10. Pequenas Mentiras
13h17
27 de outubro
Gotham City
DICK GRAYSON
Ouvi o ruído de um bastão metálico vindo em minha direção, até que o peguei precisamente antes de me atingir no ombro.
— Você é muito chato, Grayson.
— Sempre bom te ver também, Damian. — Digo lhe devolvendo o bastão assim que entro totalmente na Batcaverna.
Ele estava da cor de um tomate e usando seu traje de Robin.
— Há quanto tempo você está treinando? — Questiono o garoto enquanto ele me encara com o olhar impaciente habitual.
— Ele está assim desde as 5 da manhã. — Bruce o responde para mim sem se virar em nossa direção, mexendo no computador principal.
— Você sabe que pode mandá-lo parar, né? — Retruco mesmo já sabendo da resposta.
No mesmo segundo, Damian já volta para a parte central da caverna, retomando os movimentos de combate sem se importar com o que estávamos falando.
— Ele acha que se treinar sem parar, vai estar imbatível na próxima vez que a Liga dos Assassinos tentarem sequestrá-lo. — Bruce explica ainda digitando no computador.
— Como assim sequestrá-lo?
— Foi uma armadilha e ele caiu. A única coisa que ele precisa treinar é a paciência e a escuta.
— Vindo de você, não me parece um bom conselho. — Digo em meio a um riso já esperando o olhar repreendedor de Bruce.
Ele ignora meu comentário, estava concentrado na tela do computador que mostrava páginas de um contrato.
— Ra's al Ghul está desaparecido. — Bruce solta essa informação como se tivesse dito "eu comi 8 pães hoje no café da manhã".
— Como é que é? Ele não desaparece assim do nada. Tem certeza disso?
O questiono genuinamente por que parece até mentira. Estamos falando de um mestre em artes marciais, além de ser uma pessoa que está viva há séculos.
— Tenho certeza de que foi proposital e Talia acredita o mesmo. — Ele finalmente se vira para mim e cruza os braços. — Foi por isso que ela mandou membros da Liga virem atrás de Damian. Ele não teria ido se ela o tivesse chamado.
Olhamos na direção do garoto que continuava acertando golpes nos bonecos de luta. Às vezes, me foge da mente que Talia, a mãe de Damian, é herdeira da Liga dos Assassinos.
— E isso deveria ser um problema seu? Digo, o Ra's tem milhares de guerreiros espalhados pelo mundo. Eles conseguem dar conta.
— Faz um mês que ele não volta para a base.
— Então a coisa deve ter sido feia ou ele está tramando algo muito ruim. — Digo enquanto Damian salta mais uma vez na cabeça do boneco de luta.
— Preciso te mostrar outra coisa.
Bruce volta a mexer no computador e abre algumas pastas. Fotos de um homem de cabelos escuros e barba aparente surgem na tela. Ao lado, possui fichas com informações pessoais. Era Martin Goldman.
— Os dados cadastrais originais de Martin Goldman foram criados 20 anos atrás, mas a sua idade atual é 51. Antes disso, não tem nenhum outro registro, pelo menos não com esse nome.
Ele continua passando pelos arquivos de Martin, até parar em uma foto em que aparenta ser bem mais jovem e junto a outros dois homens, sendo um mais velho de cabelos grisalhos, e o outro mais jovem de óculos.
— Essa é a foto mais antiga que encontrei. Esse homem ao lado de Goldman é o Kennedy Reed, o fundador da Troffle. Não há nada sobre o outro jovem. O reconhecimento facial não localizou nenhum correspondente.
Então Martin Goldman também conhecia os Reed. E aparentemente já trabalharam juntos. Apesar de quase todos estarem mortos, isso poderia significar alguma coisa.
— Encontrei com a neta do Kennedy essa semana. — Revelo a Bruce, pois se antes não estávamos considerando a família Reed nas investigações, eles parecem estar mais envolvidos do que imaginávamos. — Ela apareceu em Haven querendo fazer parte do time de voluntários.
Bruce me olha de relance e em seguida mostra os dados de Jenni Reed na tela.
— Recebi o convite para uma reunião com uma possível compradora da Troffle. — Ele diz enquanto passa pelas informações de Jenni. — A família dela deixou uma fortuna bilionária e só agora a reconheceram judicialmente como a herdeira.
Franzo a testa com essa última informação. Pelo pouco que conversei com Jenni no ensaio, ela não parecia ser do tipo empresária. Ainda mais comprar uma empresa falida. E outra, ela é musicista. O que ela queria com uma companhia de tecnologia?
Quando ela me disse seu nome quando nos conhecemos em Haven, minhas suspeitas duplicaram. Estamos à beira de um novo caos, no qual ainda não sabemos o tamanho. E a única peça desse quebra cabeça que parecia não ter fortes ligações com todo o resto, também aparece em Gotham e em Blüdhaven. Certamente, eu precisaria continuar o questionamento com ela.
— Ainda preciso fazer mais algumas investigações, mas tenho quase certeza de que Martin tem envolvimento nos desvios da Troffle que resultaram na soltura dos membros da Harpia. — Bruce volta a digitar no computador.
Martin com certeza estava envolvido, ainda mais agora que sabemos que ele pode estar usando uma identidade falsa há anos.
— E se a Jenni estiver trabalhando junto com o Martin? Ele tinha interesse em comprar a empresa, segundo os documentos que encontrei naquele pen drive da Troffle.
— Pode até ser. — Analisa Bruce — Ela parece ser um bom disfarce para esse tipo de plano. Nenhum envolvimento prévio na empresa da família e agora recebe uma fortuna capaz de comprar o que quiser.
Os dados de Jenni ainda apareciam na tela. Ela nasceu e cresceu em Washington. Se mudou para a Califórnia para cursar música. Temos a mesma idade.
Pelo histórico, ela parecia ser uma pessoa comum. Nenhum indício de que a levaria ser uma criminosa e muito menos colaborar com um. Seus pais e seu avô eram bem reconhecidos nos Laboratórios S.T.A.R.
Mas Bruce e eu estamos nesse ramo tempo suficiente para saber que nem tudo parece ser o óbvio.
— Eu odeio dizer as suas frases, mas...
— Vamos ter que ficar de olho nela. — Bruce completa para mim. — Vou aceitar o convite da reunião. Tenho um plano.
— Que seria?
— Amanhã à noite teremos um jantar beneficente na Fundação Wayne. Martin e outros ex-acionistas da Troffle estarão lá. Vou convidá-la e descobriremos se eles têm algum envolvimento.
— Por que isso pareceu um convite para que eu vá também? — Questiono, pois quando Bruce usa as palavras no plural, é porque preciso estar presente.
— Além de Goldman, outros grandes possíveis nomes que podem patrocinar a volta da Harpia também estarão lá. Os convidei para analisar as interações de todos. Mas essas pessoas não andam sozinhas, precisamos ter cuidado.
— Posso ir também? — Damian pergunta enquanto recupera o fôlego e vindo em nossa direção.
— Não. — Bruce o responde com uma única palavra.
O garoto revira os olhos e lança o bastão que estava usando em direção ao boneco de luta, acertando precisamente em um dos olhos.
— Eu não aguento mais ficar aqui nesse tédio!
— Você não acabou de ser sequestrado? — O provoco sabendo que vou ser xingado em seguida.
— Por que você não vai a merda, Grayson?
Sabia.
Damian já foi bem mais impaciente e muito mais implicante. Mas não o culpo. Ele veio morar com o Bruce com apenas 10 anos, mas com uma bagagem emocional tão pesada quanto uma pessoa de 30.
Já são 3 anos que ele faz parte da nossa família. Fico feliz de tê-lo ajudado muitas vezes. Ele tem o potencial de ser algo que eu e Bruce jamais seremos. Só precisa do treinamento certo.
O vejo sair da Batcaverna e Bruce também se levanta indo na mesma direção.
— Volto mais tarde. — Anuncia antes de entrar no elevador.
— Já sei que você vai atrás de informações sobre o Ra's. — Digo enquanto o elevador se fecha e Bruce desaparece sem responder.
Ele pode fingir que não é grande coisa, mas desde que Damian apareceu, o lado paterno de Bruce tomou conta muitas vezes. É uma parte dele que nenhum de nós imaginávamos que um dia seria colocada para fora.
Bruce é como um pai para mim, mas a nossa relação foi e é diferente. Eu tive um pai biológico presente até os meus 9 anos e a imagem dele ainda me acompanha até hoje. Bruce jamais tentou substituí-lo. Até porque ele nunca foi bom no quesito afeto. Mas ele me ajudou a curar uma ferida que eu imaginava ser impossível de ser sanada.
Meus pais sempre foram cuidadosos comigo e desde cedo me ensinaram a ser valente. O treinamento que Bruce me deu só ajudou a reforçar isso.
Alfred também teve seu papel importante nisso tudo. Era quem mantinha a sanidade de todos nós nessa casa. Sem ele, não teríamos conseguido superar tudo de ruim que já vivemos. Já faz mais de um ano que ele se foi, mas não tem um dia que não sinto falta de seus conselhos.
E apesar de ter herdado algumas "bat-manias", eu sempre soube que não queria me tornar o Batman. Eu não queria ter um plano arquitetado contra todos os meus amigos se um dia eles ficassem contra mim ou se tornassem do mal. Eu quero estar presente para acolhê-los e trazê-los de volta sempre que precisarem.
E é isso que o Asa Noturna significa para mim. É o que quero que signifique para Blüdhaven, para Gotham, para os Titãs e para quem mais precisar desse símbolo que me salvou de mim mesmo.
E por acreditar em segundas chances e no benefício da dúvida, penso sobre a mulher que estamos prestes a investigar de perto.
A primeira impressão que Jennifer Reed deixou em mim foi de uma pessoa dócil e gentil. Pude sentir que ela realmente queria ajudar os jovens de Haven, mas não estava me dizendo totalmente a verdade naquela noite.
Poderiam ser pequenas mentiras. Eu mesmo teria que usar desse recurso para conseguir algumas respostas. E tudo bem. Normalmente não se sai falando tudo sobre a vida para pessoas que não conhece. Mas era perceptível que ela escondia algo que só se conta quando ganha confiança no outro.
Confiança. Talvez esse poderia ser o meu primeiro passo para começar a desvendar as inúmeras perguntas que temos sobre a Harpia, a relação com a Troffle e os bilionários corruptos de Gotham.
Preciso ganhar a confiança de Jenni para que ela revele as reais intenções na compra da empresa. Qual seria o seu objetivo aqui. Algo me diz que ela tem boas pretensões. Vi isso em seus olhos quando estava ajudando em Haven. A forma como ela ajudou aqueles jovens foi sincera. Não conversamos sobre muitas coisas, mas ela parecia ser uma boa pessoa.
E juro que o fato de ela ser muito gata não tem nada a ver com isso.
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