32. Loucura
⚠️ AVISO IMPORTANTE:
O capítulo contém gráficos fotossensíveis. (flashes de luzes – são bem leves, mas tem)
Por favor, quem tiver sensibilidade à luz, leia a versão do capítulo sem gráficos que está no Carrd fixado no meu perfil. Para acessar, basta clicar no ícone de documentos que você será redirecionado para um Google Docs:
Tentei ilustrar o máximo que consegui da confusão que estava na cabeça da Jenni. Queria passar algo como se estivéssemos dentro dos pensamentos/memórias dela.
Fez sentido na minha, espero que faça na de vocês também kkkkkk!
RECOMENDAÇÕES para um melhor aproveitamento da loucura desse capítulo:
· Modo noturno com rolagem.
· Para quem gosta de ler ouvindo música, além de Madness do Muse, indico essas:
★ M83 – My Tears Are Becoming A Sea
★ Labrinth - Formula
★ Charli XCX – Visions
★ Billie Eilish & Rosalía – Lo Vas A Olvidar
★ FKA twigs – sad day
10h51
31 de dezembro
Gotham City
JENNI REED
— E se o nosso encontro de verdade fosse hoje à noite? — Dick pergunta, se arrastando para atrás de mim, colocando os braços em volta dos meus ombros e deixando um beijo na lateral da minha cabeça.
Estava sentada em uma das banquetas na minha cozinha, tínhamos acordado há poucos minutos. Dick veio para cá depois de uma patrulha pela madrugada porque enviei uma mensagem a ele dizendo que não estava conseguindo dormir.
Desde que encontrei Charles na noite de Natal, fiquei em choque por alguns dias. Não contei a ninguém, nem mesmo a Timothy, que também o conhece. Estava em estado de negação. Não iria dar a Charles o que ele pediu, e também, não sei ainda o que fazer sobre isso. Então, resolvi ignorá-lo, até ele aparecer novamente. A regra é clara: nunca negocie com terroristas. Porque é isso que ele é.
Só que o problema é que isso tem consumido minhas noites de sono. Se antes já estava difícil conseguir descansar, quem dirá agora com mais um psicopata atrás de mim. Então, nas noites seguintes a do Natal, Dick tem vindo para cá sempre que pode. Claro que ele ainda não sabe que dentro do meu apartamento tem, basicamente, outro apartamento, com espaços totalmente equipados para me ajudar numa missão maluca. Mas enfim, isso não vem ao caso. Ainda.
A desculpa dele foi de que também estava tendo péssimas noites de sono e, a solução para nós dois, é que dormíssemos juntos, já que em São Francisco funcionou bem. Ah, claro que sim. Como se não tivéssemos segundas intenções sexualmente explícitas. Imagina, isso nem se passou pelas nossas cabeças. Aham. Só que, não ironicamente, temos dormido melhor mesmo. Talvez ele não estivesse tão errado assim. E o mais engraçado é que eu nem pensei em me opor, já que eu mesma tinha dito para irmos devagar. Mas me lembro bem que disse emocionalmente devagar.
— Não sei se você está perdido no tempo, mas hoje é véspera de ano novo. — Digo deixando a minha cabeça se inclinar para o lado, porque os lábios dele já tinham descido para a minha bochecha.
— Sim, e qual é o problema? — Agora, ele beija o meu pescoço e eu me arrepio inteira. Meu Deus.
Eu sei que estou enganando a mim mesma sobre deixar a parte física e a sentimental separadas. Mas não quero pensar sobre isso agora.
— Você não... — Respiro fundo, e meus olhos se fecham involuntariamente, porque sinto suas mãos deslizarem por debaixo da minha camiseta. É, estou mesmo muito enganada. — Você não tem planos?
— Tenho — seus olhos azuis e intensos encontram os meus. — E todos eles envolvem você.
Ai.
— Mas e as festas de virada de ano com seus amigos?
— Ah — Dick vira a banqueta em que estou sentada para sua direção, agora estávamos de frente um para o outro. — Acho que prefiro algo mais... particular.
Uma de suas mãos vai até a minha nuca e me puxa para um beijo antes mesmo que eu pudesse responder. É inacreditável a capacidade desse homem em fazer o meu coração acelerar de uma forma que suspeito que seja saudável. Talvez eu devesse ir a um cardiologista.
— E o que você tem em mente para esse encontro de verdade? — Pergunto entre um beijo e outro.
Ele demora para responder porque eu não estou o ajudando para isso. Então, ele me ergue para que minhas pernas envolvam a sua cintura e nos leva até o sofá, sentando-se comigo em seu colo.
— Exatamente isso aqui. — Ele finalmente responde, escorregando as mãos pela minha coluna.
Fico vários segundos somente o encarando. Seus olhos me mapeiam por inteira. É oficial, não vou conseguir mais me enganar. Estou ferrada demais.
— Acho que não atendemos o seu pedido de irmos devagar. — Dick diz em um tom de voz mais baixo, me puxando para mais perto ainda.
Que droga. Ele pode ler mentes agora?
— Você não colabora muito pra isso. — Deixo minhas mãos descerem lentamente pelos seus braços.
— E nem você. — Ele dá de ombros.
Dick coloca uma mecha do meu cabelo atrás da orelha e seu polegar acaricia a minha bochecha.
— Você é tão linda. — E simples assim, essas 4 palavras estremecem meu coração todinho. O sorriso em meu rosto é indiscutível e tudo o que quero é que cada momento com ele dure uma eternidade.
No minuto seguinte, já estávamos colados um no outro novamente. Cada beijo parece melhor que o anterior. Cada toque se torna mais viciante que antes. As batidas no meu coração já viraram uma escola de samba.
— Você não me respondeu sobre como seria o encontro. — Digo em uma tentativa de tomar fôlego.
— É surpresa. — Dick responde voltando a encostar os nossos lábios. — Volto para te buscar às 20h.
— E temos quantos minutos sobrando mesmo antes que você precise ir agora?
— O suficiente — ele volta a me beijar com mais vontade ainda, como se fosse possível, e eu apenas deixo ele me levar para onde quiser mais uma vez. Ultimamente, tenho visto estrelas.
★
19h55
Ao contrário do Natal, não me intrometi nos planos de virada do ano de Olívia. Ela até me chamou para ir a Maryland, onde alguns de seus familiares moram e iria passar os dois últimos dias do ano por lá. Mas recusei e ela também não insistiu sabendo os motivos pelos quais preferi ficar em Gotham.
O mesmo aconteceu com Timothy que cruzou o país para virar o ano com alguns amigos de São Francisco, também sabia dos motivos da minha preferência em ficar aqui.
Era apenas um motivo, na verdade. E o estou aguardando para um encontro na véspera de ano novo. Eu amei isso.
Dick tem esse dom, mesmo em meio ao caos, ele me faz sentir como se só existíssemos nós, sem perigo algum. Sempre que estamos juntos, consigo esquecer a enrascada que estou vivendo. Consigo esquecer do fardo da minha missão. Consigo esquecer do cientista maldito que está ameaçando a vida do meu irmão, sem ele sequer saber disso.
Mas na verdade, estou no meio de um risco angustiante.
Eu estava mais agitada que o normal nos últimos dias, querendo a todo custo avançar com o que conseguíssemos na busca dos códigos. Até cheguei a perguntar para Olívia se não havia alguma chance de nos comunicarmos com o meu universo, mas só conseguimos enviar pulsos de sinais codificados que não eram tão simples de serem realizados, além do fato de não ser uma comunicação clara. Ela ficou sabendo do dia que eu chegaria em Gotham através de um desses enviado pelo meu irmão, mas que não foi tão fácil de receber e, muito menos, entender.
— Vou me atrasar — ouço Dick dizer assim que atendo a sua chamada. — Estou bem perto, mas o trânsito está parado.
— Onde você está? Talvez dê pra te encontrar no meio do caminho, a gente tenta pegar algum atalho.
— Estávamos juntos horas atrás e você já está desesperada assim pra me ver de novo? — Podia sentir o sorriso sacana na cara dele perguntando isso.
Reviro os olhos e balanço a cabeça.
— Desculpe desinflar o seu ego, mas estou apenas com fome.
Ele ri do outro lado da linha.
— Acho que estou a uns 2 ou 3 quarteirões no máximo, vou te mandar a localização.
Encerramos a ligação e recebo uma mensagem dele com a localização de onde está. Realmente é bem perto, somente dois quarteirões e meio.
Assim que saio do meu prédio, sinto o vento gelado me atravessar, mesmo estando bem agasalhada. Dezembro costuma ser o mês que menos gosto por inúmeros motivos. Primeiro, o clima preto e branco do inverno cheio de neve, frio e roupas pesadas. Segundo, as festas de fim de ano, elas são depressivas, a necessidade de se reunir com a família e tudo mais, tudo bem que isso é um trauma meu, e por isso, é um motivo para que eu não goste. Terceiro, as resoluções do que deu certo e do que deu errado durante o ano e, também, as metas para o ano seguinte que não serão cumpridas e gerarão frustações nas resoluções do que não deu certo no final do ano. Um ciclo vicioso.
Por isso, estou animadíssima para passar a virada de uma maneira que nunca passei antes: em um encontro. Isso é genial. Ao invés de ficar bêbada para ter que aguentar papo furado de pessoas que eu não necessariamente conheço ou gostaria de estar por perto, eu passaria a noite flertando com o cara mais gato que conheço. Passaria a noite beijando o cara mais incrível que conheço. E nos aquecendo desse frio horrendo de inúmeras maneiras, e na minha cama, de preferência. Ou na dele. Tanto faz. Lembro que a cama de Dick era ótima.
Estou prestes a cruzar o segundo quarteirão para entrar na avenida onde Dick está, quando percebo algo estranho nas pessoas que estão andando pela rua. A princípio, não estava com receio de andar sozinha. Ainda é cedo e as ruas estavam movimentadas. Só que eu não estava prestando atenção em como as pessoas estavam andando. Elas pareciam zumbis. Os olhos vidrados em nada específico. Algumas se contorciam próximas às paredes. Não é possível que todo mundo esteja sob o efeito da mesma droga, porque era isso que parecia.
O meu primeiro instinto é ligar para Dick, mas no mesmo instante em que pego o celular em meu bolso, sinto uma mão me puxar pelas costas. Olho para trás em um ímpeto e vejo uma pessoa quase da mesma altura que eu com uma máscara toda costurada que não mostrava nada além de olhos obscuros. A boca lembrava a de um espantalho. Era assustador.
Tento correr, mas dois homens altos encapuzados com máscaras de plástico que cobriam o nariz e a boca impedem a minha fuga. Um deles arranca o celular da minha mão, enquanto o outro me imobiliza para certificar de que eu não sairia dali. Penso em algum modo de escapar, mas eles eram fortes demais e eu estava apavorada.
— Olá, Jenni. É um prazer em conhecê-la. — Diz o homem com a máscara aterrorizante de espantalho. Sua voz soa abafada demais, talvez até mesmo modificada.
Como esse maluco me conhece?
— O que você quer? Quem é você? — Questiono em um tom mais alto e penso em gritar por ajuda, mas quando meus olhos percorrem toda a rua, vejo que talvez ninguém próximo conseguiria me socorrer.
— Pode me chamar de Doutor Jonathan Crane, mas alguns me chamam carinhosamente de Espantalho.
Merda. Eu tô fodida.
Esse louco fugiu de Arkham na explosão que teve semanas atrás. Infelizmente, eu sei quem ele é. O que ele faz.
Sinto meu corpo tremer. Parece que a temperatura caiu ainda mais.
Preciso escapar daqui.
— Tenho algumas perguntas para fazer — ele volta a falar se aproximando mais de mim. — E sei um jeito fácil de conseguir as respostas que preciso.
No mesmo segundo, ele aponta um cilindro na direção do meu rosto e um gás verde toma conta de toda a minha visão. Eu tô fodida. É o gás da toxina do medo.
Começo a tossir, meus olhos fecham, e sinto meu corpo falhar enquanto sou arrastada. Quando volto a abrir os meus olhos, minha visão está turva, parece que a minha cabeça está girando.
— Prometo que serei objetivo. — Dessa vez, sua voz soa mais ríspida em meus ouvidos. — Só quero saber se é verdade. A sua verdade. De onde você veio.
Não consigo distinguir para onde estão me levando. A minha respiração começa a ficar acelerada. Estou sentindo um medo como nunca senti em toda a minha vida.
— Shh. — Esse simples som soou como um ruído insuportável. — O medo é fundamental, Jennifer. Ele faz parte da nossa natureza, é que o que nos torna humanos. Não fui eu que disse isso, foi Charles Darwin. E quem sou eu para discordar? Afinal, sou um homem da ciência também.
Sinto meu coração acelerar ao mesmo tempo que sinto uma tontura, não faz sentido.
— E a minha primeira pergunta é: qual é o seu maior medo, Jenni?
Suas palavras chegam distorcidas em meus ouvidos. Meus olhos ainda estão fechados e, quando tento abri-los novamente eles não estão mais ao meu lado.
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Onde estou? O que está acontecendo?
Onde estou?
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Eu estou em casa. Na casa dos meus pais, em Washington.
Impossível. Impossível. Isso só pode ser uma ilusão.
— 𝙿𝚊𝚙𝚊𝚒! 𝚂𝚎𝚗𝚝𝚒 𝚝𝚊𝚗𝚝𝚘 𝚊 𝚜𝚞𝚊 𝚏𝚊𝚕𝚝𝚊. — 𝚄𝚖𝚊 𝚐𝚊𝚛𝚘𝚝𝚒𝚗𝚑𝚊 𝚌𝚘𝚛𝚛𝚎 𝚙𝚎𝚕𝚊 𝚜𝚊𝚕𝚊 𝚊𝚜𝚜𝚒𝚖 𝚚𝚞𝚎 𝚊 𝚙𝚘𝚛𝚝𝚊 𝚍𝚎 𝚎𝚗𝚝𝚛𝚊𝚍𝚊 𝚜𝚎 𝚊𝚋𝚛𝚎 𝚎 𝚊𝚋𝚛𝚊𝚌̧𝚊 𝚘 𝚑𝚘𝚖𝚎𝚖 𝚚𝚞𝚎 𝚎𝚗𝚝𝚛𝚊 𝚙𝚘𝚛 𝚎𝚕𝚊.
Sou eu. Eu lembro desse dia.
— 𝙴𝚞 𝚝𝚊𝚖𝚋𝚎́𝚖 𝚜𝚎𝚗𝚝𝚒 𝚖𝚞𝚒𝚝𝚘 𝚊 𝚜𝚞𝚊 𝚏𝚊𝚕𝚝𝚊, 𝚏𝚒𝚕𝚑𝚊. 𝙶𝚘𝚜𝚝𝚎𝚒 𝚍𝚘 𝚜𝚎𝚞 𝚌𝚊𝚋𝚎𝚕𝚘. — 𝙴𝚕𝚎 𝚛𝚎𝚜𝚙𝚘𝚗𝚍𝚎 𝚊𝚌𝚊𝚛𝚒𝚌𝚒𝚊𝚗𝚍𝚘 𝚘 𝚌𝚊𝚋𝚎𝚕𝚘 𝚍𝚊 𝚐𝚊𝚛𝚘𝚝𝚊.
— 𝙲𝚘𝚛𝚝𝚎𝚒 𝚙𝚊𝚛𝚊 𝚊𝚙𝚛𝚎𝚜𝚎𝚗𝚝𝚊𝚌̧𝚊̃𝚘 𝚍𝚎 𝚊𝚖𝚊𝚗𝚑𝚊̃. 𝚅𝚘𝚌𝚎̂ 𝚎 𝚊 𝚖𝚊𝚖𝚊̃𝚎 𝚟𝚊̃𝚘, 𝚗𝚎́? — 𝙾𝚜 𝚘𝚕𝚑𝚘𝚜 𝚋𝚛𝚒𝚕𝚑𝚊𝚖 𝚗𝚊 𝚎𝚜𝚙𝚎𝚛𝚊𝚗𝚌̧𝚊 𝚍𝚎 𝚞𝚖𝚊 𝚛𝚎𝚜𝚙𝚘𝚜𝚝𝚊 𝚙𝚘𝚜𝚒𝚝𝚒𝚟𝚊.
— 𝙲𝚘𝚖 𝚌𝚎𝚛𝚝𝚎𝚣𝚊, 𝚗𝚊̃𝚘 𝚙𝚎𝚛𝚍𝚎𝚛𝚎𝚖𝚘𝚜 𝚙𝚘𝚛 𝚗𝚊𝚍𝚊.
Essa foi uma grande de uma mentira. Eles não foram. Foi a minha primeira apresentação musical. Eu tinha 11 anos. Eles também não foram nas outras. Apareceram uma ou duas vezes no decorrer dos anos seguintes. Lembro que senti um medo, uma insegurança que fazia o meu corpo todo tremer. Como se eu precisasse vê-los na plateia para que eu me saísse bem na apresentação. Com o tempo, aprendi a ignorar esse sentimento, mas ainda doía muito. Eles nunca estavam em casa, e também, nunca estavam presentes em momento algum da minha vida.
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— 𝙿𝚘𝚛 𝚚𝚞𝚎 𝚎𝚕𝚎𝚜 𝚜𝚊̃𝚘 𝚊𝚜𝚜𝚒𝚖, 𝙱𝚛𝚞𝚗𝚘? 𝙿𝚘𝚛 𝚚𝚞𝚎̂?
Ah, não. Esse dia também não.
Eu estava chorando no ombro do meu irmão e sentada no chão do meu quarto. Eu tinha 16 anos. Era o dia do meu aniversário. Na verdade, tinha acabado de terminar. Já era mais de 00h do dia 13 de janeiro. Meus pais prometeram na semana anterior que estariam presentes. Obviamente, eles não foram. O dia inteiro se passou e nem uma ligação deles eu recebi.
— 𝙴𝚞 𝚘𝚍𝚎𝚒𝚘 𝚝𝚊𝚗𝚝𝚘 𝚎𝚕𝚎𝚜. 𝙾𝚍𝚎𝚒𝚘 𝚝𝚊𝚗𝚝𝚘! — 𝙴𝚞 𝚜𝚘𝚕𝚞𝚌̧𝚊𝚟𝚊, 𝚝𝚛𝚎𝚖𝚒𝚊 𝚎 𝚖𝚎 𝚎𝚗𝚌𝚘𝚕𝚑𝚒𝚊 𝚗𝚘𝚜 𝚋𝚛𝚊𝚌̧𝚘𝚜 𝚍𝚘 𝚖𝚎𝚞 𝚒𝚛𝚖𝚊̃𝚘.
— 𝙽𝚊̃𝚘 𝚎́ 𝚟𝚎𝚛𝚍𝚊𝚍𝚎, 𝚟𝚘𝚌𝚎̂ 𝚗𝚊̃𝚘 𝚘𝚜 𝚘𝚍𝚎𝚒𝚊, 𝙹𝚎𝚗𝚗𝚒. 𝙴𝚕𝚎𝚜 𝚝𝚎 𝚊𝚖𝚊𝚖. — 𝙱𝚛𝚞𝚗𝚘 𝚝𝚎𝚗𝚝𝚊𝚟𝚊 𝚖𝚎 𝚌𝚘𝚗𝚜𝚘𝚕𝚊𝚛, 𝚖𝚊𝚜 𝚗𝚊𝚍𝚊 𝚍𝚊𝚟𝚊 𝚌𝚎𝚛𝚝𝚘.
— 𝙸𝚜𝚜𝚘 𝚎́ 𝚞𝚖𝚊 𝚖𝚎𝚗𝚝𝚒𝚛𝚊, 𝚎́ 𝚞𝚖𝚊 𝚖𝚎𝚛𝚍𝚊 𝚍𝚎 𝚞𝚖𝚊 𝚖𝚎𝚗𝚝𝚒𝚛𝚊! — 𝙴𝚞 𝚐𝚛𝚒𝚝𝚊𝚟𝚊 𝚎𝚖 𝚖𝚎𝚒𝚘 𝚊𝚜 𝚕𝚊́𝚐𝚛𝚒𝚖𝚊𝚜.
Dias depois, eles apareceram em casa dizendo que foram chamados para uma missão de última hora na NASA e tiverem que sair da cidade. Claro que eles nem se importaram em avisar.
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𝚂𝚎𝚛𝚊́ 𝚚𝚞𝚎 𝚖𝚘𝚛𝚛𝚎𝚛𝚎𝚒 𝚜𝚘𝚣𝚒𝚗𝚑𝚊? 𝙿𝚘𝚛 𝚚𝚞𝚎 𝚚𝚞𝚎 𝚘 𝚊𝚖𝚘𝚛 𝚝𝚎𝚖 𝚚𝚞𝚎 𝚜𝚎𝚛 𝚝𝚊̃𝚘 𝚌𝚘𝚖𝚙𝚕𝚒𝚌𝚊𝚍𝚘?
Mais uma vez, me vejo em meu quarto. Só que agora eu tinha 19 anos. Tinha terminado com Timothy naquela noite. Caramba, eu gostava tanto dele. Me doeu tanto. Mas eu sentia medo. Medo de ser abandonada em um determinado momento e eu não queria sentir isso. Então, eu o abandonei.
Eu chorava, soluçava, as lágrimas caíam como rios. Pensei que fosse desidratar naquela noite. Tivemos uma briga feia, falamos verdades doloridas na cara um do outro. Eu deixava o trauma dos meus pais interferir no nosso relacionamento e ele tentava ignorar a realidade que vivíamos, que era muito semelhante.
Tive tanto medo de ser deixada para trás mais uma vez, que acabei abrindo mão do amor. E fiquei sozinha com a tristeza.
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Por que estou tendo essas visões?
O que está acontecendo comigo?
O meu passado está me assombrando com as piores partes dele.
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— 𝙼𝚎𝚞𝚜 𝚜𝚎𝚗𝚝𝚒𝚖𝚎𝚗𝚝𝚘𝚜, 𝚎𝚞 𝚜𝚒𝚗𝚝𝚘 𝚖𝚞𝚒𝚝𝚘. — 𝚄𝚖𝚊 𝚍𝚊𝚜 𝚊𝚖𝚒𝚐𝚊𝚜 𝚍𝚘𝚜 𝚖𝚎𝚞𝚜 𝚙𝚊𝚒𝚜 𝚖𝚎 𝚊𝚋𝚛𝚊𝚌̧𝚊𝚟𝚊 𝚗𝚘 𝚍𝚒𝚊 𝚍𝚘 𝚏𝚞𝚗𝚎𝚛𝚊𝚕 𝚍𝚎𝚕𝚎𝚜.
Lembro de não conseguir falar nada no meu discurso. Eu também não conseguia chorar. Eu não acreditava, eu não queria acreditar que eles tinham morrido daquela forma.
Senti raiva, senti angústia, senti arrependimento e, acima de tudo, naquele dia, eu senti medo.
Eles nunca estavam por perto, mas pelo menos estavam vivos. Me acostumei, ou me conformei – tanto faz – em vê-los periodicamente, quando podiam.
Só que, a partir daquele momento, eles não estavam mais, e nunca mais nos encontraríamos. Não consegui dizer adeus.
Fui abandonada da pior maneira possível. E não foi por decisão deles. Eles foram tirados de mim.
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— 𝚅𝚘𝚌𝚎̂ 𝚟𝚊𝚒 𝚌𝚘𝚗𝚜𝚎𝚐𝚞𝚒𝚛, 𝙹𝚎𝚗𝚗𝚒. 𝙴𝚞 𝚊𝚌𝚛𝚎𝚍𝚒𝚝𝚘 𝚎𝚖 𝚟𝚘𝚌𝚎̂. — 𝙼𝚎𝚞 𝚒𝚛𝚖𝚊̃𝚘 𝚖𝚎 𝚘𝚕𝚑𝚊𝚟𝚊 𝚗𝚘𝚜 𝚘𝚕𝚑𝚘𝚜 𝚎 𝚜𝚎𝚐𝚞𝚛𝚊𝚟𝚊 𝚎𝚖 𝚖𝚎𝚞𝚜 𝚘𝚖𝚋𝚛𝚘𝚜.
Eu estava em sua sala da NASA. Nesse dia, disse a ele que não queria seguir com a missão, porque eu não seria capaz. Era muita coisa, uma responsabilidade inimaginável. Isso era algo que ele deveria fazer, pois meus pais confiaram nele muito mais do que confiaram em mim.
— 𝙴𝚕𝚎𝚜 𝚝𝚎 𝚎𝚜𝚌𝚘𝚕𝚑𝚎𝚛𝚊𝚖 𝚙𝚘𝚛 𝚞𝚖 𝚖𝚘𝚝𝚒𝚟𝚘. — 𝙴𝚕𝚎 𝚌𝚘𝚗𝚝𝚒𝚗𝚞𝚊𝚟𝚊 𝚊 𝚍𝚒𝚣𝚎𝚛, 𝚖𝚊𝚜 𝚎𝚞 𝚗𝚊̃𝚘 𝚊𝚌𝚛𝚎𝚍𝚒𝚝𝚊𝚟𝚊.
— 𝙴𝚕𝚎𝚜 𝚝𝚎 𝚊𝚖𝚊𝚟𝚊𝚖 𝚖𝚞𝚒𝚝𝚘. 𝚅𝚘𝚌𝚎̂ 𝚜𝚎𝚖𝚙𝚛𝚎 𝚏𝚘𝚒 𝚘 𝚖𝚊𝚒𝚘𝚛 𝚊𝚖𝚘𝚛 𝚍𝚊 𝚟𝚒𝚍𝚊 𝚍𝚎𝚕𝚎𝚜.
— 𝙴𝚗𝚐𝚛𝚊𝚌̧𝚊𝚍𝚘. 𝙴𝚕𝚎𝚜 𝚝𝚒𝚟𝚎𝚛𝚊𝚖 𝚚𝚞𝚎 𝚖𝚘𝚛𝚛𝚎𝚛 𝚎 𝚍𝚎𝚒𝚡𝚊𝚛 𝚞𝚖 𝚙𝚕𝚊𝚗𝚘 𝚊𝚋𝚜𝚞𝚛𝚍𝚘 𝚙𝚊𝚛𝚊 𝚍𝚎𝚖𝚘𝚗𝚜𝚝𝚛𝚊𝚛𝚎𝚖 𝚒𝚜𝚜𝚘. — 𝙴𝚞 𝚋𝚊𝚕𝚊𝚗𝚌̧𝚊𝚟𝚊 𝚊 𝚌𝚊𝚋𝚎𝚌̧𝚊, 𝚝𝚎𝚗𝚝𝚊𝚗𝚍𝚘 𝚌𝚘𝚗𝚝𝚎𝚛 𝚊𝚜 𝚕𝚊́𝚐𝚛𝚒𝚖𝚊𝚜 𝚚𝚞𝚎 𝚜𝚞𝚛𝚐𝚒𝚊𝚖 𝚎𝚖 𝚖𝚎𝚞𝚜 𝚘𝚕𝚑𝚘𝚜. — 𝙽𝚊̃𝚘 𝚜𝚎𝚒 𝚜𝚎 𝚒𝚜𝚜𝚘 𝚎́ 𝚊𝚖𝚘𝚛 𝚙𝚘𝚛𝚚𝚞𝚎 𝚝𝚞𝚍𝚘 𝚘 𝚚𝚞𝚎 𝚜𝚒𝚗𝚝𝚘 𝚎́ 𝚖𝚎𝚍𝚘.
Bruno me abraçou, tentando me trazer qualquer tipo de conforto, mas eu estava uma pilha de nervos.
— 𝚅𝚘𝚌𝚎̂ 𝚗𝚊̃𝚘 𝚎𝚜𝚝𝚊́ 𝚜𝚘𝚣𝚒𝚗𝚑𝚊 𝚎 𝚗𝚞𝚗𝚌𝚊 𝚎𝚜𝚝𝚊𝚛𝚊́.
Será mesmo? E por que agora eu me sinto tão solitária?
Até não me sentir mais.
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Sinto uma calmaria. Uma paz.
Parece que a minha respiração está controlada e meus batimentos cardíacos estão coordenados.
Me sinto abraçada.
Vejo cores.
Ouço a mais bela das melodias.
Estou sonhando?
Talvez não.
Eu vivi isso.
Reconheço esse toque, esse beijo, esse abraço.
Me sinto viva.
— 𝚅𝚘𝚌𝚎̂ 𝚖𝚎 𝚍𝚎𝚒𝚡𝚊 𝚝𝚊̃𝚘 𝚖𝚊𝚕𝚞𝚌𝚘 𝚚𝚞𝚎 𝚙𝚛𝚎𝚌𝚒𝚜𝚘 𝚝𝚎𝚛 𝚌𝚎𝚛𝚝𝚎𝚣𝚊 𝚍𝚎 𝚚𝚞𝚎 𝚗𝚊̃𝚘 𝚎𝚜𝚝𝚊́ 𝚖𝚎 𝚜𝚎𝚚𝚞𝚎𝚜𝚝𝚛𝚊𝚗𝚍𝚘 𝚙𝚛𝚊 𝚘𝚞𝚝𝚛𝚘 𝚖𝚞𝚗𝚍𝚘, 𝚜𝚊𝚋𝚒𝚊? — 𝙳𝚒𝚌𝚔 𝚍𝚒𝚜𝚜𝚎 𝚎𝚖 𝚖𝚎𝚞 𝚘𝚞𝚟𝚒𝚍𝚘 𝚎𝚖 𝚞𝚖𝚊 𝚗𝚘𝚒𝚝𝚎.
Mas talvez não seja.
Porque eu sou uma mentirosa. Uma farsa.
Me desculpe. Por favor, me perdoe.
Não menti sobre isso. Isso é real.
É a coisa mais viva e linda que já vivi.
Mas eu preciso ir e nunca mais voltar.
Me perdoe.
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Eu preciso ir.
Isso precisa dar certo.
Tenho que salvar o meu mundo.
O meu irmão. Os meus amigos.
Por favor, não o mate.
Me mate no lugar dele!
Eu preciso ir, mas não o mate!
É tudo o que tenho!
Eu imploro!
Preciso salvá-los, preciso!
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Não quero ser abandonada.
Não quero ficar sozinha.
Eu odeio a solidão.
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𝐕𝐎𝐂Ê 𝐍𝐀𝐒𝐂𝐄𝐔 𝐒𝐎𝐙𝐈𝐍𝐇𝐀 𝐄 𝐕𝐀𝐈 𝐌𝐎𝐑𝐑𝐄𝐑 𝐒𝐎𝐙𝐈𝐍𝐇𝐀.
Não! Não quero morrer sozinha.
Não vou, não posso.
É 𝐎 𝐅𝐈𝐌.
𝐀𝐂𝐀𝐁𝐎𝐔.
𝐕𝐎𝐂Ê 𝐅𝐀𝐋𝐇𝐎𝐔.
𝐓𝐎𝐃𝐎𝐒 𝐒𝐄 𝐅𝐎𝐑𝐀𝐌 𝐄 𝐒Ó 𝐑𝐄𝐒𝐓𝐎𝐔 𝐕𝐎𝐂Ê.
𝐒𝐎𝐙𝐈𝐍𝐇𝐀.
Não! Isso não é real.
Não pode ser. Não, não, não!
Me levem no lugar de todos eles, por favor.
Não acabe com tudo. São inocentes.
Por favor, por favor, por favor.
Eu não quero morrer.
"Jenni! Fique comigo. Aguente firme."
"Está acabando"
Está acabando. Não, não, não!
Preciso voltar. Preciso salvá-los.
"Estou aqui. Vai ficar tudo bem."
"Sempre estarei aqui."
É a voz de... Dick?
Não ouço mais nada.
Não vejo mais nada.
Tudo parece vazio.
Estou exausta.
Talvez isso realmente seja o fim.
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