[T] Novo Amigo
A manhã seguinte foi, no mínimo, estranha. Pois acordei nos braços de Touya. Suas pernas entrelaçadas as minhas e então sua respiração no meu pescoço. Parece que passar daquele ponto na nossa relação, foi um momento sem volta. Seus olhos foram a primeira coisa que vi pela manhã, e então as íris, azuis que costumavam me dar pesadelo, foram trocadas por um par que me encarava com nada além de amor.
— Não ligo de ser observado por você, mas posso saber por quê?
Com o indicador tracei a lateral do seu rosto, estudando as feições de seu rosto.
— Você é real?
Touya me puxou para perto sorrindo beijando a base do meu pescoço — Claro que sim, por que diz isso? Não pareço ser?
Neguei com a cabeça — Tudo parece certo demais, me faz pensar ser de mentira.
O que saiu da minha boca era a mais pura verdade, se eu tivesse que apostar, essa seria a minha opção. Swyn disse que quanto mais detalhes, melhor uma ilusão fica, mas e se, na verdade, fosse tudo uma idealização falsa? Touya seria realmente essa pessoa totalmente compreensiva e apaixonada?
— Se você acreditar ser uma verdade, será uma verdade — disse. — O que eu não quero acreditar e que vou precisar levantar dessa cama.
— Você pode inventar uma desculpa, agora eu preciso ir buscar as roupas de Eri — bati em seu braço pedindo para me soltar.
Meu marido resmungou e rolou para o lado cobrindo os olhos com o braço — E se eu falar que tive um problema e ir com você? Não me convidou para ir junto levar as roupas, já que estou legalmente no caso?
Me sentei na cama olhando por cima do ombro — Não dá para ir direto, só na parte da tarde. Preciso avisar o hospital antes, que tal você trabalhar de manhã e me acompanhar depois, vou precisar de uma carona de qualquer jeito.
— Assim vou pensar que só gosta de ter um motorista por perto, não seu marido.
Levantei rindo começando a me arrumar, em pouco tempo ambos estávamos vestidos e na frente de uma generosa mesa de café da manhã patrocinada pela minha mãe. Essa tinha um sorriso no rosto e ocasionalmente lançava olhares entre nós. Não sei se eu realmente queria saber o motivo de toda sua felicidade, portanto, me mantive em silêncio. Beijando seu rosto antes de ir embora em despedida.
— Me ligue se ver qualquer coisa estranha — Touya pediu —, largo aquele velho do Tsukauchi e venho direto para você.
— Vou ficar bem, te vejo depois — fechei a porta do carro e acenei.
Respirei fundo e me voltei para o shopping onde ficavam as lojas, algumas coisas foram compradas para serem retiradas, outras o senhor "exposto à mídia desde cedo", disse ser melhor eu conferir o tecido antes de finalizar a compra. Entendendo que talvez ele tivesse mais experiência do que eu, acatei sua sugestão.
Confesso que até momento em que entrei na loja, não estava tão entusiasmada, porém depois de ver as combinações e imaginar a pequena Eri vestida neles, comecei a me animar. Os cabelos claros e os olhos avermelhados eram uma combinação excepcional, ela ficaria fofa em qualquer um dos conjuntos.
Porém, mantive o que Touya disse na cabeça. Conforto mais importante que a beleza.
— Deseja mais alguma coisa senhora? — a atendente me perguntou.
— Não, obrigada.
A jovem sorriu educadamente — Vou tirar as etiquetas no caixa e assim que eu chamar pode retirar, tudo bem?
— Sem problemas — agradeci e resolvi andar mais um pouco pela loja.
Ter um filho ou qualquer coisa do tipo nunca passou pela minha cabeça, um pouco difícil pensar num futuro como esse quando sequer tinha um namorado. Acordar nesse lugar, casada, me fez repensar algumas coisas.
Repentinamente um cheiro doce veio até mim, um odor que me lembrava a individualidade de Katsuki. Olhei para as laterais procurando sua fonte, mas não vi nada, então distante como se ele estivesse no fundo da loja, escutei "relógio de parede" sendo gritado.
Meu coração bateu rapidamente, e passando pelos corredores procurei os cabelos loiros do meu pequeno projeto de irmão. No terceiro corredor da esquerda, alguns fios dourados desaparecerem, mas não era o loiro que eu estava procurando.
Um par de olhos dourados se viraram na minha direção, um sorriso enigmático veio os acompanhando.
— Posso ajudar? Parece estar procurando algo.
Senti a língua colada na boca, então de abaixar a cabeça por um instante. Voltei a encarar Hawks com um sorriso.
— Não, desculpe. Apenas achei ter visto algo nesse setor.
O loiro levantou a mão para o pescoço — Entendo, bom, um lugar como esse é tão grande. Suponho que seja fácil se enganar. Ah!
Ele bateu as mãos juntas e se virou para mim com uma falsa esperança nos olhos — Estou procurando algo para minha sobrinha, será que pode me ajudar? Eu não entendo nada.
A atendente parecia estar resolvendo algo, o que significava que as minhas compras ainda estavam paradas no balcão. Ninguém parecia estar incomodado com ele ali, o que me levou a acreditar que realmente ninguém sabe a verdadeira identidade de Hawks. Surpreendentemente ele não tinha nenhuma diferença com aquele que vinha me visitar no topo do prédio, exceto pela mochila nas costas no lugar onde devia estar suas asas. Imagino que suas penas devam estar guardadas em algum lugar e o acessório seja um mero disfarce.
— Claro, qual seu nome? — joguei a minha isca.
Ele parou para pensar — Keigo, Keiko Takami. E você?
— [Nome] — respondi —, [Nome] Todoroki.
Poderia dizer o sobrenome do meu pai, porém qualquer um deles está atrelado a um grande herói. Hawks não parece ser o cara que age sem pensar, o encontrar ali nessa circunstância me fez pensar não ser uma coincidência e se isso for verdade, mentir não era o melhor caminho.
— O que está procurando, Keigo?
Seu nome rolou da minha língua de uma maneira desconhecida, poderia ser apenas algo inventado, mas não pareceu ser o caso, pois vi um lapso de humanidade atravessando seu rosto antes de voltar a ser escondido atrás da máscara.
Ele contou uma história sem sentido, mas que me deixei levar. Tendo a cada momento mais certeza que ele fora até ali com um motivo. No fim, depois de uma conversa falsa de ambos lados, ele saiu da loja me acompanhando e com uma pequena sacola com um par de sapatos.
— [Nome]-san, seria muita ousadia minha pedir para me acompanhar num café? — ele apontou para minha mão esquerda. — Visto que é casada.
Olhei a aliança por um momento — Não, afinal é só um café, não é?
— Sim.
Eu tinha algumas sacolas, Hawks, que era Keigo se ofereceu para me ajudar e naquele momento não vi nada de estranho acontecendo. Fomos até um café num dos pisos mais altos do shopping, uma vista bonita do alto e mais tranquilo em relação à quantidade de pessoas.
Ele fez menção de tirar a mochila e tive que me segurar para não dar muito na cara de que estava interessada em suas costas. Para a minha surpresa não havia nada, me fazendo questionar como ele escondeu a estrutura que sustentava suas asas.
Entre as pessoas que conheci, não houveram mudanças — com exceção das mortas que nessa realidade parecem estar bem vivas —, não tem como imaginar que ele simplesmente não tenha sua individualidade.
Fiz o pedido de um chá e de um donut que prendeu meu olhar assim que entrei no estabelecimento. Ele apenas pediu um café.
— Ah, obrigado pela ajuda. Se não fosse por você estaria perdido — comentou transbordando simpatia —, você tem bom gosto, sua filha deve ser uma gracinha.
Ele queria informações. Touya disse que eles estão nessa briga de gato e rato a algum tempo, seria eu realmente seu alvo ou ele queria descobrir mais de Touya?
— Ela é uma gracinha, mas não é minha filha. Estou ajudando um amigo — tentei manter a explicação breve.
— Me desculpe por pular em conclusões — ele levantou a mão para o pescoço novamente — e por curiosidade. Você e seu marido querem filhos?
— Não no momento — virei a cabeça deixando uma tristeza genuína vir na minha voz — perdemos um não muito tempo atrás.
— Sinto muito.
Balancei a cabeça e agradeci ao garçom por colocar o pedido em minha frente — Está tudo bem, você parece gostar bastante da sua sobrinha. Já pensou sobre o assunto?
Seus olhos caíram para o reflexo na superfície do café. Novamente a máscara abaixando e pela primeira vez sua voz parecendo sincera.
— Não, não tive um bom exemplo de pais. Meu velho costumava beber demais, isso levava ele a fazer várias outras coisas, não tenho exatamente lembranças felizes daquela época. Minha mãe provavelmente não teria me tido se tivesse a chance de escolher, ainda mais sendo de um vagabundo.
Fiquei surpresa pelas suas palavras, e ele também pareceu sair do transe tentando disfarçar com certo nervosismo — Desculpe, não sei porque falei isso.
— Não somos nossos pais, podemos escolher sermos diferentes. É difícil, mas não acho que você devia ter medo, se for a sua vontade. Nenhum de nós merece ficar preso nas sombras de outra pessoa, viva ou morta.
Esse era o tipo de coisa que eu falava par Touya no passado, nos dias em que ele chorava por ser a primeira falha de Endeavor.
Senti um aperto na minha mão, só então percebi que coloquei minha palma sobre a sua durante a conversa. Constrangida, recuei a mão, ganhando um riso sincero em resposta.
Escondi meu rosto atrás da xícara e depois voltei minha atenção para o donut. A primeira mordida sempre era mágica, a massa fofa e molhada preencheu minha boca e a doçura envolveu minha língua. O recheio abundante molhou meus lábios, me forçando a passar a língua por eles a fim de não desperdiçar nada.
Estava com um potencial inimigo em minha frente, mas ao invés de ficar preocupada, ter açúcar entrando nas minhas veias fez com que os pensamentos desaparecessem completamente da cabeça.
— Você realmente gosta disso, não é? — Keigo tinha ambos braços cruzados sobre a mesa do café, e me olhava com certa intensidade.
Senti meu rosto esquentar — Faz algum tempo que não como, são meus favoritos.
Sua cabeça tombou para o lado — O que mais você gosta?
A partir desse momento, a conversa pareceu muito mais ser algo que amigos conversaram, poderia facilmente trocar Hawks de lugar com Swyn que o conteúdo seria o mesmo.
— Não precisava ter pago — disse quando saímos do café.
— Entenda como um agradecimento [Nome] — respondeu.
Foi então que meu celular começou a tocar, ele olhou para o visor — Provavelmente é meu momento de ir, você deve atender o seu marido.
Ele começou a se afastar quando parou e se virou olhando por cima do ombro — Eu gostaria de ter te conhecido um pouco antes, talvez as coisas fossem diferentes agora.
O brilho que estava em seus olhos antes desapareceu, adotando um reflexo sombrio, me fazendo lembrar que ali ele era o vilão.
— Senhora você esqueceu na mesa — o garçom veio com o sapatinho que Hawks comprou, no momento em que me virei novamente o vilão havia desaparecido. Agradeci e então atendi Touya.
— Céus mulher, quer me matar do coração?
— Desculpe, estava enrolada com as sacolas — respondi achando fofo seu desespero — já chegou?
— Sim, onde você está?
Procurei um relógio e vi que entre meu encontro com Hawks e o momento da ligação passaram algumas horas.
— Num café no piso três. Encontro com você no térreo, pode ser?
Ele resmungou em aprovação — Viu tudo que queria?
— Sim, mas ainda acho que faltam algumas coisas. Devemos comprar algum brinquedo? Acho que pode ser bom.
— Podemos ver isso. Vai conseguir encontrar o amor da sua vida no meio de tantas pessoas, não vai?
Dei risada — Considerando que ele está com a mesma vestimenta desde que saí do hospital, acho que vai ser fácil encontrar. Já decorei.
— Engraçadinha, estou te esperando.
Ele desligou e eu saí andando na direção contrária em que Hawks, ou melhor, Keigo Takami desapareceu. Só então tendo uma confirmação. O nome salvo para meu marido no contato, era Touya. Em nenhum momento disse isso na conversa.
Apesar de ter soado como uma despedida, tinha certeza que iriamos nos encontrar novamente.
N/A: Me deixe saber seus pensamentos! Tiveram algumas teorias bem boas no capítulo passado, muitas delas parcialmente certas.
Obrigada por ler até aqui!
Até mais, Xx!
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