Capítulo 13: Mini rosa
"Mini rosa: Sensibilidade" — Floresce
《 Yeojin 》
Todas as noites Haseul dormia, enquanto eu ficava acordada e a observava adormecida, como se nada estivesse acontecendo, mesmo que estivesse. Tudo acontecia ao mesmo tempo que nada parecia ocorrer e eu sentia minha sanidade escorregando pelas minhas mãos, não podia fazer nada. Estava de noite quando eu percebi que o mesmo se passava com Haseul. Ela estava feliz por não trocar de personalidade, mas parecia sofrer com aquilo. De uma forma diferente da minha, mas sofria.
— Eu já te contei como acho que tudo isso começou? — Ela falou enquanto jogava uma carta cinco amarela. Sim, jogávamos Uno pela milésima vez.
— Isso? Isso o quê? — Joguei uma nove da mesma cor.
— Meu transtorno de personalidade múltipla. Uno! — Ela joga uma carta compra duas e depois a carta restante. — Ganhei! — Ela grita jogando os braços para o alto, depois eu dei minhas cartas para ela.
Haseul nunca me contou exatamente, com detalhes, o que ela acredita que foi uma "cordinha" para que fosse puxada para esse transtorno, sempre fugia do assunto. Por não ser algo muito legal para ela, nunca perguntei nada.
— Eu não lembro quando foi exatamente, apenas tenho a certeza de que realmente aconteceu. — Haseul diz recolhendo as cartas. — Se lembro de algo é que eu tinha uns quatorze, talvez quinze anos. Nisso, começou tudo o que você já sabe.
Nós nos conhecemos quando eu tinha cinco anos e ela já era mais velha, com dez anos, em um parque. Como morávamos perto uma da outra, a amizade durou mais do que só um dia.
"— Qual o seu nome? — Yeojin perguntou para menina que estava brincando de andar pelo meio fio em um lugar um pouco mais afastado da área mais cheia daquele parque.
— Haseul. — Ela pulou daquele lugar e ficou na frente da outra menina. — Qual o seu?
— Yeojin. — Foi para onde tinha grama, se sentando de forma desajeitada.
Haseul se sentou ao lado da menina mais nova e conversaram, mesmo que não tenha sido algo importante, afinal, ambas eram crianças. Quando começou o pôr do sol, a mãe de Haseul foi buscá-la e Yeojin procurou pela sua.
Yeojin ia com certa frequência ao parque, Haseul não tanto assim, mas ela sentiu vontade de começar a fazer isso. Mesmo que a diferença de idade fosse um pouco grande e certos pensamentos não batessem, ela sentiu que a mais nova poderia ser uma ótima amiga.
Dias se passaram e as tardes dos sábados eram o momento que sempre se encontravam. Apenas quando tinha chuva que vinha a exceção da rotina delas. Os dias viraram meses, janeiro passou para fevereiro, exato mês que elas fizeram uma promessa.
— Eu queria ser sua amiga. — Yeojin diz quando chegou, como sempre, correndo.
— Mas você quer mesmo? —Haseul diz enquanto se equilibra no meio-fio.
— Eu quero. — Yeojin estava observando Haseul como se fosse o ser humano mais incrível do mundo simplesmente por se equilibrar no meio-fio.
— Você vai ficar comigo? Mesmo? — Haseul diz com os olhinhos brilhando e com o mais honesto dos sorrisos no rosto.
— Uhum, porque você é muito legal — Yeojin diz abrançando Haseul.
— Promete? — Diz levantando o dedinho mindinho.
— Prometo. — Yeojin diz passando o dedinho mindinho pelo de Haseul.
Tudo indicava que seria um dia normal. Até o irmão de Yeojin chegar.
— Garota, já está na hora de ir para casa. — Ele diz se apoiando em uma árvore perto de onde as meninas estavam. — O que você está fazendo? Venha logo!
— Tchau, Haseul. — Yeojin diz acenando com a mão para ela e recebeu o mesmo gesto da outra menina.
Nem Haseul, muito menos Yeojin, imaginavam que aquele dia, tão bonito e importante até os anos mais recentes, iria definir tantas coisas."
Enquanto Haseul me contava o que ainda estava firme nas lembranças dela daquele dia, eu tentava buscar de todas as formas alguma coisa, mesmo que seja uma futilidade qualquer, mas nada vinha. Claro que não lembraria, sete anos já tinham se passado!
— Eu achei que ele não faria nada, sabe? Nós nos conhecíamos tinha tanto tempo, pensei que por isso ele já teria feito alguma coisa antes se quisesse...Algumas vezes eu fico pensando se ele sabe das consequências daquilo que fez comigo. — Ela pegou minhas mãos e me olhou nos olhos. — Yeojin, não fique chateada comigo, mas eu o odeio tanto, tem momentos que não tenho consciência desse ódio, mas às vezes isso é tão difícil...Que me sinto tão culpada.
— Não é culpa sua se ele foi um idiota. — Me aproximei dela e deito no seu colo. — Ainda não consigo acreditar, eu o via todos os dias, nunca imaginei.
— Você tinha dez anos, Yeojin. — Ela faz carinho no meu cabelo. — Você não ia imaginar isso.
— Ele fingia esquecer seu nome. Te chamava até de SeulHa. Eu achei que ele apenas não ligava pro nome da minha amiga. — Me sentei de novo e Haseul se deitou no meu colo dessa vez. — Talvez ele realmente esqueça, não sei.
— Vamos falar de outra coisa. Como foi a escola da última vez que você esteve lá?
Eu e Haseul nunca conversamos muito sobre minha escola, nem notas, nada do tipo, então ela não sabia de muita coisa. Lembro do último dia que fui para lá. Minha vontade era jogar a minha mochila longe e ver todos os cadernos, livros e papéis voando longe. Não fiz isso, claro.
— Não aconteceu nada demais.
— Nada de bom? — Como se tivesse muitas coisas boas lá.
Falar com ela era fácil, as palavras saíam naturalmente, como se fôssemos irmãs que se dão muito bem. Claro que nós já brigamos, bastante até, mas nada que durasse mais que um dia, ou uma das duas bloqueadas nas redes sociais, infantil, eu sei. Isso não importava, de certa forma, nunca fizemos mal uma a outra nessas brigas, eram comuns em qualquer relacionamento entre pessoas com opiniões diferentes.
Não nos demos conta que já estava ficando um pouco tarde e Haseul começou a ficar um pouco mais sonolenta, parecia que ia dormir a qualquer momento. Já iria dar meia-noite, ela sempre dormia nesse horário.
— Não quer dormir?
— Quero. — Ela diz levantando das minhas pernas.
— Pode ir. — Apontei para a cama. — Vou lá fora, está bem? Não irei longe, vou ficar por aqui mesmo.
— Tome cuidado. — Haseul diz quando já estava sentada na cama.
Eu disse que iria tomar e saí do quarto. Passei pela sala até ver a porta que dava para o quintal, que não era bem um, mas era quase.
A casa de Haseul era grande, ficava próxima da entrada de um bosque, algumas plantas bem grandes cresciam perto dali. Eu gostava de andar por elas, era divertido, mesmo que já tenha me perdido algumas vezes. Meus pensamentos lá dariam um ótimo texto sobre algo como "a vida é divertida mesmo que algumas vezes nós fiquemos perdidos entre a imensidão de escolhas que temos que fazer e o peso delas nos outros". Por que eu não tinha tanta criatividade assim quando precisava escrever alguma redação?
Estava ali, observando as estrelas, mesmo que fossem poucas pela quantidade de poluição, mas aqui tem menos do que em lugares mais próximos dos centros, por exemplo. Fiquei grata por pelo menos uma vez poder olhar para o céu e ver algo diferente além da lua com suas fases, ali as estrelas tinham seu papel tão importante quanto a maior fonte de luz natural da noite. O céu noturno é lindo, sem dúvidas, mesmo que o azul que o colore durante o mais dos ensolarados dias seja tão belo e maravilhoso. A passagem entre o dia e a noite é o momento que as cores mudam, nunca são exatamente iguais, isso é bom.
Lembro da minha conversa com Haseul. Eu tinha tanta confiança nele, o amava tanto, e ele fez uma das coisas mais desprezíveis com alguém. Não por ela ser minha melhor amiga junto com Vivi e Yerim, eu ficaria irritada se fosse com qualquer pessoa.
Afinal, nunca conhecemos 100% de uma pessoa e eu tenho consciência disso agora. Em todos os sentidos, pensamentos, ações, sentimentos, nunca, jamais saberemos tudo. Imaginamos algo com o que temos, criamos uma imagem e achamos que sabemos da pessoa. Mesmo assim, inventamos expectativas superficiais demais e nos iludimos, depois caímos na real e a queda é dolorosa, fria.
Minha vontade era gritar, chorar e buscar colo em alguém, mas quem me daria apoio era exatamente aquele que queria distância agora. Isso dói e não deveria, não tinha sido eu a ser tocada além dos meus limites.
O meu conforto, depois de muito tempo, foi a luz do sol que começou a iluminar tudo até onde minha visão alcançava, logo a sensação de estar sendo aquecida e não mais com o frio que vinha junto com a noite. Se estava ficando claro, como tudo ainda parecia ser escuro e muito ruim?
— Bom dia. — Haseul disse passando as mãos nos olhos depois de abrir a porta. — Ficou o tempo todo aqui? — Ela diz se sentando do meu lado, eu fiz que sim.
— É hoje. — Digo sorrindo, mas logo depois parei. Eu teria que voltar ao lugar que menos gosto: Escola. — Pensando bem, não quero.
— Também não, é bom ter só uma personalidade, ser eu mesma, apenas isso. Precisamos voltar, de um jeito ou de outro. — Ela olhou para mim e sorriu. — Sei que você não quer voltar para lá, para seu colégio, mas já está acabando, só aguentar alguns meses.
— Alguns meses que vão doer.
— Mais do que esse último que tivemos? — Haseul deixou de me olhar e começou a observar outros lugares.
— Não nos machucamos aqui para sentir dor.
— Não quero dizer essa dor.
Finalmente entendi o que ela disse, eu gostaria de responder algo, mas a única coisa que saiu foi algo muito simples, apenas uma interjeição curta.
— Venha. — Ela se levanta e depois me estende a mão. — Vamos entrar.
A casa de Haseul era bem isolada, ou seja, também não tinha vizinhos, isso significa que ela colocava algumas músicas altas algumas vezes. Lá também tinha uma piscina, no verão eu, Haseul, Yerim e Vivi só ficamos nela.
Eu decidi tomar banho depois de algumas horas, estava quase dando meio-dia. Haseul disse que ia tomar depois e ficou organizando as roupas. Não foi uma boa ideia tomar banho agora.
Quando eu voltei vi Haseul olhando para o lado de fora da casa pela janela. Como o banheiro ficava no quarto, ela foi uma das primeiras coisas que eu vi quando saí do cômodo. Ela provavelmente me ouviu e se virou sorrindo, fui até Haseul, que começou a falar logo depois.
— Você gostava de brincar ali. — Disse encostando um dedo no vidro da janela, mostrando aquelas plantas quase do meu tamanho. — Nunca entendi o motivo.
— Não tinha motivo. — Comecei a rir. — Era legal, só isso.
— Não quer fazer isso de novo?
— Acabei de tomar banho...
— E daí? Não é como se você fosse rolar na lama! — Ela diz sorrindo. — Vamos, vamos. — Haseul estende a mão para mim e eu a aperto.
Ela me puxa durante todo o trajeto até lá. O sol já estava se pondo e o céu mudava suas cores, ao som da risada de Haseul e um pouco do canto dos pássaros, eu poderia dizer que aquele foi um dos melhores momentos da minha vida, mesmo que tivesse ocorrido entre muitas plantas. Depois de muito tempo, decidimos entrar por estar ficando escuro e ter a possibilidade de ficarmos perdidas, de novo. Ficamos entre conversas e silêncios interligados com risadas por horas.
— Ah, isso dói! — Haseul disse colocando a mão no pescoço, vi um pouco de sangue escorrendo pela mão dela e eu olhei involuntariamente para o relógio.
23:59.
Senti algo me puxar para o chão, nem sei se esse "algo" realmente existe, um segundo depois eu não conseguia nem ao menos me manter acordada.
TO BE CONTINUED
Bom, agora temos mais uma para a contagem de mortes com o fim do Mobius: Vivi, Hyunjin e Haseul.
Talvez vocês tenham entendido o que aconteceu, caso não, ela foi estuprada. Não quis deixar isso muito explícito, para não ficar mais pesado. E quem fez isso com ela? Acredito que vocês tenham entendido, mas se não, eu vou explicar tudo mais para frente.
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