51. Esteja Pronta
18h58
21 de fevereiro
Nova York
JENNI REED
Nunca gostei de estar em Nova York. É caótico demais, gente demais e pessoas mal-educadas em cada esquina.
Gotham era bem parecida com a Nova York do meu mundo, e eu jurava que era a versão dessa cidade neste universo. Mas aqui é tão duplamente pior que eles não têm apenas Gotham como uma cidade extremamente caótica, mas também possuem a mesma versão da Nova York do meu universo. Igualmente bagunçada.
Depois do desastroso dia que matou os meus pais, eu não consegui voltar àquela cidade, pois na minha cabeça, sempre associaria àquele horror.
Quando descobrimos que Margaret Logan estava morando em Nova York, eu relutei um pouco para criar coragem em vir até aqui exigir respostas da mesma.
Estar na cidade em que me remetia a lembranças sombrias e ter que conversar com a mulher que estava presente naquele fatídico dia – mas que está viva e aqui neste universo – era o ciclo completo de um medo interno que eu nem sabia que existia, até ter que lidar com uma situação assim.
Tentei dissipar a tensão que estava me consumindo nos dias anteriores, mas ela insistiu em permanecer.
Essa Nova York fica a umas 2 horas e meia de carro de Gotham, em boas condições de trânsito. Durante todo o trajeto, Dick tentava me distrair colocando minhas músicas favoritas e, também, músicas que eu não ouviria nem que me pagassem. Ele tem o dom de me irritar gratuitamente e, mesmo assim, eu não consegui ter um pingo de raiva. É mesmo o poder de estar apaixonada.
Havíamos chegado à rua do apartamento de Margaret há quase uma hora. Estávamos estacionados a uma boa distância de seu prédio, esperando-a voltar do trabalho. Dick, com seus poderes mágicos de detetive, não apenas descobriu o laboratório onde ela trabalha, mas também seu endereço e sua rotina diária. Tudo fica mais fácil quando se tem o melhor investigador te ajudando.
— Olha ali — diz Dick, apontando para metros à frente, no lado esquerdo da rua. — Ela chegou. Vamos.
Ele abre a porta do carro, mas para antes de sair ao perceber que continuei imóvel, encarando a rua à nossa frente.
O clima ainda estava frio, mas não tanto quanto um mês atrás. A rua, que era composta pelos clássicos prédios residenciais de tijolos vermelhos do Brooklyn – e de até 4 andares cada – estava ligeiramente movimentada, sendo o principal motivo a chegada das pessoas em suas casas após uma típica sexta-feira nova-iorquina estressante de trabalho.
— Ei — Dick se aproxima e coloca uma mão gentilmente sobre a minha coxa esquerda. — Sei que você está nervosa em falar com ela, mas estarei do seu lado.
Assinto, engolindo em seco o receio do que poderei descobrir com essa mulher. Respiro fundo e finalmente saio do banco do passageiro.
Dick segura minha mão enquanto caminhamos até o prédio de Margaret Logan e subimos as escadas até o 4º andar, onde fica o apartamento dela. Ele não me solta, mesmo depois de chegarmos.
Levo alguns segundos para tocar a campainha até que finalmente o faço. É estranho só de pensar em conversar com uma pessoa que eu acreditava estar morta. E, mais ainda, alguém que provavelmente sabe sobre tudo o que vim fazer aqui, mas nunca se manifestou.
Talvez tenha se passado um minuto ou dois e não tivemos resposta. Há um olho mágico na porta e me pergunto se ela nos viu e está nos ignorando.
Toco a campainha novamente e mais um minuto se passa sem resposta. Quando estava prestes a apertar o botão pela terceira vez e gritar seu nome, ouço uma voz abafada do outro lado.
— O que você quer? — Ela pergunta.
Apesar da madeira entre nós, percebo que sua voz é firme.
— Conversar. — Respondo no mesmo instante. — E espera, você me conhece?
— Você é quase idêntica a sua mãe, Jennifer. Impossível não reconhecer.
É claro. Isso sempre vai me entregar.
— Podemos conversar, então? — Peço mais uma vez. — Prometo que será rápido. Só preciso de algumas respostas.
Quando o silêncio se instaura mais uma vez, começo a achar que ela voltou a nos ignorar, mas ouço o som metálico de uma trinca destravar. A porta não se abre de imediato e penso em cobrar por uma resposta, porém sou interrompida no mesmo segundo em que abro a boca para falar.
— Apenas você. — Margaret ordena do outro lado da porta. — Ele não. E seja breve.
Sinto meu maxilar tensionar quando olho para Dick, que encara a porta à nossa frente com uma certa impaciência. Para variar, as coisas já estavam começando a sair fora do nosso planejado.
— Não tenho a noite toda. — Ela volta a dizer.
Me aproximo de Dick e sussurro próximo ao seu rosto.
— Pretendo ser rápida. Vou ficar bem.
— Tem certeza? — Ele sussurra de volta.
Assinto e, antes que eu pudesse responder para Margaret, sinto as mãos de Dick segurarem meu rosto. Discretamente e, praticamente imperceptível, ele coloca um comunicador em meu ouvido esquerdo.
— Qualquer coisa me avise. — Ele encosta os lábios nos meus em um rápido beijo. — Estarei no carro.
O vejo começar a se afastar pelo corredor enquanto me certifico de que as mechas do meu cabelo estão cobrindo a minha orelha.
A porta à minha frente se abre assim que Dick desaparece escada abaixo.
Uma mulher de cabelos curtos e escuros, um pouco mais baixa que eu e aparentando ter a idade que meus pais tinham, me encara ao lado da porta, esperando que eu entre em seu apartamento.
— Acho que não começamos bem — estendo a mão para ela. — Jennifer Reed.
Ela responde rapidamente ao cumprimento.
— Margaret Logan.
— Posso perguntar por que tive que entrar sozinha? — Questiono, apontando para a porta que ela acabou de fechar atrás de nós. — Sabe que não vai fazer diferença, pois posso contar tudo a ele depois.
— Essa não é a questão, e não faz diferença para mim se ele souber ou não.
— Então qual seria o problema?
Margaret me encara por alguns segundos com a expressão fechada e cruza os braços.
— O que você quer, Jennifer?
Respiro fundo, tentando organizar as perguntas na minha cabeça. Eu precisava de algumas, ou até mesmo muitas respostas dessa mulher.
— Bom... — baixo o olhar, encarando o carpete sob nossos pés. — Só gostaria de fazer algumas perguntas. Então, vou começar com a primeira que fiz há pouco. Por que tive que entrar sozinha?
Ergo o olhar até ela e a vejo contorcer os lábios, passando a mão pela testa preocupada.
— Dick Grayson é um ser reconhecido multiversalmente. Pessoas que possuem outras versões paralelas de si mesmas em outras realidades tendem a atrair a força da simultaneidade, de certa forma. Não posso arriscar que pessoas que podem estar atrás de mim em outros universos me encontrem.
Franzo a testa.
— Quem está atrás de você e por quê?
— É uma longa história e você prometeu ser rápida.
— Acho que temos tempo suficiente.
Me atrevo a cruzar a sala e me sentar em seu sofá. Em troca pela minha ousadia, recebo um olhar repreensivo de Margaret.
— Eu deveria ter imaginado que, mais cedo ou mais tarde, você me encontraria. — Ela diz, sem entusiasmo.
Meus olhos pairam sobre o ambiente. O pequeno apartamento de Margaret parecia ser um lugar temporário, ou recém-chegado, pois não havia muita decoração e apenas itens básicos.
— Você disse sobre Dick ter versões diferentes de si mesmo em outros universos — volto a falar. — Mas isso não diz a respeito sobre nós também? Teoricamente, existem outras versões de nós mesmas em outras realidades. Não é esse o princípio do multiverso?
— Não. — Ela respira fundo e vem em minha direção. — Não existem outras versões de nós duas, Jennifer.
Pisco algumas vezes, sem entender.
Do que exatamente ela está falando?
Margaret se senta ao meu lado no sofá e me lança um olhar cansado.
— Seus pais nunca falaram sobre isso com você?
Um suspiro nervoso me escapa pelo nariz. Nego com a cabeça.
— Eles não tinham o costume de falar sobre muitas coisas, quem dirá algo assim.
— Ao menos, deveriam ter deixado essa informação nas instruções da Ata Houdini. — Ela intervém.
— E o que isso quer dizer, exatamente? — Questiono.
Ela parece hesitar por alguns instantes, mas responde.
— Acho que você deve saber que o multiverso é tão antigo quanto a própria existência humana, por mais que a descoberta dele pareça recente. — Margaret se vira ao meu lado para me encarar diretamente. — Mas nem todo mundo possui uma versão alternativa em diferentes universos. Não é algo simples e fácil de saber, até porque muitas pessoas nem sabem que isso é uma possibilidade. Veja o nosso próprio universo como um exemplo.
Assinto para que ela continue o raciocínio.
— O que estou querendo dizer é, essas pessoas que são únicas, assim como eu, você, como seus pais eram, seus avós, o seu irmão... Elas possuem uma facilidade genética maior em transitar entre universos, sem causar danos a si mesmas ou no curso da própria existência, justamente por possuirmos essa singularidade.
— Como assim?
Ela respira fundo, como se estivesse dando uma aula para uma criança de 5 anos que ainda não consegue compreender muito bem qualquer informação.
— Quanto tempo você demorou para se estabilizar quando chegou aqui em Gotham?
— Algumas horas. Não lembro exatamente o momento em que cheguei porque fiquei inconsciente. — Explico. — Tive lapsos de memória por alguns instantes, mas me recuperei relativamente rápido.
Margaret assente, como se fosse exatamente isso que ela esperava ouvir.
— É uma recuperação extremamente rápida. Pessoas como Dick, caso viajassem até o nosso universo, poderiam levar semanas ou até meses para se estabilizarem. Os danos poderiam chegar a ser irreversíveis. Por exemplo, ele poderia até perder a memória permanentemente.
Engulo em seco, mesmo sabendo que isso não é uma possibilidade. Mas pela maneira em que ela me dizia essas palavras, não soava apenas como uma explicação, parecia um aviso.
— Claro que com cada pessoa pode ter uma reação diferente, mas é o que dizem as estatísticas. Foram incontáveis estudos, até uma geração anterior a do seu avô entender essa descoberta. — Ela continua. — Essa individualidade é passada geneticamente, então, significa que toda a sua linhagem familiar também é assim. Seus possíveis futuros filhos serão assim.
Me sinto confusa. E estranha.
Eu já sabia que não havia outra versão de mim e da minha família neste universo. Mas não fazia ideia de que éramos únicos entre todos os outros milhares existentes.
— Mas... — sinto a minha voz confusa tanto quanto a minha cabeça. — Então, você está dizendo que há pessoas no nosso mundo que não existem em nenhum outro universo, apenas naquele?
— Sim, mas isso se aplica para qualquer outra realidade. Por exemplo, o meu marido era deste universo e também fazia parte dos Inters.
— Inters? — Franzo a testa mais ainda.
Margaret respira fundo. Em seguida, se levanta do sofá e começa a andar em direção ao corredor que leva a outros cômodos.
— Venha — ela indica com a cabeça para que eu a siga.
Passamos pelo pequeno corredor e ela abre a segunda porta ao lado direito, revelando um cômodo com uma escrivaninha coberta por papéis, livros e dois notebooks. Na parede ao fundo, havia uma pequena lousa com alguns cálculos físicos rabiscados. Na quina do pequeno quarto, há uma prateleira bege de madeira com divisórias e gavetas.
Margaret abre uma delas e retira uma pasta cheia de documentos e papéis. Percebo também que algumas fotos escapam pela abertura.
— Quando se deu a descoberta sobre os seres únicos, esses estudos foram expandidos para outros universos similares e os que haviam fácil acesso, como este. — Ela abre a pasta e começa a folhear o conteúdo. — Então, um antigo grupo de cientistas que viajava entre dimensões para estudar o multiverso, denominaram-se Inters. Essa associação secreta foi passada de uma geração à outra. Seu avô fazia parte, seus pais faziam parte, eu faço parte.
Ela me entrega algumas cópias do registro da descoberta que acabou de me contar. Eram testes que foram bem-sucedidos e documentações autenticadas por agências espaciais.
Passo pelas páginas dos papéis em minhas mãos até que me deparo com a foto daquele dia. A foto em que reconheci Margaret quando Dick e eu descobrimos sobre ela. A última foto dos meus pais com vida.
Acredito que levei mais segundos do que o que gostaria encarando aquela imagem em minhas mãos.
— O principal motivo pelo qual vim atrás de você foi para perguntar sobre isso. — Estendo a foto para Margaret que a pega no mesmo instante. — Como você escapou do massacre neste dia? Você sabia que Charles Rutherford estava presente, presenciou tudo e foi embora como se nada tivesse acontecido?
Ela fita a foto por alguns instantes. Vejo que sua expressão se fecha e o olhar que já aparentava cansado, parece que se contrai em algum tipo de sofrimento.
— Sim, eu sabia — ela responde, por fim. — Todos sabiam.
— O quê?
Pisco algumas vezes para conseguir assimilar suas palavras.
— Eu consegui escapar porque o meu marido me ajudou — sua voz soava em um tom mais baixo. — Mas ele foi uma das vítimas deste dia.
— Você está dizendo... Então.... — As palavras se atrapalham em minha boca. — Então quer dizer que vocês sabiam que iriam morrer naquele dia? Por que não fizeram nada para reverter a situação?
— Porque fomos nós mesmos que encomendamos o ataque, Jennifer.
O ar no ambiente começa a parecer rarefeito. Parece que fui atingida por uma lança pontiaguda e mortal bem no fundo do meu peito. As palavras de Margaret fazem um clique doloroso no meu cérebro. Eu sempre suspeitei que meus pais sabiam o que iria acontecer, mas jamais imaginei que os responsáveis fossem eles mesmos.
— Isso não faz sentido. — Sinto minha voz ficar trêmula.
— Faz sim. O quanto você sabe sobre a real finalidade do plano Houdini?
— Sei de tudo. — Respondo de uma maneira fraca demais.
Margaret me estende mais um documento e, com ele, mais algumas outras fotos de dezenas de cientistas reunidos em algum laboratório que não reconheci de imediato. O papel era um termo de acordo. Reconheço facilmente as assinaturas dos meus pais, em meio a várias outras, no rodapé do papel
— Este é o termo que assinamos concordando com o que haveria naquele dia. — Ela explica. — Quando contamos aos Inters de outros universos sobre o plano para impedir a destruição do nosso mundo, eles negaram, como imaginávamos que fariam. Afinal, teríamos que destruir um universo inteiro para salvar o nosso. Só que estávamos, e ainda estamos correndo contra o tempo. E esse era o único plano que possuía 100% de chances de dar certo. Então, precisávamos achar uma maneira de prosseguir com ele às escondidas. Seus pais já tinham pensado no plano B de lhe conceder essa missão há tempos, então foi o que concordamos em fazer. Eles e todos os outros estariam mortos, assim não levantariam suspeitas dentro do grupo dos Inters de que o plano continuaria e, também, eles não viriam atrás de nós para nos matar ou ferir a nossa família.
Margaret faz uma pausa e sinto que lembrar deste dia também lhe causa muita dor.
— Bom, acho que isso acaba respondendo a sua pergunta sobre pessoas que podem vir atrás de mim. E, também, foi uma maneira de amenizar a culpa pelo que o plano Houdini faria com este universo.
— Eu não seguirei com o plano — digo, no mesmo instante, mesmo parecendo que há toneladas em minha voz pelo baque do que acabei de ouvir. — Estou... estudando outras possibilidades para o uso do código-fonte.
Não conto a ela sobre o que estamos planejando e muito menos que há vários outros super-heróis envolvidos no assunto. Por mais que Margaret aparente estar sendo sincera, não sei se posso confiar nela.
— O que Charles estava fazendo na convenção naquele dia? — Questiono, pois meu pensamento ainda está no ocorrido.
— Eu não sei, mas ele não foi o responsável pelo ataque. — Seus ombros se movem minimamente, como se estivesse se retraindo ao ouvir o nome dele. — Talvez ele tenha ido por saber da convenção, mas ele foi banido dos Inters há muito tempo.
— Ele também é um?
Margaret assente.
— Merda. Ele sabe que você está aqui?
— Espero que não — ela responde, com pesar. — Não o vejo desde aquele dia, mas fiquei sabendo por outros Inters que ele estava viajando entre alguns universos nos últimos meses.
— Merda — digo mais uma vez. — Ele está aqui. Quer dizer, ele deu uma desparecida e estamos atrás dele, mas o encontrei mês passado. Estava me ameaçando para entregar informações sobre o código-fonte. Ele tem pessoas observando tudo o que meu irmão faz, em nosso mundo.
Margaret comprime os lábios e se vira em direção a escrivaninha. Ela abre um dos notebooks e digita a senha para desbloqueá-lo.
— Charles nunca foi uma pessoa estimada pelos outros cientistas. — Margaret busca alguns arquivos no computador. — Seus valores morais ultrapassavam qualquer limite, até mais do que os nossos quando elaboramos o plano da Ata Houdini.
— Eu sei bem. Tive acesso à algumas informações do plano dele.
Ela vira o rosto em minha direção, parecia surpresa.
— Tem sido meses intensos — acrescento.
Ela volta a atenção para a busca que estava fazendo até que encontra o arquivo de uma apresentação e o abre.
— Isso é um estudo inicial que tenho feito para uma alternativa do uso do código-fonte, para que esse universo não seja destruído.
Margaret passa por alguns slides com cálculos e testes sobre teorias gravitacionais. Eram bem semelhantes ao plano que Wally e Dick haviam apresentado.
— Teorias gravitacionais. — Leio em voz alta só para que Dick escute pelo comunicador que está em meu ouvido.
— Ainda é algo introdutório — ela passa por mais algumas informações. — Sinceramente, eu pensei em entrar em contato com você em um determinado momento. Vi que você estava em Gotham pelo discurso que fez na reabertura da Troffle. Mas também pensei em como já havia largado essa batalha e que queria seguir com a minha vida, estar com meu filho.
— Você tem um filho?
Ela assente, com um pequeno sorriso fechado em seu rosto, evidenciando algumas marcas de expressão.
— O enviamos para cá um pouco antes do dia do ataque. — Margaret explica. — Ele é um pouco mais jovem que você, está na faculdade. Nos mudamos para Nova York há pouco tempo porque ele conseguiu uma bolsa de estudos de transferência de Blüdhaven para cá.
Isso me faz lembrar de uma outra coisa que preciso perguntar a ela.
— Por falar em Blüdhaven, porque você escondeu na fundação do Dick o dispositivo que estava na NanoFuture, na noite daquela explosão?
Margaret me olha com o cenho franzido.
— Você já estava em Gotham naquela noite?
Assinto.
— Ouvi alguns funcionários comentarem sobre o dispositivo, que o encontraram e eu sabia que ele estava lá. — Ela desvia o olhar, como se tivesse resgatando as memórias. — As mesmas pessoas arquitetaram a explosão para destruí-lo. Foi aí que percebi que precisava sair de Gotham e que alguém sabia sobre o plano da Ata, o que era um risco gigantesco.
— Mas porque você o levou para a fundação em Blüdhaven?
— Foi uma localização puramente aleatória. — Ela dá de ombros. — Apesar de ser um espaço bem reconhecido na cidade, era seguro e longe de qualquer âmbito de empresas de tecnologia. Não chamaria atenção de quem quer que estivesse procurando-o com más intenções. Você que precisava encontrá-lo, era o que estava no plano.
— Bom, foi assim que te encontrei. — Explico. — Quando estava investigando sobre o plano de Charles, me lembrei sobre a explosão daquele dia e que depois encontrei o dispositivo na fundação.
Margaret me encara por alguns instantes até que volta a atenção para a tela à sua frente.
— Foi assim que você o conheceu? — Ela pergunta sem mencionar o nome de Dick, mas sei que está falando sobre ele.
— Algo assim. — É o que me limito a dizer.
Por um breve instante, me passa pela cabeça de que ela teve uma certa influência por Dick e eu termos nos conhecido naquela noite.
— Vim para este universo para fugir, mesmo sabendo do que poderia acontecer — ela volta a dizer. — Só queria passar mais algum tempo em paz com meu filho e em um lugar que foi o nosso lar por alguns anos.
— Ele sabe sobre tudo isso?
Ela assente.
— Você disse que seu marido era deste universo... — Eu sei aonde meu cérebro quer chegar com a próxima pergunta, mas vou tentar manter o foco no assunto sobre ela. — Como vocês conseguiam fazer dar certo? Era tipo um relacionamento a distância?
Um pequeno riso me escapa pelo nariz. Eu sei a comparação que quer surgir em minha cabeça, mas confesso que fiquei genuinamente curiosa para saber.
Margaret me lança um pequeno sorriso fechado. Por mais que eu não tenha dito nada, parece que ela entendeu exatamente o pensamento escondido na minha mente.
— Como disse, fazíamos parte dos Inters. Tínhamos uma certa facilidade em transitar pelo multiverso. Então, acabávamos passando um tempo juntos em diversos lugares, sempre que tínhamos alguma missão em conjunto. Antes, era muito mais simples. Hoje apenas um grupo seleto possui acesso.
Assinto, assimilando suas palavras.
O fato de pessoas únicas existirem e eu ser uma delas, ainda não foi muito bem digerido pelo meu cérebro.
— Vou ser honesta — digo, me aproximando da mulher. — Não sei quais são as suas reais intenções nem se devo confiar em você, mas no momento estou aceitando qualquer ajuda possível. Você poderia me enviar esses seus estudos?
Margaret me encara nos olhos, a expressão em seu rosto mostra uma certa surpresa. Talvez por eu ter sido direta demais.
— Claro. — Ela responde, por fim. — Quão avançada você já está na busca dos códigos?
— Bastante — me limito a dizer apenas uma palavra. Ainda preciso avaliar sua confiança.
Porque, na verdade, já tenho todos. Só estou aguardando a finalização da decodificação dos mesmos para formar o código-fonte.
— Não sei se poderei te ajudar muito — ela diz enquanto abre uma pequena gaveta abaixo da escrivaninha. — Ainda estou correndo um certo risco de descobrirem que estou viva. Mas gostaria que você ficasse com isso.
Ela retira uma chave metálica de cor vermelha da gaveta e me entrega. Sinto minha testa franzir involuntariamente.
— Meus pais me deixaram uma chave igual a essa. Estava em um pacote com as primeiras instruções, mas não explicaram para quê servia.
— Essa chave dá acesso à portais interdimensionais. — Ela encara o objeto em minhas mãos. — Há uma dessa dentro de cada cápsula dos viajantes, assim como a sua. Ela também serve para conceder acesso à portais físicos.
— Tipo, para acessar outras dimensões sem precisar da cápsula? — Questiono, tentando seguir seu raciocínio.
— Sim, desde que o DNA do viajante esteja registrado no portal. É para ser usada em casos de emergência.
Observo a chave vermelha em minhas mãos. Embora apresente detalhes robustos, ela parece ser apenas uma simples chave de apartamento, não um artefato de portais interdimensionais.
— Você sabe onde fica o portal físico deste universo?
— Existem vários. — Ela responde. — Mas não sei onde fica o deste planeta. Seus pais com certeza sabiam e devem ter deixado essa informação para você em algum lugar.
É óbvio que isso também não estaria claro.
— E por que você quer que eu fique com ela? Eu já tenho uma.
— Use-a como uma reserva, por segurança. — Ela ergue o olhar até o meu. — E, também, porque seus pais tinham razão. Você é mesmo a pessoa certa para essa missão, Jennifer. Você tem o que a maioria de nós, cientistas, não temos. Você pensa com o coração.
Sinto um nó em minha garganta, mas não entendo bem o motivo. Talvez seja a responsabilidade, talvez seja o peso dessas palavras. Não é a primeira vez que as ouço. Meu irmão me disse isso. Olívia me disse isso. Timothy me disse isso. Dick me disse isso.
— Obrigada. — Agradeço, por fim.
— Tome — Margaret me entrega um papel com um número telefônico escrito. — Se estiver seguindo a essência do plano que fizemos, sei que você deve ter uma equipe, mas pode ligar se precisar de algo.
Assinto com um fraco sorriso fechado.
— O que mais você queria me perguntar?
— Acho que você respondeu à todas as minhas perguntas e até mais que isso.
Após me entregar algumas cópias de documentos, me despeço de Margaret. Ela parece ser uma boa pessoa e tudo o que disse me soou genuíno. Sei que todos os cientistas que trabalharam no plano maluco da minha missão estavam apenas querendo salvar o nosso próprio povo, mas no fundo, eles estavam desesperados. Margaret me pareceu desesperada, com medo e com um remorso no fundo de seus olhos.
Assim que entro no carro, Dick me encara com um olhar pensativo.
— Foi uma conversa e tanto, hein?
Respiro fundo, ainda tentando assimilar tudo o que vi e ouvi. Era muito para digerir. Minhas suspeitas sobre a morte dos meus pais estavam certas, mas a razão pela qual aconteceu, foi algo que eu não imaginava. E, acho que de tudo que Margaret disse, isso foi o que mais pesou dentro de mim.
Sinto a mão de Dick envolver a minha e ele a leva até os lábios, deixando um beijo nas costas da minha mão.
— E você sabe que não terá que lidar com tudo isso sozinha.
— Parece que minha cabeça vai explodir a qualquer momento. É impressionante como eu não fazia ideia do que a minha família fazia antes de vir para cá.
— Não precisamos conversar sobre isso agora — ele acaricia a minha bochecha. — Até porque já temos um trânsito chato pela frente para voltar para Gotham. A não ser que você queira turistar pela cidade que nunca dorme.
Nego com a cabeça.
— Vamos voltar para casa.
— Seu desejo é uma ordem.
Uma pequena curva se forma no canto da minha boca. É incrível como o peso da minha missão não consegue me sufocar quando estou perto dele.
Não faço ideia se estarei pronta para o que vamos enfrentar, mas de uma coisa eu sei; não preciso mesmo passar por isso sozinha.
ATRASEI, MAS CÁ ESTOU!
Esse e o anterior, eram pra ser um capítulo só, mas tinha ficado MUITO maior do que já está, então dividi em dois e mudei umas coisas pra sair do jeito que eu tinha imaginado inicialmente.
Precisava dar algumas explicações para perguntas que estavam em aberto desde o começo da história, e também para o final fazer sentido e eu não ser xingada no último capítulo KKKKKAKAKAKKSL.
Olha eu soltando spoilers implícitos, rsss. Fica aí o questionamento se é coisa boa ou ruim......
Até o próximo! <3
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