[T] Mirage
É estranho estar num lugar, com tantos indícios de que vivo nele, sem lembrar absolutamente nada. A casa inteira tinha traços das minhas manias, coisas espalhadas, um armário organizado do meu jeito. Cheiros que gosto, livros que já li, mas sem um traço de apego emocional.
Como minhã mãe disse, ela apareceu na casa no dia seguinte, para me fazer companhia enquanto Touya fica na polícia. Os momentos que passamos conversando no hospital pareciam escassos agora, e sabendo que ele esteve dormindo no próprio escritório e deixando o quarto para mim, faz essa sensação de não pertencimento ficar ainda maior.
Estava sentada na varanda dos fundo tomando um pouco de sol e olhando o jardim, debaixo de uma grande árvore com uma mesa pequena e algumas cadeiras. O lugar tinha certo luxo, parecia muito acima do que um casal da nossa idade comum poderia ter. A família Todoroki não é exatamente mediana na questão de finanças.
— [Nome] — escutei minha mãe me chamando e então me virei em sua duração — você tem uma visita querida.
Atrás dela talvez a única figura conhecida dos últimos dias, com exceção do meu tio Tsunagu. Os olhos cor de sangue brilharam como eu me lembrava e os cabelos apesar de mais curtos mantinham a elegância. Swyn estava com seu característico colete e camisa social.
— Swyn — me levantei de uma vez.
— Por favor, sei que continua se recuperando fisicamente — ele pegou minha mão como um lorde — não precisa se levantar.
— Vou deixar vocês conversarem, aceita um chá? Fiz biscoitos ontem — minha mãe disse limpando as mãos no avental.
— Eu adoraria obrigado — ele agradeceu com um sorriso e sentou na cadeira na minha frente — você deu um susto dessa vez. Como está?
— Perdida — confessei, se ainda havia um pouco de similaridade com nossa relação no que eu conheço de vida, se havia uma pessoa que posso confessar todos meus sentimentos é Swyn.
— Imagino ser o sentimento comum — ele bateu com o indicador na mesa — Touya me pediu para vir, já que você parece se lembrar de mim. Devia ter acreditado em todas às vezes que me disse ser seu melhor amigo.
Franzi — Por que eu mentiria sobre isso?
O homem riu e se apoiou na cadeira cruzando as pernas em seguida — Então, o que está te afligindo? Além da perda de memória. E não pense em me enganar, sei dizer quando alguém está escondendo algo.
Juntei os dedos mexendo na unha nevosamente, olhei para trás para confirmar que não havia ninguém próximo a nós. E então soltei um longo suspiro.
— Eu não me lembro de nada... Dessa vida — levantei os olhos para os seus —, acreditaria em mim se eu falasse que acho que tudo isso é um sonho?
Meu amigo balançou a perna — Depende, qual a sua justificativa?
Reduzidamente e mantendo apenas os pontos mais importantes, dividi com Swyn todos os pensamentos turbilhoantes que estava na minha cabeça. Como a maioria dos fatos que aconteceram e foram marcantes na vida em que eu conhecia se mantiveram nessa "segunda realidade" de maneira distorça, mas realizando todos os desejos que meu coração fez um dia.
— Está dizendo então que sou uma ilusão da sua cabeça?
— Talvez — expliquei —, uma representação do Mirage verdadeiro que está no mundo em que vivo.
Ele resmungou e olhou para o céu — Interessante, e se essa for a realidade desde sempre e a que você seja a mentira?
Esfreguei as mãos no rosto — Não sei, realmente não sei. Como você consegue saber definir o que é uma ilusão ou não? Usando sua individualidade.
— Pelas falhas, minha habilidade envolve o maior nível de detalhes possíveis, e aquilo que falta é preenchido automaticamente e isso pode estar certo ou não — Swyn ergueu a mão para pegar um doce do prato que minha mãe deixou pouco tempo atrás —, só quem criou a ilusão sabe o jeito de quebrá-la.
— E como faço isso?
— Juntando informações — respondeu levantando os braços para cima —, embora eu não sei como vai fazer isso longe dos olhos do Touya. Ele é um detetive afinal das contas.
— Você não... Vai falar para ele, vai? — perguntei com um pouco de medo de ouvir sua resposta.
Swyn deu uma alta gargalhada — Claro que não, que tipo de amigo acha que eu sou? Ele é meu amigo, mas você é a minha melhor amiga. Sem falar que você não me atola de trabalho de escritório enquanto saí caçando pista de qualquer criminoso na cidade.
— Ele nunca foi do tipo de ficar preso em algum lugar — sorri e olhei para as folhas verdes das árvores que farfalhar quando um vento fraco passou. — Pode fazer um favor para mim?
— Depende, você vai me emprestar sua mãe por um mês? — mais uma vez ele encheu a mão de doces e levantou até a boa.
— Pode levar uma parte dos biscoitos se quiser — dei uma pausa —, quero que reúna informações sobre mim. Se eu encontrei com alguém antes do acidente, minha rotina, Touya não veria isso por achar que me conhece como a palma de sua mão.
Ele parou de mastigar e então seus olhos rubis se abriram — Por quê?
Respirei fundo — Eu também sei esconder coisas quando quero, se tem algo que Touya não sabe, pode ser uma pista. Já que ele não iria conduzir uma busca em cima de mim.
Meu amigo olhou para baixo por um momento antes de respirar fundo — Bom, suponho que você está certa. Está sendo rotulada como vítima, tem poucas chances de estar envolvida no acidente da Hassaikai.
— Obrigada.
Se tive contato com Dabi e estava escondendo coisas de meus amigos e família, pensando na paridade das informações, não me surpreenderia se algo similar estivesse acontecendo desse lado. Como ele disse, preciso começar a procurar pelas falhas.
Fechei os olhos e aproveitei os raios fracos de sol que atravessava as folhagens e batiam no meu rosto enquanto Swyn fazia uma lista de ponderações sobre minhas coisas favoritas e nossos dias na U.A. Já que éramos da mesma sala do curso de heróis.
As sombras passavam pelas minhas pálpebras, enquanto o riso solto da conversa era levado pelo vento. Em certo momento uma sombra se fez presente, uma batida forte do coração me fez pensar num certo herói de asas vermelhas. Com o arfar de expectativa abri os olhos, mas o que encontrei não foi nada como a lembrança quente que guardava no peito.
— Não parece tão feliz em me ver — Touya fez uma careta que quase o deixou com um bico.
— Desculpe, só fiquei surpresa — levantei a cabeça e então me virei para ver que ele estava livre das roupas de trabalho e agora parecia mais casual. Ele deve ter chegado e então se trocou antes de vir para o jardim.
— Eu também me assustaria — Swyn disse com um sorriso venenoso — parece que é a minha deixa. Foi bom te ver [Nome], venho te visitar de novo quando um certo detetive resolver trabalhar e não ficar gastando gasolina por aí.
— Tchau Swyn — Touya o cortou, ele se levantou, colocou a mão no ombro e então se afastou.
— Ele não disse nada estranho, disse? — meu marido tomou o lugar do visitante puxando a cadeira para ficar mais próximo a mim.
— Depende do que você considera estranho.
Touya levantou a mão para os cabelos e então segurou minha mão na sua — Tenho algo para você.
Senti algo cair na palma da minha mão e quando vi era um fino anel dourado. Até então eu havia visto somente a marca da minha aliança de casamento, foi dito que ela foi perdida durante o acidente.
— Achei que tinha desaparecido — segurei o anel com delicadeza vendo algo gravado ao lado de dentro.
— Mais que palavras — li em voz alta e então ergui o olhar para ele novamente.
— Eu amo você, mais do que palavras conseguem expressar — recitou — foi uma das coisas que disse quando te pedi em casamento. Pelo que me lembro foi a que te fez chorar mais também.
Bati em seu braço a medida que senti o rosto esquentar.
— Sei que... Ainda é estranho — me disse —, então não precisa usar se não se sentir a vontade. Mas é sua. Os garotos da perícia encontraram.
Eu não sabia dizer se aquela última frase era realmente verdade, julgando pelo jeito que sua voz saiu robotizada e como desviou os olhos dos meus. Se ele não queria me dizer, é porque algo de misterioso tem.
Até Swyn voltar com as informações que preciso, preciso manter a minha personalidade de inocente. Coloquei o anel no dedo, mais por curiosidade, porém essa pequena ação parece que fez Touya muito feliz, ele tomou minha mão na sua e beijou o anel, abrindo um largo sorriso em seguida.
— Sei que estive afastado, não é porque quero, estamos procurando o bastardo que ajudou no acidente. Sinto que estamos cada vez mais perto, então... — ele se curvou para frente apoiando a testa na minha mão — Me espere só mais um pouco.
Os olhos azuis de Touya se iluminaram como se tivesse um fogo queimando por trás deles, com raiva — Não se preocupe, eu vou pegar esse bastardo de qualquer jeito.
— Quem é "ele"? — questionei.
— O criminoso mais voraz e chamativo dos últimos tempos — havia um ódio real em sua voz — o vilão alado. O dono das asas de sangue...
— Hawks.
N/A: Alguém no capítulo anterior acertou legal! Hahahaha! Quem ta hackeando meus arquivos? Swyn é você?
Obrigada por ler até aqui!
Até mais, Xx!
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