Capítulo 81
Todo fim tem um inicio ou todo fim é um novo inicio?
— Bebam — Luke estendeu outra garrafa de isotônico para que Harry e eu bebêssemos, era a terceira do dia. — Não adianta fazer essa cara, precisam se hidratar para se recuperar.
— Eu quero sair da cama — Liv disse com um biquinho.
— Eu sei meu amor, mas você precisa melhorar primeiro — falei passando a mão no seu rosto.
Eu estava deitado na maca com ela e Harry sentado do outro lado, segurando a mão da nossa filhote. Era um alívio imenso estarmos bem e juntos. Logo teríamos uma reunião com a maior parte do bando, afinal, estávamos nos dividindo nos que ficavam de plantão no galpão com Liv, nos que cuidavam de todos os filhotes, que estavam ficando na casa de Jade, e os que cuidavam dos negócios e outros assuntos do bando.
Quando eu acordei naquela madrugada ouvindo Liv me chamando, me sentei na hora, assustando Harry, que também acordou. Meu alfa nem tinha entendido o que estava acontecendo, tanto que sua primeira reação foi me segurar para perto dele.
— Liv? — a chamei, e mesmo que o quarto estivesse um pouco escuro, vi seus olhinhos na minha frente.
— Maman, eu estou com sede — ela falou com uma voz muito fraca.
Harry e eu nos levantamos na hora, ele acendeu a luz e eu fui para a minha filha. Quase chorei quando aqueles olhos verdes me encararam de volta, ela estava sonolenta e parecia confusa. Fiz carinho no seu rosto e só não chorei, porque sabia que isso ia assustá-la.
— Tudo bem, é que você dormiu muito tempo, é normal — garanti a ela, que apenas concordou confusa.
— Meu amor, você se lembra do que aconteceu? — Harry perguntou delicadamente, segurando sua mão.
— Non — ela negou com a cabeça — por quê?
— Por nada, eu vou chamar o tio Luke para saber se você está bem, ok? — Hazz beijou sua testa e saiu do quarto.
— Mas eu estou com sede — ela insistiu manhosa.
— Temos que esperar o Tio Luke te examinar para saber se eu posso te dar água. Você está com um machucado e precisou de cuidados especiais, por isso precisamos ter certeza de que tudo está bem — respondi, ainda brincando com seus cabelos. Ela colocou a mão no próprio peito, que estava por baixo da camisola de ursinhos.
— Você se machucou também — ela apontou para meu braço, onde tinham os pequenos cortes e marcas daquela noite infernal.
— Sim, por isso nós dois temos que nos cuidar, não é?
— E tomar sorvete.
— Sorvete? — perguntei sorrindo de canto.
— Nini disse que sempre que a gente está dodói, tem que tomar sorvete — ela sorriu confiante e eu ri.
— Acho que não se enquadra nesses casos.
— Então a Bela Adormecida acordou? — Luke perguntou entrando no quarto, sendo seguido por Harry.
Eu nem sabia que Luke estava no galpão ainda, apesar de ele estar com roupas limpas e cabelo úmido. O que me fez perceber que ele esteve de plantão o tempo todo.
Luke colocou as luvas e começou a examinar a minha filhote. Harry a ajudou a se sentar quando o alfa loiro pediu, Liv parecia desconfortável, mas não reclamou em momento nenhum. Ele usou o estetoscópio para ouvir o pulmão da minha filhote e verificou seus batimentos cardíacos, então ajustou sua maca, para que ela ficasse ligeiramente sentada, em vez de deitada.
— Você está com dor? — ele perguntou a ela.
— Non, só está estranho aqui — ela apontou para o próprio coração.
— Ele vai ficar um pouco estranho por um tempo, mas o lado bom é que seu machucadinho na barriga não pegou nenhum ponto importante, então você vai se recuperar mais rápido, porque logo vai poder comer normalmente.
— Eu posso tomar sorvete? — Liv perguntou e nós rimos, era um riso de alívio.
— Em breve vai poder, por hoje vamos tentar coisas mais saudáveis. Seu papa disse que estava com sede, pode tomar, mas devagar.
Harry pegou um copo com água e ajudou Liv a beber, controlando para que ela tomasse bem devagar, talvez até mais do que Luke recomendaria. Suspirei aliviado, pelo menos uma parte da minha vida, aquela que me arrastou nos últimos anos, que me fez ter medo de tudo, estava encerrada. Podíamos ter marcas, algumas psicológicas, outras físicas, mas iriamos nos recuperar.
Um ciclo de caos e dor tinha, enfim, se encerrado.
E eu fazia questão de eu mesmo acabar com os últimos resquícios dele.
— Papa? — uma voz veio da porta, o pequeno Drew estava ali, nos olhando com curiosidade.
— Vem aqui — Luke o chamou, e o menino correu até nós.
— Drew... — Mike veio logo atrás, ele trazia um Dom sonolento no colo.
— Papa que me chamou — o alfinha se defendeu. — Eu queria ver a Liv.
— Está tudo bem — garanti para Mike, que sorriu concordando, também se aproximando.
— Oi — Liv sorriu para o amiguinho.
— Você está bem? — ele perguntou preocupado. Luke o segurava para que ele pudesse ficar perto da minha filhote.
— Acho que sim — ela respondeu, ainda um pouco confusa, afinal ela não se lembrava o que tinha acontecido, e eu esperava que continuasse assim. Pelo menos até poder trabalhar melhor isso na terapia.
Aliás, esse era outro ponto que eu deixaria claro para o meu alfa. Todo mundo, incluindo ele, eu, Liv, todos os filhotes e o resto do bando que quisesse, iria para a terapia assim que possível. Ninguém mais ali iria crescer traumatizado.
— Liv, sabia que só conseguimos te achar porque o Drew percebeu que tinha algo errado e conseguiu me avisar? — Harry falou e tanto eu, quanto Liv, ficamos surpresos. Eu não sabia daquilo.
— Foi? — ela perguntou espantada e o alfinha sorriu orgulhoso.
— Quando eu vi o alfa estranho perto de você e depois não te achei, sai correndo até achar o padrinho — ele respondeu alegre, e Luke beijou seus cabelos.
— Isso mesmo, Drew foi muito corajoso, porque estava uma confusão. Mas ele me achou e me avisou, então eu corri para procurar vocês. — Meu alfa respondeu.
— Wow — Liv exclamou admirada.
— Lou, nós tínhamos tomado todas as precauções, só não imaginávamos que eles usariam a passagem de funcionários para alcançar vocês — Mike me disse um pouco triste.
— Não foi culpa de ninguém que está aqui, só deles mesmos — falei para ele, que concordou — não quero, nem por um segundo, que pensem que os culpo ou fiquei bravo. Eles estavam tentando há muito tempo, era provável que conseguiram em algum momento. O importante é que vocês estavam lá quando precisávamos.
— Sempre estaremos — Mike me garantiu.
— Já que estão acordados — Luke foi até a pequena geladeira e tirou dois isotônicos, entregando um para mim e um para o meu marido. — Bebam e descansem também.
— Vou avisar aos outros que a Liv acordou, todo mundo está esperando por notícias — Mike me disse, e eu nem tinha pensado nisso.
Harry e eu dormimos por cerca de vinte e quatro horas, enquanto isso o resto do bando ficou junto, esperando por novidades. Mike se afastou um pouco para fazer a ligação, mas antes passou Dom para Luke, o pequeno alfa já tinha dormido de novo.
— Lilly e Lux vem amanhã — Drew contou para Liv — elas choraram e queriam ficar aqui, mas a tia Emma não deixou.
— Elas vieram aqui? — minha filhote perguntou, e o alfinha concordou com a cabeça — Queria ter visto elas.
— Papa e tia Emma não as deixaram ficar, disseram que você e os padrinhos precisavam descansar.
— Precisávamos mesmo, mas agora vai ficar tudo bem — eu disse beijando a testa da minha filhote, e meu marido sorriu, concordando comigo.
— Tudo certo? — Harry me perguntou quando entrei na reunião, o bando estava quase todo ali.
— Sim, nossas irmãs estão com Liv, Lilly e Lux — suspirei.
Lottie e Gemma estavam com Liv e as outras filhotes para que nos reuníssemos porque, apesar de saber que o galpão era totalmente seguro, eu não queria nunca mais deixar Liv sem supervisão. Ia ser difícil lidar com tudo o que tinha acontecido. As outras crianças queriam vir visitar Liv, mas achamos melhor esperar um pouco, apenas as duas ômegas foram autorizadas porque elas tinham chorado compulsivamente. Tanto que Lou e Ashley estavam com medo de que passassem mal.
— Certo — meu marido beijou minha mão. — Como que eles conseguiram raptar Liv?
— Usaram as passagens de funcionários, nós ficamos de olhos nas entradas, mas não pensamos essas aqui — Ashton indicava a planta do shopping em cima da mesa — já investigamos e conseguimos os nomes das pessoas que facilitaram o acesso.
— Eu quero ver a lista, eles ajudaram que minha família fosse raptada. Mas também quero que risquem esse shopping da nossa lista, não quero que nenhum lúpus tenha nenhum negócio ali. Se eles não tiveram segurança nenhuma na hora que uma criança foi raptada, não queremos eles conosco.
— Aviso a todos os lúpus? — Liam perguntou, e Harry concordou com a cabeça.
— E a loja que usaram de escudo? O gerente recebeu suborno para que usassem o local — Zayn comentou, mas dava para ver no seu olhar que ele já tinha planos para o lugar.
— Verifiquem se os funcionários têm outro lugar para trabalhar, depois queimem o lugar inteiro — Harry falou como se fosse algo simples. Zayn e Mike se entreolharam maldosamente.
— Com prazer — o outro alfa respondeu.
— E o resto da confusão que a família Walker criou? — Meu marido perguntou.
— Como as ações da máfia russa que causaram tudo isso, passei os nomes para Danila e Tiziano, que resolverão isso pessoalmente. Danila não está feliz que tenham usado seu país para esse tipo de negócio e nem de ter que se afastar do seu soulmate, por isso acredito que ele será um pouco agressivo. Tiziano prometeu que não o conterá — Lestat disse com um sorriso de canto.
— Zeus — Louis suspirou — a última vez que Danila resolveu "assuntos pessoais" com uma máfia, ele amarrou pesos em explosivos e implodiu um prédio inteiro.
— E a tal máfia? — Calum perguntou — O que ele fez?
— Eles eram os pesos — Louis deu de ombros.
— Informei minha família de tudo o que aconteceu, assim que Danila e Tiziano limparem essa máfia na Rússia, nós limparemos na Suécia — Bill falou.
— Então você voltará a morar com sua família? — Harry perguntou para Bill, que parecia vacilante.
— Eu não sei o que acontecerá — ele respondeu olhando para todos.
— Lembre-se que seu irmão está vivo por sua causa, nós fizemos um acordo. Se você partir, está me liberando para fazer o que eu quiser.
— Isso é chantagem?
— Não, um lembrete amigável que ainda quero matar seu irmão, talvez seu pai também. — Meu marido meneou a cabeça.
— Se o pai dele não estava no acordo original, podemos matá-lo? — Zayn perguntou.
— Por mim podemos — Lestat que respondeu.
— Não, ninguém da minha família — Bill falou rapidamente e Zayn o olhou com desdém.
— Estraga prazer — Mike bufou, cruzando os braços.
— E Landon? — perguntei para Bill, que me olhou receoso.
— Ele está bem, ficou na casa de Jade com Sky, está ajudando a cuidar dos filhotes — o alfa engoliu em seco. Porque era óbvio que se ele tinha colocado o alfa e a filha dele em proteção junto com o resto do bando, queria dizer que ele era seu soulmate.
— Não foi isso que perguntei — falei, e ele concordou com a cabeça. Talvez em outro momento eu estivesse com paciência para ter uma boa conversa, verificar como eles estavam, principalmente pelo fato de Landon ter uma filhote, ainda mais que Sky tem autismo de nível um. Mas eu não tinha tempo nem vontade. — Você já avisou da sua possível mudança? Porque se acha que vai voltar para Suécia e levar Landon e Sky com você, está muito enganado.
— Nem mesmo o conselho pode interferir em uma família — ele respondeu levemente atordoado e um pouco petulante, naquela sua postura defensiva. O bando inteiro nos assistia, mas eu não ia discutir, por isso apenas sorri de canto.
— Mas essa é a minha família, não a sua. Landon ME procurou e trabalha para o MEU bando, Bill. Como meu marido já te disse, se você quiser ficar, é bem-vindo, se quiser partir, pode ir. Mas não deixarei que Landon e Sky sejam levados para um ambiente que eu não confio, e todos já percebemos que você não é tão bem aceito assim. Aqui nós cuidamos da nossa família, porém, desconfio que na Suécia vocês não cuidam direito da sua.
O silêncio reinou ali, eu não queria ser rude, só estava sem paciência para joguinhos e conversas fiadas. Até entendo o medo que Bill tinha, basicamente ele teria que trocar a família, perderia o convívio diário com pais e irmãos e viveria com quem ele mal conhecia. Só que todo mundo já tinha entendido que sua família não encarava tão bem o fato dele ser interessado em outros alfas. Quebrar ciclos é muito difícil, quanto tempo eu demorei?
Mas chega uma hora que precisamos entender que sem respeito não há amor verdadeiro, então se aqueles que deveriam te amar não te respeitam, eles não te amam realmente. Apenas amam a ideia que eles criaram sobre você, e isso nunca será suficiente.
— Então eu juro a vocês — Bill disse, olhando para Harry e eu.
— Não é a mim que você vai jurar, é a ele — Hazz indicou Lestat, pegando todos de surpresa.
— Eu não pretendia falar assim, conversaria melhor em outro momento, mas as circunstâncias não nos deixaram — o lúpus loiro falou sério.
— Mon loup — Louis disse com as mãos na cintura e Lestat deu de ombros.
— Ok, eu não pretendia conversar, eu só compraria as passagens e mandaria você se virar. O fato é que agora mesmo Heidi e Jordan estão trabalhando para trazer a sede da Lionscurt Goup para Londres, mas nossa base em Nova York é muito importante. Eu já olhei toda a sua formação e quero que você comande a base de Nova York.
— Eu? — Bill perguntou espantado — Mas vocês nem me conhecem de verdade, e se eu fizer algo muito errado?
— Sei muito bem reconhecer potencial quando vejo, como eu já disse, não errei até agora — Lestat indicou Harry, Liam e Zayn — mas se você fizer alguma merda, eu sempre posso te matar.
— Isso sim é que é uma conversa motivadora — Emma comentou.
— E não se preocupe, eu já conversei com a jovem Jauregui, ela vai ficar de olho — Lestat finalizou, e Lauren sorriu falsamente.
— Em alguns meses eu volto para os Estados Unidos e, tenho certeza, vamos ser ótimos amigos — Lauren falou.
— Eu não sei vocês, mas eu acho que eu preferia lutar contra um crocodilo — Calum comentou e vários ali concordaram, Bill apenas engoliu em seco.
— Lembra quando eu te disse para não reclamar das escalas da Jesy por que poderia ser pior? — Shawn perguntou para Bill, que acenou com a cabeça — Acabou de ficar muito pior.
— Ok, já ameaçamos a vida de pessoas presentes, podemos voltar ao foco da reunião? — Liam pediu.
— Eu não gosto dessa reunião — Lauren não sorria mais — parece uma reunião para deixar tudo organizado, como se fosse uma despedida.
— Não vou mentir, é quase isso — Harry suspirou e a maioria começou a reclamar, eles nem queriam pensar naquela possibilidade. — Esperem, sabemos o que pode acontecer, por isso precisamos nos prevenir. Eu quero que esteja tudo certo caso o pior aconteça.
— Não vai — Zayn disse taxativo.
— Mas caso aconteça, já temos tudo pronto — meu marido repetiu, passando a mão pelo rosto.
— Você sabia que algo assim poderia acontecer, não é? — Jesy interrompeu a nova onda de reclamações, ela tinha um olhar afiado e os braços cruzados — Cada um de nós tem parte em vários negócios, poderíamos nos sustentar e viver muito bem se saíssemos do bando. Anos atrás você fez um testamento dizendo que era só precaução, por isso todos nós acabamos fazendo, mas não era precaução, você sabia de alguma coisa que não quis nos contar. A primeira coisa que fez quando trouxe o Louis na sua vida foi passar tudo para o nome dele.
— É verdade? — Niall perguntou para Harry, meu amigo tinha ficado calado até aquele momento.
— Sim — meu marido não negou, e todos ficaram perplexos — mas eu passei tudo para o nome de Louis por proteção a ele e Liv. O resto foi caso pensado.
— Tudo anterior ao Louis — Niall disse se aproximando, como se tivesse entendido. — Você ia se matar?
Olhei assustado para Harry, ele ainda segurava a minha mão, estava tranquilo, ao contrário do resto da sala que estava um pouco nervosa com aquilo. Mas, o pior de tudo, é que Harry não negou em momento nenhum.
— Você ia? — perguntei para ele, Harry voltou seus olhos para mim, como se estivéssemos no nosso próprio mundo e o resto não existisse.
— Antes de te encontrar — ele respondeu por fim — eu te disse que você me salvou muito antes de eu te salvar.
Eu sei que praticamente todos a nossa volta estavam reclamando, mas meu foco era em Harry. Ele realmente tinha me dito várias vezes que eu o salvei antes dele me salvar e eu não tinha entendido, mas ele só estava sendo sincero. Liv e eu fomos o que o impediu de tirar a própria vida.
Não podia julgá-lo, isso tinha passado pela minha cabeça várias vezes, eu nunca tinha realmente considerado por causa de Liv. Então que seja, se eu o tinha salvado uma vez no passado, mesmo que sem querer, iria fazer isso de novo.
— Eu não sabia que fiz isso, mas sei o que vou fazer a partir de agora. Você não tem permissão nenhuma para desistir — o avisei e ele sorriu de canto, sabendo do que eu estava falando.
— Eu te prometo lutar até o último segundo — ele respondeu, antes de beijar meu rosto.
— Já falei que não gosto disso — respondi cerrando os olhos e ele sorriu — Liam, eu tenho uma ideia para um negócio que devemos abrir o mais cedo possível.
— Claro, o que? — ele perguntou confuso.
— Uma clínica de psicologia — respondi e eles me olharam sem entender. — Eu quero que o bando inteiro, principalmente os filhotes, façam terapia. Todo mundo aqui já passou por merdas demais e não quero que ninguém mais carregue algum trauma.
— Olha, eu concordo, só resta saber se os psicólogos vão aguentar com a gente — Niall deu de ombros.
— Posso verificar alguns nomes, para começarmos nossa própria clínica vamos precisar de profissionais muito bons e confiáveis.
— Isso é necessário — Lestat falou — segredos lúpus não podem vazar, os escolhidos para trabalhar nessa clínica precisam ser de extrema confiança.
— Isso pode gerar um programa de estágio — Perrie comentou. — Se ajudarmos estudantes a pagar pela faculdade, eles se tornarão profissionais leais a nós.
— Algo parecido com o que fazemos com diversos empreendimentos, ajudamos financeiramente e com outras coisas, assim eles se tornam nossos espaços também — Liam concordou — podemos abranger essa ideia para outras especialidades.
— Você acabou de dar início a mais uma empreitada do bando — Hazz sussurrou para mim e eu sorri.
— Sabe, tem mais uma coisa que podemos fazer também — Mike comentou dando de ombros — fornecimento de órgãos para doação.
A sala ficou em silêncio de novo, todos olhando para o ômega que parecia tranquilo, como se não tivesse dito nada demais.
— Baby, você pode desenvolver o pensamento, por favor? — Luke pediu.
— É que eu estava pensando, essas pessoas que a gente pega para matar devem ter órgãos saudáveis, e tem tanta gente que precisa de um transplante, será que não tem algum jeito de fazermos alguma parceria com algum hospital? — ele perguntou inocentemente.
— Eu realmente queria saber os caminhos que seu cérebro percorre — Emma comentou.
— Eu estou louco ou isso faz muito sentido? — perguntei.
— Acho uma ótima ideia — Zayn concordou.
— Mike que deu a ideia e Zayn aprovou, se eu fosse você já marcava uma análise psicológica — Perrie me falou.
— Amor! — Jesy falou revoltada — Eu também concordo.
— Viu, só prova o meu ponto — a loira deu de ombros.
— Mas como isso funcionaria? — Calum perguntou — Vamos manter essas pessoas nas celas, enviar uma amostra de sangue para o hospital e ver se é compatível com alguém?
— Não, podemos entregar o corpo direto no hospital, mas tem que ser imediatamente, tudo que for ser usado precisa ser retirado em menos de seis horas — Luke explicou.
— As conversas do bando vão de 0 a 100 muito rápido — Ashley riu.
— Mas e as caçadas? — Jesy perguntou, porque era claro que de tudo, aquela era a dúvida dela.
— Não nesses casos, só nos casos que precisamos pegar um idiota, alguém que roubou, quando o Lestat for matar alguém que olhou para o Louis francês, essas coisas — Mike respondeu e a alfa concordou.
— Eu realmente vou criar uma parceria com um hospital para fornecimento de órgãos? — Liam perguntou suspirando.
— Tem mais alguma coisa nessa reunião? — Lestat perguntou — Quero voltar para meus filhotes.
— Eu quero que me escutem com atenção — Harry falou sério se levantando, e todos prestaram atenção nele — Apenas me deixem falar, ok? Muito em breve iremos para Holmes, eu não vou fugir, vou me apresentar ao conselho e enfrentarei as consequências pelas minhas escolhas, mas eu não me arrependo de nenhuma delas e faria tudo igual. — Ele apertou minha mão — Independente do que acontecer, eu preciso saber que vocês estarão aqui pelo meu ômega e minha filhote. Eu confio a minha vida a vocês e eles são minha vida.
— Hazz... — Lauren murmurou.
— Calma, eu vou lutar e me defender, eu pretendo voltar para cá e retomar o meu lugar. Quero continuar liderando esse bando, quero continuar fazendo parte da vida de vocês, ver seus filhotes nascerem e todos eles crescerem. Quero um dia vê-los assumindo o legado que nós criamos. Mas precisamos ser realistas, talvez isso não aconteça, e caso não aconteça, eu só quero a palavra de vocês que estarão aqui pelo Louis, que o ajudarão a comandar e que estarão com a minha filhote por mim.
— Como se ele precisasse da nossa ajuda — Zayn resmungou, limpando o canto do olho. A maioria ali estava do mesmo jeito.
— Somos uma família — Shawn disse — quando você me chamou para trabalhar na obra da No Control, me disse que queria pessoas confiáveis, que nós descobriríamos a vantagem de estarmos pertos de lúpus. Só que você foi além e nos tornou lúpus também, nós juramos ao código e vivemos essa vida porque você começou tudo isso. Não ache que viraríamos as costas, e se a merda acontecer e ter perdermos, nós ainda estaremos aqui!
— Não vamos discutir sobre isso — eu interferi. — Eu sei que vocês estarão ao meu lado no que eu precisar, mas Harry também estará conosco e ponto. Vamos para Holmes, resolvemos isso, arcamos com as consequências juntos e voltamos para casa. Todos nós.
Todos concordaram e olhei para meu marido, eu estava sério e um pouquinho bravo com ele. Eu entendia aquela reunião, tínhamos que acabar com todas as pontas soltas e encerrar aquela história de vez. E até entendia a decisão do meu alfa de deixar tudo organizado para caso o pior acontecesse, ele iria nos deixar protegidos. Mas aquilo não ia acontecer, eu nem sabia como, mas não ia.
— Até porque eu já disse, vocês não vão se livrar de mim — Niall fala olhando para Harry e eu. — Eu vou ter esse bebê e vocês serão os padrinhos, os dois estarão no parto segurando qual dos meus alfas estiver prestes a desmaiar. Vocês estarão aqui em cada festa de aniversário, Lou vai me ajudar a organizar e quando eu surtar, vai resolver os problemas, e o Harry vai ajudar a pagar. Eu vou atormentar vocês quando a Liv crescer e sei que irão revidar assim que possível. Vocês não vão se livrar de nenhum de nós, entenderam?
Hazz e eu concordamos sorrindo, ninguém iria desistir. O bando inteiro estava junto até o fim. E, eu suspeitava, até mesmo depois disso.
— Mais alguma coisa? — Liam perguntou.
— Sim — respondi — onde está Camille?
Ashely abriu a porta da cela e entramos no lugar. Era um espaço de dois metros por dois, um cubo cinza sem janelas, uma tigela de aço no canto com água. Tinha um cobertor e um travesseiro sobre o chão e nada mais.
Camille estava sentada no chão, usava a mesma calça e camiseta daquele dia, mas estava sem o casaco e os sapatos caros. Seus cabelos estavam desgrenhados, ela tinha parte do rosto inchado e um corte perto da boca, além da sujeira que a camiseta branca mostrava.
— Até que enfim — ela zombou assim que entrei. — Achei que tivesse me esquecido.
— Não sei preocupe, em breve eu vou — sorri para ela, que ainda mantinha o sorriso debochado — pensei que gostaria de saber que minha filhote está bem, se recuperando e logo terá alta.
— Nossa, fico tão aliviada. — Ela revirou os olhos — Vão me manter aqui já que não podem me matar?
— Engraçado você falar isso — mantive minha pose calma, então a chutei no rosto, a fazendo cair no chão, o sangue escorrendo pela boca — você não tem nem ideia do que eu posso fazer.
— O bando jurou que nunca faria nada contra mim — ela respondeu assustada, eu via a dor e o medo nos seus olhos.
— Você fala sobre coisas que não entende — a agarrei pelos cabelos e puxei para que me olhasse nos olhos — quando o bando te jurou proteção, eu não estava aqui. Mas tem muitas variantes, como o fato de você ter atentado contra a minha família. Você conhece o código?
— Eu acho que não — Ashley brincou — se conhecesse, não teria feito metade das merdas que fez.
— Mas podemos ensiná-la, não é? — perguntei para a minha amiga que concordou rindo, tirando um punhal da própria jaqueta e me entregando.
— O que? Não! Não! Você não pode! — Camille gritou se debatendo, tentando se soltar de mim.
— Se você não gosta de dor devia ter lembrado disso antes de machucar minha família, porque agora é tudo o que vai sentir — respondi a apunhalando na lateral do abdômen.
— O juramento... você não... o bando precisa... eles vão impedir... — ela ofegava de dor.
— Nossa, nem pegou nenhuma parte vital, não precisa ficar assim — Ashley revirou os olhos.
— Eu te entendi, o bando jurou te proteger, quer dizer que eles precisariam entrar aqui e me impedir — falei calmamente, puxando o punhal e o afundando de novo na carne da ômega, que gritou — mas o que você nunca entendeu é a relação de poder. Sabe o que isso significa?
— Responde — Ashley ordenou, socando o rosto de Camille, que caiu no chão de novo.
— Não — a loira me respondeu com ódio, o sangue fresco escorrendo pela sua camiseta. Eu me abaixei um pouco para que ela ouvisse muito bem as minhas palavras.
— A relação é que eu tenho todo o poder aqui, e você nenhum.
Ela gritou de raiva e avançou em mim, tentando me atacar. Eu desviei rapidamente, a segurando pelo cabelo e pelo braço, então a joguei de cara contra a outra parede.
— Vamos, eu vou te mostrar — a agarrei pelo braço e a puxei pelo corredor.
Ela ainda estava atordoada, mas tentava se soltar, mesmo que tenha sido um esforço inútil. Nós chegamos na saída, andando pelo gramado que ficava ao redor do anexo, perto do bosque para onde íamos em cada caçada.
Boa parte do bando estava lá, mesmo Ally que estava tão perto de parir, Leigh-Anne e todos os outros, ômegas, alfas e betas. Todos nos assistindo. Era o anoitecer, o céu ainda estava manchado de laranja, mas a iluminação externa tinha sido ligada.
— O que? — Camille parou, tentando fugir. Se ela não tinha entendido que algo terrível iria acontecer com ela, agora ela sabia.
— Você é, com certeza, umas das pessoas mais burras que eu já conheci — eu disse a ela, a empurrando na minha frente. — Você poderia ter tido tudo o que quisesse, mas era tão gananciosa e burra que não conseguiu aceitar o que conseguiu.
— Nem aproveitar a segunda chance que foi dada. — Ashley comentou, negando com a cabeça — Se tivesse ficado fora do Reino Unido como Niall mandou, não seria morta agora.
— Harry, por favor — Camille implorou para o meu marido, que estava com os outros, apenas nos assistindo, mas ninguém interferindo.
— Não ouse — rosnei entrando na frente dela. — Você tirou o Noah dele, depois tentou tirar Liv de nós. Tudo isso por sua vingança ridícula e por não ser a soulmate do meu marido. Você queria tanto ser eu, mas nunca chegou nem perto.
Ela tentou me bater, mas segurei seu pulso e retorci, até a articulação fazer um estalo muito alto e ficar numa posição nada natural. A loira gritou de dor, caindo de joelhos.
— Você queria mais e mais dinheiro, tentou obter tudo do meu marido, mas só recebia depois de muita chantagem. E agora tudo é meu, não porque eu quis, na verdade nem fui consultado. Mas meu alfa me passou tudo na primeira oportunidade. Você entendeu a diferença?
— Foda-se — ela rosnou com raiva e eu soquei seu rosto de novo, a fazendo cair.
— Se você tivesse deixado Noah nascer e aceitado o fato de que não é soulmate de Harry, teria tido a vida que quis, com seus luxos e o que mais quisesse. Mas por que tinha que escolher o caminho mais difícil?
— Vai ficar me dando lição de moral? — Camille retrucou — Então acabe logo com isso.
— Não é lição de moral, só quis jogar na sua cara que você vai morrer apenas porque é uma imbecil. Tudo o que te acontecer agora é sua culpa. E acabe logo com isso? — Eu ri dela e o riso de escárnio passou pelo bando também — Você não tem noção do que vai te acontecer.
— Do que você está falando? Eu sou uma ômega!
— E eu também, para seu azar — dei de ombros.
— Já ouviu falar de um jogo chamado "Caçada"? — Ashley perguntou para Camille, que negou com a cabeça assustada — Vou te entregar essa faca, você vai correr pelo bosque, se conseguir chegar do outro lado está livre. Mas se o Lou te pegar, bem, sabe usar uma faca com a mão esquerda?
— Isso é loucura! — Ela gritou e se virou para o bando — Ninguém vai fazer nada?
— Infelizmente não, não podemos ajudar a te matar — Mike respondeu suspirando.
— Você ainda não entendeu? — Niall riu dela — Você tinha tanta inveja de mim e me atacava porque achava que eu "tentava mandar", mas é tão burra que não percebeu que quem manda aqui é o Louis. Se ele ordenar todos nós somos obrigados a obedecer. Se tivesse entendido o mínimo do código que seguimos, saberia a merda que fez. Mas não diga que eu não te avisei, porque falei que era para ir embora e nunca mais voltar, voltou porque quis.
— Você se condenou a morte no instante que colocou seus pés no Reino Unido — Camila comentou.
— Camille — eu a chamei, e ela me olhou assustada — os lúpus tem muitos segredos, vou te contar um, já que você vai morrer mesmo.
Tirei minha camiseta e mal abri minha calça e já estava me transformando no lobo. A ômega estava caída no chão, seus olhos arregalados e ela estava em choque, me olhando aproximar dela vagarosamente.
— Se eu fosse você, eu corria agora. O mais rápido que puder e sem olhar para trás — Ashley a aconselhou — porque é esse lobo que vai te perseguir.
Camille piscou os olhos e saiu correndo bosque adentro, o bando gritava zombarias e riam. Olhei para o meu alfa, que tinha se mantido calado e sem demonstrar nenhuma reação ainda. Porém, assim que seus olhos pousaram nos meus, ele sorriu de canto.
Nós dois ficamos presos no olhar um do outro por alguns segundos, até que ele acenou com a cabeça e eu concordei. Então corri para dentro do bosque, perseguindo minha presa.
Se o que vale é a jornada, sou muito feliz por vocês terem feito parte dessa
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