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33. Mais Fácil Mentir

02h14
01 de janeiro
Gotham City

JENNI REED

Abro os meus olhos com uma certa dificuldade. Parece que a minha cabeça foi esmagada por toneladas de concreto. A sensação que percorria pelo meu corpo era de que eu tinha sido ferida. Tudo doía. Eu definitivamente preciso parar de perder a consciência. Se é que eu a perdi. Não sei. Que confusão.

Parece que eu revivi todos os meus piores pesadelos, e todas as dores que senti no passado voltaram mais intensas do que nunca, como se eu estivesse presente em todos aqueles momentos mais uma vez.

Descobri que o multiverso é real 1 ano e meio atrás, mas voltar no tempo ainda não me parecia algo tangível, porque essa foi a percepção que tive de tão verídico que foram as visões que tive.

Me mexo rápido demais para me levantar, mas duas mãos me impedem. Comprimo os olhos e pisco várias vezes até me dar conta de que estou em meu quarto.

— Ei, calminha aí. — É a voz de Dick.

Sinto minhas mãos estremecerem no mesmo segundo porque... eu o vi morrer bem na minha frente. Eu vi todos morrerem, meu irmão, meus amigos. O mundo todo desabando.

Assim que me sento, passo os dedos impacientemente pelos olhos na esperança de que isso me faça despertar e voltar à realidade, e então, percebo que eles estão molhados. Eu estava chorando.

Os braços de Dick me envolvem e minha cabeça repousa em seu ombro. Não só estou chorando como estou soluçando. Eu nunca choro, é o que penso, mas não me parece ser o momento certo para se ter esse pensamento.

Dick acaricia as minhas costas enquanto seus lábios deixam um beijo demorado no topo da minha cabeça.

— Você deve estar sentindo que todas as coisas que viu ainda estão em você, mas não estão. Isso vai passar. — Ele diz com calma e baixinho perto do meu ouvido.

Sim, parecia que se eu fechasse os olhos por mais de um minuto, eu seria sugada de volta para todos os meus medos, traumas e dores. Parecia que a qualquer momento, esse abraço quente e confortante de Dick desapareceria em um piscar de olhos. Então, meus braços percorrem a sua cintura e aperta o abraço para que ele não se vá, que continue aqui comigo, que não me abandone.

— Eu... eu vi coisas horríveis — minha voz sai embargada demais — e todas elas eram culpa minha. Eu estraguei tudo. Sou uma falha.

— Não, você não é, Jenni — Dick ergue meu rosto delicadamente, seu polegar afasta uma das lágrimas que desce pela minha bochecha. — Nada do que você viu é culpa sua. Não era real.

Só que eram. Minhas memórias eram reais. Meus maiores medos são reais. O futuro que está em minhas mãos é real pra caralho. Assumi uma responsabilidade gigantesca e, por meses, tenho ignorado quão sério isso tudo é. Sei que é errado, mas se eu deixasse a realidade tomar conta de tudo, eu não aguentaria. Eu estava tentando amenizar o peso, mas parece que agora ele aumentou e está me esmagando.

— Você não faz ideia... — eu quero colocar tudo isso para fora, mas a minha consciência me impede. Ainda não, ouço a minha própria voz ecoar na minha cabeça, e eu me odeio por isso.

— O que eu não faço ideia? — Dick me encara com um olhar tão calmo que seria capaz de curar toda a ansiedade que está corroendo nas minhas veias nesse momento. Só que o que sinto é forte demais para se conter. — Se quiser, pode me contar o que viu, mas não precisa ser agora.

Eu não mereço esse homem e ele não merece alguém como eu. Ele não merece todas as coisas que escondo dele. Mentir para ele é a coisa mais difícil e injusta que eu poderia fazer. Não sei do que raios a toxina do medo é feita, mas ela me deu um choque doloroso de realidade. A minha realidade. É catastrófica, é complicada e pode ser mortal se eu falhar. E eu não posso falhar. O que eu estou fazendo? Me deixando se apaixonar enquanto tem vidas, literalmente bilhões delas, nas minhas mãos? Eu não posso, isso não pode acontecer.

Mais lágrimas escorrem pelos meus olhos e Dick volta a me abraçar. Ele tem o melhor abraço do mundo. Eu não deveria me permitir a sentir isso. É tão ruim não o ter agora como não poder tê-lo nunca mais. A dor é a mesma. E por esse motivo, eu também choro.

Ficamos vários minutos assim. Dick pacientemente tenta me acalmar ao mesmo tempo que não impede que toda angústia que estou sentindo saia de mim. O seu silêncio escuta os meus gritos silenciosos de desespero.

— Onde você me encontrou? — Pergunto quando minhas lágrimas finalmente cessam.

— Não muito longe daqui. Era um depósito de uma loja abandonada. — Com a voz tranquila, Dick ainda estava tentando fazer com que eu me sentisse mais calma. — Quando cheguei, você estava sozinha.

— Ele fugiu? — Recuo um pouco para trás para encará-lo.

Lembro que a polícia de Gotham estava procurando pelo Espantalho há semanas. Foi noticiado em vários jornais que não havia sinal do homem pela cidade, até agora.

— Além da polícia, isso virou um assunto do Batman também. Você não foi a única vítima. A toxina foi espalhada por vários pontos da cidade, mas... — ele afasta um pouco o nosso abraço. — Espera, você viu o Espantalho te atacar?

Assinto e a imagem da máscara aterrorizante volta à minha mente.

— Ele sabia o meu nome, quem eu era e que precisava fazer algumas perguntas. Depois disso, tudo é uma grande confusão e não sei mais o que era real ou não.

Dick desvia brevemente o olhar com o cenho franzido, como se estivesse tentando ligar algum ponto suspeito. Eu também queria saber o que aquele homem queria comigo, como ele me conhece.

— Suspeitamos que os Harpias provocaram a explosão de Arkham naquela noite — ele volta a falar. — Mas não encontramos nenhum responsável. Aparentemente os explosivos foram implantados por dentro com a ajuda de algum funcionário, porque não havia nada nas câmeras. Só que, o que presumimos foi que tudo pareceu um plano de fuga específico para que o Espantalho escapasse.

— Mas o que ele quer de mim? — Questiono mais para mim mesma na tentativa de encontrar alguma ligação desse maluco com todo o resto.

Entendo que os Harpias estavam recebendo dinheiro de Martin – que queria e, provavelmente, ainda quer me ver morta – mas agora eles estão agindo com os piores psicopatas dessa cidade para quê, exatamente?

— Vamos descobrir — Dick diz tirando uma mecha do meu cabelo que caía sobre os olhos. — Bruce, Damian e Tim estão atrás dele nesse momento. Vamos encontrá-lo.

Deixo um longo suspiro sair. Em que merda eu me meti agora? Uma gangue gananciosa está há mais de mês infernizando a minha vida só porque comprei uma empresa que os serviriam como um recurso maléfico. Para eles, a finalidade seria o caos e o dinheiro. Para mim, é uma grande incógnita no meio de tantos outros mistérios que a minha família deixou nessa cidade.

— Você não deveria estar ajudando eles?

— E deixar você aqui sozinha? — Suas sobrancelhas franzem como se eu tivesse feito uma pergunta inútil.

— Eu estou bem, quer dizer, vou ficar bem. — Fito minhas mãos sem ter certeza das palavras que acabei de dizer. — Se a toxina está espalhada pela cidade, muita gente deve estar precisando de ajuda agora.

— Com certeza terão, mas a minha ajuda é sua até que você realmente esteja bem. — Ele volta a segurar o meu rosto e une os nossos lábios em um beijo rápido.

E bem assim, em meio a uma crise de sentimentos provocada por um gás alucinógeno, me dou conta de uma certeza sóbria e firme: estou oficialmente apaixonada por Dick Grayson.

Mas não posso verbalizar isso, nem para mim mesma. Também não consigo fazer o óbvio, que seria cortar esse sentimento pela raiz. Então, apenas fico parada encarando seu par de olhos azuis como um céu limpo em um dia lindo.

Meus olhos desviam para a televisão do quarto, que estava ligada e só fui perceber agora por que ouvi risadas de fundo. Estava passando um episódio de How I Met Your Mother.

— Ah, não — me dou conta de outra coisa tão ruim quanto as cantadas do Playbook do Barney que aparecia na TV. — É noite de ano novo, que horas são?

Procuro o meu celular ao redor do corpo e lembro que um dos homens o arrancou da minha mão quando fui atacada. Merda. Só que, com toda a calma do mundo, Dick se inclina para o meu lado oposto e pega o celular que está em cima da cômoda ao lado da cama. O meu celular.

— Tem certeza de que você não tem nenhum superpoder? — Pergunto quando ele me entrega o aparelho. São 2h50! — Droga, perdemos o nosso encontro de verdade e a virada de ano.

— Tudo bem — ele dá de ombros. — Sei que você disse que queria levar as coisas devagar, mas não precisava ter sido atacada pelo Espantalho só para fugir de mim.

Ele faz uma cara dramática, mas tenta a todo custo segurar a risada que quer sair.

— Vou pensar em algo mais criativo da próxima vez. — Não deveria ter uma próxima vez, Jenni, diz a minha própria voz para mim mesma. Que ódio.

— Desde que não envolva colocar a sua vida em risco mais uma vez, por mim tudo bem. — Dick diz isso brincando, mas consigo perceber um certo tom sério na frase.

Volto a minha atenção para a TV e, por um minuto, desejo que a minha vida fosse tão descomplicada e simples como as cantadas baratas do Barney.

— Sabia que ele é tipo um herói pra mim? — Dick comenta encarando a televisão. — Só que o meu Playbook é muito melhor.

— Você tem um Playbook? — Semicerro os olhos.

— Tenho, mas ele fica guardado aqui — ele aponta para a cabeça e abre um sorriso de canto.

— É claro que você tem um — reviro os olhos e balanço a cabeça. — Você gastou todas as suas cantadas ruins comigo.

— Parece que deu certo — ele pisca, se levanta da cama e sai do quarto.

No minuto seguinte, ele volta com algumas sacolas de delivery e se senta ao meu lado de novo.

— O lugar que eu iria te levar é um restaurante de um antigo amigo, estudamos juntos no colégio — Dick começa a tirar as caixas das sacolas. — A família dele é turca e eles fazem você se sentir na Turquia com qualquer prato, mesmo se você nunca tiver pisado lá. É uma das melhores coisas que já provei na vida.

— Nunca fui para a Turquia — pego uma das caixas. O cheiro estava mesmo conquistador. — Mas eu amo conhecer coisas novas.

— Eu sei. Seus olhos brilham quando você conhece algo novo e gosta do que vê. Queria que fosse algo assim.

O encaro por vários segundos e ele faz o mesmo. Tem um sorriso gentil em seu rosto. Tem afeto nas suas palavras e carinho em seus olhos. Caramba. Por que eu sou tão azarada assim? Dick é como ganhar na loteria, ou como um eclipse solar total, fenômenos que acontecem uma vez na vida. E bem, está acontecendo na minha, mas não será por muito tempo.

— Feliz ano novo, Dick. — É o que consigo dizer e é o que me limito a dizer antes que o aperto em meu coração volte.

Ele se inclina em minha direção e me beija. Sinto uma chuva de meteoros em todo o meu corpo porque nunca tive tanta certeza em gostar de alguém assim.

O que não tenho certeza ainda é o que farei sobre isso.

— Feliz ano novo, Jenni. — Ele responde, com os lábios ainda nos meus e sorri.

✩✧✦

20h32
10 de janeiro
Gotham City

Gotham sempre foi conhecida por ser uma cidade perigosa e, desde que cheguei aqui, entendi na pele o porquê da fama caótica. Apesar dos esforços que a polícia faz para manter a cidade minimamente segura, não chega nem perto de ser suficiente. Também tem os heróis que, apesar das mais altas habilidades para combaterem o crime, eles são seres humanos e apenas uma pessoa – com uma vida dupla – mas ainda assim, é um fato numérico, e eles não podem estar em todos os lugares ao mesmo tempo. E, agora, convivendo de perto com um, entendo como é cansativo dar conta de tudo e ainda tentar viver coisas simples da vida.

Nos últimos dias, a taxa de criminalidade tem aumentado, parecia o começo de um novo caos generalizado. Era como se a maldade estivesse escorregando pelos dedos daqueles que tentam impedir que essa cidade afunde de vez. Nomes antigos do crime de Gotham estavam ressurgindo. Foi reportado que a família Falcone está foragida, Oswald Cobblepot – o famigerado Pinguim – estaria agindo silenciosamente entre gangues da cidade, mas até agora ninguém o viu, além de Jonathan Crane, o Espantalho, que continua desaparecido desde o ocorrido da noite de ano novo.

Então, imagine a energia desse lugar. Nada estava indo muito bem.

Tenho me mantido ocupada com a Troffle e os avanços da minha missão, e também, continuei ignorando o pedido de Charles da noite de Natal, até não conseguir mais.

Ontem pela tarde, recebi diversas fotos no meu celular. Todas do meu irmão, mais uma vez. E junto com elas, veio uma carinhosa mensagem do cientista filho de uma puta que está ameaçando não só a mim, mas ao meu irmão e todo o meu universo.

CHARLES RUTHERFORD:
Acho que você esqueceu do favor que te pedi. Então, aqui vai um lembrete. Aguardo a sua resposta.

O que mais me desesperou foi o fato de ele ter enviado fotos de dentro do apartamento de Bruno quando ele não estava. Para mim, todos os limites foram ultrapassados ali.

Passei a noite pensando no que fazer, até que algo me veio em mente e que poderia me ajudar a ganhar tempo enquanto encontro algo mais certeiro para derrotar esse homem de vez.

Ele havia me pedido as coordenadas finais da aplicação do código fonte. Essas coordenadas são informações necessárias para concluir o plano que meus pais construíram para blindar o nosso universo. Só que, esses dados não estavam escondidos e nem codificados como os 37 códigos que preciso encontrar por Gotham e Blüdhaven, mas se Charles estava me pedindo, é porque ele não sabia dessa informação.

E muito pouco provável, mais ainda, de que ele tenha os 37 códigos, porque uma das coordenadas finais estava incompleta, pois ela deriva do último código que precisa ser encontrado.

Então, depois de passar horas viajando em hipóteses na minha cabeça, pensei em entregar dados incompletos para que ele perca tempo fazendo testes, e eu ganhando tempo em avançar com o que posso.

Pedi para a inteligência artificial dos computadores da minha Sala Operacional montar arquivos extremamente criptografados para dificultar mais ainda o processo e espero muito que dê certo.

Me sentia uma hipócrita em dizer que não se negocia com terroristas quando, neste exato momento, estou indo fazer isso, mesmo que de uma maneira falsa. Mas foi o que consegui pensar sem envolver ou arriscar outra pessoa no meio disso tudo.

Quando chego no local onde marcamos de nos encontrar, percebo que a rua está vazia, não tem uma alma viva aos redores. O vento congelante só ajuda o calafrio aumentar pela minha coluna. As lojas que ficam nessa rua são de itens de decoração, mobílias e lustres. É um bairro mais antigo e tudo parece arcaico, até mesmo os postes que mal iluminam as calçadas.

Ouço o ruído de uma porta de madeira ranger atrás de mim e vejo Charles parado me encarando com um olhar frio.

— Você está atrasada. Entre, por favor. — Ele gesticula para que eu cruze a porta.

Não respondo e nem mantenho contato visual. Hesito por um segundo, mas entro no local mesmo com a minha intuição dizendo para que eu não o faça.

O espaço era uma espécie de relojoalheria antiga bem pequena e possuía diversos tipos de relógios espalhados pelas paredes, desde armações de madeira até ouro. Um pequeno balcão ficava logo na entrada e era para lá que Charles estava indo. Ao que parecia, estávamos sozinhos, mas não tenho certeza, porque aquela noite no meu estacionamento, ele tinha ninjas escondidos. Então, sabe-se lá o que ele tem oculto por aqui. E por que raios estamos nesse lugar?

— Aqui está o que você pediu. — Entrego uma pasta com as anotações falsas que criei e o pen drive codificado. Queria ser breve e ir embora daqui o quanto antes.

Charles abre o envelope e folheia os papéis, o seu rosto estava inexpressível. Ele analisa o pen drive brevemente e guarda o conteúdo de volta na pasta.

— Sabe por que te chamei aqui, nesse lugar? — Ele aponta com o dedo indicador para os relógios pendurados nas paredes ao nosso redor.

E mais uma vez, não respondo. Não estou aqui para brincar de adivinhar coisas com esse maluco desprezível.

— Porque estamos ficando sem tempo. — Charles responde ignorando o fato de eu ter ficado calada. — Quis deixar claro que não podemos contar com erros ou informações falsas. Então, espero que você realmente coopere.

— E o que eu ganho com isso? — Questiono já que estamos aqui para falar de negócios. A verdade era que eu estava com medo, mas queria transparecer o contrário a todo custo, e que ele não deveria mexer comigo ou com a minha família.

— Achei que já tivesse deixado bem claro. — Ele me encara secamente. — Cumprirei a minha palavra de não ferir a quem você ama.

Engulo em seco. Parece até que tem um nó gigantesco na minha garganta, mas preciso manter a calma.

— Isso é o mínimo — o revido, sem muita paciência. Calma é o caralho, Jenni! — Quero saber o seu plano.

Ele arqueia uma das sobrancelhas, mas em seu rosto ainda não há muita expressão. Se ele acha que estamos ficando sem tempo, ele não faz ideia da duração da minha paciência com ele, que no caso é negativa.

— Receio não ter muito tempo hoje à noite. Tenho outros compromissos. — Charles guarda a pasta que lhe entreguei em uma gaveta atrás do balcão onde está e se vira de costas para mim vasculhando um armário velho ao seu lado. — Podemos ter essa conversa outro dia, se as informações que você me entregou forem verdadeiras.

Ele pega uma pequena caixa marrom e volta a sua atenção para mim, repousando o objeto no balcão.

— Você sabia que o seu avô era um homem que desafiava o tempo? — Charles abre a caixa e dentro há um relógio de pulso simples e pequeno, de alças de couro pretas. — Acredito que saiba disso, porque ele fez inúmeras descobertas no nosso universo. E como ele conseguiu tudo isso? Ele rejeitava a coisa mais valiosa que temos: o tempo. Kennedy não se preocupava muito com isso, ele queria apenas fazer, entregar, descobrir, melhorar. Já o tempo para conseguir atingi-los, pouco importava.

Ele empurra a caixa em minha direção e ergue o olhar até o meu.

— Esse relógio era dele, mas acho que você deveria ficar com ele.  — Charles diz sem muita cerimônia ou sentimentos em suas palavras.

Sinto minha respiração pesar, meus olhos descem para o relógio de pulso abaixo de mim. Bem na ponta da alça, vejo um pequeno bordado das letras K.R., as iniciais do meu avô. Depois de alguns segundos lutando contra mim mesma, pego o relógio em minhas mãos e passo o polegar sobre o vidro que guarda os ponteiros. Apesar de antigo, o relógio estava bem conservado.

— Não negligencie o tempo, Jennifer. — Charles volta a falar em um tom mais frio que antes. — Não seja como seu avô ou como seus pais. O tempo pode não ser absoluto, mas é a única coisa que vale mais do que o dinheiro em todos os universos.

— Você não sabe nada da minha família. — Digo de uma maneira firme, mesmo no fundo não parecendo.

Charles cruza os braços e me lança um olhar sombrio, vejo seu maxilar tensionar brevemente, até ele voltar com a expressão vazia de antes. Esse cara é um esquisito.

— Sei mais do que você — ele responde, por fim.

Para mim, chega. Resolvo pegar a caixa do relógio e guardo na minha bolsa com uma certa rapidez. Começo a ir em direção a porta para sair, pois não aguento mais olhar para a cara desse homem. Assim que a minha mão alcança a maçaneta, ouço Charles falar novamente.

— Saiba que, se as informações que você me entregou forem falsas, haverá consequências.

— Então trate de fazer os seus cálculos corretamente, cientista. — Respondo o encarando de relance sobre o ombro.

— E saiba mais ainda que não estou de olho apenas no seu irmão. Vi que você tem pessoas aqui perto com as quais se importa mais do que o permitido... — Ele sai detrás do balcão e se aproxima mais de mim. — Mais especificamente o seu Asa Noturna, Dick Grayson.

Minha mão aperta a maçaneta da porta velha com tanta força que a ouço ranger debaixo dos meus dedos.

— Boa sorte em lutar contra um super-herói. — Abro a porta e saio o mais rápido que consigo. Devo ter batido com tanta força, que a pequena luz que iluminava a parte de cima da entrada, balança no fio fraco que a segurava.

Charles ainda não sabe que entreguei uma mentira para ele, mas um dia saberá. E eu vou precisar correr contra o tempo para que ela valha a pena.

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