《 Haseul 》

De repente me encontrei em uma rua e sozinha. Me sentia estranhamente bem, uma sensação boa como tomar banho depois de um dia exaustivo. O Mobius era real, eu já tinha entendido, mas que ele realmente me faria não oscilar mais entre duas personalidades, estava começando a acreditar.

Como se estivesse em modo automático, eu comecei a andar em direção a minha casa. Observei tudo ao meu redor como se fosse a primeira vez, as casas, a rua, os ruídos, tudo parecia diferente. Cheguei em minha casa não me sentindo cansada como sempre, estava normal, como se estivesse deitada todo esse tempo.

Sentei na minha cama, me lembrando de todos os momentos, ao menos os que a minha memória permitiu, e dos jogos que fizemos ali, todos os sorrisos e risadas que eu dei. E senti que minhas personalidades não afetavam o amor que Yerim e Yeojin sentiam por mim, nem o meu amor por elas.

Eu as conheci, mais ou menos, no meu tempo de escola, quando já tinha pequenas oscilações de personalidades, que eram consideradas coisa normal de adolescente, porém quando fiquei mais velha, essas mudanças aumentaram a frequência e a notoriedade também trazendo uma grande perda de memória corriqueira, então minha mãe me levou em um médico, e tive o diagnóstico de transtorno de personalidade múltipla.

Durante a navegação que fazia entre o mar das minhas memórias, em determinado momento senti uma tontura, o que era estranho já que o louco tinha dito que não ficaríamos doentes. Aquilo era uma verdadeira loucura. Um mês nesse tal de Mobius? Seria tão difícil assim encontrar pelo menos uma menina? Eu acredito que não.

Continuei deitada por um tempo esperando aquela tontura passar, pensei novamente em Yeojin e Yerim. Elas já teriam chegado em casa, como estariam lidando com aquilo? Era uma indagação válida e altamente curiosa, com a preocupação ainda forte em mim durante os pensamentos desse tipo.

Quando decidi me levantar, resolvi que tomaria um banho rápido, assim poderia pensar e me distrair, já que estava ficando cansada de ficar parada por tanto tempo, e após vestir minha roupa, senti um sono, como o que sentimos depois após acordar no meio da noite. Me deitei na cama e fechei meus olhos, me permitindo dormir por um tempo.

Talvez muito tempo tenha se passado, pois o sol já estava batendo no meu rosto quando acordei. Quando não estava mais tão sonolenta, comecei a pensar no que pode ter acontecido, já que tínhamos sido informadas de que não iríamos adormecer. A única opção normal, até onde essa história pode ser considerada assim, era que como não trocaria de personalidade, eu me sentiria assim, porque meu corpo não estava mais acostumado a não ficar trocando.

Me levantei e lavei o rosto na água fria da torneira, decidida que queria procurar por Yeojin naquele dia. Estava tão determinada a fazer tal coisa, que coloquei um vestido florido branco, logo depois indo em direção a porta do quarto, repentinamente sentindo novamente uma tontura, só que daquela vez também senti o chão batendo contra o meu corpo.

— Haseul! Haseul! Por favor, me responde! — Vou ouvindo os chamados daquela pessoa cada vez mais alto.

— Yeojin? — Perguntei, piscando para focalizar a imagem dela. — Como você entrou? — Indaguei me levantando do chão duro.

— Abri a porta com um grampo de cabelo. — Falou mostrando o objeto em sua mão.

— Fiquei muito tempo aqui? Que dia é hoje?

— Hoje? Dia vinte ainda. — Fez uma pausa, respirando fundo. — Mas o que aconteceu? Você tá sentindo alguma coisa?

— Não. — Digo enquanto levanto.

— Isso é bom, mas deite na cama, o chão está cheio de poeira.

《 Yeojin 》

Apareci em uma rua que eu logo reconheci, a rua onde eu fui pega e levada para aquele lugar. Precisei de alguns minutos para lembrar a direção que estava indo, mas logo que lembrei eu já voltei a andar. O caminho foi rápido, ou foi apenas uma impressão, mas de qualquer modo, ao chegar em casa, abri a porta e encontrando o meu irmão dormindo no sofá.

— Irmão! — Digo indo até ele, que nem ao menos se moveu. Eu só notei que estava chorando quando comecei a soluçar, me senti um pouco dramática, mas bem, ele era a única pessoa da minha família que ainda tinha contato comigo.

Saí da sala e fui para o meu quarto, este que parecia idêntico, mesmo sabendo que partículas de poeira estavam se empilhando nas minhas coisas. Me sentei da cama e voltei a observar meu quarto, que realmente estava exatamente igual sem mim. Fui até a sala e olhei para o meu irmão, que também parecia igual. Voltei para o cômodo de antes e abri a janela, olhando para a rua, que parecia normal como todas as outras noites. Então por qual motivo eu me sentia deslocada e achava que era como se eu já conhecesse esse sentimento?

Voltei a andar pelo quarto, observei o máximo de coisas que poderia ao meu redor como se fosse a primeira vez. Realmente era, porque pela primeira vez não me sentia bem ali.

Saí do cômodo e voltei para a sala, observei um pouco meu irmão no sofá e fui para fora de casa, também não me sentia bem ali. Onde eu ficaria bem? Confortável o suficiente para chorar um pouco mais?

Abri a porta de casa, determinada a seguir uma direção que eu nem sabia onde levaria, mas andei por ela mesmo assim. Nada muito diferente do que eu reparei estar fazendo até então. Continuei sem rumo até que os primeiros raios de sol surgiram no horizonte e pensei em um lugar que seria uma boa para começar a procurar as meninas. Comecei a andar mais rápido em direção a casa de Haseul após perceber que estava próxima, mas cheguei em um vasto campo onde as plantas eram quase do meu tamanho. Procurei manter a calma, aquele homem havia dito que ninguém me veria, se ninguém me via ninguém poderia me fazer mal, mas em contrapartida, ninguém poderia me ajudar também.

Já que estava perdida, simplesmente continuei a andar, o fazendo como se fosse a última vez, pensando que talvez realmente fosse. Andei até que os matos foram diminuindo e vi uma casa, exatamente a que vinha procurando desde algumas horas atrás. Corri até lá e bati na porta, uma, duas, três vezes, mas seguiu na mesma, ainda sem resposta, então apenas me sentei numa parte coberta da casa. Esperei uma boa parte da tarde e do início da noite, mas ela não apareceu, então apenas voltei para casa por outro caminho, o principal, onde ficava a entrada para o terreno dela.

Quando cheguei em casa, que estava no mais completo e absoluto silêncio, percorri os poucos metros quadrados na intenção de saber da presença, ou não, de meu irmão. Após reparar que estava sozinha, corrida para o quarto, me deitando na cama eu comecei a pensar sobre algumas coisas.

Era uma menina, de 16 anos, uma estudante desnaturada que odeia a escola e tocava piano em um teatro barato, mais nada. E ali eu pensei que afinal, nunca me sentindo viva de verdade. Infeliz e confusa, continuei pensando na minha vida, não era trágica ou sofrida, e sim completamente entediante.

No dia seguinte, fui a casa de Haseul com um saquinho de grampos de cabelo, esperando que eles servissem como nos filmes. Corri para chegar lá, pelo caminho da entrada, e finalmente daquela vez eu consegui entrar, depois de muito esforço, não era molezinha como nos filmes, e comecei a olhar em todos os cantos do lugar, até abrir a porta do quarto, vendo Haseul deitada perto da cama, mas ainda no chão.

— Haseul! Haseul! Por favor, me responde! — Falei alto, esperando que ela acordasse.

— Yeojin? — Fiz que sim com a cabeça. — Como você entrou?

— Abri a porta com um grampo de cabelo. — Levantei um deles, escondendo o saquinho embaixo do meu pé.

— Fiquei muito tempo aqui? Que dia é hoje?

— Hoje? Dia vinte ainda. Mas o que aconteceu? Você tá sentindo alguma coisa?

— Não. — Digo enquanto levanto.

— Isso é bom, mas deite na cama, o chão está cheio de poeira.

Ela levantou e se deitou, reclamando da última parte da minha fala, pedindo para que eu limpasse. Apenas ri da fala dela, sabendo que apenas disse apenas de implicância.

TO BE CONTINUED