16. Estranhos - Parte 3
21h03
31 de outubro
Gotham City – Redondezas de Narrows
JENNI REED
Quando eu era mais nova, costumava ter um sonho em que eu era uma astronauta e flutuava sobre a Terra. Conseguia ver o amontoado de nuvens que pareciam um algodão doce lá de cima. E quando eu movia a cabeça por debaixo do capacete de astronauta, milhares de estrelas brilhavam sobre mim.
Esse sonho era silencioso, assim como o espaço é. E eu ficava ali, apenas deslumbrada pela beleza do nosso planeta e os pontos brancos de luz das estrelas refletindo nos meus olhos.
O sonho geralmente era interrompido quando eu ouvia algum barulho. Ficava assustada, pois não havia som no espaço. E normalmente, era o meu alarme tocando para eu ir para a escola. Eu ficava duplamente irritada – uma porque o meu sonho favorito tinha sido interrompido – e duas porque eu tinha que ir para a aula.
De tempos em tempos, esse sonho ainda aparecia para mim, porém com uma frequência bem menor. E eu nunca esqueci. Não sei por que, mas sempre me transmitiu uma paz.
Esse sonho estava bem aqui e agora na minha cabeça. Me sentia feliz, até um zumbido insuportável tomar conta dos meus ouvidos e abro os olhos espantada, como todas as outras vezes.
O mais estranho não foi a minha visão estar parcialmente turva, e sim uma fraqueza repentina em todo o meu corpo. Pisco os olhos algumas vezes e tento levar uma das mãos até eles e percebo que não consigo. Tem alguma coisa me prendendo.
Olho para o lado e, então, desperto de vez. O Asa Noturna estava a menos de um metro de distância de mim me encarando com uma expressão fechada. Ele estava sentado e com as mãos algemadas atrás de seu corpo em uma pilastra de ferro. Eu me encontrava na mesma situação e...
Merda. Merda. Merda!
Sinto meus cabelos ao redor do meu rosto e, claramente, não estou usando os óculos inteligentes. Puta merda!
Agora ele sabe que sou eu. Ele com certeza lembra daquele dia do incêndio. Meu Deus, como eu sou burra!
Ok, Jenni. Tente se acalmar. Ele ainda não sabe que você sabe que ele é o Dick Grayson. O que agora é mais estranho e confuso ainda. E eu preciso parar de fazer essas loucuras. O galpão, os invasores, os homens de máscara de ave – de novo – e eu apaguei.
Pressiono os olhos para melhorar a minha visão e analiso rapidamente o ambiente em que estamos, e parece ser um outro galpão, só que bem menor que o da Troffle. Poderia até ser uma garagem.
Abro a boca para perguntar a Dick onde estamos, mas instantaneamente ele faz um rápido movimento com as pernas na tentativa de se aproximar. Ele inclina a cabeça na minha direção e movimenta os lábios em um "Espere!" sem emitir nenhum som, seguido de "Não diga nada. Ainda."
Dick encara a porta ao fundo do local e eu sigo o seu olhar.
De repente, me dou conta que não sinto mais o comunicador que estava falando com a Olívia no meu ouvido. Além dos óculos e da balaclava, isso também havia sumido. Meu Deus! Ela provavelmente deve achar que eu já fui de arrasta pra cima. Preciso saber o que está acontecendo aqui.
Dick volta a me olhar e tenta se aproximar de novo.
— Você consegue se levantar? — Foi um sussurro tão baixo, mas consegui entendê-lo.
Como ele queria que eu me movimentasse se meus braços estavam presos atrás do meu corpo? Além de toda a fraqueza, parecia que eu tinha corrido uma meia maratona seguida de uma série de pernas e braços na academia, sendo de 2 horas cada. Balanço a cabeça para trás e mexo as minhas mãos algemadas, indicando que me levantar agora não seria a coisa mais fácil do mundo.
— Estão só encaixadas. — Ele explica em outro sussurro. — Eu as destravei há alguns minutos.
O vejo mexer as algemas em seu pulso e, no mesmo instante, as abre e balança a sua mão esquerda, mostrando como fazer para se soltar. No entanto, ele volta a travá-las e eu franzo as sobrancelhas, confusa e sem entender o porquê.
Ele percebe e inclina mais o corpo, dividindo a atenção entre mim e a porta ao fundo.
— Eu joguei uma escuta na porta. Estou ouvindo o que eles estão conversando.
Tento me movimentar, mas as minhas forças foram drenadas. Me limito a jogar apenas a cabeça um pouco mais para o seu lado.
— Então esse era o seu plano incrível? — Pergunto com um certo sarcasmo, porque no galpão ele havia dito para confiar no que ia fazer.
— Eu não estava contando com a parte do tranquilizante. Foi mal. — Ele me encara por debaixo da máscara e comprime os lábios.
A luz do ambiente era fraca, mas conseguia enxergar a sua expressão. E tinha uma certa pontada de... preocupação, talvez? O meu discernimento ainda não estava 100% e posso ter tido uma impressão errada.
Me pergunto mentalmente como deve estar a confusão em sua cabeça, agora sabendo que era eu quem estava disfarçada, invadindo o galpão da própria empresa – que ainda não é totalmente minha oficialmente, mas esse detalhe não ajuda em nada.
E, também, o que fui fazer lá não tinha nada a ver com os Harpias. Eu só queria pegar os dispositivos.
— Ouvi dizerem que os homens que ficaram no galpão conseguiram achar o HD.
Ah, claro. O HD que aqueles caras queriam encontrar.
— Era isso que você estava procurando? — Ele pergunta com uma certa curiosidade.
— Não. — Respondo rápido e sem pensar direito.
Eu não poderia dizer a ele "Fui buscar dois dispositivos que vão me ajudar a encontrar 37 códigos, que formam uma fórmula e que pode salvar o meu mundo de uma destruição em massa. Ah! Aliás, eu sou de outro universo."
Então, em vez disso, tento pensar em outra desculpa e digo:
— Quer dizer... Não só isso. Tem muita coisa lá do meu interesse, estou buscando respostas. — Mas a verdade era: eu não fazia ideia do que tinha naquele galpão e muito menos porque os homens da Harpia queriam aquele HD.
— Mas você não é dona da empresa? Por que estava disfarçada?
Acho que encontrei a minha primeira má impressão no Dick Grayson; ele faz muitas perguntas.
— Ainda não tenho acesso total e nem as chaves. — Lembro de um detalhe que ele pode ter esquecido com essa dúvida. Ele me perguntou como Asa Noturna e não como Dick Grayson. Vou pegá-lo no pulo do gato.
— Como você sabe que eu sou a nova dona da Troffle? Essa informação ainda não é pública.
Ele pareceu nem se abalar com a minha indagação e deu de ombros.
— Eu não trabalho com informações públicas.
Fui derrotada. Abro a boca para responder, mas no mesmo instante, a porta ao fundo também se abre. Três homens saem em nossa direção, sendo dois deles com a máscara da Harpia e o outro, é o mesmo sujeito de touca verde que estava no galpão da Troffle. Ele não aparentava ter mais de 30 anos.
— Temos muito o que conversar. — Disse o homem de touca se aproximando de nós. — Talvez, a melhor palavra seja negociar.
Ele se agacha para ficar de frente para mim e o Asa Noturna, e seus capangas o acompanham nos encarando de pé e posicionando suas armas bem a frente aos seus corpos.
— Eu tenho algo que é do interesse de vocês e vocês tem uma coisa que eu eu preciso muito.
Dick o encarava sem muita paciência com o cenho franzido e não o responde.
— Na verdade — o homem continua e olha diretamente para mim — não apenas uma, mas várias coisas. Principalmente de você, princesa.
Quis vomitar na sua cara quando disse essa última frase. Se eu tivesse com forças suficientes, certamente teria dado um chute nele.
— Sabe, eu meio que sou amarradão em milionárias. — Ele se aproxima mais de mim e segura o meu rosto com uma de suas mãos ásperas. — Agora, bilionárias são raras. Então, será que posso dizer que já estou apaixonado?
— Laroy, acho melhor você tirar as mãos dela. — Dick interveio. Sua voz era grave e ríspida, e pela sua expressão, parecia que iria lançar um raio laser no homem por detrás de sua máscara.
O tal Laroy dá uma risada cínica para Dick e apesar da ameaça, ele ainda segurava o meu rosto.
— Então você é do tipo ciumento? — Ele volta a me encarar. — Porque eu não sou. Acho melhor você rever o seu tipo de namorado, gata.
Por que esses caras insistem em dizer que somos namorados? Me pergunto quantas namoradas heroínas o Dick já teve e saia em patrulha juntos para associarem isso – não que eu me importe.
Laroy está perto o suficiente para que eu cuspa em sua cara. Ele faz uma careta e fecha os olhos. Finalmente solta o meu rosto e limpa o seu com a mão.
— E ainda é marrenta. Vamos nos dar muito bem mesmo.
Ele se levanta e pega algo no bolso interno de sua jaqueta. Vejo Dick mover a cabeça entre ele, os capangas e a porta ao fundo. Se ele estava calculando uma fuga, não sei se esse era o melhor momento, porque talvez nem em pé eu consiga ficar. A não ser que ele me abandone aqui com esses estrupícios.
— Agora vamos falar de negócios. — Laroy levanta um pen drive em sua mão direita. — Essa belezinha aqui tem os maiores nomes dos envolvidos com a Harpia. Mas vai custar caro — ele volta a me olhar e eu fecho o rosto — nada que você não consiga pagar, é claro.
Isso só pode ser uma armadilha, mas vamos ver aonde esse maluco quer chegar.
— Quanto você quer? — Pergunto sem paciência.
— Jenni, não. — Dick me repreende com uma expressão que quase suplica um "fique quieta".
Laroy anda de um lado para outro observando os dois capangas que ainda estavam parados em nossa frente. Ele para em um deles e puxa a máscara revelando o rosto de um homem de cabelos ralos, que aparentava ser mais velho que o próprio Laroy. Ele faz o mesmo com o segundo homem, joga ambas as máscaras no chão e pisa em cima. O "creck" do plástico sendo amassado soou um pouco abafado.
— Esses são um dos homens por trás das máscaras. — Laroy agora estava entre eles e os empurrava para mais perto de nós. — Acho importante darmos rostos a essas pessoas.
Os homens estavam imóveis e não transmitiam uma sequer expressão em seus rostos. Olhavam todo o tempo para frente.
— Essa máscara — ele pega uma das que ele acabou de quebrar no chão — tira toda a emoção. Eu quero que isso acabe. Eu quero que as pessoas nos conheçam. Eu quero que a cidade de Gotham veja os rostos dos seus salvadores.
Então ele está tentando aplicar um golpe na própria máfia? Qual o sentido?
— E como você pretende salvar essa cidade? — Questiono com sarcasmo. Preciso me acostumar quão dramáticos são os criminosos de Gotham.
— Com a ajuda de vocês. Por isso, vamos negociar.
Laroy guarda o pen drive de volta na jaqueta e se agacha em nossa direção novamente.
— Já tenho novos adeptos a minha filosofia — ele gesticula como se estivesse explicando algum assunto complexo — mas precisamos de um suporte técnico, digamos assim. Aquele HD do galpão não nos serve de nada. O manual dos protótipos é ultrapassado. Queremos uma tecnologia nova e fresquinha, coisa que a sua empresa tem de sobra.
— Hoje não é seu dia de sorte, Laroy. — Dick o interrompe. — Não negociamos com criminosos.
Ele solta mais uma risada fria e se aproxima mais do rosto do Dick.
— Você eu sei que não — Laroy olha para Dick, mas aponta o dedo para mim — mas ela vai.
— E por que eu faria isso?
— Porque se não, princesa, todos vão saber da verdade. — Ele se afasta um pouco mais de Dick e fica no nosso meio. — Veja bem, esse é o problema de andar mascarado por aí. Você se esconde da verdade, mas um dia, ela sempre chega.
Reviro os olhos sem paciência. Se ele quer divulgar para o mundo que eu estava mascarada invadindo a minha própria empresa, OK, vai em frente. Tenho um total de zero coisas a perder com isso. Conheço quase ninguém nessa cidade. E o meu maior e mais importante parceiro de negócios já está comigo e, bem, ele é o Batman quando não está trabalhando sendo um bilionário. Acho que nem preciso falar mais nada.
— Eu não me importo e acho que ninguém vai se importar em saber da minha identidade também. — Digo com desdém.
Laroy se esquiva um pouco e abre outro sorriso cínico.
— Ah, não, meu amor. — Ele solta mais uma risada. — Não estou falando de você. E sim do seu namoradinho detetive. Não é mesmo... Dick Grayson?!
Ai, merda.
Olho para Dick que está com o maxilar tensionado e a testa franzida de raiva. Ele não diz nada de imediato. Ouvimos apenas a risada irritante de Laroy.
— Percebe, Dick? Esse é o preço por se esconder atrás de máscaras. Você coloca em risco as pessoas à sua volta, os seus amigos, a sua família, a sua honrada fundação Haven...
Laroy não continua a falar, pois no mesmo segundo, Dick já havia voado em seu pescoço e o pressionado contra a parede.
O homem começa a tossir com dificuldades para respirar, mas parece tentar falar algo.
— E s-sempre... — ele balbucia — duvidaram de mim... quando descobri que você era o Asa Noturna. — Ele volta a tossir — Eu sabia... que estava certo.
Dick o pressiona com mais força na parede, mas percebo uma movimentação ao meu redor. Os dois homens – agora desmascarados – apontavam as suas armas para mim.
— Dick... — O chamo olhando para cima e vejo a expressão sombria dos criminosos. Nem me preocupo se ele vai achar suspeito eu o chamar pelo nome só pela acusação de Laroy. Não tenho tempo para isso.
Dick volta a atenção para mim e Laroy continua com a risada debochada.
— Acho... melhor você cooperar. — Laroy diz ainda sendo pressionado pelo braço dele. — Se não, diga adeus a sua amada.
Dick o derruba no chão com força e ouço grunhidos de dor. Os homens aproximam mais ainda as armas da minha cabeça. O vejo mexer no bolso de utilidades e se aproxima dos homens.
— Eu acho melhor vocês largarem essas armas. — Ele diz enquanto joga pequenos objetos, que deduzi serem metálicos pelo leve ruído que emitiram quando voaram pelo ar.
O primeiro atinge a fraca luz do local, deixando o ambiente predominantemente escuro. O segundo, supus ser em Laroy, pois o escutei gritar um palavrão. O terceiro no homem que estava a minha direita, que deixa a arma cair sobre a minha cabeça e vai parar no meu colo. E o quarto, no homem a minha esquerda, que presumi ir ao chão, pois me pareceu que Dick também lhe deu um soco.
Dick tira as algemas do meu pulso e envolve um de seus braços ao redor do meu corpo me ajudando a levantar. Eu ainda estava fraca do tranquilizante, mas preciso fazer um esforço para sairmos daqui.
Eu estava basicamente apoiada nele e demos apenas 3 passos em direção a porta, até percebermos movimentos de mais pessoas entrando no local.
— Harpias. — Dick sussurra para mim.
Eu não conseguia distinguir bem, pois o lugar estava bem escuro. Percebo Dick se movimentar, mas logo para.
— Eles não olharam para nós. — A voz de Dick soou um pouco surpresa.
E então, ouço um disparo. Dois. Três.
— Saiam daqui! — Esbraveja uma voz abafada por detrás de uma máscara.
— Não! Vocês não... — Dick tenta contestá-lo, mas como resposta mais disparos são dados. Mas nenhum era em nossa direção.
— Eu disse saiam daqui! — Grita o homem mais alto que da primeira vez.
O braço de Dick estava tenso e a mão que segurava a minha cintura agora estava com o punho cerrado.
— Porra. — Ele diz entre os dentes e percebo quão irritado está.
Mesmo a contragosto, retomamos os passos em direção a porta. Tento ir o mais rápido que consigo, mas todo o meu corpo ainda parece não responder direito. Meu cérebro começa a associar o que pode ter acabado de acontecer aqui e isso não me ajuda nem um pouco a ter forças para andar mais rápido.
Saímos do local onde estávamos e percebo que parecia ser os fundos de uma loja antiga. Não há nada no local, a não ser umas prateleiras enferrujadas que brilhavam com os fracos lampejos da luz que vinha da rua.
Sinto um cheiro forte, um cheiro que não estava no cômodo escuro que estávamos.
— Gasolina. — Dick diz por mim.
Até que eu paraliso. Provavelmente Laroy e aqueles outros dois homens, que foram desmascarados, estavam mortos. E os novos mascarados que entraram agora iam tacar fogo em tudo. Puta merda.
Sinto um calafrio pelo corpo e simplesmente não consigo me mover. Dick percebe e tenta me puxar para sair do lugar, mas estou parada, como uma pedra grudada no chão.
— Jenni! — Ele estava de frente para mim e acho que segurava os meus ombros, eu não tinha certeza. Parecia que ele estava em câmera lenta.
— Jenni! — Dick me chama mais uma vez. — Precisamos sair daqui. Rápido.
Sinto o seu braço me envolver mais uma vez. Ele coloca um dos meus braços ao redor de seus ombros e me puxa para saída. Não sei como, mas os meus pés começam a se movimentar novamente. No entanto, ainda me sinto paralisada. Eu estava em choque. Estava com medo.
— Merda! — Ouço Dick dizer em um tom de desespero e ele pega um pequeno objeto em seu bolso de utilidades.
Era um pequeno cilindro azul. Ele o aperta nas laterais e o objeto vira um bastão, assim como os que ele havia deixado no galpão da Troffle. Estávamos bem na porta de saída do local, em uma calçada de uma rua mal iluminada e suja. Mas em uma fração de segundos, já não estávamos mais lá.
Sinto um calor nas minhas costas, mas foi breve. Fechei os olhos em um instinto e me agarrei forte em volta de Dick. Percebo um vento frio e seco bater em meu rosto. Meus pés não estão no chão. Estávamos voando. Puta que pariu. Estamos voando.
Ouso abrir os olhos e estamos muito longe da rua. Atrás de nós, o brilho de uma chama forte de explosão predominava a visão. Era o local onde estávamos. E agora ardia em fogo.
O gancho do bastão de Dick nos puxa para uma ponte próxima e a medida em que nos aproximamos, mais longe das chamas ficamos. Vejo os carros passarem por baixo de nós até pousarmos em cima da ponte, literalmente e bem no alto.
Não sei se foi pelo frio, pela adrenalina, por ter escapado de uma quase morte – mais uma vez – ou pelo último acontecimento no galpão escuro que estávamos. Não sei por que aquilo me lembrou do atentado que tirou a vida dos meus pais. Dos próprios responsáveis se punirem logo após o ocorrido. Talvez seja a junção de todas as coisas. Mas sinto as minhas bochechas úmidas, os meus olhos tomados por lágrimas e o meu corpo desaba. Estou sentada de joelhos e com as mãos no rosto, tentando entender, tentando me acalmar, tentando conter as lágrimas ou simplesmente tentando. É o que tenho feito desde que cheguei aqui. E sigo tentando.
Dick se abaixa e pega as minhas mãos.
— Ei, tá tudo bem. — Ele segura nossas mãos com mais firmeza. Mesmo as deles, e as minhas, estando cobertas pelas luvas de nossos trajes, consigo sentir o cuidado em seu toque. — Jenni, olhe para mim. Vai ficar tudo bem.
Ele solta as nossas mãos por alguns segundos e tira a máscara de seus olhos.
— Você não tem nada a ver com o que aconteceu lá embaixo. — Ele se aproxima mais e tira uma mecha de cabelo do meu rosto.
Preciso respirar mais fundo quando vejo seus olhos azuis, que pareciam um oceano, me encarando com atenção e gentileza. Talvez fosse o afeto que eu precisava para me dizer que tudo ia ficar bem.
— Mas... — respiro fundo mais uma vez, na tentativa de finalizar a frase que estava presa na minha garganta, porém a minha voz falha um pouco. — É que só... Só saímos e deixamos eles lá. Podíamos ter chamado...
— A polícia? — Ele continua o meu raciocínio — Jenni, não tinha tempo. Eles já chegaram lá sabendo o que iam fazer. Foi um movimento encomendado.
Desisto de conter o meu nervosismo e deixo o restante das lágrimas saírem. Não tenho costume de chorar, a não ser em situações muito extremas. Acho que posso considerar esse caso uma situação extrema.
Quando menos percebo, um par de braços fortes me envolvem em um abraço. Eu apenas me rendo e passo os meus em volta do corpo de Dick. Talvez realmente seja a situação extrema, mas nos encaixamos perfeitamente em meio ao caos. Além de estarmos a sei lá quantos metros de altura em cima de uma ponte. O vento balança os nossos cabelos, mas o frio vai embora do meu corpo. E o medo que senti minutos atrás parece se dissipar pouco a pouco.
E por alguns instantes, me sinto estranhamente segura.
AVISOS DA SEMANA 🦋
Primeiramente, não são mais estranhos, né kkkkkkk.
E segundo: estava organizando os próximos capítulos e pensei em deixar a postagem sempre aos domingos. Fica mais fácil pra mim porque é quando tenho mais tempo de revisar tuuuuudo hehe.
Pode ser que em semanas que tenha feriado, eu acabe liberando mais de um, mas se não, já vou deixar avisado que todo domingo sai capítulo novo. :)
É isso e uma boa semaninha pra nós <3
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