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Capítulo Único


Vinte anos. Esse era o tempo que Remus Lupin estava longe da Inglaterra.

Muita coisa pode mudar em duas décadas. Pessoas nascem e morrem. Grandes invenções surgem e mudam o mundo. A tecnologia evolui de maneiras absurdas. Sucessos artísticos explodem e voltam ao anonimato.

Duas décadas atrás, Remus decidia ir para a França estudar literatura numa renomada faculdade, a mesma em que sua mãe estudou. Deixou muitas coisas para trás. Sua família. Seus amigos. Amor.

Agora, ele estava de volta. E tinha plena ciência de que seria muita ingenuidade sua pensar que tudo estaria igual. Em vinte anos, a própria bolha perfeita da Coroa Inglesa passou por grandes tumultos e mudanças. Não conseguia imaginar como estariam seus antigos amigos.

Bom, ele não precisaria esperar muito para descobrir. Afinal, chegava o dia de uma grande confraternização entre ex-alunos de sua antiga escola. Iria rever seus amigos. Iria rever ele.

Não sabia se ficava ansioso ou apavorado.

- O que acha, Teddy? - perguntou, sinalizando com as mãos enquanto falava.

O garotinho balançou a cabeça negativamente, fazendo careta e em seguida levando o canudo de seu copo colorido à boca, bebendo seu suco.

- É sério? Não gostou nem um pouquinho.

Ele colocou seu copo sobre a mesa.

C-H-A-T-O, sinalizou letra por letra.

- Você estava gostando da história!

Não gosto mais, disse em sinais. Final ruim.

- É um final feliz. Você adora finais felizes!

Teddy fez um sinal de M, três dedos para para baixo. Depois estendeu apenas o indicador e o polegar nas duas mãos, balançando a sua frente como se jogasse para baixo.

Mark. Chato.

- Pensei que ele fosse seu personagem favorito.

O garoto apenas deu de ombros. Um sinal universal que não precisava de muito raciocínio para entender.

- O que você não gostou?

Então, Teddy gesticulou freneticamente as mãos, vários sinais seguidos com uma expressão nada satisfeita em seu rosto. Remus suspirou, bebendo um longo gole de seu café sem tirar os olhos do filho.

Ser surdo não impedia o garoto de ser um grande crítico extremamente exigente das histórias do pai antes de serem revisadas e publicadas e fazer comentários muito mais extensos que seu editor. Teddy sabia usar muito bem as palavras... Com as mãos, claro.

- Vou levar suas opiniões em consideração e repensar o final - disse, não deixando de sinalizar. - Um dia, meu editor vai te contratar. Ninguém opina sobre uma história melhor que você.

O garotinho sorriu, bastante satisfeito com o comentário do pai, e eles voltaram a almoçar.

Remus era escritor. Seus livros de fantasia voltados ao público jovem têm sido grandes best-sellers. Atualmente estava trabalhando em uma antologia, um livro de contos para crianças e adolescentes, todos previamente criticados por sua melhor fonte de pesquisa de opiniões: Edward Lupin, ou como ele chama, Teddy.

Os livros sempre foram sua grande paixão desde a escola. Passou horas e horas dentro da biblioteca lendo ou em livrarias ao longo de sua juventude. E seu sonho era um dia inspirar as pessoas com seus livros como as histórias que leu o inspiraram.

E Teddy sempre foi o primeiro a saber de todas as histórias. Sempre contava para ele o que havia escrito usando os sinais ou deixava que lesse alguns trechos. Se ele não gostava de algo, Remus repensava como poderia melhorar.

Talvez aquela reunião de alunos em sua antiga escola o inspirasse para mais ideias.

Mais tarde, após descansar com Teddy, Remus já começou a se preparar para sair. Como o filho sempre era seu consultor de opiniões, deixou o garoto opinar sobre suas roupas. Saiu do closet e olhou para ele, que estava deitado de bruços em sua cama colorindo um desenho com lápis de cor.

O que acha?, sinalizou para ele ao ter os olhos âmbar como os seus o encarando.

Ele fez uma careta e negou com a cabeça.

- Sério?

Voltou para o closet, então retornando o caminho ao quarto com suas camisas em mãos, uma vermelha e uma azul. Teddy logo apontou animado para a azul.

- Você adora azul, não é?

É lindo, ele gesticulou. Ele estendeu o polegar e o indicador como um C e agitou para cima e para baixo em frente ao rosto, os dedos apontando para si. Era quase como se scaneasse o rosto para falar: Olha que é lindo!

- Tudo bem, a azul.

Retornou ao closet e saiu de lá minutos depois. Teddy sorriu largo, erguendo os polegares em aprovação. Remus sorriu e bagunçou os cabelos dele, beijando sua festa.

O que seria de mim sem você?, sinalizou.

Muito mal vestido, Teddy respondeu.

Remus riu, então começando um ataque de cócegas no garoto, que começou a gargalhar no mesmo instante. O abraçou forte em seguida e depositou um beijo em sua bochecha.

O som da campainha ecoou pelo apartamento.

- Acho que seu avô chegou - disse enquanto sinalizava com as mãos.

O garotinho sorriu e pulou da cama, correndo até a porta. Remus o seguiu e viu ele abrir a porta e pular sobre seu pai, que riu e sorriu, pegando o neto no colo e o abraçando.

- Teddy, não pode abrir a porta sem mim! - repreendeu.

Mas é o vovô, disse ele e abraçou o avô outra vez.

- Ele só estava muito ansioso para passar a noite comendo muitos doces com o vovô - disse Lyall Lupin.

Remus suspirou, mas riu em seguida, fechando a porta. Após o pai colocar Teddy de volta ao chão, ele o cumprimentou devidamente.

- Obrigado por ficar com ele hoje, pai - agradeceu.

- Agora que estou mais perto de vocês, poder passar mais tempo com meu neto é uma grande alegria pra mim - Lyall falou.

Teddy segurou a mão do avô e o puxou para o sofá. Lyall o acompanhou feliz, e o garoto logo pegou seus livros de colorir e a enorme coleção de lápis de cor.

Remus voltou para o quarto para terminar de se aprontar. Respirou fundo enquanto encarava seu reflexo no espelho.

O cabelo loiro escuro beirando o castanho penteado para o lado, a camisa azul abotoada por dentro da calça preta e os sapatos bem lustrados. Toda a maquiagem não foi o bastante para esconder todas as cicatrizes que possuía do acidente de carro que sofreu na juventude, mas disfarçou bem.

Ele pensava que havia mudado muito nos últimos anos. Não sabia o que fazer ou esperar ao rever pessoas do seu passado naquela reunião.

O melhor que podia fazer era torcer para dar certo.

Quando estava pronto para ir, foi até o pai e o filho, que já pintavam juntos um dos livros de colorir de Teddy.

- Divirta-se, Remmy - Lyall disse.

- Vou tentar... - Remus sorriu fraco.

Remus olhou para o filho e beijou sua testa.

Eu te amo, sinalizou para ele.

Eu amo mais, Teddy rebateu.

***

A escola não havia mudado nada. Absolutamente nada.

Ao caminhar pelos corredores até o campo de futebol, onde estava acontecendo a reunião, Remus sentia-se nostálgico. Conseguia se imaginar perfeitamente com 15 anos outra vez, passando por ali com seus amigos, divertindo-se e aprontando pelos cantos da escola.

O campo estava decorado em uma grande mistura de cores. Vermelho, verde, azul, prata, dourado... Uma grande representação da bagunça que foi o seu Ensino Médio. Remus conseguia reconhecer logo de cara alguns antigos jogadores dos times da escola.

Não sabia de quem havia sido a ideia de fazer a reunião ao ar livre, mas esperava que as previsões estivessem certas e não chovesse naquela noite.

- Ai, meus Deus! Remus!

Uma mulher ruiva de olhos verdes brilhantes correu em sua direção. Mesmo duas décadas depois, Remus reconhecia aqueles olhos.

Ele exibiu um largo sorriso e a abraçou.

- Não acredito! - ela exclamou animada.

- Lily, você continua incrível como sempre - elogiou. Ela sorriu, rodopiando em seu belo vestido vermelho. - Senti sua falta.

- Obrigada. Você continua igual, Remus.

- Não exagere.

- Por que sumiu, hein? - Ela lhe deu um fraco tapa no ombro. - Não existem mais telefones na França?

- Desculpa por isso... Mas voltei para ficar!

- Só te perdôo se me der uma edição autografada do seu livro para o meu filho. Ele está ansioso pelo próximo.

- Posso providenciar isso - riu. - E como você está?

- Estou ótima vivendo a minha vida de artista independente solteira - disse com um sorriso de canto, enlaçando o braço ao de Remus e o arrastando até a mesa de bebidas. - Sinceramente, não sei como você aturava James por tanto tempo... Não sei como eu aturei.

Remus piscou, processando as informações, enquanto a amiga enchia dois copos de ponche e entregava um a ele.

- Você e James se divorciaram?

- Há cinco anos. Sinceramente, as vezes parece que foi ontem - Lily respondeu. - Você precisa conhecer o Harry. James comprou seus livros pra ele, já leu um milhão de vezes. E ainda não te perdoei por não vir ao meu casamento, então conhecer meu bebê que te adora é o mínimo que pode fazer.

- Peço desculpas de novo. Ainda estava me estabelecendo na França e... Você sabe...

- A situação com o padrinho não era das melhores.

- Ele veio, não é?

- Sim, veio. Ele cancelou uma apresentação para vir. A música dele está entre as mais ouvidas do Ranking Global do Spotify, sabia?

- Sabia... - Remus ouvia muito aquela música.

Respirou fundo e bebeu um longo gole de sua bebida, começando a preparar-se psicologicamente para o reencontro com seu ex-namorado.

- Mas fala de você! Como anda a vida do grande escritor best-seller Remus J. Lupin? - Lily perguntou.

- Estou trabalhando em um livro de contos agora - revelou. - E estou tentando me reinstalar na Inglaterra com meu filho.

- Qual o nome dele?

- Edward... Teddy.

- Então você se casou?

- Na verdade, não. O Teddy é adotado - disse. - Eu o adotei quando tinha 3 anos. Agora ele já é um belo mocinho de 10 anos.

- Um dia, vamos fazer uma grande reunião com todas as crianças. Você leva o Teddy. Eu, James e Regulus levamos o Harry, Sirius...

- Regulus?

- Sim, o seu ex cunhado, que agora é padrasto do meu bebê.

- O quê?!

- MOONY! - um grande grito alegre ecoou pelo campo.

Remus sequer pôde raciocinar antes que o seu antigo melhor amigo pulasse sobre ele e o agarrassem em um grande abraço que quase quebrou suas costelas.

James Potter exibia um largo sorriso de orelha a orelha. Os olhos âmbar brilhavam atrás dos óculos de armação preta, seus escuros cabelos rebeldes na mesma típica bagunça charmosa de sempre. Ele riu e pulou como uma criança animada, alergia escapando por cada poro de sua pele.

Lupin sorriu de volta.

- James!

- Quando você voltou? Por que não me ligou e disse que viria? Céus! Como ousa voltar a pisar na Inglaterra sem me avisar?! - James questionou, disparando todas as palavras de uma só vez.

- Está tudo uma bagunça, James. Mas eu juro que estava pensando em te ligar algum dia.

- Algum dia?! É assim que trata o seu melhor amigo depois de sumir pela Europa?

Remus riu baixo e desculpou-se com o amigo.

- Espero que não esteja pensando em sumir outra vez, porque eu não vou deixar.

- Voltei para ficar, James. Prometo.

- Isso é ótimo! Podemos nos reunir como nos velhos tempos - James disse. - Amor! Vem ver o Remus!

Um jovem homem se aproximou e parou ao lado de James. Regulus Black continuava extremamente parecido com o irmão mais velho, Sirius. Os cabelos pretos ondulados, os olhos acinzentados... Isso sempre impressionou Remus. Era uma semelhança quase assustadora, exceto pela postura completamente ereta e elegante do que estava a sua frente.

- Bom te ver, Regulus - Remus disse educadamente.

- Igualmente, Remus.

- Não sei se Lily já te contou, mas eu e Regulus estamos noivos! - James disse, segurando a mão do noivo e a erguendo junto a sua para exibir as alianças de ouro. - E dessa vez, você vai vir nem que seja arrastado.

- Estarei apenas aguardando o convite. Garanto que estarei lá - respondeu. Seus olhos foram de Regulus para James várias vezes. - Mas... Sério... Vocês dois juntos... Não esperava.

- Nem eu - admitiu Regulus e riu envergonhado.

- Nos aproximamos bastante depois do meu divórcio. Reggie foi meu advogado num processo da empresa da família que não vem ao caso agora, jantamos juntos muitas vezes, ele ia lá em casa... E quando percebi já estava pedindo para ele casar comigo. - James sorriu e abraçou a cintura do noivo.

- Fico feliz por vocês.

- Você já está oficialmente convidado para nosso jantar semana que vem. Harry vai amar te conhecer!

- Lily me falou que o filho de vocês já... Leu meus livros - Remus disse e riu baixo, com as orelhas vermelhas. - Você realmente comprou pra ele?

- Claro! Sirius também comprou vários exemplares de todos eles. Até eu já li e espero que o próximo já esteja em fase de revisão!

- Não está tão avançado assim, mas não vai demorar.

- Assim espero!

Um toque de telefone ecoou entre eles. Regulus rapidamente fez uma careta e mexeu em algo atrás das orelhas. Remus viu que eram aparelhos auditivos dele.

- Jamie, você precisa mudar esse toque horrível.

- Foi o Harry que colocou! - James exclamou enquanto pegava seu celular no bolso. - E a sua bateria está acabando, sabe que isso sempre deixa pior. Eu te falei para carregar.

- Eu estava em uma audiência a tarde toda, não tive tempo.

- É o Harry. Espero que eles não tenham explodido a casa - James atendeu. - Hey! O que foi, tesoro?

Lily bebeu todo o resto de sua bebida em um único gole e se aproximou de James, tentando ouvir o outro lado da linha.

- Tá bom, podem pedir pizza. Tem dinheiro na mesa de cabeceira no meu quarto e o número tá em cima da geladeira... Sim, ele pode dormir aí... Harry, se queria uma festa do pijama com todos os seus amigos devia ter pedido antes. Sem mais ninguém...

- Me deixa falar com ele - Lily pediu. James entregou o celular. - Oi, Hazz! É a mamãe.

Ela se afastou enquanto conversava com o filho. James suspirou.

- Acredita que agora ele veio perguntar se outros amigos dele podiam dormir lá em casa hoje?

- Pelo menos ele pediu - Remus disse. - Nós simplesmente chegávamos na sua casa e sua mãe ficava doida para preparar algo para todos comermos e brigava com você por não avisar.

- Ele tem razão. Eles estão sozinhos. Harry poderia simplesmente fazer uma festa sem nem te contar.

- Verdade... É o que eu faria - James ponderou.

- Seu filho está sozinho em casa?

- Claro que não! - respondeu, e Remus suspirou aliviado. - Os filhos do Sirius estão com ele. E eles já têm 15 anos.

- O que não deveria ser um alívio muito grande - Regulus comentou. - Eles são piores que o Sirius.

- Amor, são seus sobrinhos.

- Exatamente, eu os conheço desde que nasceram.

Então Sirius tinha formado uma família também. Era bom já saber e estar preparado.

Remus encheu seu copo outra vez e bebeu de uma vez. Não demorou muito para que o próprio aparecesse, abraçando os ombros do irmão mais novo de repente.

- Sirius! Sabe que odeio quando faz isso! - Regulus reclamou após pular de susto.

- Desculpa, é difícil resistir, irmãozinho - Sirius disse. - A bateria está acabando. - Apontou para os aparelhos nos ouvidos dele.

- Eu sei! - Regulus revirou os olhos. - Infelizmente, os tribunais ainda não estão tão abertos a intérpretes para os próprios advogados e encontrar um demoraria demais, e eu queria encerrar aquele caso hoje.

- Ganhou a causa?

- Ainda pergunta?

Sirius exibiu um sorriso orgulhoso para o irmão. Então, voltou-se para Lupin.

- Olá, Remus.

- Oi... - Remus disse, sem jeito.

Sirius continuava exatamente como Remus se lembrava.

Ele sorriu de canto. Aquele sorriso que Lupin adorava. Os cabelos escuros compridos estavam soltos na altura dos ombros, alguns fios caindo por seu rosto de um jeito charmoso. Os olhos acinzentados brilhavam contra as luzes, refletindo como estrelas. A camisa preta com os três primeiros botões abertos, revelando o colar com pingente de uma lua com uma estrela; a jaqueta e as botas de couro; os vários anéis nos dedos...

Era o Sirius que ele se lembrava. Rebelde, mas sofisticado.

Remus sentiu seu coração bater tão forte quanto 20 anos atrás.

- Como você está? - Sirius perguntou.

- Bem... Estou bem - respondeu.

Os dois se encararam por alguns instantes, sem saber o que mais poderia ser dito. A tensão crescia no ar.

Lily retornou, devolvendo a James seu telefone. Ela percebeu a tensão ali ao ver Remus e Sirius e quebrou o gelo.

- Tudo resolvido. Próximo fim de semana, eu vou levar Harry e os amigos ao cinema, e ele vai poder fazer uma bela festa do pijama com todos os seus amigos na minha casa - ela disse para James.

- O que eu perdi aqui? - Sirius perguntou.

- Harry querendo chamar todos os outros amigos para dormir em casa essa noite agora - James explicou. - Obrigado, Lily. Sabe como é difícil negar algo pro Harry.

- Não é difícil, você que gosta de mimar ele demais - ela rebateu. - Ah! Adoro essa música. Vem dançar, Remmy!

Lily agarrou a mão de Remus e o puxou para o meio do campo onde todos dançavam. Ele suspirou aliviado.

- Obrigado, eu estava quase surtando!

- Eu percebi - ela riu. - Vai querer um resumo da vida dele para estar preparado?

- Acho que só... Quero tentar não pensar muito nele agora.

- Então, mexa esse esqueleto e dance! - exclamou e começou a pular, puxando Remus para dançar com ela.

Remus riu e deixou-se ser guiado pela amiga, relembrando os velhos tempos nas festas do Ensino Médio, quando os dois dançavam juntos.

Lily sempre foi sua melhor amiga, mesmo antes de começar a namorar James. Admitia que sentiu falta da presença e energia dela. Talvez não devesse ter se isolado tanto na França após a escola.

Quando a música parou de repente, todos começaram a reclamar. A DJ pegou um microfone.

- Desculpa, pessoal! Ordens da Minerva! - disse e desceu do palco, enquanto o diretor e a professora subiam. Ela correu até Remus e Lily.

Remus se perguntou como ela conseguiu correr com os saltos daquelas botas na grama.

- Espero que a França seja tão maravilhosa quanto dizem para você se enfiar lá e não sair mais por duas décadas sem dar sinal de fumaça, Lupin - ela disse.

- Bom te ver também, Mary.

- Espero que esse jogo seja bom.

- Que jogo?

- Prepararam um jogo para nos entreter e nos divertirmos um pouco. Não sei o que é, só recebo ordens e um cachê para tocar.

Todos voltaram-se para o palco, onde o diretor, Albus Dumbledore, estava de pé ao lado da professora Minerva McGonagall. Remus se surpreendeu com o quão velho o diretor ainda conseguia ficar. Mesmo beirando os 80 anos, permanecia firme no posto.

- Boa noite a todos! - disse o diretor. - Sejam muito bem vindos a nossa reunião de ex alunos das turmas formadas no início do nosso novo milênio.

- Obrigada por nos lembrar que estamos ficando velhos - Lily murmurou. Remus conteve uma risada.

Começou um longo discurso do diretor sobre o quanto era nostálgico e mágico receber todos ali. Talvez a maioria nem tenha ouvido, muitos estavam conversando entre si.

Porém, quando McGonagall assumiu a palavra, todos ouviram em completo silêncio.

- Para entretê-los e reviver nosso espírito, preparamos um jogo para vocês - disse ela. - Uma caça ao tesouro!

Muitos pareceram curiosos com a proposta. Outros dois professores levaram uma grande caixa até a base do palco junto de uma mesa onde a deixaram.

- Cada um de vocês deverá pegar um dos crachás nessa urna, onde estarão seus números. Temos números repetidos para assim formarmos as duplas aleatoriamente para jogar - explicou. - Daremos quarenta minutos para todos pegarem seus crachás e encontrarem suas duplas. Então, daremos início. A missão de vocês é seguir as pistas, uma atrás da outra, até nosso grande tesouro. Os vencedores ganharão reservas inteiramente gratuitas no Trois Balais, que está patrocinando nossa reunião.

Reservas gratuitas no melhor, mais caro e mais chique restaurante de toda a cidade pareceu muito bom para muitos deles. É muito difícil conseguir reservas, mas todos sabiam que McGonagall era uma grande amiga de uma das donas do local.

- Podem pegar seus números, em ordem, por favor.

Obviamente, as coisas foram muito mais tumultuadas. Remus pegou o número 7 e passou a corda do crachá por sua cabeça, deixando o número pendurado em seu peito.

- Qual seu número, Lily?

- 14.

Remus suspirou. Procurou por entre a multidão alguém com o crachá com o mesmo número que o seu.

O destino não poderia encontrar forma melhor de obrigá-lo a encarar seu passado. Ele encontrou o número junto ao dono de um belo par de olhos brilhantes como estrelas que caminhava em sua direção.

- Olá de novo, Remus - Sirius disse.

Lupin respirou fundo.

- Olá - disse e sorriu fraco.

- De um jeito ou de outro, você não conseguiria fugir de mim a noite toda.

- Eu não estava fugindo.

- Vou fingir que acredito - Black riu. - Pelo menos, posso garantir que não trapaceei. James aproveitou a confusão para pegar dois iguais para poder ficar com Regulus.

- Isso não me surpreende tanto quanto deveria.

- James sempre arranja um jeito de ter o que quer.

- Sei muito bem disso.

Os dois riram juntos. Eles pararam lado a lado juntos, trocando olhares de vez em quando, mas sem dizer nada.

- Quando voltou? - Sirius perguntou de repente.

- Há duas semanas - respondeu. - Ainda estou ajustando algumas coisas, mas meu pai me ajudou a encontrar um apartamento antes de me mudar de volta.

- Eu li os seus livros.

- São livros infanto-juvenis.

- E daí? São muito bons! Eu gostei muito deles - disse Sirius. - Sempre soube que você seria um grande escritor.

- E eu que você seria um grande músico - rebateu.

Sirius sorriu com o que ouviu.

- Se me disser que nunca ouviu pelo menos uma das minhas música vou ficar bastante chateado.

- Ouvi algumas. - Ele ouviu todas, mas preferiu não dizer.

McGonagall chamou a atenção de todos naquele momento.

- Todos encontraram suas duplas? - Uma chuva de gritos afirmativos ecoou pelo campo. - Ótimo! As pistas estão em formato de enigmas, que levarão ao local da pista seguinte.

O diretor entregou um envelope para ela.

- A primeira pista é: Onde tudo acontece, onde tudo é dito. Onde a arte liberta a alma sob uma máscara - leu. Todos franziram o cenho confusos. - Desejo uma boa sorte a todos. Que a melhor dupla chegue ao final dessa aventura.

As duplas começaram a sair do campo conversando e tentando entender o que aquela pista significava.

- Sempre sonhei em participar de uma caça ao tesouro com meu ex namorado! - brincou Sirius com seu típico sorriso irônico.

Remus riu, revirando os olhos e empurrando Black levemente com o ombro.

Um lado seu estava feliz por Sirius não ter mudado tanto nos últimos anos. Poderia tornar aquela pequena aventura um pouco mais fácil. Além do relacionamento, eles também já foram grandes amigos e seria mentira dizer que nunca sentiu falta disso.

- Vai narrar nossa aventura em seu próximo livro?

- Talvez. Vamos vencer essa caçada primeiro, Padfoot - Remus disse com um sorriso de canto.

- É bom ver que ainda existe um Maroto aventureiro em você, Moony.

O sorriso de Lupin se alargou, lembrando-se de como eles sempre se metiam em aventuras e encrencas. Remus, Sirius, James e Peter, outro amigo deles que por motivos desconhecidos não estava na reunião, eram muito conhecidos como "Marotos" naquela época. O grupo que mais dava dor de cabeça para a professora Minerva.

Eles adoravam o nome e tinham seus apelidos internos: Moony, Wormtail, Padfoot e Prongs. O motivo dos apelidos nem eles mesmos se lembravam, mas se acostumaram com eles.

- Será que a pista fala do ginásio dos jogos de basquete? É lá que acontece as festas de Halloween e o baile de máscaras no inverno. O enigma fala de máscaras.

- Acho que não - Remus disse, pensativo.

- Podemos conseguir pensar enquanto andamos pela escola. Vai que achamos a pista sem querer.

- Não é bem assim que o jogo funciona...

- Uma caminhada sempre me ajuda quando preciso de inspiração.

Remus deu de ombros.

Os dois caminharam juntos até dentro da escola, passando pelos corredores.

- É verdade que querem fazer um filme do seu livro? - Sirius perguntou.

- Sim, mas o que isso tem a ver?

- Só estou tentando quebrar o gelo. Fazem 20 anos, Moony... Não sei como conversar tanto quanto você.

Lupin riu baixo, encolhendo os ombros.

- Mas, sabe... Acho que talvez o tempo tenha ajudado a tornar isso menos constrangedor.

- Você acha? - Remus perguntou.

- Bom... São duas décadas. Nós envelhecemos, amadurecemos, seguimos nossas vidas... Acho que podemos pelo menos conversar civilizadamente como velhos amigos que não se vêem há muito tempo.

- Amigos não se pegam debaixo da arquibancada e no vestiário depois dos jogos de futebol.

- Ainda éramos amigos apesar de tudo, não?

Sim, eles eram. Sirius tinha razão. Não era fácil, claro. Mas Remus pensou melhor. Talvez se concentrar apenas em boas memórias da amizade deles fosse um bom começo.

- Éramos - Remus disse e sorriu para Sirius. - E sobre o filme, eu ainda estou pensando se aceito a proposta de adaptação. Tenho medo do que podem fazer com minha história.

- Existem adaptações horríveis, é verdade. Mas também existem algumas maravilhosas. Já assistiu Heartstopper? É um ótimo exemplo!

- Sim, eu assisti. É uma série incrível.

- Acho que se você estiver acompanhando tudo de perto e trabalhando de verdade nisso, pode dar certo. Sua história é ótima e sei que pode inspirar muitas pessoas nas telas - Sirius falou. - A decisão é sua, claro. Se for aceitar, é bom exigir com todos os detalhes no contrato que você participe de todas as decisões. Meu irmão é advogado, sei bem o quanto esses detalhes são importantes em contratos.

- Vou pensar nisso.

Sirius então parou de repente, raciocinando.

- O que foi?

- Filmes e séries são pessoas atuando, certo?

- Eu sei o que é um filme, Sirius.

- Não, não é isso! Quando alguém está atuando, essa pessoa não é ela mesma. É outra pessoa, um personagem - explicou. - Quando começam a gravar, os atores vestem a máscara de seus personagens... Figurativamente e literalmente, a depender do caso.

Remus franziu o cenho e começou a pensar, tentando entender a linha de raciocínio de Sirius. Quando entendeu, arregalou os olhos.

- O auditório! - exclamou. - É onde fazíamos as peças de teatro. Teatro é uma arte. Nós atuamos.

- E também é onde o diretor dava todos os anúncios da escola.

- Onde tudo é dito e tudo acontecia - concluiu. - Sirius, você é um gênio!

- Eu sei que sou.

Os dois sorriram largo um para o outro. Então, sem precisar dizer nada, os dois correram juntos pelos corredores até o auditório, onde um professor aguardava no palco com uma coleção de envelopes.

Remus sentiu-se nostálgico. Ele atuou em algumas peças da escola. Lembrava da grande emoção que era subir naquele palco e encarnar seu personagem. Teatro era realmente uma arte libertadora.

Sirius pegou o envelope vermelho com o professor, onde estava outra pista. Em outros cantos do lugar, algumas duplas liam o conteúdo do envelope e discutiam em volume baixo. James e Regulus estavam falando em sinais, e o Black fez um sinal exasperado estendendo as mãos como se fosse pegar o noivo pelo pescoço.

Um sinal bastante auto explicativo. Naquele momento, James é quem não estava ouvindo e isso estava deixando o noivo impaciente.

Eu sei o que estou falando!, Regulus sinalizou. As mãos se moviam muito rápido.

Não, deve ser outra coisa, James sinalizou de volta. Regulus bufou e cruzou os braços, enquanto Potter voltava os olhos para o papel com a pista, pensativo.

- Acho que a bateria dos aparelhos do Regulus enfim acabou - Remus comentou.

- Também é um ótimo jeito de falar sobre as pistas sem que os adversários ouçam. Não é todo mundo que sabe sinais - Sirius disse. - Podemos usar essa tática quando houver outros por perto. Você ainda lembra como é a língua de sinais?

- Lembro. E eu uso muito no dia a dia... - confessou. Sirius franziu o cenho. - Meu filho também é surdo.

- Ah... Acho que vi isso em alguma de suas entrevistas. Esqueci por um momento.

- Você viu minhas entrevistas?

- Vamos ver essa pista - Sirius mudou de assunto e começou a ler. - Formado por filas de conhecimento infinito. Aqueles em busca do saber, ao reino do silêncio irão recorrer.

- Com certeza foi a Minerva que fez esse enigma.

- Sala de aula? Onde todos aprendemos e os professores pedem silêncio o tempo todo.

- Existe um lugar ainda mais silencioso que uma sala de aula - Remus disse. - Filas de conhecimento infinito... Filas de livros. Essa é bem óbvia.

Sirius olhou ao redor. Várias outras duplas haviam chegado. Ele guardou o envelope no bolso e uniu as duas mãos abertas, então afastando como se abrisse um livro.

Biblioteca?

Remus assentiu. Os dois então se dirigiram para a biblioteca, podendo ver Regulus apontando para eles e fazendo o sinal para biblioteca várias vezes, enquanto James rebatia com o sinal para sala de aula.

A biblioteca é o local onde Lupin passou boa parte do tempo quando não estava aprontando com os amigos. Por mais travessuras que fizessem, ele ainda era bastante estudioso e sempre amou ler. E Sirius sempre acabava indo lá para procurá-lo.

Eles usaram a biblioteca para outras coisas além de ler.

E ao entrar ali, Remus foi tomado pelas lembranças. As horas estudando. Os momentos em que Sirius escapava dos treinos de futebol e das aulas extras para vê-lo, e eles passavam um bom tempo se beijando atrás de alguma prateleira numa área que ninguém ia.

Okay. Talvez ele não tenha superado tudo tanto quanto gostaria.

Como Sirius disse, eles cresceram e seguiram suas vidas. Porém, era impossível se esquecer de tudo. Apesar dos problemas, Remus foi muito feliz durante o tempo em que estiveram juntos.

A bibliotecária estava em seu posto com mais envelopes de pistas. Remus pegou um, mas não abriu imediatamente, ainda observando o local.

- É nostálgico estar aqui, não é? - Sirius comentou.

- Muito. Me lembro de todas as vezes que passamos horas aqui...

- Na semana das provas finais, essa aqui era a sua segunda casa.

- Eu precisava muito passar para poder ir pra faculdade na França... Perdemos muitas aulas no hospital por causa do acidente.

- É... Mas acho que eles entendiam. Pegariam leve conosco.

Eles não estenderam o assunto do acidente. Talvez ainda fosse um pouco demais.

- Lembro de quando você dormiu lendo O Retrato de Dorian Grey aqui porque já tinha pego livros demais para levar pra casa - Sirius disse, rindo.

- Eu queria muito terminar aquele livro - Remus riu junto.

- Eu tenho em casa. É mesmo muito bom.

- Você que me acordou e me levou pra casa. A biblioteca já estava fechando.

- Se eu não te acordasse, provavelmente te trancariam aqui dentro e você dormiria passaria a noite toda.

- Não me parece uma ideia ruim. Dormir rodeado de livros.

Sirius riu. Uma risada sincera e gostosa de se ouvir. Lupin sentia falta daquela risada. E talvez seu coração mais uma vez tenha batido forte demais ao ouvi-la.

- Melhor não perdermos muito tempo com nostalgia. Temos um jogo pra ganhar - Sirius disse.

Remus concordou e abriu o envelope, lendo a próxima pista.

- As garras da coragem ardem no salão. Animal desde os antigos conhecido. Dourado seu pelo brilha, nem a arma mais afiada pode ferí-lo...

- Não temos animais na escola... Nem nas aulas de biologia - Sirius disse.

- É uma descrição bem vaga... Dourado... Mico-leão-dourado? Nem é nativo da Europa.

- Algum animal com carapaça? Deve ser bem difícil ferir um com algo afiado.

Os dois começaram a pensar. Remus sentia que deveria saber, mas a resposta havia fugido de sua memória.

Garras da coragem...

Desde os antigos conhecido...

- Ajuda externa é trapaça? - Sirius indagou.

- Talvez.

- Minerva não disse nada sobre ajuda para desvendar os enigmas. Só disse que levariam as pistas, não como chegaríamos...

- Acho que está implícito.

- Regulus adora usar brechas implícitas para ganhar seus casos - disse com um sorriso malicioso e pegou o celular, adentrando ainda mais a biblioteca.

- Isso não é um tribunal.

- Minha lógica ainda vale.

- O que você vai fazer?

- Ajuda externa de um especialista em animais.

Sirius entrou em um aplicativo de chamadas e iniciou uma chamada de vídeo. Remus observou, receoso, atento ao redor para não serem pegos. Contudo, ele não impediu Black. Queria ganhar aquele jogo.

Lupin sabia ser competitivo quando queria.

Por que vídeo?, perguntou em sinais para não ser ouvido.

- Para ter certeza de que minha ajuda está onde deveria estar e o local está intacto - Sirius respondeu baixo.

Remus franziu o cenho. Após alguns instantes, Sirius se afastou mais, e ele o seguiu. Estavam longe o bastante para ninguém vê-los ou ouvi-los, e a chamada foi atendida.

Piscou algumas vezes enquanto via longe do alcance da câmera do Black um rosto quase idêntico ao de Sirius quando estavam no Ensino Médio e outro ao lado extremamente parecido com James, até nos óculos, mas de olhos verdes como os de Lily. Pensou estar vendo mal, até entender o que estava acontecendo.

Os dois garotos estavam com fatias de pizza pela metade nas mãos e cobertos por um cobertor verde, e a jovem cópia de Sirius estava apoiando o que fosse o aparelho que usasse pra chamada a sua frente. Remus percebeu que estavam no chão escorados num sofá, de onde podia avistar outras duas pessoas deitadas juntas e cobertas, mas que a câmera não pegava o rosto.

- A casa ainda está de pé e não colocamos fogo em nada, pai.

- Por que está na biblioteca se a festa é no campo de futebol? - perguntou quem Remus soube que era Harry. Sendo uma cópia mais nova de James, impossível ser outra pessoa a menos que ele e Lily tenham esquecido de mencionar outro filho que tiveram. - Lendo na festa com certeza não está.

- O que todos nós fazemos na biblioteca além de ler - disse uma terceira voz. - E não tem nada a ver com estudar.

- É um jogo! - Sirius exclamou, com as orelhas vermelhas.

- Fingimos que acreditamos - disse outra voz, mais rouca e com sotaque da elite do sul da Inglaterra, diferente de todas as outras.

- Estamos assistindo Brooklyn 99, então se só queria ver se estamos, está tudo ótimo. Tchau! - disse Harry, se curvando para desligar.

- Não desliga! Eu preciso da ajuda do Canis.

Um dos garotos no sofá curvou-se para fora dele até entrar no campo de visão da câmera. Ele era idêntico ao outro. Uma cópia da cópia de Sirius, mas que usava óculos.

A genética da família Black era assustadora.

- O que é? Espero que seja importante, porque está interrompendo um momento sagrado, pai.

- É um jogo de caça ao tesouro. Preciso de ajuda com uma pista e você é o especialista em animais da família - Sirius explicou. - Só me ajuda a descobrir de que animal está falando aqui.

- Amo desafios. Fala!

Sirius pegou a pista e leu tudo outra vez. A quarta pessoa no sofá se mexeu até uma cabeleira loira aparecer em cima do segundo filho do Black na tela.

- É sério que quer ajuda com isso?

- Você nem deveria estar aí, Draco. Fique de boca fechada - Sirius repreendeu. - Canis, você sabe?

- Pai... Tá de brincadeira comigo, né? Até o enigma da Esfinge é mais difícil que isso.

- É. Fala logo que não podemos perder tempo.

- O que eu ganho?

Sirius suspirou e olhou para Remus, que apenas observava. Ele de repente o puxou para o seu lado até aparecer na pequena tela no canto inferior.

Lupin arregalou os olhos surpreso.

- Que tal uma conversa com seu escritor de fantasia favorito?

O garoto ofegou e caiu do sofá, em cima do irmão, trazendo o outro consigo junto. Ouviu-se uma avalanche de resmungos e xingamentos dos garotos enquanto se endireitavam.

- Vocês estão bem?! - Remus indagou preocupado.

- Se eu estou bem? Estou ótimo! - respondeu o garoto, endireitando os óculos após se sentar. Remus nunca imaginou Sirius de óculos, mas teve uma ótima imagem de como ele ficaria bem na sua frente. - Então é verdade que papai te conhece?!

- Er... - Remus olhou para Sirius, que apenas sorriu fraco. - É... Conheço. Estudamos juntos.

- Pode autografar minhas edições dos livros? Por favor, por favor! - Harry pediu.

- Sua mãe já me pediu isso - disse, rindo baixo e sem jeito. Nunca sabia reagir ao falar com fãs de seus livros... Muito menos agora eles sendo filhos dos seus melhores amigos e do seu ex-namorado.

- Precisava me derrubar desse jeito, Canis?! - resmungou o garoto loiro, voltando a subir no sofá.

- É o Remus J. Lupin! Eu te dei os livros dele no seu aniversário!

- Eu ainda não tive tempo de ler.

- Pois trate de arranjar tempo! - exclamou Canis. - Já que é amigo do meu pai, você pode vir aqui em casa, não é? Vou querer autógrafos também!

- E uma foto! - disse o irmão dele.

- Vocês poderão fazer o que quiserem. Ele é minha dupla no jogo. Me ajudem com a resposta e ele vai jantar em casa um dia - Sirius disse.

- A resposta é óbvia, pai. Não acredito que sou mesmo seu filho - Canis suspirou. - A resposta é leão.

Remus deu um tapa na própria testa.

- Como eu não pensei nisso antes! Leão de Nemeia, nenhuma arma podia ferir. Leão é um dos símbolos de coragem, a história de Oz!

- Exatamente. Agora sobre aqueles autógrafos...

- Obrigado, Canis. Deixe uma fatia de pizza pra mim! - Sirius agradeceu. - Amo vocês!

- Espera!

Sirius encerrou a ligação. Remus o encarou, confuso e desconcertado, processando tudo o que havia acontecido.

- Temos nossa resposta.

- Primeiramente, seus filhos são a sua cara - Remus disse.

- Todos dizem isso. A mãe deles fica uma fera por não terem puxado nada dela.

- Segundo... Jantar na sua casa?

- Desculpa, eu não consegui pensar em mais nada, e eles são muito fãs dos seus livros. Já leram todos mil vezes.

- Se sua esposa não se incomoda de receber seu ex...

- Eu não sou casado. Nunca me casei com a mãe deles, na verdade.

- Não?

- Só namoramos e... Bom, eles aconteceram. Hoje somos apenas amigos, e ela tem namorada. Moramos no mesmo bairro, os meninos ficam nas duas casas o quanto quiserem, dividimos as despesas deles... - explicou. - Já deixamos bem claro há anos que não daria certo entre nós, mas eles são nossa responsabilidade e se decidimos tê-los, arcaremos com isso. Cuidamos deles do nosso jeito, assim como James e Lily cuidam do Harry e continuam amigos mesmo depois do divórcio. E estou muito bem solteiro.

Remus não deveria ter ficado feliz com a notícia de que Sirius estava solteiro. Não deveria. Mas foi quase impossível conter seu sorriso.

Além disso, ele também estava feliz de ver que Sirius continuava a se mostrar diferente de tudo que sua família dizia dele. Ele sempre foi o filho rebelde que seus pais sempre julgaram, chamaram de irresponsável, sem futuro. E ali estava ele... Mostrando o contrário, sendo muito mais responsável que muitos pais pelo mundo.

Muito mais que os genitores de seu filho, que o abandonaram por simplesmente ser quem é.

- Acho que posso pensar nesse jantar.

- Por favor, eles não vão parar de me pedir isso. Pode trazer seu filho também e...

- Não, também não tenho ninguém. Seria só meu filho mesmo.

Sirius não fez nenhuma questão de esconder seu sorriso.

- Depois que ganharmos isso, podemos acertar esse jantar?

Remus comprimiu os lábios, sentindo o coração acelerado.

Maldito coração.

- Podemos.

- Uma reunião dos Marotos! - Sirius sorriu. - Como antigamente, mas agora com filhos.

- Pode ser divertido.

- Com certeza.

- A pista... - Remus lembrou.

- Sim, leão. Leão é o símbolo do time da escola, voltamos pro campo.

- A pista fala "Garras da coragem ardem no salão". Acho que não está falando do time de futebol. Tem um leão com garras no chão da sala de treinamento da equipe de karatê... Eu deveria ter pensado nisso.

- Estamos em pura adrenalina, Moony! É normal não pensar tão rápido. Vamos logo, já perdemos muito tempo.

Sirius segurou a mão de Remus, que virou e ficou vermelho como um tomate, e o puxou pela biblioteca. Eles trombaram com James e Regulus, que estavam com sua pista em mãos.

- Sério que aproveitaram um tempo para relembrar os amassos na biblioteca? - James comentou.

- Claro que não! - Remus e Sirius exclamaram juntos.

- Estávamos discutindo nossa pista.

- Eu passei meia hora tentando colocar na cabeça do James que a resposta era biblioteca - Regulus falou e bufou, com certo cuidado nas palavras por não estar ouvindo o que dizia. - Perdemos tempo procurando nas salas de aula até ele entender.

- Já discutimos isso! - James respondeu, fazendo os sinais enquanto falava. - Desculpa! Você estava certo.

Regulus pousou ambas as mãos na cintura e pareceu bastante satisfeito por ver o noivo admitir que ele estava certo.

- Poderia admitir isso mais vezes.

- Nós não queremos perder mais tempo também. Boa sorte com a próxima pista! - Sirius disse, ainda sem soltar a mão de Remus e o puxando para fora.

Eles começaram a correr juntos. Lupin não conseguiu conter uma risada de emoção e adrenalina enquanto corriam até a sala de karatê.

- Talvez eles descubram mais rápido que nós dois - Sirius disse, rindo.

- Provável - Remus concordou. - É sério que seu filho se chama Canis?

- Tradição de família. Estrelas e Constelações, lembra?

A famosa tradição da família Black de dar nomes de estrelas aos filhos. Remus sempre achou interessante.

Sirius era o nome da estrela mais brilhante do céu, parte da constelação Canis Major. Imaginou que fosse daí que surgiu a ideia do nome para o filho dele também. O nome certamente combinava com ele.

Sirius brilhava naturalmente, assim como uma estrela. Como a mais brilhante dela.

- Qual o nome do outro?

- Theo. É apelido de Therion... Nome grego para a Constelação do Lobo.

Remus sorriu. Aquele sempre foi a sua constelação favorita.

- Qual o nome do seu filho?

- Edward, mas sempre o chamo de Teddy.

- Imagino que seja parecido com você.

- Ele é adotado, na verdade, mas meu pai sempre diz que ele o lembra de mim quando criança e que por isso era destino que ele fosse meu filho um dia - disse e riu. - Eu doei parte do dinheiro do meu primeiro livro para o orfanato onde ele estava e um dia fui ler para as crianças... Assim que vi ele... Eu senti, sabe? Senti uma conexão. Ele tinha 3 anos e nem sabia falar em sinais, o orfanato não tinha muita estrutura... Mas conseguimos nos entender, do nosso jeito.

- Estou ansioso para conhecer ele.

- Ele é incrível. Aprende muito rápido e já sabe muitos sinais e a ler. Parte do dinheiro das vendas dos livros sempre vai para aquele orfanato e outros que necessitam.

- Você também é incrível, Remus. De verdade.

Remus corou. Ele não se sentia incrível. Ele era só... Ele. Remus Lupin. Alguém que tentava fazer a diferença inspirando jovens e crianças com seus livros e usando parte do dinheiro para ajudar quem precisava.

Eles chegaram ao destino ainda de mãos dadas e soltaram apenas para pegar a próxima pista. Sirius quem leu.

- Vermelho, a cor do amor. Igualmente doce como ele. Muitos entram, muitos saem. Quando um estraga, tudo se corrói.

- Essa é bem mais difícil - Remus disse.

Sirius ficou calado, pensativo. Remus não tinha a menor ideia do que poderia ser.

- Eu sei a resposta.

- Sabe?

- Vem comigo - Sirius disse e segurou a mão de Remus novamente.

Lupin o seguiu, confuso. Não conseguia pensar numa resposta condizente, e Sirius andava sem dizer uma única palavra, guiando-o na direção da entrada da escola.

Franziu o cenho, sem entender, até Sirius empurrar a porta, e eles estarem do lado de fora.

Remus tinha visto todas as luzes na entrada ao chegar, espalhadas pela escada de entrada e pelas árvores ao redor. Mas então percebeu que uma das árvores brilhava muito mais que as outras, com muito mais luzes, onde Minerva aguardava com outros professores e o diretor.

Uma macieira.

- Maçã...

- A macieira fica na entrada da escola. Quem entra e quem sai, passa por ela... - Sirius disse.

Eles se aproximaram de Minerva, que sorriu orgulhosa para eles.

- Muito bem, queridos! Vocês foram os ganhadores da nossa caça ao tesouro - disse.

Aos pés dela estava um baú com moedas douradas falsas, apenas algo representativo. Mas aquele lugar representava muito mais.

A entrada para o início de tudo. Foi por ali que passaram para chegar aquela escola... E parar ir embora dela ao finalizar a jornada escolar.

O Professor Slughorn, antigo professor de química, tinha uma câmera em mãos.

- Uma foto de nossos vencedores!

Duas fotos foram tiradas de Remus e Sirius juntos em frente a árvore e saíram prontas na hora da Polaroide do professor e entregues a eles. Lupin sorriu bobo para a fotografia em sua mão.

- Estou muito feliz em vê-los aqui - Minerva disse.

- Senti muita falta da senhora - Remus disse.

- Eu li os seus livros, Remus. Você ainda tem um futuro brilhante e grandioso na literatura.

- Sério?

Minerva sempre foi a professora que Remus mais admirou. Ouvir aquilo significou muito para ele.

- Você tem talento, querido. E ainda irá longe, eu sei - disse. - Vocês dois irão. Sirius, fico feliz que tenha seguido seu sonho com suas músicas apesar da sua família.

- Eu tenho uma família que me apoia de verdade. Os meus amigos, os meus filhos... Eles que importam.

- Esses são nossos maiores tesouros - Minerva disse.

Remus e Sirius sorriram para ela.

Alguns instantes depois, Regulus e James atravessaram a porta. Eles suspiraram ao ver que não foram os primeiros. Outras duplas foram chegando depois.

Minerva anunciou ali mesmo que Remus e Sirius venceram e mandou todos de volta para o campo para curtirem o resto da noite.

- Sua sorte foi o Remus! - Lily exclamou, eles ainda debaixo da macieira enquanto os outros voltavam.

Teríamos ganhado se não fosse pelo James insistindo nas salas de aula, Regulus sinalizou.

- Eu sei! - James bufou frustrado.

Regulus cruzou os braços, emburrado, e James abraçou sua cintura em seguida.

- Isso não vai funcionar - falou.

James o virou para que o encarasse, fazendo sinal de desculpas, um círculo no peito com a mão fechada.

Eu mesmo compro uma reserva no nosso aniversário onde você quiser, disse em seguida em sinais.

- Ele só está de orgulho ferido por perder pra mim em um jogo de enigmas - Sirius disse, sinalizando para o irmão entender bem.

- Jogamos outros jogo de enigmas com os meninos então. E você vai poder esfregar na cara do Sirius quando vencer - James disse.

- Eu vou afogar minha derrota no ponche e dancar - Lily disse, voltando para o campo.

Vamos dançar, James sinalizou para Regulus e segurou a mão dele, o girando e arrancando um sorriso dele.

Eles foram embora abraçados.

- Vamos? - Remus chamou Sirius, mas ele continuou parado, observando a macieira.

- Ainda lembro da última vez que estivemos aqui - Sirius disse.

- Na escola?

- Debaixo da macieira. Foi quando você me disse que iria embora... Antes da formatura.

Lupin desviou o olhar. Ele também se lembrava disso. Saber que Remus iria embora deixou Sirius arrasado, mesmo que as coisas já não fossem bem há um tempo.

Muitas coisas não iam bem desde o acidente.

- Lily ainda estava na fisioterapia na época - continuou Sirius.

Aquela época foi turbulenta para eles graças ao acidente de carro. O mesmo acidente que causou as cicatrizes de Remus que ele tentava esconder com maquiagem. O mesmo acidente que fez Regulus precisar de aparelhos auditivos. O mesmo acidente que deixou Lily com duas pernas engessadas.

Sirius que estava dirigindo, era o único entre eles com carteira de motorista. Eles não lembravam muito bem do que aconteceu. Somente que estavam saindo do cinema e em algum momento uma van bateu contra eles. Um dos tanques de gasolina explodiu. Todos sobreviveram por muita sorte.

- Evitei falar disso a noite toda, mas... Sempre me perguntei se esse foi o motivo para terminarmos... De você querer ir embora - Sirius continuou. - Por me culpar pelo acidente.

- Eu já estava pensando na França muito antes do acidente, Sirius - Remus disse. - E sobre nós... Não foi culpa de ninguém. Só... Era o que devia acontecer.

- Eu pensei muitas vezes em pegar um avião para a França - confessou. - Ir atrás de você.

- Está falando sério?

Sirius assentiu com a cabeça, encarando os olhos de Lupin.

- Mas nunca tive coragem. Tinha... Medo do que poderia acontecer, do que você poderia dizer - falou. - Eu já estava me sentindo horrível por causa do Regulus. Meus pais... Você sabe como eles eram. Eles nunca mais trataram o Reggie da mesma forma.

- Isso é problema deles. Não é culpa sua.

- Eu quem estava dirigindo.

- O outro motorista que estava bêbado. A culpa é dele, não sua. E ele foi preso por isso.

Remus se aproximou de Sirius. Eles conversaram muito na época, mas nunca pensou que Sirius ainda se culpasse depois de tanto tempo.

- Regulus está bem e feliz. Não precisa continuar se culpando.

- Acho que James é o maior responsável por ele estar feliz.

- E você também! Sabe que o Regulus te adora desde que eram pequenos. Você é o irmão dele - Remus disse. - E você não saiu do lado dele quando mais precisou, diferente dos seus pais. Assim que ele saiu do hospital, nós dois fomos te matricular para aprender sinais. Você diz que sou incrível... Mas você também é!

Sirius forçou um fraco sorriso.

- Eu sempre pensei em você... - Sirius sussurrou.

- Eu também... - Remus respondeu no mesmo tom.

- Será que algum dia tudo voltará ao que era antes?

- Não... Nada volta a ser como antes.

Sirius abaixou a cabeça, mas Remus segurou queixou para que ele o encarasse.

- Mas pode ser melhor - completou, sorrindo. - Eu também estava com muito medo de te rever... Por causa de tudo. Acho que... Por mais que doa dizer, terminarmos naquela época foi o certo para sermos o que somos hoje.

Os olhos de Sirius ficaram marejados. Os de Remus também.

Começou a chover. Mesmo debaixo da árvore, um pouco da água caiu sobre eles, mas eles não se importaram, nem correram de volta para a escola.

- Talvez eu não tivesse o Teddy. Nem você teria os seus filhos.

- Eu não sei o que seria de mim sem eles - Sirius admitiu e riu baixo, uma lágrima escorrendo por seu rosto.

- Mas ninguém sabe sobre o futuro.

Remus sorriu fraco, o coração batendo forte. Os olhos de Sirius brilhavam. Aquele brilho que deixou Lupin completamente apaixonado anos atrás.

O brilho que ainda fazia seu coração palpitar.

- Acho que estamos indo bem para um recomeço... - Sirius disse, com um fio de esperança na voz.

- Também acho - Remus concordou. - Não sabemos que tesouros a vida esconde, então... Tudo pode acontecer.

- Senti sua falta, Moony.

- Também senti sua falta, Padfoot.

Eles se abraçaram. Não precisaram dizer mais nada. Não era necessário mais nenhuma palavra. Apenas o calor era o suficiente.

Sirius afundou o rosto no pescoço de Remus, e ele apertou-o com força em seus braços.

A chuva aumentou. Black exibiu um sorriso sincero e radiante ao se afastar de Lupin, segurando sua mão e o puxando para o meio daquela tempestade que se iniciava, encharcando-os de uma vez.

Remus riu, e eles continuaram ali, banhados pela chuva.

Admirou mais uma vez o brilho nos olhos de Sirius. Seus olhos refletiam toda a luz. Todas as estrelas. Todas as galáxias. Era o brilho mais lindo que já havia visto.

Sirius começou a cantar uma de suas músicas. Uma que ele havia escrito ainda na escola, que Remus havia sido o primeiro a ouvir antes que ela fizesse um enorme sucesso na Inglaterra e no mundo. Segurou o rosto de Lupin entre suas mãos, encarando-o fixamente enquanto cantava.

Ele não chegou a terminar o refrão da música, pois logo seus lábios estavam colados. E eles se beijaram com doçura e saudade.

Aquilo poderia significar nada no dia seguinte. Poderia significar tudo. Eles não sabiam. Ninguém sabia. Mas era o que seus corações desejavam no momento.

Ninguém sabe o dia de amanhã.

Porém, uma coisa Remus sabia: ali ele encontrou um tesouro perdido que sequer sabia que precisava buscar. Um tesouro que ele retrataria em seus livros.

O que aconteceria com esse tesouro amanhã, só o futuro dirá. Tesouros se perdem e são encontrados o tempo todo.

Mas o melhor sobre todos os tesouros conhecidos é que eles viram histórias. Verdadeiras ou não, histórias que encantam corações.

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uma fanfic: @wolfstarmonth
beta-reader: -
capa por: @Grace4Mee
banner de capítulo por: @Grace4Mee
próxima fanfic: @fmslstwrds

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