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3 - Um segredo mal guardado

A celebração do dia dos mortos era importante e no salão comunal os fantasmas estavam felizes. Liz conseguira ver de longe a Dama Triste e até vira a Murta queixosa que era conhecida por entupir os vasos sanitários há dois séculos atrás. Agora ela perambulava também pelas outras casas-de-banho, chateava os elfos de vez em quando na cozinha ameaçando libertá-los levando-os a pegar em roupa sem que eles quisessem e na noite de Halloween presenteava os alunos do Castelo com a sua presença no salão comunal.

Metera-se ao lado de Liz cantando num sussurro que só ela podia ouvir:

Quem tem medo do lobo mau, lobo mau, lobo mau? Quem tem medo do lobo mau, lobo mau, lobo mau?

Os pelos de Liz eriçaram-se e olhou para Trick bem perto de si. Pensava nas palavras dele, ele agora parecia sorrir ligeiramente para si. Os monólogos dele ficaram mais longos depois de Liz ter visto o outro lado dele, o seu lado lobo. Ficara intrigada com a música de Murta-queixosa. Será que ela sabia? Como ela sabia?

— Como você sabe? — perguntou a Murta sussurrando.

— Eu sei de tudo que se passa nesse castelo —respondeu o fantasma da garota.

Emma contara-lhe como Murta morrera. Ela sabia muitas coisas sobre o mundo mágico. Os seus pais e toda sua linhagem era de bruxos e o seu pai era inclusive o professor de História em Hogwarts, porque segundo constava tiveram que licenciar Mr. Bins de suas funções, pois ele era um fantasma enfadonho. Ele continuava a viver no castelo, Liz já o vira, mas não era um fantasma particularmente interessante. Nick Quase-sem-cabeça era de longe o melhor dos fantasmas, mas ele tinha aquele terrível hábito de se mostrar com a cabeça fora do pescoço, e ainda que fosse um fantasma era nojento de ver.

O professor Frederick Everson, pai de Emma era um professor que Liz gostava, mas era intrometido. Perguntava o tempo todo a Liz se Emma ía bem, estava bem... talvez fosse normal, era o pai dela. Estava na mesa de professores, mas olhava para a filha constantemente. Liz reparara que ele tinha tendência a dar castigos a Dylan por qualquer coisa, fosse uma resposta mal dada ou por falar com Trick nas aulas. Rezava a história que o Professor Bins não via nada que se passava na sua sala de aulas, no seu tempo de professor fantasma.

A seguir ao almoço Liz seguiu com passos apressados até à Torre Norte. Emma estava numa conversa pormenorizada sobre Quidditch com outros membros da equipa e Liz não queria admitir que não se sentia muito atraída pelas alturas, ainda mais em cima de uma vassoura. A sua coruja cinzenta a quem ela dera o nome de Fifi num acesso de estupidez, não estava lá. Devia ter ido caçar ratos. Ainda que a sua dieta deixasse Liz um pouco enjoada, ela gostava da sua coruja. Achava-a maravilhosa e era uma amiga carinhosa que gostava de receber festas sobretudo na zona de sua nuca.

Quando Liz se sentou no balcão da torre, onde tinha vista para os grandiosos campos e aquela beleza da mãe natureza em todo o seu esplendor ouviu um barulho atrás de si. Era Trick.

— Desculpa — pediu — Liz?

A garota sentiu que o garoto a tinha seguido, tal como ela o seguiu a ele na noite anterior.

— Preciso te fazer uma pergunta — parecia sério, o que a fez engolir em seco de nervosismo — Você contou o meu segredo a alguém?

— Pensei que tinha passado a ser o nosso segredo — respondeu Liz.

Trick olhou para a garota de olhos arregalados, mas sua expressão séria não saiu de seu rosto.

— Recebi uma carta na minha cama — começou por dizer — ameaçando me desmascarar...

— Dizer que és um lobisomem? — ela ainda não tinha mencionado tal fato.

— Acho que deve ser isso. Parecia explícito.

— Era algum tipo de chantagem? — perguntou Liz.

— Seria sensato pensar que sim — disse Trick — Mas não percebi se ele queria alguma coisa ou não?

— E agora? — perguntou Liz — E se for descoberto?

Trick aproximou-se de Liz e sentou-se também no balcão da Torre.

— Não posso ser descoberto. Existem sempre preconceitos. A minha vida seria muito mais difícil aqui dentro. Alguns tentariam até me expulsar daqui.

— A Diretora sabe? — perguntou Liz.

— Sim, ela teve de saber para me puder oferecer as condições de que preciso. A professora Duhnam é uma boa pessoa e uma boa diretora, bem à frente do seu tempo.

— Se calhar pode pedir ajuda a ela?

— Por vezes os adultos não veem aquilo que pode dar errado. Tenho de descobrir quem é esta pessoa.

— Vamos descobrir — ele olha para Liz surpreendido. Ela acrescenta — Juntos.

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