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13. Me Conte O Seu Segredo

22h38
28 de outubro
Gotham City

DICK GRAYSON

— Jenni?

Era a terceira vez que eu a chamava, mas ela estava imóvel. Os olhos vidrados na direção do elevador. Levo as minhas mãos em seus ombros na tentativa de trazê-la de volta à realidade.

— Dick... ãhn.... me desculpe. Eu... — Ela estava pálida, como se sua pressão tivesse baixado.

— O que foi que você viu? Está se sentindo mal? — A interrompo antes mesmo de continuar a frase, porque realmente achei que ela fosse desmaiar.

Ela passa as mãos pelo rosto e respira fundo.

— Achei que tinha visto alguém que eu conhecia — encara o elevador mais uma vez e eu sigo o seu olhar — mas devo ter me enganado. Minha cabeça está explodindo de dor, preciso ir embora.

Havia apenas dois policiais no local que atraiu a atenção de Jenni. A maioria dos convidados já tinham sido liberados.

— Olha só quem está de volta. — Uma voz familiar surge atrás de mim. Tenente Harrison, um dos maiores ajudantes do comissário Gordon. — Detetive Grayson. Achei que a sua volta aos departamentos policiais fosse só um boato.

— Ainda não é nada oficial. — O respondo enquanto ele se aproxima mais de mim e de Jenni.

E de fato, não era. Decidi hoje mesmo em dar entrada no caso da Harpia para intensificar as minhas investigações por dentro da polícia, assim como fiz anos atrás quando eles instalaram um caos nas cidades.

Só que, dessa vez, pretendo colaborar com o departamento policial de Gotham também, não apenas o de Blüdhaven. Eu assumiria apenas esse caso. Assim que fosse resolvido, largaria o posto mais uma vez. Tenho outros planos para o futuro de Blüdhaven e para Haven, a Fundação Alfred Pennyworth. E ser um detetive policial a longo prazo, não está neles.

Nenhum dos cabeças da Harpia estavam presentes aqui hoje, eram todos capangas. Pareciam despreparados para o nível da gangue, pelo menos a maioria. O que é, no mínimo, estranho. Tanto que não foi necessário nem eu e nem o Bruce agirmos disfarçados, porque só com a invisibilidade da fumaça, foi possível distraí-los o suficiente e derrubá-los enquanto a polícia chegava. Agora ele estava se fingindo de vítima para os policiais. É o maior ator dessa cidade. A Selina também deu uma boa ajudada. Ela seria uma excelente vigilante, se quisesse. Mas a Selina é a Selina.

— De todo modo, lhe dou as boas-vindas. Mais uma vez. — Ele diz dando tapinhas no meu ombro. — Preciso do depoimento de vocês. Ainda lembra, né, Grayson? Um flagrante com feridos, invasão armada a propriedade privada, tentativa de reféns... Vou precisar do depoimento.

— Precisa ser agora? — Jenni pergunta com os olhos pesados. Estava nítido que ela precisava sair daqui.

O tenente Harrison abre a boca para responder, mas eu fui mais rápido.

— Não. Eu dei entrada nesse caso. Podemos fazer isso depois.

Ela assente passando a mão em seu rosto mais uma vez. O sangue do sujeito que a atacou já começou a secar e percebo que ela tenta limpar a mão e o tórax, porém sem sucesso.

— Na verdade, eu preciso dos depoimentos com urgência. — Retruca Harrison. — Essa facção é uma das mais perigosas da região, vamos ter que agir rápido, antes que eles se dissipem de novo.

Tento contestá-lo, mas ele aumenta o tom de voz.

— Eu sei que esse caso já é praticamente seu, Grayson — ele limpa os óculos na manga do uniforme e volta a colocá-los no rosto — mas eu estou no comando dessa operação. E preciso dos depoimentos em 24 horas. Podem ir à delegacia ou você me envia as gravações, tanto faz. Mas isso tem que estar nas minhas mãos até amanhã.

Jenni estava com o cenho franzido, mas assente para a informação do tenente.

— Desculpe, hum... tenente — ela estreia os olhos no uniforme dele, tentando ler seu nome — Harrison. Tenente Harrison. Me desculpe, mas eu preciso ir embora. Não estou me sentindo muito bem. Fui atacada por um maluco mascarado, estou suja de um sangue que não é meu, mas juro que foi por legítima defesa, eu não queria machucar ninguém. Ele tinha uma arma apontada no meu pescoço, tentou me enforcar diversas vezes. Prometo fazer um depoimento completo amanhã, porque eu realmente não tinha intenção de ferir ninguém e...

— Ei! Tá tudo bem. — Toco em seu ombro novamente, pois ela voltou a ficar pálida. — Eu te levo até a sua casa e amanhã faremos o depoimento. Não se preocupe com isso agora.

O tenente nos lança um olhar confuso e balança a cabeça negativamente.

— 24 horas. Até amanhã, Grayson. Senhorita. — Ele diz enquanto se afasta de nós.

Aproveito a deixa dele e pego um guardanapo na mesa ao lado. Avisto uma garrafa de água e a pego também. Entrego à Jenni que ainda estava tentando se livrar do sangue manchado em seu corpo.

— Você não precisa me levar em casa, eu moro bem perto daqui. — Ela começa a passar o guardanapo no braço.

— Mas eu faço questão. Se você não se importar, claro. — Olho para os seus pés, que estavam descalços. Seja lá o que ela tenha feito com os saltos para atacar aquele homem, parece ter dado certo. — Você iria andando? Ou o que um taxista diria de uma pessoa ensanguentada entrando no carro?

Ela respira fundo e concorda com a cabeça. Eu realmente não a deixaria ir embora sem o mínimo de segurança. Depois do que aconteceu hoje, estava claro que ela não tem ligação com Martin e a nossa suspeita do envolvimento dele com a Harpia. Mas ainda assim, era muito questionável ela querer ser dona da empresa que possivelmente financiou a volta da gangue. Talvez Jenni realmente esteja buscando as mesmas respostas que nós. De todo modo, preciso fazê-la confiar em mim para conseguir explicações mais claras.

— Vou ao banheiro. Já volto. — Ela se afasta levando consigo o guardanapo e a água.

Enquanto espero ela retornar, pego o celular e vejo que tem uma mensagem de Wally.

Quando os homens atacaram, pedi a ele que fizesse uma vistoria rápida em Haven e nos arredores. Meses atrás, recebi um bilhete de Jordin, o líder da gangue, assinando o meu nome civil. Todos sabem que eu fundei o espaço de Haven. E a minha maior apreensão no momento é que eles façam algo com as pessoas que vivem lá para me chantagear. Mesmo ele não estando presente no ataque de hoje, querendo ou não, foi um retorno oficial desses imbecis.

Eu iria precisar da ajuda de Wally e também de quem mais pudesse vigiar o espaço enquanto eu precisasse estar fora. Pelo menos até tudo isso acabar. E vai acabar.

Ele responde na mesma velocidade em que deve ter feito a vistoria na cidade.

— Pronto. Acho que me livrei de boa parte do sangue criminoso. — Jenni diz voltando em minha direção enquanto guardo o celular no bolso.

Ela tinha um corte na bochecha que antes não estava tão aparente devido as manchas do sangue alheio. Suas expressões entregavam quão cansada ela deveria estar. Jenni me disse que sabia se defender e ela realmente soube. O pouco que a vi se desvencilhar do homem que a atacava, mostrou técnicas que se aprendem com treinamento. Ela não parece fazer isso com frequência, mas sabe fazer.

— Então, detetive Grayson... — Ela aperta o botão do elevador para sairmos.

— Acho que isso responde a pergunta que você me fez antes.

Entramos no elevador e pressiono o botão do subsolo para o estacionamento.

— Quem são esses caras?

— É uma gangue chamada Harpia. Eles estavam presos, mas alguém financiou a volta deles.

— Martin?

— É o nosso maior suspeito.

— E o plano incrível deles é ir atrás de ricos em um jantar de gala?

— E depois extorqui-los para levar o crime generalizado pela cidade. Eles já fizeram isso antes.

Jenni fica em silêncio por alguns segundos encarando os próprios pés descalços. Não demora muito até chegarmos ao estacionamento e a guio em direção ao meu carro.

— Moro na Rua Rockslide, número 204. Acho que não são nem 10 minutos daqui.

— Sim, eu sei onde é. — Coloco o cinto de segurança e ligo o carro.

Ela mora no bairro de Neville, uma vizinhança moderna aqui perto da Fundação Wayne. Essa região já foi bem mais diversificada, mas nos últimos anos, as famílias ricas de Gotham se apossaram do lugar, o transformando em um bairro de classe alta.

Ficamos calados por alguns minutos enquanto avançávamos pelas ruas. Não queria perguntá-la agora sobre a luta com o homem mascarado. Eu já teria que fazer isso quando fosse pegar o seu depoimento. Jenni estava com a cabeça virada para a janela, olhando fixamente para as ruas. Acho que ela não estava querendo uma conversa, então me abstive de falar qualquer coisa.

Quando chegamos na frente do seu prédio, ela estava com o guardanapo em sua bochecha machucada.

— Posso ver? — Me aproximo um pouco mais.

Ela tira o pano que estava pressionando sobre o corte e me olha nos olhos.

Eu não queria que esse pensamento tivesse aparecido na minha cabeça bem agora. Não depois do que acabou de acontecer e que ela provavelmente ainda estava assustada. Mas não consegui evitar de pensar em como ela é bonita.

A verdade é que eu estava ignorando esse pensamento a noite toda, desde quando a vi na festa.

Não que isso tenha algum efeito sobre mim, eu mal a conheço. Mas não posso negar que ela é uma mulher atraente, mesmo estando sob a minha mira de investigação.

Tiro delicadamente esse pensamento da minha cabeça, junto com uma mecha de seu cabelo que estava próximo ao corte. Não era tão grave e provavelmente nem deixaria uma cicatriz aparente.

— Você vai sobreviver. — Lhe dou um pequeno sorriso pegando um curativo no porta-luvas e entrego a ela.

— Bom saber. — Ela tira o cinto de segurança. — Obrigada, Dick. Pela carona e... pela preocupação.

— Amanhã a gente fala sobre o depoimento. Você não precisa ir à delegacia, se não quiser. Eu posso gravá-lo e entregar aos oficiais.

Ela estende a mão em minha direção e eu franzo a testa sem entender.

— O seu celular. — Vejo seus lábios se curvarem de leve, como se estivessem contendo um pequeno sorriso. — Como vamos nos falar se você não tem o meu número?

Ah. É claro. Eu provavelmente encontraria o contato dela de outra forma, mas assim seria mais normal mesmo. Entrego o aparelho a ela, que anota rapidamente o seu número e me devolve no mesmo minuto. Abro o seu contato e envio um "Oi" para que ela possa salvar o meu.

— Me ligue se precisar de qualquer coisa. E tente descansar. — Digo enquanto ela abre a porta do carro para sair.

— Claro. Obrigada mais uma vez, Dick.

Assinto com um sorriso fechado e a observo entrar no prédio.

23h58
Blüdhaven

Assim que chego em casa, vejo Wally deitado no sofá jogando Mario Kart.

— Você demorou demais. E esse seu catálogo de jogos precisa de uma atualização.

— Ando sem tempo pra isso. — Tiro o blazer e coloco em cima de uma cadeira.

— Antes que você reclame — ele se senta e pausa o jogo — na sua meia hora, que virou uma, eu já fui e voltei de diversas rondas por Haven e pela cidade. E pedi pizza — Wally aponta para o empilhado de caixas na bancada da cozinha — quatro, na verdade. Mas deixei uma pra você. E lavei a sua louça.

Balanço a cabeça negativamente enquanto um riso escapa pelo meu nariz. Me sento ao seu lado no sofá apoiando os pés na mesa à frente.

— Peguei um trânsito em Gotham, tive que dar carona para uma pessoa.

Não era mentira. Eu realmente peguei um trânsito saindo do bairro de Jenni.

— Uma pessoa? — Ele arqueia uma das sobrancelhas.

— Uma conhecida. — Dou de ombros.

Acho que não cheguei a mencionar sobre a Jenni para ele. Contei apenas sobre a investigação que estava fazendo do retorno da Harpia. Disse a ele que me aguardasse aqui justamente para explicar mais sobre o caso e pedir a sua ajuda.

— Você está saindo com alguém e não me contou? — Ele leva a mão até o peito fazendo uma pose dramática. Como é idiota.

Reviro os olhos e o respondo:

— Não, eu não estou saindo com ninguém.

— Ah! Ufa, que bom! — Ele me interrompe antes mesmo de eu começar a explicar. — Porque o seu apartamento está uma zona, cara. Seja lá quem fosse, iria embora antes mesmo de passar pela porta.

Não consigo conter o riso e nem Wally que já estava gargalhando. Até que ele para e volta a me encarar no aguardo de uma resposta mais completa.

— Tem uma garota que recebeu uma herança da família. Bilhões de dólares. — Cruzo os braços e começo a explicar. — E ela comprou a empresa que era a maior fornecedora da Wayne Tech. Só que essa empresa faliu há quase um mês por desvio de dinheiro. Bruce e eu ainda estamos reunindo as evidências, mas essa grana foi possivelmente parar nas mãos da Harpia.

— E você deu carona para essa garota? — Agora as suas duas sobrancelhas estavam erguidas.

— Acredito que ela não tenha envolvimento com eles. Ela entregou documentos bem relevantes para o Bruce. Além de ter deixado claro que comprou a empresa porque está atrás de respostas sobre a família. O avô a fundou, mas depois vendeu para os antigos donos. Mas é aí que está o problema. Aparentemente, a família dela não deixou de colaborar com eles mesmo após a venda.

— Certo... — Wally semicerra os olhos como se estivesse calculando as informações. — Você acredita que ela não esteja envolvida, mas...

— Mas eu preciso investigá-la e ter certeza disso. Além do fato de ela ter acesso a documentos que podem nos ajudar a achar a fonte do problema.

Ele assente e volta a atenção para a tela do jogo, mas ainda continua pausado.

— Você deu entrada no caso como detetive da polícia?

— Sim. — Respondo também encarando a TV. — Por isso vou precisar da sua ajuda. Eu deveria passar mais tempo aqui em Blüdhaven, eu assumi um compromisso com essa cidade. Mas a raiz do problema, que também pode nos afetar aqui, e com certeza vai, está em Gotham.

— E eles também vão agir aqui. — Ele volta a me olhar — E tem Haven.

— Sim. Eu preciso me certificar de que aquele espaço esteja seguro. E, também, tem os problemas diários dessa cidade. Vou ficar meio dividido entre lá e cá, mas não com toda a atenção que gostaria aqui.

Wally aperta o meu ombro e faz que sim com a cabeça em um sorriso fechado.

— Você nem precisava pedir.

— É claro que eu precisava. Você tem a sua vida, a sua cidade, os Titãs e a Liga.

— Mas nenhum deles é o meu melhor amigo.

Abro um sorriso sincero, pois eu nem sei como agradecê-lo por sempre estar presente quando preciso.

Pego o outro controle e retomo o jogo mudando para dois jogadores.

— E eu achando que você finalmente estava saindo com alguém. — Wally me alfineta enquanto escolhe o carro do Yoshi, seu personagem.

Apenas ignoro o seu comentário escolhendo a minha combinação para o Mario.

— Agora falando sério, Dick. — Para minha infelicidade, ele não ia desistir do assunto. — Faz quanto tempo que você e a Barbara terminaram?

E lá vamos nós.

— A gente não rotulava as coisas, então não tínhamos nada para terminar.

O vejo balançar a cabeça de relance e ele solta um suspiro. Babs e eu "terminamos" há uns 4 meses, mas foi algo totalmente em consenso pelo simples fato de que não ia dar certo. Nós tentamos, mas não era pra ser. E isso não faz eu gostar menos dela, muito pelo contrário. Ela sempre será uma das pessoas mais importantes para mim.

— Não estou querendo ser aquele tipo de amigo chato...

— Mas já sendo.

Termino de fazer as minhas combinações no jogo e olho para Wally que ainda estava indeciso com alguns acessórios.

— Ah, qual é. Você é um cara legal, inteligente e tem um projeto incrível aqui em Blüdhaven. — Ele finalmente escolhe os itens e volta a me olhar, claramente segurando uma risada. — Um herói com e sem máscara.

— Eu estou solteiro por escolha minha, Wally. Eu só não... espere aí. Você nunca me elogia sem querer algo em troca. — Semicerro os olhos esperando que ele solte a informação. — O que você quer?

Ele coça a testa e se ajeita de uma maneira nervosa no sofá. Até que solta um outro suspiro e me olha.

— Vou pedir a Linda em casamento.

— Caralho! — Deixo escapar em voz alta com um sorriso. Isso sim era impressionante. — Wally isso é incrível! Quando?

Ele ainda parecia nervoso, como se não tivesse falado tudo o que precisava.

— Vou fazer o pedido essa semana. E eu... eu quero que você seja o padrinho.

Mais uma vez: caralho! O meu melhor amigo vai se casar! E eu vou ser um padrinho.

— Mas é claro que sim! Porra! Sim, Wally!

O abraço forte porque ele merece toda a felicidade do mundo. E não era nenhuma grande novidade que esse dia chegaria. Ele e Linda estão juntos há mais de 3 anos e eu nunca o vi tão feliz como é com ela.

Wally é apenas 2 anos mais velho que eu. Então, foi natural vivermos muita coisa juntos, desde problemas adolescentes até enfrentar inimigos mortais. Vimos um ao outro passar pelos maiores medos e, também, os melhores momentos. Conhecemos os primeiros amores e corações partidos de cada um. Passamos por situações de quase morte algumas – várias – vezes. E o mais importante, sempre salvamos um ao outro. Não importa como. Ele é o responsável por tornar boa parte da minha vida mais leve. Porque é isso que ele faz com todos que o cercam.

Eu tenho os meus outros irmãos pelo Bruce, mas ouso dizer que o Wally é o meu maior irmão de todos. Então, sim, eu estou feliz demais em fazer parte desse momento tão importante em sua vida.

— Tá preparado pra perder? — Pego o controle novamente iniciando a corrida sem que ele perceba e ganho vantagem.

— Vai se foder, Dick.

✩✧✦

10h39
29 de outubro
Gotham City

— Obrigada. É esse mesmo. — Jenni agradece a atendente do Art Coffee que lhe entrega a bebida que pediu.

Marquei de encontrá-la aqui por sua própria sugestão e fiquei aliviado de ela não preferir ir à delegacia para depor. Eu também gostaria que fosse em outro lugar, porque tenho intenções de perguntar outras coisas que a polícia não precisa saber. Pelo menos, não agora.

Estávamos em uma mesa no fundo da cafeteria, um pouco mais isolada do restante das pessoas. Além de já ter passado do horário que geralmente fica cheio.

— Hummm. Se as nuvens do céu tivessem um sabor, seria esse. É maravilhoso. — Ela diz tomando um gole.

— Isso aí quase nem tem café. É só espuma de leite com açúcar.

— E tem coisa melhor?

— Café de verdade. — Levanto o meu copo.

Eu já estava no segundo. Cheguei um pouco antes que ela. E eu iria precisar de outro, porque depois que Wally foi embora, resolvi fazer uma última patrulha para ter certeza de que o mundo não acabaria em máscaras de aves em formato de harpias durante a madrugada. E também, busquei sobre os capangas que atacaram na Fundação Wayne. Todos recém soltos da prisão.

Então, se eu dormi por uma hora, ainda foi muito. Eu vou ter que organizar melhor o meu sono se quiser continuar com essa ideia de detetive diurno e vigilante noturno.

— Como você está? — Pergunto e tomo um longo gole do café.

— Melhor que ontem. E obrigada por isso. — Ela aponta para o curativo em sua bochecha. — Ainda estou meio assustada e sem entender muito bem o que aconteceu.

Ela faz uma pausa e a vejo abrir a boca para falar algo, mas desiste. Até que o faz de novo.

— É sempre assim? — Finalmente a pergunta sai.

— Assim como?

— Gotham. — Ela pousa o copo na mesa e passa o dedo na tampa. — Você morou a vida inteira aqui, né? Então, sempre foi assim?

— Já foi pior. — Respondo com sinceridade.

Gotham tem a fama de ser uma das piores cidades do país, mesmo sendo uma das maiores. O que por si só, sempre foi uma grande contradição. Apesar do caos que esse lugar sempre foi, ainda tem pessoas que acreditam no melhor. Pessoas como eu. Pessoas como Bruce, Babs, Gordon, Jason, Tim, Damian, Steph, Cassie... e por aí vai. Pessoas que lutaram por anos para que essa cidade não sucumbisse em trevas inúmeras vezes.

— E sim. Morei a maior parte da minha vida aqui.

— E por que se mudou para Blüdhaven?

— Trabalho. — Era uma meia verdade. Não preciso especificar que tipo de trabalho. — Continuo perto da minha família, mas em uma cidade um pouco menos caótica. Bem pouco.

Jenni dá uma risada leve e abafada, pois estava ocupada bebendo aquele café falso.

— Mas agora, eu que devo fazer as perguntas.

Ela revira os olhos e se recosta na cadeira, cruzando os braços.

— E lá vou eu, ser interrogada por Dick Grayson pela terceira vez. Acho que já estou me acostumando.

— Você está contando?

— Sim, estou.

Nosso olhar se mantém fixo por alguns segundos até que ela o desvia, se endireitando na cadeira e colocando as mãos sobre a mesa. Pego o celular e o coloco entre nós no gravador de voz.

— Podemos começar?

Ela assente e aperto para gravar.

Peço para que ela conte do seu ponto de vista a partir do momento em que percebeu a invasão da festa. O que ela presenciou e ouviu. O momento em que a levei para a passagem secreta – que não estava tão secreta assim – e, por fim, a sua luta com um dos homens da Harpia.

Jenni explica os acontecimentos com clareza e seu tom de voz é firme. Em nenhum momento oscila ou hesita em dar detalhes do que viu. Ela expõe as técnicas usadas para se defender e conta que fazia aulas de algumas artes marciais e defesa pessoal. E por isso, reagiu ao ataque do homem, mas acrescenta ter sido por um impulso de desespero do momento.

Faço algumas últimas perguntas de praxe e encerro a gravação.

— Foi um bom depoimento. — Digo guardando o celular na jaqueta.

­— Mal posso esperar pelo próximo questionamento.

Acho que essa é a minha deixa para perguntar outras coisas para a minha própria análise. Ou curiosidade mesmo.

— Bom, já que você disse. Quem era a pessoa que você viu ontem? Ou que pensou ter visto?

A expressão de Jenni muda automaticamente. Então, acho que fiz a pergunta certa. Se receberei uma resposta certa ou não, aí eu já não sei.

Ao contrário de minutos atrás, o seu olhar agora estava incerto. A vejo comprimir os lábios e engolir em seco. Por um segundo, penso se não deveria ter guardado essa pergunta para outro dia. Mas eu precisava saber. Naquele momento, após uma invasão de criminosos, em um evento cheio de pessoas que – teoricamente – ela não conhecia ninguém. Quem a deixaria tão assustada?

— Não era ninguém. — Seu olhar estava baixo, assim como a sua voz. — Eu estava atordoada pelo o que aconteceu. E também, por Martin ter falado que conhecia os meus pais. Isso me pegou de surpresa e confesso que mexeu comigo. Só isso.

E eu não recebo a resposta certa.

— Jenni, o Martin vai estar no topo das nossas investigações. Se for alguém ligado a ele, eu preciso saber.

— Mas não havia ninguém. — Ela desvia o olhar e coloca uma mecha de cabelo atrás da orelha. — Eu pensei... eu pensei ter visto alguém que lembrava o meu pai. Apenas paralisei. Pelo choque e por tudo.

Seu rosto demonstrava uma angústia.

Tá feliz, Dick? Torta de climão alcançada com sucesso.

— Sinto muito pelos seus pais.

— Tudo bem. A gente não tinha a melhor relação do mundo.

— Também perdi os meus em uma fatalidade. — Digo mais tentando dissipar o clima fúnebre que eu mesmo causei.

— Sinto muito também. — Ela diz finalmente voltando a me olhar diretamente.

— Eu tinha 9 anos. — Volto a falar. Não sei se deveria, mas lembro que preciso ganhar a sua confiança. — Estávamos em turnê pelo circo em que trabalhávamos. Eles eram os melhores acrobatas do mundo. Ninguém voava como eles.

Ela me encarava atentamente nos olhos, então apenas continuei.

— Até que chegamos aqui em Gotham para uma apresentação e, nessa noite, um homem decidiu usar os meus pais como vingança contra o dono do circo. Como eu disse, eles eram os melhores. Sabotaram as cordas dos trapézios.

— Meu Deus. Eu sinto muito, Dick.

Apenas assinto para ela e concluo a história.

— Bruce estava na plateia e viu tudo. Ele também tem um passado trágico com os pais e acabou se vendo naquela situação. E o resto é história...

Se essa era a minha tentativa de dissipar um clima fúnebre, eu estava reprovado.

— Ele parece ter sido um bom pai.

— Ah. Você não faz ideia. — Respondo com sarcasmo. — Afetuoso. Um homem de muitas palavras e que ama expressar os sentimentos.

Acho que ela entendeu, pois seus lábios se curvam em um sorriso.

E mais uma vez, nosso olhar se prende um no outro e apenas ficamos ali. Como se as palavras estivessem sendo ditas em silêncio.

Até que somos interrompidos pelo toque do meu celular. Tenente Harrison.

Assim que atendo, ele comunica que o caso é meu e pede para que eu vá até a delegacia.

— Estou a caminho.

Desligo a chamada e vejo que Jenni começa a se levantar. Faço o mesmo.

— Obrigado pelo depoimento. — Agradeço enquanto caminhamos até a saída.

— Como eu disse — a porta se fecha atrás de nós e o um vento frio balança os nossos cabelos — mal posso esperar pelo próximo.

— E com certeza terá um próximo. — Encaro a rua a nossa frente. — Eu peguei o caso.

— Vocês vão precisar investigar o passado da Troffle. Por conta do Martin. — Ela diz num tom como se quisesse que eu confirmasse a afirmação.

Assinto e a vejo fazer o mesmo enquanto luta contra os cabelos que tomavam parte de seu rosto pelo vento.

— Achei que só te veria nos encontros em Haven — ela volta a falar — mas aparentemente você vai me atormentar com mais perguntas do que eu imaginava.

— Pode contar com isso. — Dou um sorriso fechado.

— Pode contar comigo também. — Ela fecha mais o zíper de sua jaqueta — Com os arquivos da Troffle. Acredito que na próxima semana, terei acesso completo. Posso te ajudar com o que precisar.

— Seria ótimo. — Respondo com um certo alívio. Não esperava que ela estivesse disposta a cooperar.

— A gente se fala, Dick. — Ela começa a andar na minha direção oposta da rua.

Antes que ela se afaste demais, digo em um tom que ainda conseguiria ouvir:

— Jenni, tome cuidado. Estamos prestes a entrar em uma guerra.

Ela assente, colocando mechas de cabelo atrás de suas orelhas para conter a força do vento e diz:

— Eu sei.

A vejo caminhar pela rua até virar a esquina e sumir do meu campo de visão.

E eu ainda aqui, parado em frente a cafeteria, com inúmeras perguntas na cabeça que podem ou não ter relação com tudo isso.

Uma musicista bilionária que sabe lutar artes marciais, com uma família de cientistas falecidos pra lá de suspeitos. Que segredos você guarda, Jennifer Reed?





NOTAS DA AUTORA

Gente, só um adendo sobre o nosso querido e amado Wally. Eu sei que ultimamente ele e a Artemis ficaram famosinhos em ser um casal por conta de Justiça Jovem, mas ele com a Linda Park nos quadrinhos é endgame demais. 🥹
Sem contar a palhaçada que fizeram com ele em Justiça Jovem que eu não gosto nem de lembrar.

Enfim, era só isso kkkkk até o próximo! 💙

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