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40. Houdini - Parte 3

19h22
22 de janeiro
Gotham City

JENNI REED

Meu celular não liga.
Quando saí de casa, estava com 9% de bateria, então deveria ao menos ligar a tela e me dar a chance de fazer uma ligação, ou enviar uma mensagem. Mas esse é o menor dos meus problemas.

Depois de tudo o que vi e ouvi, estar presa em um quarto na casa de um assassino e totalmente incomunicável, soa apenas como mais uma pequena desgraça em meio a todo o resto. Tentei falar com Olívia pelo comunicador, mas sem respostas também. Se ela estava me ouvindo ou tentou falar comigo, já não está mais.

Não sei quanto tempo se passou desde que Charles saiu. O apartamento estava silencioso, então duvido muito que ele esteja aqui. O único som que ressoava pelo lugar, eram meus soluços. Talvez eu esteja desidratada de tanto chorar. Perdi totalmente o controle.

Até que ouço a porta balançar, a maçaneta se mover, mas nada acontece.

— Jenni? — É a voz de Olívia. — Jenni, você tá aí?

— Sim — mal entendo o tom exato da minha voz, acho que foi destruída também. — Estou aqui. Você não consegue abrir?

— Não — a maçaneta se move mais uma vez, sem sucesso. — Estou com uma chave inteligente, mas não está funcionando. Por que não está funcionando?

Parece que ela estava falando mais consigo mesma do que comigo. Mesmo com o abafamento de som da madeira entre nós, é possível saber o quanto ela está enfurecida. Olívia solta uns 3 ou 4 palavrões em seguida. Depois chuta a porta, xinga a maçaneta de novo, ouço algo se quebrar ao fundo, mas nada dessa merda abrir.

— Liv? — Encosto o meu rosto na porta para tentar entender o que está acontecendo do outro lado. — O que você está fazendo?

— Tentando te tirar daí. O que mais seria, Jenni?

Fecho os olhos. Não sei se é só com a porta que ela está enfurecida.

— Acho que ele usou uma outra chave inteligente para bloquear.

— É, já entendi isso. — Ela responde em um tom mais baixo dessa vez, mas pude ouvi-la por parecer estar mais próxima a porta.

Um ruído sai da maçaneta, mas ainda assim, nada acontece.

— Estou tentando decodificar — ela aumenta o tom de voz. — Se estiver com a mão na maçaneta, recomendo retirá-la.

Me afasto um pouco da porta e encaro o objeto metálico à minha frente. A porta está com manchas de sangue da minha mão ferida, assim como o carpete. Não há nada neste cômodo que me ajudaria a rompê-la. E ainda tem o fato de a madeira ser rígida e não seria fácil quebrá-la.

Minha atenção vai até os papéis sobre a escrivaninha. Reviro as folhas e são anotações, cálculos, alguns arquivos impressos, testes e cópias de documentos, os quais não faço ideia do que ou de quem são. Reúno-os em uma pilha, dobro-os ao meio e tento empurrá-los no bolso interno do meu casaco.

— Tem alguma janela aí? — Olívia questiona.

— Sim, mas é bem pequena — observo a vidraça acima da escrivaninha e, se a ideia for fugir daqui por ela, não vai dar certo. — Talvez só passe um vaso de planta pequeno.

— Merda. — Ela balança a maçaneta de novo. Nada se move.

Respiro fundo e volto a me recostar na porta. Talvez eu fique presa aqui para sempre. Ou... não. Sei que ele conseguiria ajudar. Sei que em menos de 5 segundos essa porta seria rompida e eu estaria livre. Mas não. Não quero que Dick me veja assim e, muito menos, que descubra tudo dessa forma. Pensei em inúmeras maneiras de como contar tudo a ele, e nenhuma delas envolvia uma situação assim. Não parece certo. Mas a verdade é que não tem nada certo aqui.

— Sim, fica nas redondezas de Irving Grove — ouço a voz de Olívia do outro lado, mas não acho que ela está falando comigo.

— Liv? — Questiono mesmo assim.

— Não, nunca o vi, mas sei quem é. Mas como...?

Uma breve pausa. Acho que ela suspira.

— Acredito que ele saiu quase uma hora atrás — com quem ela está falando? — Mas pelo que eu o escutei conversar com a Jenni, ele voltaria em algumas horas. Então, precisamos ser rápidos.

— Olívia? — Eu praticamente grito na madeira.

— Provavelmente, sim. Ok, obrigada.

Não sei quantas vezes bati na porta. Acho que entre 5 e 34 vezes.

— Com quem você está falando? — Grito mais uma vez.

— Com a ajuda. Dick está vindo para cá.

— O quê? — Acho que berrei dessa vez.

— Ele está a menos de 15 minutos daqui, só temos que torcer para Charles não voltar nesse tempo.

Não. Não. Não.
Pode me deixar presa aqui para sempre. É isso, acabou. Aceito o meu fim, bem aqui nesse cômodo apertado com cheiro de madeira nova, uma mão machucada, olhos inchados e manchas de sangue.

— Você... — engulo em seco, parece que as palavras ficam presas na minha garganta. — Você contou a ele? Sobre mim?

— Não, apenas pedi ajuda — ela responde no mesmo segundo. — Não é um segredo meu para contar.

Fico em silêncio, tentando respirar fundo, mas minhas forças estão drenadas. Olho para a minha mão direita, ainda sangrando, embora menos do que antes, e sinto que ela será a parte menos dolorida de hoje.

— Por que você não me contou sobre Charles?

— Eu... — Porque sou uma covarde, talvez? — Não sei, tive medo. Ele me ameaçou diversas vezes e...

— Parece que deu na mesma você falar ou não. — Ela interrompe, sua voz é firme, ao contrário da minha. — Há quanto tempo?

Tento encher meus pulmões de ar, mas tudo no meu organismo está falho e frágil.

— Desde a noite de Natal.

Ela não responde por vários segundos. Tento imaginar sua expressão de brava ou de desapontada. Não sei qual delas seria pior. Ambas fariam me sentir a pior pessoa do mundo. E com razão.

— Não sei se tudo o que ouvi é verdade — ela finalmente volta a falar — mas não faz muito sentido. Precisamos descobrir o quanto ele sabe e...

— Mas é verdade — a interrompo. — Eu vi. É a letra do meu pai. Conecta com todo o resto e, talvez, descobriríamos no final, quando avançássemos nos testes.

Mas sinceramente, não fazia o menor sentido. Meus pais não eram as melhores pessoas do mundo, eles tinham uma infinidade de defeitos, mas jamais fariam algo assim. Soa irreal.

— Você deveria ter me contado sobre Charles assim que o encontrou.

Me sinto fraca, fisicamente e mentalmente. Parece que estou numa corda bamba. Deixo minhas pernas cederem e me sento contra a porta, apoiando a cabeça na madeira firme.

— Eu sei, me desculpa. Achei que conseguiria alguma informação para desestabilizá-lo — passo a mão pelos olhos, agora secos, mas que ardem com o simples toque de tanto que chorei. — Ele estava me ameaçando com fotos do meu irmão, estava observando a vida dele, tudo o que fazia, para todos os lugares que ia, disse que iria matá-lo...

Não consigo completar a frase, as palavras ficam presas na minha garganta mais uma vez. Vem à minha mente, como uma tela de cinema gigante e brilhante, capazes de mostrar todos os detalhes, as fotos do meu irmão feliz e emocionado ao descobrir que vai ser pai. Agora, não só ele está em risco, mas também sua futura família. Na verdade, todos estão em risco.

Se para salvar o meu mundo, este precisa ser destruído, então não sou a pessoa certa para essa missão. Não vou fazer isso. Mas também não posso deixar minha família morrer, meus amigos, as pessoas que passaram pela minha vida. Isso não é justo.

Achava que não havia mais lágrimas para saírem dos meus olhos, mas estava enganada. Sinto a ardência forçá-los a fecharem e as minhas bochechas umedecem uma vez mais. Tento limpá-las com as costas da minha mão esquerda, mas parece inútil.

— Você acha que sua mãe sabia? — Questiona a minha voz embargada e, me repreendo mentalmente por perguntar isso, mas apenas saiu. E pensando friamente, é um questionamento válido, porque a conta não fecha. Como a mãe de Olívia ajudaria em um plano que aniquilaria o próprio universo?

— Não acredito que você me perguntou isso.

Suspiro, tentando dissipar o tremor em meus lábios. Acho que a essa altura, temos que avaliar todas as possibilidades, mesmo que elas não façam sentido, como pensar sobre isso agora.

— Talvez tenha algo que a gente não saiba. A sua mãe ajudou em tudo que meus pais construíram aqui e...

— Ou talvez, eles tenham apenas usado ela, como faziam com todo mundo. — A voz de Olívia se tornou seca e rígida, assim como a madeira em que a minha cabeça está repousada.

— Você não sabe nada sobre eles, Liv. — Minha voz soa calma, apesar de saturada. Sei que ela está brava comigo, mas não lhe dá o direito de atacá-los por conta de sua mãe. — E sim, eles escondiam muitas coisas, mas não eram pessoas más. O que estou querendo dizer é que...

— Você também não sabe nada sobre a minha mãe, Jenni. Nada. Ela, praticamente, deu a vida para a missão dos seus pais. Fez o possível e o impossível para que tudo fosse extremamente calculado, para que não houvesse falha alguma. A minha mãe não era uma mulher de falhas. Ela não costumava mentir. — Olívia fala com força, o tom de voz mais alto que das outras vezes. — Sei que você está acostumada com as mentiras dos seus pais, mas a minha mãe não era assim. Então, por favor, não a compare com eles.

Isso foi... gratuitamente rude?
Apenas me questionei se poderia ter algo que ainda não sabemos e que, poderia ser algo que meus pais tenham trabalhado com Caroline Lynn, a mãe de Olívia, já que nas instruções que recebi durante todo o meu treinamento, era de que ela sabia de tudo. Talvez, eu esteja errada, e meus pais realmente tenham enganado a todos, mas isso nunca fez e nunca irá fazer com que eu me acostume com as coisas que escondiam de mim. Nunca.

— Acostumada? Você acha que eu simplesmente me acostumei a viver dentro das mentiras deles? — Me viro para encarar a porta, como se eu pudesse vê-la através da madeira.

— Não só acho que você se acostumou, como você também faz isso.

— O quê?

Estou achando que isso não é mais sobre os nossos pais. Meu estômago revira, como se o nó que estava na minha garganta tivesse chegado até lá.

— Não se faça de desentendida, Jenni. Estamos aqui, na casa de um psicopata, com você presa em um quarto, por conta das suas mentiras. Então não venha jogar essa carta suja para cima da minha mãe! — Ela estava gritando.

Minha testa recosta na porta e meus olhos se comprimem. Ela tem razão e não era para isso estar acontecendo. Mas, também, não foi ela que passou por tudo o que me fez tomar a decisão de vir até aqui hoje.

— O que você faria no meu lugar? — Retruco. — Se fosse alguém da sua família sendo o alvo mortal de alguém? Se fosse a sua mãe?

Sim, estou sendo injusta e não estou conseguindo controlar as minhas palavras. Mas eu realmente não preciso ser confrontada agora.
Olívia apenas solta um rápido riso nervoso e fica em silêncio, até que o interrompe.

— Eu, com certeza, não agiria como uma inconsequente. — Parece que a voz dela está grudada na porta. — Porque é isso que você tem feito desde que chegou aqui.

Já chega.

— Então por que você está aqui ainda? Se me acha uma inconsequente, uma mentirosa. — Meu dedo indicador bate na porta a cada frase, como se ela pudesse ver. — Por que você está me ajudando, Olívia? Me diz? Se odeia os meus pais, se acha que eles usaram a sua mãe, por que você ainda está me ajudando?

Silêncio.
Nenhuma resposta.
Talvez um minuto inteiro tenha se passado. Ou dois.

— Porque eu achava que você fosse diferente. — Dessa vez, a voz dela é baixa, distante, decepcionada.

Minha testa encosta na porta novamente e a ardência em meus olhos voltam.

— Jenni? — Não. Isso não pode estar acontecendo. — Preciso que você se afaste da porta.

Como uma voz é capaz de queimar?
Como uma voz é capaz de bagunçar todo o meu sistema nervoso?
Como uma voz é capaz de me congelar?
Eu só queria desaparecer.

— Jenni? — Dick me chama mais uma vez.

— Sim, já me afastei — respondo, baixo demais. Fraca demais.

No mesmo instante, a maçaneta balança e ouço algo ser colocado ali. E como previsto, em poucos segundos, uma leve fumaça sai pela abertura da porta, um ruído metálico e, por fim, um pequeno estouro. A ponta da maçaneta que fica para dentro do cômodo salta para perto dos meus pés e, no próximo segundo, a porta se abre, revelando um pequeno rombo queimado na fechadura.

Permaneço estática, ainda encarando a ponta da maçaneta destruída em meus pés, sem coragem alguma de erguer o meu olhar.

— O que aconteceu com a sua mão?

Não sei quem perguntou primeiro, se foi Dick ou Olívia, porque soou quase que um uníssono.

— Não importa. — Digo, forçando os meus pés a se moverem para sair desse cômodo.

Apenas 4 passos foram necessários para que eu chegasse até a porta, mas incontáveis foram os segundos para que eu conseguisse olhar para eles.

Dick estava alternando o olhar entre o meu rosto, a minha mão, o carpete e o cômodo do escritório. Olívia me encarava com a expressão mais fechada que já vi em seu rosto. Não digo mais nada para ambos, apenas sigo andando em direção a porta de entrada do apartamento e os escuto virem atrás de mim, também em silêncio.

— É melhor ir em um hospital. Você vai precisar de pontos. — Dick diz assim que entramos no elevador.

Viro a palma da mão discretamente para mim e a fecho contra a minha barriga. Ele está certo, mas o último lugar que quero ir nesse momento é um hospital.

O silêncio até chegar no térreo é ensurdecedor. Foi possível ouvir o elevador passar pelos 11 andares, um por um. Quando a porta se abre, Olívia é a primeira a sair e ir em direção a entrada do prédio, sem olhar para trás. Aperto o passo e pego em seu braço com minha mão esquerda, fazendo-a parar no meio do caminho e virar-se na minha direção.

— Me desculpa. — A encaro nos olhos. Ela não está com raiva. Ela está decepcionada, o que é muito pior. — Sinto muito, eu errei em...

— Poupe as palavras, Jenni — ela desvencilha seu braço da minha mão. — Talvez, quando você tiver a decência de ser verdadeira comigo, aí conversamos.

Suas palavras me atingem como um soco na cara, parecia até que eu tinha ido ao chão com tamanha intensidade do golpe, mas estava ali, em pé e parada sem conseguir dizer nada. A vejo hesitar em abrir a porta por dois ou três segundos, até que finalmente o faz e desaparece pela rua à frente.

Se eu estava em dúvida de ser uma péssima pessoa, agora, tenho certeza absoluta de que sou. Eu deveria ter ido atrás dela, impedido de que saísse com a impressão de que escondi as coisas propositalmente, quando na verdade, eu estava apenas com medo de que Charles também a machucasse. Como machucou Dick, por minha causa, como uma consequência pelos meus atos. Tento dissipar esse pensamento, mas talvez Charles esteja certo. Olívia está certa. Se eu não tivesse mentido para as pessoas em que confio, nada disso estaria acontecendo.

Quando me viro, Dick está atrás de mim, ainda perto do elevador e com as mãos dentro dos bolsos de seu casaco. Ele me observa com a expressão séria, a mandíbula tensa. Ele não vai perguntar o que é isso? Ou algo como: Ei, Jenni, o que acabou de acontecer?

— Vamos. Eu te levo no hospital. — É o que diz, em vez da pergunta óbvia. Ele se aproxima e segura a porta para que eu desça as escadas, ainda me encarando.

Ele não vai perguntar.
Ele não vai perguntar, porque ele já sabe.

Baixo o olhar e sigo em direção à rua. A calçada está esbranquiçada pelos flocos de neve que ainda não cessaram. O vento frio está cortante e me faz enrijecer quando a neve encosta na minha bochecha arranhada.

Dick passa por mim e nos guia até onde seu carro está estacionado. Ele abre a porta do passageiro para que eu entre, só que dessa vez, não olha diretamente para mim. Penso em dizer algo, mas as partículas congeladas caindo do céu estão me incomodando muito, então apenas entro no carro e ele fecha a porta. No mesmo instante, ele já está ao meu lado, liga o carro e o manobra para sairmos dali. Talvez já tenhamos avançado mais de 2 quilômetros, mas nenhum de nós disse nada até agora.

— Não sei se preciso ir à um hospital. — Digo encarando a minha mão que, claramente, precisa de um hospital. — Não parece tão ruim assim.

Mas sim, estava tão ruim assim.

Ele não diz nada por outro quilômetro inteiro e não vira o rosto para me olhar nem quando paramos em algum farol vermelho. Acho que nunca andei por essas redondezas de Gotham, então as ruas que atravessávamos não eram familiares para mim. Havia poucas pessoas andando pelas calçadas, estava frio e a neve não parava por nada. As ruas pareciam silenciosas, como aqui, dentro do carro. Só que meus pensamentos estavam altos demais, aos berros na minha cabeça; como ele sabe? Quem contou a ele? O que ele sabe? Ele não vai perguntar nada mesmo?

Enquanto eu tentava silenciar os gritos na minha mente, Dick para o carro no estacionamento de um hospital. Não era o mesmo em que Timothy estava, era um menor chamado Gotham Care e, aparentemente, próximo da região de onde estávamos do apartamento de Charles.

Ele tira o cinto de segurança e saí do carro. Eu faço o mesmo e decido quebrar a quietude entre nós. Já estava machucada o suficiente, então qualquer palavra de desapontamento que viesse dele, talvez soasse apenas como mais um golpe dolorido que eu mereça.

— Dick, espera — peço, assim que começamos a subir as escadas para entrar no pronto-socorro.

Mas ele não para e continua subindo os degraus.

— Vamos, Jenni — ele me olha rapidamente sobre o ombro. — Quanto antes você for atendida, menor a chance da sua mão infeccionar.

Baixo o olhar e balanço a cabeça, tentando a todo custo segurar as lágrimas que já estavam ameaçando a sair. Eu sabia que a minha mão ferida seria a menor das minhas dores de hoje.

Não demorou mais que uma hora para que eu fosse atendida e o curativo ser feito. E, para variar, mais uma mentira foi necessária sair pela minha boca ao dizer para a enfermeira que o motivo do corte foi apenas um descuido na cozinha ao tentar fazer o jantar. Não sei se ela acreditou, mas também não questionou.

Poderia jurar que Dick não estaria mais na sala de espera, ou talvez, lá no fundo eu só estava desejando que ele não estivesse, porque não queria ter que lidar com ele hoje como a boa covarde que sou. Mas ele estava.

O silêncio voltou a nos fazer companhia enquanto passávamos pelas ruas frias de Gotham. Dick teve que ligar o para-brisa para dissipar a neve da nossa visão. Eu estava sem forças, mas precisava quebrar aquele bloco de gelo gigantesco entre nós.

— O que você sabe, exatamente? — Pergunto, olhando para a fila de carros que se formava à nossa frente, devido a um farol fechado.

Dick respira fundo, como se finalmente tivesse deixado sair o ar que estava preso dentro de si por todo esse tempo. O carro para, na espera dos outros à frente avançarem quando o semáforo abrisse. Ele se inclina entre nós e pega algo no banco de trás e, no próximo segundo, uma caixa repousa em minhas pernas.

— Sei o que tem dentro dessa caixa — ele responde, por fim.

O sinal fica verde e voltamos a nos movimentar pela rua. Observo o objeto em meu colo. Há tópicos grudados na tampa e não gosto de nenhum deles. E gosto menos ainda quando abro e vejo o que tem dentro. Tem tudo. Absolutamente tudo. Além de descobrir que estava sendo vigiada durante todo o meu treinamento na NASA, descubro também quem foi o responsável por entregar isso a Dick. Não me surpreende, pois aparentemente, Charles está a largos passos a frente em tudo isso. Sempre esteve.

— Então — Dick volta a falar, a voz grave e séria. — É verdade?

Sim. Tudo o que está nessa caixa é verdade. A revelação por detrás do plano da Ata Houdini também está aqui, as mesmas explicações que Charles me mostrou. Também estão as fotos de Roland Desmond, anexadas junto a fotos minhas com Charles, na noite em que o entreguei as informações falsas sobre as coordenadas. Possuem anotações ao lado com a data, horário e o motivo do encontro, com um asterisco sobre as "consequências".

Demoro mais do que gostaria para respondê-lo, porque, por mais que fosse verdade, eu não sabia de boa parte dessas informações, e tive conhecimento hoje, assim como ele.

Mas Dick entende a minha abstenção de resposta como um sim, porque realmente era, pois quando viro a cabeça para encará-lo, ele estava com o braço esquerdo apoiado na janela, os dedos próximos a boca, como se precisasse da ajuda deles para não deixar que algo escapasse por ali. Vejo sua garganta se movimentar, ele estava segurando as palavras, era perceptível demais.

— Você planejava me contar? — Ele não me olha. — Em algum momento?

Tento respirar fundo também, mas parece que não há oxigênio suficiente dentro desse carro.

— Era isso que eu queria conversar com você naquela noite... — uma pausa involuntária interrompe as minhas palavras. Já não tenho controle de mais nada. — Mas aconteceu tudo aquilo em Blüdhaven e achei que não seria o melhor momento. — Balanço a cabeça por perceber o quanto eu estava e estou errada. — Queria que você soubesse por mim.

Dick não diz nada por alguns instantes. Já estamos próximos a região central de Gotham e, se continuarmos com sorte no trânsito, em menos de 10 minutos chegaremos no meu prédio. Pelo menos, parece que ele está me levando para casa.

— Ele estava te ameaçando — Dick diz em uma afirmação, e não em um tom como se precisasse que eu confirmasse. — Era isso que você estava discutindo com a Olívia? Você não contou isso a ela?

— Não. Ela está certa em estar brava comigo. Tudo o que ela disse sobre mim também é verdade, só dói demais admitir.

E, novamente, ele não fala nada enquanto atravessamos os cruzamentos da cidade. Queria muito saber o que ele está pensando. Queria que ele dissesse o quanto estava chateado, porque, com certeza, doeria menos que esse silêncio.

Quando entramos na minha rua, não aguento mais. Talvez eu consiga fazê-lo entender o porquê de eu ter escondido tudo isso dele. Sei que não será hoje e, certamente, o que tínhamos já era, mas não quero que ele me odeie.

— Me desculpa. De verdade, Dick — me viro no assento para encará-lo, ele tinha acabado de estacionar em uma vaga em frente ao meu prédio.

Tiro o cinto de segurança, pois já estava sufocada demais até com as minhas próprias palavras.

— Não era pra isso ter acontecido... Nós... — Engulo em seco, parece até que dizer isso pesa muito mais do que todo o resto que vivi hoje. — Me desculpa, foi culpa minha, fui injusta e egoísta. Eu só não... Não consegui. E eu não deveria ter deixado isso acontecer.

Ele ainda estava com as mãos no volante, olhando para frente, mesmo com o carro desligado. O cenho franzido e o maxilar tenso. O vejo piscar algumas vezes e, novamente, ele engole as palavras e deixa o silêncio falar mais alto.

— Por favor, diga alguma coisa. — Minha voz soa quase como uma súplica.

— Não posso. — Ele continua da mesma maneira, imóvel.

— Por quê?

— Porque vou me arrepender depois.

E, mais uma vez, a ardência em meus olhos ressurge. Mordo o lábio inferior, como se isso fosse capaz de controlar minhas emoções. Olho para a minha mão enfaixada e penso que, o que quer que esteja acontecendo dentro de mim, não vai ter curativo que alivie a angústia que corta o meu peito nesse momento.

— Nem tudo o que está nessa caixa é verdade — tento falar, e sei que em breve vou desmoronar, mas preciso colocar tudo para fora antes que as lágrimas cheguem em peso. — Eu não sabia sobre o real plano por detrás da Ata que meus pais fizeram. Também não sabia de absolutamente nada dos ataques em Blüdhaven. Sim, esse homem, o Charles, tem me ameaçado por semanas para que eu entregue informações sobre a missão que estou fazendo. Sim, estou em uma missão. E sim, não sou daqui... deste universo. A minha família... eles eram físicos cientistas especializados em multiverso. Tem um que ainda é. Eu tenho um irmão mais velho, o nome dele é Bruno, mas ele não está aqui. Ele está cuidando da parte da missão no meu mundo, enquanto eu faço o que tenho que fazer aqui até voltar para casa.

Dick finalmente me olha, mas a sua expressão ainda é a mesma. Me pergunto se ele vai continuar calado, mas vejo sua boca abrir.

— Parece cômico, se não fosse trágico. É o que dizem, não é? — Poderia ser uma piada, se ele não estivesse tão sério. — Todos esses meses, eu tenho andado em círculos sobre o caso dos Harpias, tentando achar uma razão para tudo isso, quem realmente estaria por trás desse império maldoso que eles estão construindo aqui em Gotham e em Blüdhaven. E, no fim das contas, a resposta estava bem na minha frente, o tempo todo.

— Dick, eu não tenho nada a ver com isso. Como te disse, eu não...

— Não estou te culpando. — Ele me interrompe, calmamente. Seu tom de voz é brando e consistente, jamais se atrapalharia em palavras como eu. — Só estou concluindo um raciocínio que tem ocupado a minha mente por meses. A razão disso tudo, na verdade, não tem nada a ver com a população de Gotham, ou comigo, ou com o Bruce, ou com a polícia de ambas as cidades. É uma batalha de dois lados, os quais não pertencem a esse lugar. — Ele passa uma mão pelos cabelos e volta a olhar para frente. — O que estou querendo dizer, Jenni, é que a resposta que eu precisava para resolver toda essa merda, estava com você o tempo todo. Porque você é um dos lados dessa batalha, ou talvez seja o alvo, não sei. Não sei mesmo. Confesso que estou confuso.

— Eu queria ter te contado — digo, fitando minhas mãos sobre a caixa. — Se eu soubesse que Charles estava por trás disso tudo, juro que teria te contado. Mas eu não sabia e eu não podia. Basicamente, era a regra número um da minha missão. Não poderia falar para ninguém de onde sou, o motivo de estar aqui, o que realmente estou fazendo... Mas, hoje, sei que isso pouco importa, porque Charles não está trabalhando sozinho. Ele tem ajuda de pessoas daqui, não sei quem exatamente, mas sei sobre o Ra's al Ghul.

— Como assim? — Dick quase salta do banco ao ouvir o nome. — Como você sabe disso?

Passo a mão pela testa. Talvez eu esteja com febre interna, porque sinto meu corpo queimar ao mesmo tempo em que estou tremendo com o meu nervosismo.

— Talia apareceu no meu apartamento, também naquela noite em que tudo aconteceu em Blüdhaven, antes de eu ver as notícias e sair correndo até lá. Disse que o pai dela estava trabalhando com Charles, no que quer que seja o plano dele, e ela não concorda.

Dick passa ambas as mãos pelo rosto em meio a um grande e pesado suspiro.

— E o que ela queria? — Ele pergunta, sério, olhando fixamente para o volante.

— Informações sobre Charles e, obviamente, eu não tinha. — Olho para a janela, a neve já se apossando dos vidros. — O endereço da casa dele... foi ela quem me passou. Por isso fui até lá, queria encontrar algo, respostas, qualquer coisa que eu pudesse usar contra ele.

— Ela te ameaçou com alguma coisa? — Ele questiona, me olhando brevemente.

Nego com a cabeça.

— Na verdade, disse até que poderia ser uma aliada.

— Não confie nela — ele diz, apressadamente.

Ficamos alguns segundos sem falar nada, mesmo eu tendo uma infinidade de coisas para dizer. Ainda não sabia exatamente por onde começar, mas precisava, de um jeito ou de outro.

— Eu posso ter mentido sobre várias coisas — começo, já sentindo o nó na garganta aumentar. — Mas não menti sobre o que sinto por você. Sei que não verbalizei muito isso e, acredite Dick, eu gostaria muito, muito mesmo. Mas eu não podia. Não podemos... Nós não podemos fazer isso. Se eu pudesse voltar no tempo e fazer diferente, eu faria. Ao menos, ser justa e te dar a chance de saber quem realmente sou. E por isso, eu sinto muito. Foi um erro.

Ele me olha nos olhos e, pela primeira vez, desde que nos conhecemos, permito que ele veja tudo; todas as inseguranças saltando do meu rosto, todo arrependimento por ter escondido tantas coisas, todo o meu medo e toda a angústia de estarmos passando por isso.

— Você acha que foi um erro? Você e eu?

— Acho — respondo, sendo sincera.

Me apaixonar por ele foi um erro? Não. Deixar que isso acontecesse? Sim, esse foi o meu erro. Mas sinto que não preciso especificar essa diferença para ele, porque a essa altura, não podemos mais ficar juntos. Nunca deveria ter acontecido, na verdade.

Ele desvia o olhar e assente, levemente. As sobrancelhas se franzem e ele morde o canto do lábio inferior, como se estivesse pensando no que falar. Mas não sei vai falar.

— Eu preciso ir — e, após dizer essas três palavras, Dick liga o carro, mas não volta a me olhar.

Então... é isso? Só isso? Ele não vai dizer nada?
Pisco algumas vezes, tentando entender, mas a minha cabeça não está com capacidade de compreender nem mais uma vírgula sequer.

A temperatura lá fora não chega perto de ser comparada com os graus negativos que atingiram o meu coração nesse momento. Então, apenas assinto, e saio do carro em silêncio. E, também, o mais rápido que posso, antes que ele veja as lágrimas gigantescas que brotam nos meus olhos. Deixo a caixa pelo banco, não me importo mais se há algo ali que Dick ainda não saiba sobre mim, porque provavelmente, ele vai jogar fora, de qualquer forma.

E o que quer que tenha acontecido entre nós, acabou. Porque antes mesmo que eu pudesse chegar na portaria, ele já tinha dado partida. 


R.I.P 🕊️

- Um minuto de silêncio para o meu rei e rainha da coitadolândia.
- E apenas para avisar que as atualizações semanais voltam a partir do dia 02/06. 

Até lá! 💙

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