Tudo o que vem fácil vai fácil. Seonghwa me deixou comer doce sem me dar uma palestra antes e depois arrancou uma escova de dentro da mochila e eu o encarei assustado.

— Tu tem a porra de uma escova dentro da mochila? Tu já usou isso?

— Já. — ele me estendeu o objeto amarelo — Agora cala a boca e vai escovar o dente.

— Park!

— Anda!

Eu revirei os olhos mas não havia como dizer não. Ainda me questiono se ele usou essa escova depois de fazer boquete — e por mais que ele negue eu sei que ele dá uma sugada no Hongjoong de vez em quando.

Eu, com um esforço sobrenatural imaginando quantas vezes ele havia colocado a boquinha ali coloquei pasta na escova e a enfiei na boca. Seong estava sentado na pia e analisava minha escovada. Haviam poucas pessoas no banheiro.

— Achei vocês. — Yeosang jogou o skate no chão e o viu bater na parede e voltar, ele pulou em cima e deu voltas no banheiro — Aí, a gente vai andar hoje? Lá no parque.

— Yeosang! — ouviram chamar lá fora. A voz era do Kim. Seong pulou da pia e arrumou a postura. Hm. — Yeosang? Ah, vocês estão aqui. Oi, oi.

Eu escarei seu reflexo pelo espelho e finalizei a escovada esfregando a mão na boca para tirar o excesso de água do pós enxague.

— Você meteu a boca em quem? — Yeo me encarou puxando o skate para si.

— Ninguém? Eu comi doce.

— Ah bom.

— Anda, a gente vai se atrasar pra aula. — fomos arrastados por Hongjoong. — Yeosang tu vai levar outra suspensão por trazer skate. Quer ser expulso?

— Não é mau. Essa escola é um saco. — resmungou — Eu queria ir pra SHC. É perto de casa e meus antigos amigos são de lá. Eu podia levar skate lá.

— Sonhar é bom. — retruquei, ganhei uma cotovelada de Seong.

— Mas sim, ninguém me disse se a gente vai ou não andar de skate hoje. Eu tô amarrado no trabalho e preciso de uma resposta.

— Contraturno? — ele assentiu. Yeosang trabalha de manhã, estuda de tarde e de noite a gente tira uns minutos pra andar.

Seonghwa só estuda. Eu tenho um trampo próprio na lojinha do meu primo e, por sinal, estamos precisando de um novo designer. Hongjoong tem dois trabalhos de meio turno e estuda de tarde. Só assim a gente tira dinheiro pra ajudar em casa e comprar nossos skates e fazer nosso ralo pé de meia.

— Ei Mingiu. — Yeo me cutucou então continuou baixinho — Eu te vi bem interessadinho naquele cara que fica sempre perto do Tio da batata.

Revirei os olhos.

— Ah, não faz essa cara. Eu sei! — ele riu — Tem coisa aí, né? Eu já vi ele andando, manda bem, até, e é boniiito, hm? Seu danadinho.

— Coisa da sua cabeça a Yeo.

— Eu ouvi tudinho, e acho que não. — Wooyoung nos puxou para nossos lugares, Hongjoong deve ter resmungando, ele odeia sentar nos cantos. — Ah, qual é? O cara é bonito, gente boa e parece ser inteligente. Viu aquela montanha de cadernos?

— Ele pode ser só um desenhista de hentai.

— Eca!

— Ou, um inteligente do cacete. — Woo tentou remediar o comentário de Seonghwa. Hongjoong torceu o nariz.

— Ele tem cara de anjo, não parece desenhar essas coisas. — Kim jogou a mochila do lado da cadeira de Anneli Mihae e sentou ali. Ainda não entendi o que ele quer com ela mas o Seong sempre fica puto quando vê ele sentado ali.

— E o Mingi não tem cara de coração de manteiga.

— Aí ou, deixa meu nome longe disso!

— É um bom argumento. — Yeosang sentou do meu lado e enfiou o skate debaixo da cadeira. — Esquecendo eles, — o moreno se virou para mim — ele anda meio sumido né? O menino lá. Esqueci o nome dele.

— Yunho?

— É.

— Hm, realmente.

Faz uns dois dias que ele não aparece e nem é final de semana. Wooyoung se jogou por cima da mesa e me olhou interessadíssimo.

— Então tu assume que notou?

— Hm?

— Você notou que ele sumiu! — cantarolou.

— Ele meio que faz parte da nossa rotina então sim, eu notei. — remendei rapidinho ou seria alvo de mais malícia — Da mesma forma que o Yeosang notou e vocês também.

— Uhum. — ele voltou pro seu lugar — Me engana que eu gosto.

Bando de pé no saco.