48
Resposta
O vento gelado soprava pelas casas em ruinas enquanto Iani esfregava os braços. Ela estava com frio, um frio que não iria passar com roupas pesadas e o calor de uma lareira, e sim com a volta de Aaron e os outros.
—Acha que eles vão ficar bem?
—Você está falando de dois lideres Iani, é claro que eles vão ficar bem...
Mesmo que seu amigo tentasse disfarçar, ela conseguia sentir que até mesmo Esteve estava nervoso.
—De qualquer forma, não vai adiantar nada ficar andando de um lado para o outro, tente se acalmar.
—Eu sei... mas acontece que-
—Espere!
Se colocando em posição de alerta, Iani observou o grande lobo encarar o horizonte, os outros que estavam ali fizeram o mesmo.
—O que foi Esteve? — ela sentia as mãos suarem — O que você está vendo?
Um curto silencio recaiu sobre eles, o suficiente para escutar com perfeição o farfalhar das árvores. Fora isso, nada estava diferente.
—Tem algo errado...
Ouvir aquilo só piorou os ânimos de Iani. Ela sabia que algo não estava certo, mas no fundo, desejava estar errada.
—Acho melhor irmos atrás deles — a jovem deu um passo a frente — Quem sabe não estão precisando da nossa aju-
—Iani!
Em meio aos galhos secos da árvore, Iani olhou com pavor para a criatura sobre si, o rosto deformado em uma carranca cinzenta enquanto o corpo esquelético se esticava na sua direção com rapidez, mesmo apavorada, ela conseguiu notar que no corpo da criatura haviam linhas tão escuras quanto a noite antes de algo saltar sobre ela a jogando para longe.
—FUJA!
Esteve havia derrubado aquela coisa, mas antes que ele conseguisse se afastar a mão esquelética o agarrou cravando as unhas podres no flanco do animal que gritou.
—Esteve!
Os outros lobos passaram sobre ela, indo em direção a Esteve, no antanto, antes que pudessem ajuda-lo várias daquelas criaturas começaram a surgiram nas árvores, se esgueirando pelas sombras e imobilizando um a um.
—Corre Iani! Corre!
—Fique!
—Fuja daqui!
—Ajude-os!
A voz de Esteve chegava até seus ouvidos junto de outra, misturadas, como um barbante com duas linhas diferentes emboladas uma na outra enlouquecendo.
O que eu faço?!
—IANI!
Mas antes que ela tivesse tempo reagir uma mão áspera e ossuda agarrou seu pescoço.
—Es.teve...
Suas vistas escureciam aos poucos conforme o necessidade de respirar aumentava.
—Est...
—Iani!
Socorro...
—Não vim até aqui para ter medo.
Lutando para não perder os sentidos, Iani avistou uma mulher. Ela não sabia quem era ou de onde tinha vindo, mas seu semblante estava sério e os olhos tão azuis quanto um mar tempestuoso.
—Vim para socorrer quem está com medo!
Esticando a mão na tentativa de alcança-la, Iani viu a bela mulher sumir em uma neblina densa quando seu mundo caiu na escuridão.
...
O chão gelado e sujo fazia com que os passos rápidos ecoassem como tambores de guerra pelas paredes quebradas e sem vida. Iani acordou com o som alto em seus ouvidos, sua garganta doia e lagrimas secas grudavam em seus olhos.
Onde eu estou?
Foi seu primeiro pensamento enquanto olhava ao redor, para o grande salão onde a única fonte de cor vinha dos feixes dourados de luz que desciam por uma cúpula. Imediatamente ela se lembrou de Aaron.
—Então essa é a humana que tanto falam?
A voz grave e rouca fez os pelos de Iani se arrepiarem.
—Quem está ai?
—Ouvi falar muito de você.
Ela procurou ao redor mas não conseguia ver nada se não um enorme salão vazio e escuro.
—Todos ouvimos não é mesmo?
De repente, o que antes era um lugar vazio se encheu com os gritos e ruídos histéricos dos seres esqueléticos que se acumulavam ali. O pavor subiu pelo peito de Iani, mas sua preocupação maior tinha nome.
—Onde eles estão?
Ela tomou coragem para falar.
—Eles?
—Aaron e os outros, onde eles estão?
—Ah sim, seus amiguinhos...
—Diga!
Sua voz estava trêmula, mas ainda sim ela manteve a postura.
—Cale-se humana...
O som antes distante que ecoava no silencio agora começava a tomar forma, surgindo aos poucos da escuridão, como um pesadelo vivo que Iani desejou jamais ver em sua vida. A criatura era horrenda, assustadora, cem vezes mais do que aquela que saltou sobre si. O corpo putrefato e fétido, os ossos bichados criando ruídos que faziam o sangue gelar a cada passo dado. Sua figura era aterrorizante criando o mais puro instinto de fugir em qualquer um que a visse. Inclusive Iani.
—A tempos esperei por um momento como esse.
Ele estava perto.
—Poder olhar no rosto da espécie que arruinou a minha.
Muito perto.
—A maldita e ambiciosa espécie que destruiu, mutilou e matou outras milhares por puro capricho e ganância!
Iani conteve as lágrimas que ameaçavam cair junto do grito de terror que se formava em sua garganta. Naquele momento apenas uma coisa importava.
—Onde eles estão?
Um curto e rápido silêncio se formou.
—Os dois se saíram bem...
A jovem sentiu um nó se formar na garganta. As lágrimas que ameaçavam cair escorreram pelo seu rosto.
—Mas não o suficiente.
Uma dor aguda tomou conta do peito de Iani.
—Lamento, mas dois reinos acabaram de perder seus líderes. Ah! Que cabeça a minha! Esqueci que Aaron tem um irmão mais novo para suceder o trono — uma risada alta ecoou — Que triste noticia ele receberá.
—VOCÊ ESTÁ MENTINDO!!
Aaron não morreu, ele não pode estar morto.
A criatura parou a alguns centímetros dela, parecia saborear com deleite cada lágrima que via cair dos olhos da garota.
Depois de alguns segundos ele se afastou voltado ao trono que estava nos fundos do salão.
—Se não acredita, veja por si só.
As criaturas que estavam na sala começaram a se afastar até que duas silhuetas enormes tomaram formas, carregadas por outras daquelas criaturas. A primeira era o enorme lobo de pelo castanho, enquanto a outra mostrava o belo animal branco.
Não...
Iani observava os dois animais em silencio. Incrédula, descrente.
Não...
Quanto mais perto os dois eram trazido mais silencioso o salão ficava. Ou era sua cabeça?
Não...
Os dois animais foram largados aos seus pés, imóveis. A pelagem antes branca como a neve estava coberta de poeira cinza enquanto uma poça de sangue empapava sua barriga.
Não...não...não...não...não...não...não...
Iani observava os lobos mas seus olhos não viam nada.
—Então! Acredita agora? Humana.
—Aaron...
O fraco sussurro ecoou pelo silêncio. Iani esperou, ansiou, desejou por uma resposta.
—AARON!
Mas ela não veio.
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