason sentiu um gosto amargo na boca, a postura rígida. O que os deuses reservaram para ele… Não gostava da sensação que aquela frase lhe causava.

Quíron afastou-se em sua cadeira de rodas, seguindo em direção a saída. Jason suspirou e o seguiu para fora, a cabeça martelando toda aquela conversa.

— Annabeth.

A garota estava sentada nas escadas da varanda e logo ficou de pé. Jason ficou surpreso de ver que ela ainda continuava ali.

— Sim, Quíron?

— Acompanhe Jason e apresente-o ao acampamento. E garanta que todos os outros recém-chegados estarão bem instalados. 

— Tudo bem.

— E por favor, se não for incomodar, abrirei uma exceção hoje sobre as mesas do pavilhão. Não deixe Jason sozinho.

— Entendi.

Jason seguiu Annabeth mais uma vez pelo acampamento. Eles passaram por uma quadra de vôlei não muito longe do casarão, onde alguns campistas estavam jogando, o que deixou-o bastante curioso e até com vontade de jogar.

Agora podia observar mais atentamente tudo ao redor. Os ponto de arco e flecha, a parede de escalada, um armazém… Tudo espalhado pelos arredores por todo o vale. Não parecia haver uma grande organização quanto a isso.

Realmente como um acampamento de férias, só que com construções gregas.

— Você ouviu a conversa, não ouviu?

— Uma boa parte.

— Então… O que acha?

— Suas memórias realmente escondem uma história intrigante. 

— A história de um semideus atormentado todos os dias pela madrasta, talvez?

Annabeth riu baixo.

— Sei bem como é. Na verdade, acho que sei um jeito de conseguir respostas sobre suas memórias e até recuperá-las.

— Sério?

— Venha comigo. Estou tão ansiosa quanto você para descobrir o que sua mente esconde.

— Por quê?

— Porque desconfio que algo aí pode conter respostas sobre Percy. E se você me ajudar a achá-lo, eu vou te ajudar a lembrar — ela disse com firmeza, confiante, apressando o passo. — Venha, vamos recuperar suas memórias.

Jason também apressou o passo e a seguiu, mesmo que receoso do que estaria por vir.

—————————

Olá, semideuses!
Tudo bem?

A SÉRIE FINALMENTE SAIU!!

E para comemorar o lançamento da série e o aniversário da nossa querida Thalia Grace, aqui está uma atualização fresquinha para vocês!

O que vocês acharam do Mikhail?

Algumas coisas já estão seguindo caminhos diferentes do livro. Estão gostando? E essa pequena aproximação de Jason e Annabeth?

Espero que estejam gostando! Não esqueçam de comentar bastante!

Em breve retorno com mais!

Até a próxima!
Beijinhos,
Bye bye 😘

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