15. Estranhos - Parte 2
19h39
31 de outubro
Gotham City – Galpão da Troffle
DICK GRAYSON
A noite estava fria e nublada. Pouco a pouco o outono vai se intensificando para dar lugar ao inverno repleto de nevascas. Gotham combina com o clima gélido e cinzento. Está nas veias dessa cidade.
Assim como criminosos que insistem em voltar a aterrorizar as pessoas.
Hoje é Halloween, mas não tem nada de fantasioso nisso.
Desde o aparecimento dos Harpias na Fundação Wayne, 3 dias atrás, eles vêm deixando pequenos rastros por Gotham. É como se estivessem agindo com precaução. É como se cada passo fosse calculado para algo muito maior que está por vir. E o problema, é que eu ainda não tenho dimensão do quão grande esse plano pode ser. Por isso, tenho agido com uma cautela maior que o de costume.
Descobri onde o maior ajudante de Jordin estava escondido. Ele foi solto da prisão junto com os outros dois cabeças da Harpia aqui em Gotham. O nome do sujeito é Ode Ward e ele vem se encontrando com novos membros da gangue com frequência em um bar no subúrbio do Rio Leste.
E foi daí que consegui a pista de que alguns membros da gangue seriam enviados para buscar documentos de antigos protótipos de armamentos em um galpão da Troffle. O intuito era conseguir os manuais e replicá-los em grande escala para toda a gangue. Eu não perdi tempo e consegui rastreá-los.
Invadi o sistema de câmeras de segurança para que a gravação do local fosse enviada diretamente para a minha nuvem de armazenamento, e me servisse como futuras provas.
Os segui até o galpão, mas me escondi em uma entrada pelo telhado e lá fiquei para observar o que exatamente eles iriam pegar no local.
Eles tentaram ligar a iluminação do lugar, porém houve um curto-circuito. O que por mim, tudo bem, pois estava com minhas lentes noturnas. Mas não sei se eles iriam conseguir achar tão fácil o que queriam.
— Me passa a lanterna. — Um deles pede o objeto sem muita paciência, ainda mexendo na caixa de energia.
— Acho que a luz já era, cara. Vamos logo revirar essas caixas e vazar daqui.
Noto que um dos homens ficou encarregado de vigiar a entrada enquanto outros 2 tentavam concertar a luz.
— Porra! Não vamos achar merda de HD nenhum assim, olha o tamanho desse lugar.
Então os documentos que eles procuravam estavam em um HD.
Esse último era Ode Ward. O reconheci por sua voz, pois todos os 3 estavam encapuzados. Ele quem estava tramando o plano dessa noite no bar quando o escutei disfarçadamente.
— O Jordin já tá perdendo a paciência, precisamos ir rápido. O velhote não sai da cola dele. — Ode começa a revirar uma das caixas ao seu lado.
— Qual é a desse cara? — O segundo homem questiona ainda tentando conectar a fiação queimada da energia.
— Eu sei lá. — Ele chuta a caixa ao perceber que não tem o que procura. — O Jordin disse que o coroa tá desesperado. Que a garota que comprou a empresa pode foder com tudo.
Eles estavam falando da Jenni. Então ela realmente não está agindo com eles.
— Não seria mais fácil só tirar ela de circulação? É só uma riquinha mimada.
Percebo que meu maxilar estava tensionado ao ouvir a sugestão do segundo homem. Jenni está sob a minha mira de investigação, mas agora me dou conta de que ela também está correndo perigo. Talvez eu tenha que mudar um pouco a minha abordagem.
— Uma riquinha mimada que se meteu com o Bruce Wayne. — Ode revira mais uma caixa e novamente sem sucesso.
— Esse cara é um otário. — O outro homem começa a mexer nas caixas também.
— É tão otário que ninguém conseguiu matá-lo ainda. — Ode avança para as caixas mais ao fundo do galpão. — É só o homem mais rico da cidade, seu imbecil.
Ouço o barulho de uma delas indo ao chão, era de um empilhado que estava próximo aos dois, mas que não foi derrubada por nenhum deles.
— Que porra foi essa? — Ode grita com o companheiro que estava vasculhando aos redores em busca de um invasor.
O homem que estava na entrada saca a arma de seu bolso e começa a andar lentamente na direção da caixa caída.
— Eu não sei. — O cara que chamou o Bruce de otário também saca uma arma. — Quem quer que seja, vai morrer agora.
Percorro meus olhos pelo local, já que eu estava com uma visão de cima e conseguia ver o ambiente quase que por completo. A pessoa que estava se escondendo, provavelmente estava debaixo de um grande empilhado, pois não...
Opa. Ali está. Um vulto preto se movimenta de um lado para o outro de forma rápida. Pisco três vezes consecutivamente e ativo o zoom das minhas lentes. Sou pego de surpresa, pois reconheço o traje assim que a visão se aproxima. É a mulher do incêndio da NanoFuture e que me ajudou a resgatar aqueles civis. O que ela estava fazendo aqui?
O parceiro de Ode estava próximo demais a ela e, não sei se era a estratégia atrair a sua atenção, mas foi o que conseguiu. O homem avança em sua direção e envolve o seu pescoço com um braço. E na sua mão esquerda, aponta a arma na cabeça dela que estava coberta pela balaclava, assim como naquele dia.
Percebo que Ode e o terceiro homem seguem rapidamente onde os dois estavam. E essa era a minha deixa. Chega de observar. Eu precisava agir.
— Quem te mandou aqui? Fala logo, porra! — O homem apertava mais ainda o seu pescoço entre o braço.
Não sei qual a índole dessa mulher, mas se ela esteve disposta a salvar inocentes em um prédio em chamas, algo bom poderia ter. Eu não a deixaria lutar sozinha contra esses imbecis.
Dou um salto na direção de Ode, lhe lançando um dos meus bastões que o atinge precisamente no braço direito e a arma em sua mão cai no chão. Ele a tenta pegar, mas fui mais rápido apoiando uma das mãos no chão enquanto os meus pés se encarregavam em derrubá-lo.
Pego a arma dele e a seguro. O terceiro homem que estava de vigia, vem correndo em minha direção. Eu desvio rapidamente com um salto para trás.
— Você vai se foder hoje, Asa Noturna! — Ele grita apontando a arma para mim e dá o primeiro disparo.
Erro de mira. Estava escuro, mas não escuro o suficiente para mim.
Corro em sua direção e ele solta mais um disparo que foi desviado com sucesso. Me agacho mais próximo ao chão para ganhar impulso no movimento e pulo para frente, acertando a sua cabeça com a parte de trás da arma de Ode, que estava em minha mão.
O homem cai no chão com o impacto e piso em seu braço esquerdo para desarmá-lo.
Percebo que Ode se recuperou do golpe e se atira em cima de mim, jogando todo o peso de seu corpo em minhas costas. Ele tenta pegar as armas em minhas mãos, mas envolto os meus braços em seu pescoço. Ainda estou no chão de bruços, então o puxo para mais perto para desequilibrá-lo e rolo para o lado.
Meu campo de visão foi parar na mulher de preto que empurrava o homem que a atacava na parede e o golpeava com os braços na tentativa de se desvencilhar. Ele usa o outro braço para conter os movimentos dela, mas a mulher usa os ataques a seu favor e puxa rapidamente o braço livre do homem, que solta um grito de dor, pois ela o havia torcido para o lado contrário e conseguido sair.
Ao meu lado, Ode grunhe de raiva e volta a correr em minha direção. No entanto, eu subo em duas caixas próximas e utilizo das minhas acrobacias para acertá-lo no meio de um salto, enquanto ativo o modo elétrico dos meus bastões e os jogo na direção do outro homem para mantê-lo parado no chão.
Quando volto a minha atenção para a mulher, ela estava em cima do homem, que agora estava de bruços a xingando de todos os palavrões possíveis em meio a outros gritos de dor. Ela amarra os seus braços com uma corda e, pela forma como as mãos ficaram juntas, era possível ver que um dos braços do homem estava mesmo deslocado.
Ela sabia o que estava fazendo.
— 345! Me escutem! 345! — Franzo a testa ao ouvir a voz de Ode gritar números aleatórios.
Ele rolava no chão com a mão na cabeça e tentava se levantar, mas não conseguia. Pego os meus bastões e vou em sua direção. Aponto para o seu pescoço, e a pequena luz da eletricidade na ponta faz reluzir o seu olhar raivoso. Tiro o pano que cobria parte de seu rosto e me aproximo mais para intimidá-lo.
— Pode começar a falar.
Ele solta uma risada nervosa e cospe no chão. Sua boca estava sangrando.
— Se você acha que eu vou te falar alguma coisa, está muito enganado.
Abro a boca para contestá-lo, mas sou interrompido pela mulher de preto que surge ao nosso lado e aponta uma arma em direção a cabeça de Ode.
— Então eu acho melhor você começar a me falar. — Ela se aproxima mais e se agacha para ficar mais próxima de seu rosto.
Ele solta uma outra risada, ainda mais cínica e fria que a primeira.
— Pelo menos a sua namorada é mais corajosa que você e me apontou uma arma.
Pressiono o bastão elétrico em seu peito e ele grita.
— Te garanto que você vai preferir a arma.
— Três... — Ode balbucia entre os grunhidos — Quatro...
— Que merda é essa? — A mulher se vira em minha direção e eu dou de ombros.
Os criminosos dessa cidade são loucos por natureza. Muitas coisas simplesmente só não faziam sentido, às vezes.
— Cinco.
Mas para a minha infelicidade, esse não era o caso.
O portão do galpão se abre escancaradamente em um rugido alto e 5, 10, 15, 20 homens armados entraram de uma só vez. Todos eles com as clássicas máscaras de harpia.
— Talvez isso responda a sua pergunta. — Me endireito próximo a mulher que também faz o mesmo, e noto que nos aproximamos involuntariamente, pois de repente, estávamos cercados.
Mais mascarados entravam pelo portão. Parecia um formigueiro.
— Merda. — Ouço a sua voz abafada pela balaclava.
Nossas costas se encontraram e meu olhar percorria todo o nosso redor. Eram muitos. Não íamos conseguir.
— Eu não te conheço — começo a falar a ideia que surge na minha cabeça — e você também não me conhece. Mas vamos ter que nos ajudar para sair daqui.
A vejo assentir e então eu continuo, mas em um tom bem mais baixo, inclinando brevemente a cabeça para trás para que só ela escute:
— Eu tenho um plano. Você confia em mim?
— E eu tenho escolha? — Ela sussurra de volta — Minha mãe sempre dizia para nunca confiar em estranhos, mas...
— A minha também. — Aproximo mais os nossos corpos. — Solte a arma e me dê a sua mão.
Ela parece hesitar por um segundo, mas o faz. Pego a sua mão direita e começo a levantar os braços. Balanço a cabeça para que ela faça o mesmo. Solto os bastões que estavam na minha outra mão.
— Nós nos rendemos. O que vocês querem? — Digo, por fim. Todos eles apontavam as armas para nós.
Um breve silêncio toma conta do lugar. A mão da mulher segura a minha com força. A tensão pairava pelo ar até que ouvimos palmas distantes ecoarem pelo ambiente.
O enfileirado de mascarados começa a abrir espaço e um homem mediano de touca verde e jaqueta de couro surge com um sorriso sarcástico no rosto.
— Muito bem. Achei que seria bem mais difícil.
Laroy Vince. O último integrante das cabeças da Harpia. Os líderes são eles, Jordin o fundador, Flin – o seu braço direito, e o Laroy. Esse que está bem aqui na nossa frente.
— Os meus sócios vão gostar dessa notícia. — Ele faz um gesto para que dois homens se aproximem de nós. — Temos muito o que conversar... Asa Noturna.
Vejo um mascarado pegar a mulher pelos braços e algemá-la. Enquanto outro injeta uma seringa em seu pescoço. E antes mesmo que eu pudesse reagir, já tinham feito o mesmo em mim.
A sensação era familiar. Sinto meus músculos perderem força, a visão começa a escurecer, a respiração fica inconsistente. Já me deram muitos tranquilizantes durante a minha vida vigilante. É um truque velho e clássico, mas sempre funciona.
Antes da minha consciência oscilar, levo minhas duas mãos, agora algemadas, até a gola do meu traje e pressiono forte próximo ao ombro esquerdo para que libere um antídoto que tenho escondido bem ali.
Os homens logo me puxam pelos braços, pois minhas pernas começam a falhar. Pressiono os olhos com força e o ambiente todo já me aparece em apenas um borrão. As vozes soam abafadas ao meu redor, mas poderia jurar que escutei as palavras "Batman" e "recompensa".
Meus olhos param de me obedecer e se fecham como se pesassem uma tonelada. Mas algum ponto da minha mente ainda me mantém acordado, mesmo que superficialmente.
Talvez esse seja um dos tranquilizantes mais fortes que já levei, pois também perco o meu tato. Me sinto entre um desmaio e o momento em que se volta dele. Uma ida e volta constante para recuperar a consciência.
Não sei quantos minutos se passaram, até finalmente eu sentir pontadas na cabeça. Dedos percorriam o meu rosto. Estavam tentando tirar a minha máscara. Mas não iam conseguir, só levariam choques suficientes a ponto das mãos ficarem insuportavelmente irritadas e desistirem.
Minha audição estava voltando aos poucos, mas a minha visão ainda estava escura. Talvez o antídoto estivesse finalmente fazendo efeito.
— ...inferno. Essa merda não sai! — Tinha uma voz próxima demais ao meu ouvido.
Sinto meu corpo balançar e percebo que estou em movimento. E sentado.
— Tudo bem, tudo bem... — Era a voz de Laroy. — Acho que não vai ser necessário. Tentem a dela.
Estávamos em algum um veículo.
Pressiono forte meus olhos na tentativa de fazer a minha visão ficar clara.
Ainda um borrão.
— Shhh, shh. Hora do descanso, passarinho azul. — Laroy tinha uma voz impressionantemente irritante.
Tento mover os meus braços, mas as minhas mãos estão atadas. Respiro fundo e tento concentrar as minhas forças. E pouco a pouco, meu tato volta à vida. Meus ouvidos ouvem o ruído do veículo se movendo pelas ruas com mais clareza. Abro os olhos mais uma vez e a minha visão está menos turva.
Consigo distinguir que estamos em um carro-forte. Ao meu lado tem um homem armado olhando atentamente para frente. Laroy estava observando o homem que tentava tirar a balaclava da mulher, que ainda estava desacordada e de frente para mim. Ela já estava sem os óculos escuros. O olhar de Laroy era curioso, como se estivesse prestes a desvendar um segredo.
Faço um cálculo rápido de movimentos e acredito que conseguiria dar uma surra nos 3, pegar a mulher pelos ombros e fugir daqui. Mas quando penso em movimentar a perna, ela não responde de imediato, ainda sem forças suficientes.
Comprimo meus olhos mais uma vez, como se isso fosse ajudar o meu corpo a acordar totalmente. Mas ao menos precisava enxergar melhor o ambiente e pensar numa fuga.
Quando os abro, o homem já estava puxando a balaclava da mulher e seus cabelos escuros caíam sobre o rosto adormecido. Até que Laroy se aproxima mais e puxa a cabeça dela para cima para ver o seu rosto.
— Isso é muito melhor do que eu imaginava. — Ele diz sorrindo para mim.
Era como se o antídoto precisasse de apenas um choque para fazer efeito total e o calor voltar para o meu corpo. Pisco apenas uma vez para ter certeza do que estou vendo.
A mulher de preto é a Jenni Reed.
NOTINHAS
Só para avisar que a terceira e última parte dessa tour sai até o final da semana. Hhehehe.
E que depois disso, é só dedo no cy e gritaria 😇 kkkkkkkk
Beijinhos e boa semana. 💙
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