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00.

prólogo.
O orgulho de Panem.

Era dia de colheita.

Aquela palavra nunca representava algo bom no distrito nove. Colheita significava dias exaustivos no mar dourado dos campos de trigo, horas debaixo de um sol cruel e uma longa caminhada com toneladas de grãos aos silos de armazenagem; colheita significava passar fome para alimentar todos os outros distritos e, principalmente, saciar as vontades da Capital de Panem e seu desejo por pães e bolos. A maioria das pessoas do distrito nove provavelmente nunca tinham comido um único pedaço de bolo em sua vida, apesar de a terem passado fabricando a farinha que compunha o doce.

Dorothy Seeder detestava os dias de colheita. Detestava as horas de trabalho, detestava a sensação incômoda que o trigo causava em sua pele e detestava a sensação de inutilidade que sentia sempre que derrubava um saco cheio de sementes por ser excessivamente pesado e seus braços fracos demais; uma constante reclamação vinda de seus pais e de todos os outros trabalhadores que sempre tinham de recolher e pagar por seus erros. Os pacificadores não eram gentis quando as sacas eram derrubadas e muitos grãos preciosos se perdiam na terra.

Mas existiam dois dias de colheita no distrito nove: a colheita de grãos e a colheita de nomes para os Jogos Vorazes, essa era, definitivamente, a pior. A sensação de imponência ao ver duas crianças serem sorteadas e o conhecimento de que não sobreviveriam para além do Banho de Sangue. No nove existiam vitoriosos, mas eram raros e considerados sortudos pelo resto da população; durante quase todos os anos, seus desafortunados tributos morriam antes do anoitecer do primeiro dia.

Assim como o ano, aquele dia de colheita era considerado especial pelos cidadãos da Capital. Era a quinquagésima edição dos Jogos Vorazes, uma edição especial para comemorar os cinquenta anos do fim da rebelião, a derrota dos distritos e a supremacia da Capital sob os mesmos. Era o segundo Massacre Quaternário. Uma exclusiva edição dos jogos que, como sorteado pelo Presidente Snow no dia do anúncio, contaria com o número dobrado de tributos. Quarenta e oito jovens colocados na arena para matarem por suas vidas. Um verdadeiro massacre, totalmente televisionado e de obrigatoriedade dos distritos acompanharem.

Dorothy sentia vontade de vomitar todas as vezes que pensava sobre os jogos daquele ano. A sensação de enjoo não foi embora por todo o trajeto de sua casa até a praça central do distrito, o incômodo aumentando gradativamente enquanto colocava seu nome mais sete vezes naquele ano em troca de tésseras que sua família necessitava, totalizando 42 papéis com seu nome desde seus doze anos. O revirar em seu estômago se acalmou quando entrou em meio à todas as garotas de seu distrito e pôde sentir duas de suas irmãs lhe observando da última fila, destinada aos jovens que estavam passando por seu último ano de colheita; Dorothy estava feliz por elas, logo não teriam que viver aquele dia terrível participando dele.

Quando Cloelia Vernini subiu ao palco, com seu vestido amarelo felpudo de doer os olhos, seu cabelo preto como ébano e o rosto tão branco que mal se podia dizer onde seus olhos ou dentes começavam, parecendo uma gigantesca abelha, as três garotas Seeder presentes já se sentiam quase anestesiadas, o único som que escutavam sendo as batidas dos próprios corações em seus ouvidos, preocupadas somente com os dois irmãos mais novos que passavam por suas terceira e segunda colheitas. Mesmo que as três Seeder tivessem mais papéis com seus nomes no sorteio do que pudessem contar nas mãos, elas sabiam que tinham adolescentes com uma quantidade muito maior. Tinham a singela esperança de que escapariam por mais um ano, mesmo que este fosse o ano do dobro.

Era uma ironia cruel que o distrito nove tivesse tantas crianças, com quase todas as famílias tendo quatro filhos ou mais, visto que o distrito era um dos mais pobres de Panem e seus tributos sempre morriam ao tocar do sinal que iniciava os jogos. Quando ainda era somente uma criança e perguntou o por quê disso aos pais, Dorothy recebeu como resposta somente um "é necessário"; desde então, passou a achar que era pela quantidade de trabalho que tinham nos campos e fábricas e que quanto mais mãos, menos exploração sofreriam excessivamente. Ela nunca recebeu menos trabalho, mesmo que tivessem centenas de pessoas trabalhando a cada corredor entre as plantações ou movendo as máquinas de processamento, então sua hipótese provavelmente estava errada.

Ela também nunca entendeu o motivo de todas essas crianças terem de passar pelos Jogos Vorazes, o motivo de todos dos distritos serem submetidos a tamanha desumanidade, mas também nunca teve o poder para mudar isso, Dorothy não era uma revolucionária. Achava cruel e desnecessário, mas não tinha o fogo para mudar isso e tinha se conformado. Fogo iniciava incêndios e incêndios queimavam as safras. Sem safras, o distrito nove e toda Panem sofrem com a fome e a ira do presidente Snow. Ela gostaria de evitar isso.

O vídeo, antigo e repetitivo, que era exibido todos os anos durante o dia do sorteio passava no telão colocado pela Capital na prefeitura do distrito, a maior parte das pessoas nem mesmo prestavam atenção no que era reproduzido, exaustos demais para se importar com aquilo que assistiriam no próximo ano e em todos os seguintes pelo que pareceria ser o resto de suas vidas; somente quando Cloelia se dirigiu ao microfone, com seu sorriso que nem mesmo podia ser visto no rosto fantasmagórico e uma animação sentida somente por si mesma, que o que poderia ser descrito como um suspiro coletivo foi expressado pela população presente.

━Bem-vindos aos Jogos Vorazes! Oh, estou tão animada para a edição deste ano! Vocês não estão? - a pergunta de Cloelia reverberou por toda a praça, uma quietude moribunda foi sua resposta, mas seu sorriso não vacilou. ━Como devem saber, este ano estaremos comemorando o segundo Massacre Quaternário e ele contará com uma adição muitíssima especial! Como declarado pelo Presidente Snow, nesta colheita será sorteado o dobro de tributos! Não é maravilhoso?!

Pela primeira vez desde que aquela tortura tinha começado, a população ali presente expressou algo que beirava a indignação e raiva. Desde que assumiu como a representante da Capital do nono distrito, Cloelia Vernini conseguia demonstrar ano após ano como não se importava com as crianças que sorteava para a morte e como glorificava a violência dos Jogos. Na verdade, mesmo o distrito nove sendo considerado um dos mais pacíficos entre os doze, era também um dos únicos que já atentou contra a apresentadora da colheita, no ano em que o povo se irritou profundamente com os absurdos ditos por Cloelia. Desde então, sua segurança por parte dos pacificadores passou a ser ainda maior, mas o atentado ainda não tinha sido o suficiente para se livrarem dela. Os sons de repúdio não pareceram lhe incomodar, aumentando ainda mais seu sorriso desprezível.

━Agora, vamos selecionar os quatro jovens sortudos e corajosos que representarão o distrito nove na quinquagésima edição dos Jogos Vorazes! - com palminhas exageradas e que beiravam o ridículo, Cloelia deu início ao fim da vida de quatro jovens. ━As damas primeiro.

Se aproximando da esfera de vidro, cheia até a borda com centenas de nomes, a abelha gigante enfiou uma das mãos ali e a movimentou de forma suspeita, criando um clima de suspense que somente ela estava ansiosa. Ao levantar a mão, dois papéis podiam ser vistos, provavelmente contendo os nomes de duas diferentes garotas. Voltando ao microfone, exibiu um sorriso grande e cobiçoso, abrindo os dois papéis com afinco.

━E as tributos femininas do distrito nove são: Charlotte Grainne e Dorothy Seeder! - Cloelia anunciou com animação, batendo palmas para as duas garotas que tinha acabado de sentenciar. ━Venham meninas! Onde vocês estão? Queremos vê-las!

Dorothy sequer tinha realmente escutado o seu nome, absorta demais no som do próprio coração acelerado, mas os gritos de suas irmãs e irmãos e o empurrão que sentiu no ombro direito foi o que lhe trouxeram de volta à realidade. Sua mente desnorteada não absorveu por completo que a garota ao seu lado lhe empurrava em direção aos pacificadores, como se quisesse afastá-la o mais rápido que pudesse. Quando chegou ao corredor entre os dois grupos de jovens, sentiu o forte aperto de um dos soldados da Capital em seu braço, lhe arrastando em direção ao palco. Charlotte Grainne estava alguns metros à sua frente, com o andar tão cambaleante quanto si. Ela tinha 14 anos. Era mais nova que Dorothy e parecia ainda mais assustada. Nenhuma das duas iria sobreviver, todos ali tinham certeza disso.

━Uma salva de palmas para as nossas damas sortudas! São lindas, vocês não acham? - com aquela pergunta indelicada de Cloelia, Dorothy finalmente olhou para cima e para a plateia, encontrando os olhos desesperados de suas irmãs e os conformados dos pais, eles já haviam aceitado que ela estava morta e aquilo doeu mais do que os castigos impostos pelos pacificadores quando cometia um erro. Dorothy não teve coragem de olhar para os irmãos mais novos, pois não queria ver seus olhos avermelhados de choro e sabendo que ainda poderiam ser colhidos por Cloelia. Teve a sensação de que desmaiaria só de pensar em um dos irmãos indo para a arena consigo.

Dorothy não conhecia Charlotte Grainne além do que seu irmão lhe contava, que estava na mesma classe que a menina na escola, mas sentiu que ela precisava de alguém em quem se segurar naquele momento e ofereceu sua para mão à garota, que agarrou firmemente e quase transformou o toque em um abraço, que definitivamente precisava, mas foi impedida pelo aviso de um pacificador nada simpático indicando que não deveriam criar cena. E as duas adolescentes ficaram daquela forma, nem mesmo escutando quando Cloelia Vernini sorteou os dois garotos que iriam para a arena junto com elas. Com grande alívio, Dorothy notou que nenhum dos infelizes tributos masculinos era um dos seus irmãos e se deixou ficar despreocupada sobre isso.

━Feliz Massacre Quaternário a todos e que a sorte esteja sempre ao seu favor! - com isso, Cloelia Vernini finalizou a colheita daquele ano e se virou para entrar na prefeitura do distrito, nem mesmo dando um segundo olhar para os jovens que tinha encomendado a morte e deixando que sua escolta os empurrasse violentamente para dentro do prédio.

E, com a última frase dita por uma das pessoas que mais detestava em sua vida, Dorothy Seeder despertou daquele pesadelo que recriou um dos piores dias que viveu e se levantou correndo em direção ao que deveria ser um banheiro, mas mais parecia um buraco nojento, com o objetivo de vomitar qualquer coisa que ainda existisse no seu estômago. Mas ela não podia reclamar, pois estava no distrito 13 e era tudo o que ela e todos os outros ali tinham, era o suficiente para que sobrevivessem até a queda de Snow. Ela está viva, e tinha que ser grata por isso, já que deveria estar morta.

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