17
Maicon
Lidi continuou a falar sobre a festa por horas a fio e quanto mais ela falava mais nervosa com a ideia de participar dessa "celebração" Iani ficava. Quando o assunto pareceu finalmente ter chegado ao fim a loba se levantou arrumando o vestido amarrotado.
―É claro, isso ainda deve demorar um pouco, talvez algumas luas.
Iani a encarou perplexa.
―Então por que estava me contando justo agora?
―Preferia falar sobre Aaron?
Imediatamente a jovem se calou.
―Não fique tão preocupada, vai ser só uma festa.
Cheia de pessoas estranhas metade lobo. Iani pensou apreensiva.
―Mas como eu disse antes isso ainda vai demorar, então não fique perdendo a cabeça atoa.
―Eu gostaria muito de poder controlar meus pensamentos...
―Imagino que logo você encontra outra coisa no que pensar ― Lidi se aproximou da mesinha pegando a bandeja de prata ― Até lá aproveite e descanse.
―Mais?Se eu continuar nessa cama por mais tempo acho que vou começar a mofar.
―Consigo ver na sua cara que está louca para sair e fazer alguma coisa mas foram ordens diretas do próprio Aaron que permanecesse no quarto e descansasse.
Iani bufou.
―Vamos, não é tão ruim assim.
Com um breve sorriso a loba se despediu deixando-a novamente sozinha com a cabeça fervendo de pensamentos. Aaron, a festa, os outros lideres, era como se aquele fosse seu primeiro dia acordando em um lugar estranho cheio de lobos falantes.
―Iani não pense nisso Iani, não pense ― sussurrou para si mesma em vão, quanto mais ela tentava esquecer o assunto mais forte eram as imagens que sua mente criava.
Do lado de fora o tempo passava devagar, o céu estava azul, nuvens brancas pintavam a paisagem onde alguns pássaros voavam, pessoas andavam de um lado para o outro em meio ao jardim enquanto algumas figuras maiores e cinzentas corriam em direção a floresta. Iani havia se escorado na janela para observar a vida correr lá fora, o dia parecia perfeito para uma exploração aos arredores. O que aquele mundo teria de novo para se descobrir?Quais outros tipos de criaturas viveriam sob aquelas terras?O que há além da floresta?Quais segredos ela esconderia? No final Lidi tinha razão, não demorou para que a jovem garota arranjasse outra coisa no que pensar, pensamento que se intensificou ao ponto de se tornar um desejo ardente de sair e conhecer mais daquele novo mundo.
"―... foram ordens diretas do próprio Aaron que permanecesse no quarto e descansasse."
Ansiosa Iani caminhou até a porta vendo que não estava trancada; conforme estendia a mão em direção ao ferrolho de bronze uma onda de energia invadia seu corpo. Aaron podia ser o Alfa e líder dali mas nem mesmo ele seria capaz de impedir que a curiosidade daquela jovem humana a levasse explorar seu novo lar.
Já descansei por três dias.
Iani pensou indo em direção ao labirinto de corredores.
Está na hora de gastar um pouco dessa energia.
Animada e com um novo objetivo em mente seus pés avançaram em silêncio pelo chão frio. Ela conseguia se lembrar do caminho para o refeitório e a biblioteca, no entanto, temendo dar de cara com Lidi ou Aiko tomou a direção dos jardins, com certeza haveriam algumas pessoas por lá mas ainda seria mais fácil despista-las ao ar livre do que dentro de quatro paredes. Quando finalmente encontrou a porta que dava ao exterior Iani a abriu sentindo o calor do dia aquecer seu rosto, o sol brilhava alto no céu, algumas flores cintilavam sob as gotas d'água onde foram regadas enquanto borboletas coloridas voavam por entre as pessoas que iam e vinham despreocupadamente pelo lugar mal notando sua presença, aproveitando a deixa Iani passou pelos arbustos evitando chamar atenção até chegar próximo aos arredores da floresta, com um misto de euforia e receios percorrendo seu corpo ela parou observando a paisagem de um verde exuberante que preenchia seus olhos.
A floresta estava ali, a poucos metros de distancia, era como se uma força invisível a tivesse puxado até lá sem ao menos se dar conta e continuasse a incentiva-la seguir em frente muito além das árvores e arbustos, em direção ao desconhecido, porém, um temor estranho a impediu, como se as forças abandonassem seu corpo Iani sentou em meio a grama alta respirando fundo, não estava mais preocupada com a festa, com receios de ser encontrada por algum estranho enquanto desobedecia uma ordem de Aaron ou pensando que o mesmo havia passado a noite ao seu lado em uma poltrona enquanto estava desacordada, naquele momento sua mente estava vazia, sem preocupações ou receios, a única coisa que sentia era um forte misto de curiosidade, medo e familiaridade que começavam a perturba-la.
Em meio ao silencio o vento trazia os silvos da floresta, eram como assobios e sussurros ao longe, por algumas vezes Iani poderia jurar ter ouvido alguém chama-la, porém, antes que pudesse se colocar de pé e criar coragem para averiguar uma voz mais nítida chamou sua atenção.
―Iani!
Um pequeno borrão branco corria na sua direção.
―Aiko?
Assim que viu a imagem do filhote ela foi jogada de volta a realidade mas era tarde de mais para tentar fugir ou se esconder, quando viu um peso extra já estava sobre si a derrubando de costas no chão.
―Iani!Tudo bem?Te machuquei? ― os olhos azuis a encaravam preocupados.
―De forma alguma Aiko, acho que eu estava precisando me deitar um pouco ― ela riu.
―Que bom! ― a cauda branca balançava de um lado para o outro ― Mas o que você esta fazendo aqui fora?
Iani não sabia o que responder e por sorte Aiko pareceu ter entendido a situação desviando de assunto.
―Podemos brincar?!Pega-pega, esconde-esconde?!
―Ah, eu não sei...
―Por favor! ― o filhote se deitou sobre sua barriga, a cauda balançando e o olhar de quem implora ― Só um pouquinho.
Iani queria recusar, voltar para o quarto e evitar qualquer problema, no entanto, não resistiu a um sentimento maior que invadia seu peito. Com um sorriso alegre ela olhou em direção as nuvens antes de encarar o par de olhos azuis do filhote.
―Você conta e eu me escondo!
Os dois correram em direção aos arbustos e bancos; entretidos com as brincadeiras e risos mal viram o tempo passar, Aiko ainda tinha energias de sobra para continuar brincando por horas a fio mas Iani já sentia o corpo ceder ao cansaço quando ambos pararam sob a sombra de uma macieira. O sol estava a pino no céu, o pequeno lobo com a língua de fora e a jovem com o peito arfante.
―Ok ― ela respirou fundo, o corpo curvado e o suor escorrendo pela testa ― Tempo...
Aiko aproveitou para se deitar em meio a grama baixa olhando atentamente a garota. Percebendo seus receios Iani se sentou ao lado dele acariciando o pelo macio.
―Eu estou bem, só um pouco cansada.
―Mesmo?
―Mesmo.
―Não vai cair né?
Iani riu.
―Desse jeito?
Ela aproveitou para se deitar enquanto os olhos se perdiam na copa da macieira, ver os frutos vermelhos a fez perceber que estava faminta mas, antes que pudesse perguntar se poderia pegar algum deles um peso extra surgiu em seu ombro. Aiko havia escorado a cabeça próximo a sua, estava com os olhos fechados e as orelhas baixas, assim tão perto Iani conseguia ouvir sua respiração, sentir seu calor além de uma estranha tristeza que emanava do filhote.
―Aiko, você está bem?
O filhote não respondeu, preocupada a jovem estava prestes a se levantar e pedir ajuda quando a voz do pequeno preencheu seus ouvidos.
―Fiquei com medo de que nunca mais fosse acordar...
Ouvir aquilo a deixou sem reação. Por longos minutos Iani só conseguiu observar o lobinho com o coração apertado antes de esticar a mão e acariciar sua cabeça.
―Está tudo bem ― ela sussurrou ― Estou aqui agora.
Por um bom tempo ambos ficaram ali, Aiko escorado em seu ombro enquanto Iani acariciava sua pelagem, a sensação de conforto e carinho preenchendo os dois trazendo junto a sonolência de uma tarde preguiçosa quando uma voz nada amigável os tirou de transe.
―Ora vejam só!Que cena mais linda!
Assustada Iani olhou em direção a voz sentindo o sangue fugir do rosto quando viu três enormes feras próximo a si. Os longos caninos expostos e um olhar de poucos amigos.
―Maicon! ― Aiko tomou a frente ficando entre os dois ― Nos deixe em paz!
―Saia daqui Aiko...
O grande lobo afastou o menor com o focinho se aproximando ainda mais da jovem que havia se sentado com os olhos úmidos e o corpo trêmulo.
―O assunto não é com você, não é mesmo...
Iani podia sentir o bafo quente da boca cheia de dentes afiados próximo do seu rosto.
―Humana.
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